Ao oitavo dia, quarta-feira… entrámos no espírito das montanhas J e decidimos fazer uma aula de momos, prato típico do Tibete. Estamos na Índia, é verdade… mas aqui a comunidade de tibetanos é grande e desde que o Dalai Lama tornou Mcleod Ganj sua casa, estes primos dos “dumplings” nasceram e ficaram para satisfazer os Budistas mais vorazes.
Em Mcleod Ganj, Bhagsu e Dharamkot, vendem-se na rua, nos restaurantes e nos pequenos espaços improvisados no cimo da montanha… pequenas formas de nuvens.
A primeira experiência, foi à porta do templo do Dalai Lama, uma mão cheia de momos frescos, saiam de um balde de plástico, em direção à panela de vapor, que poisava sob uma caixa de lume improvisada. A panela de cozer a vapor tinha dois níveis e estava cheia de momos, uns já prontos a servir e outros ainda a cozer. Indianos rodeavam a senhora, debatendo o preço constantemente, não queriam pagar as 10 rupias pelos quatro momos servidos, uma vez que tinham sido muitos a encomendar, o preço teria que ser mais baixo…
Pedimos quatro momos, que nos serviram com molho picante feito de malagueta vermelha, intenso e extremamente forte, tocámos o “vermelho”, para saborear o primeiro Momo de batata, em formato mais tosco e redondo que o normal, mas de sabor aromático e fofo. Foi uma boa descoberta…


Continuando a aprofundar a culinária tibetana, fomos almoçar ao restaurante “Tibetian Kitchen”, junto ao templo budista de McLeod Ganj, que vemos sempre cheio de tibetanos, pois pensámos que este pequeno restaurante fosse o ideal para nova jornada de momos. Sala cheia, disseram-nos para entrar pela porta ao lado que tinham mais salas, percebemos que o “pequeno restaurante” se multiplicava por mais três pisos do edifício adjacente. Tibetanos, turistas e indianos povoavam as salas, fazendo-nos subir os três andares do edifício para encontrar-mos uma mesa vaga. Pedimos um prato de momos vegetarianos, por cerca de 80 rupias, uma Tupka, uma sopa de vegetais e noodles, o Fry Thinthuk, que é uma massa muito larga, em pequenas tiras, que é salteada com vegetais e um pão tibetano chamado Tingo (pálido, elástico e cozido a vapor).
Estes momos, mais trabalhados e de massa mais fina, estavam recheados de couve, cenoura e cebola, o sabor dos vegetais era suave e autêntico e foram servidos ao lado de uma taça com um caldo insípido de coentros, sendo o método tradicional, mergulhar o momo no caldo, tornando a massa envolvente mais fresca e húmida. Os legumes cozidos a vapor ficam mais crocantes e frescos, o sal é pouco e as especiarias são nulas, tornando este prato bastante saudável e aromático, com uma simplicidade subtil, normalmente difícil de alcançar no ponto certo….

Decidimos no dia seguinte entrar no “Takhyil Peace Restaurant” e experimentar mais uns momos. Estes de recheio igual aos anteriores, à base de couve e cenoura, mas mais aromáticos, foram comidos acompanhados de molho de soja (o melhor que experimentei até agora) de sabor mais suave e consistente, que ligava na perfeição com o sabor dos vegetais. Apesar do formato não ser perfeito, o sabor e a textura estavam no ponto certo. Com a bandeira do Tibete em fundo, agradecemos ao simpático tibetano pela refeição que nos serviu, sempre com um sorriso na cara.







Quarta-feira era o dia da nossa aula de momos, chegamos por volta das onze da manhã, estando já três israelitas nas suas posições estudantis em frente à mesa de trabalho. Os alunos foram chegando e a mesa foi enchendo, sendo no final dez pessoas à volta da pequena estrutura de madeira. Éramos portugueses, israelitas e ingleses numa casa indiana, a ter uma aula de comida tibetana; pagámos previamente 300 rupias, cerca de 4.5€ por pessoa para uma aula de duas horas, que já tinha sido cancelada na segunda-feira, fazendo a expectativa aumentar na ultima hora 😉
O professor tibetano, falava um inglês perceptível e a aula começou com a explicação dos ingredientes que íamos utilizar e os tipos de momos que íamos preparar: dois salgados, um de couve, cenoura e cebola e outro de espinafres com queijo, terminando com um momo doce recheado com uma mistura de óleo, açúcar, sésamo e farinha… neste ponto os asiáticos nunca me surpreendem, sendo geralmente sobremesas demasiado doces e estranhas de sabor e textura, para o meu gosto e esta infelizmente não foi exceção.
O método de fazer a massa, perceber o ponto e a textura, o tempo de descanso, o amassar e esticar, aprender as técnicas de formar os característicos momos, tornou toda a aula mais interessante.
Em quinze minutos que levaram a cozer os momos, o cheiro a gás encheu a sala e sai para fumar um cigarro… Sem entrar em mais em pormenores culinários, o processo ficou registado em algumas fotos da aula… estavam bons e foram duas horas bem passadas, não sobrando nenhum para contar a história 😉



