Tuk-Tuk & Rickshaw:
Arvind é o dono da guest house em Jaipur, onde ficamos alojados, homem simpático e afável, ex-militar aposentado. Contou-nos numa das nossas conversas de final de dia, que um indiano precisa e 500INR (cerca de 7€) para poder sobreviver nesta cidade de Jaipur.
No caso dos condutores de tuk-tuk (auto rickshaws), têm que pagar o aluguer diário ou mensal do veículo, gasolina, comer e ainda pagar um tecto para viver.
Discutimos sempre os preços das viagens nestes veículos pequenos de três rodas; a nós estrangeiros pedem, por norma, por vezes três vezes mais do que o preço “justo” por uma viagem; é uma constante negociação, por vezes cansativa e só passado uma semana percebemos que a relação é de 10INR por quilómetro.
Os rickshaws tornam-se mais baratos, são veículos também de três rodas, uma espécie de bicicletas enormes com um banco para duas pessoas, bem apertadas e sem espaço para bagagem de grande volume. Puxados por indianos geralmente magros e subnutridos, circulam pelas ruas de Jaipur em busca mais um cliente, abordando-nos constantemente quando andamos a pé.
Andámos poucas vezes neste veiculo mas custa-nos sermos espectadores do esforço associado a esta locomoção sob forte calor, onde para vencer os mínimos declives das ruas o condutor tem que se colocar de pé, não sendo raro ter que sair para o puxar à mão. Parece-nos injusto… mas neste país justiça é algo que não existe.
Abordagens:
“Excuse me… can I ask you something?”
Assim começa a conversa da maior parte dos indianos que nos abordam em Jaipur. Normalmente são novos, falam um inglês acima da média e por vezes espanhol, francês ou mesmo italiano. Somos levados a parar, devido à delicadeza da pergunta e aí começa toda a história…
Perguntam o porquê da maior parte dos estrangeiros ignorarem os indianos quando são abordados na rua, dizem que não respeitamos a cultura e que fazemos mal… que não é assim que vamos conhecer o país e os modos de vida, que devíamos parar um pouco e conversar com eles, não ser arrogantes, sentarmo-nos e bebermos o que nos oferecem…
Em poucos minutos, as perguntas desencadeiam-se em cascata, de onde somos, o nosso nome, há quanto tempo estamos na Índia, o que estamos a fazer na cidade e se for preciso caminham connosco ao mesmo tempo que falam, paramos numa sombra, o calor é infernal e tudo é intenso, a conversa é amigável e aparentemente genuína. Enganamo-nos!
Percebemos mais tarde que todos eles são angariadores privados ou de lojas de roupa, jóias, música, bares, etc…..
Com esta conversa fazem-nos sentir mal por não aceitar um convite aparentemente genuíno e passados dez minutos de conversa sobre a Índia e o estrangeiro, sugerem beber um chá, um sumo, mesmo ali ao lado, num beco ou viela qualquer igual a tantos outros, são afáveis e simpáticos até termos discernimento no meio de tanta confusão de perceber o esquema e dizer que não.
Durante o dia somos abordados por mais de vinte pessoas a tentar a mesma conversa, não temos outra alternativa a não ser ignorar ou ter uma atitude mais rude. Faz-me pensar que por vezes podemos estar a ser injustos com alguém, que poderá ter genuínas intenções em conversar e conhecer, mas neste caso e como em muitos outros… por uns pagam todos. Welcome to india!
Can I take a picture:
Definitivamente os indianos gostam de aparecer em fotografias, quase diariamente temos tido sessões fotográficas. Começa de forma discreta com alguns rapazes mais destemidos que pedem para tirar uma fotografia connosco, em geral com o Bruno, pois a tattoo e as dreadlocks são o centro das atenções.
Quase toda a gente tem telemóvel com câmara fotográfica ou pequenas maquinas o que facilita. Perguntam sempre “can i take a picture with you?” e ao nosso consentimento começa a aventura.
Assim que as outras pessoas vêm isto, aproximam-se e fazem o mesmo; seguem-se outros e outros. Se é um grupo de amigos, cada um individualmente ou em pares querem ter direito a sua fotografia connosco com o seu próprio telemóvel, o que causa grande confusão entre eles. Todo este ajuntamento atrai ainda mais gente.
As mulheres são mais discretas e dirigem-se especialmente a mim.
A situação mais intensa foi no Albert Hall Museum em Jaipur, onde fomos cercados por uma turma de finalistas do secundário. Eram cerca de uma centena e à medida que iam acabando a visita de estudo queriam pousar numa fotografia connosco. Para piorar as coisas tínhamos escolhido um sitio para descansar e relaxar mesmo junto a saída do edifício. O Bruno ainda tirou o caderno para continuar um desenho que tinha iniciado, mas com isto ainda chamamos mais a atenção, o que fez com que o caderno voltasse rapidamente para a mochila.
No Taj Mahal a cena repetiu-se, mas desta vez numa versão mais familiar, com muitas crianças e mulheres. Temos que encarar isto com alguma descontração e um sorriso na cara, mas facilmente se pode tornar massacrante e cansativo.