Desde que chegamos o tempo tem estado instável, com dias típicos de primavera, com céu azul e temperaturas amenas e outros de chuva, com trovoadas e uma diminuição brusca da temperatura, que segundo nos disseram nada frequente nesta altura do ano.
Depois de dias em chuva, ou com chuvadas fortes, aproveitámos a primeira oportunidade para fazer uma caminhada até Triund, um dos pontos altos do chamado Chambra Valley, situado a 2875 metros de altitude. Segundo nos disseram, necessitávamos de 4 horas para subir e 3 horas para descer, por isso saímos de casa bem cedo, já prevenidos com farnel e água, preparados para a chuva ou o frio, que podem surgir a qualquer momentos nestas montanhas.
A subida foi feita em andamento rápido e demorámos menos de 3 horas, a percorrer os nove quilómetros, por um trilho bem definido e bastante acessível, onde as subidas mais íngremes são feitas à custa de degraus formados pelas rochas, sempre rodeados de florestas. Enquanto contornávamos encostas graníticas, do outro lado do vale víamos o rasto de avalanches de pedra que se desprende durante a monção dos maciços de xisto.
Caminhámos por trilhos protegidos pelas árvores, tendo por companhia o restolhar das folhas secas sob os nosso pés, o zumbidos incessante dos insectos e o ruído da nossa respiração, tenho o cuidado de não esmagar alguma joaninha que surgem por todo o lado. As joaninhas foram uma constante ao longo de todo o percurso, antes de chegar-mos à zona mais alta onde havia menos vegetação e a temperatura era mais fresca, voando para cima de nós, e aí permanecendo como que a aproveitar a nossa boleia encosta acima, para de seguida esticarem as suas assas recolhidas sob a carapaça vermelha salpicada de preto, e nos abandonarem com o seu voo incerto e desajeitado.
Após a subida, feita ao ritmo permitido pela altitude a que estávamos, deparámo-nos com uma vista dos cumes mais altos cobertos de neve iluminados pelos raios de sol que passam por entre as nuvens que envolvem quase permanentemente as montanhas mais altas.
Aproveitando a área quase plana onde se situa Triund, coberta com um denso manto verde de relva que envolve os afloramentos graníticos, foram surgindo pequenos estabelecimentos chamados de “chai-shops”, construídos de forma precária em bambu, madeira e plástico que servem chá, bebidas e refeições ligeiras. Caminhando mais um pouco encontram-se diversas construções em pedra, para abrigo de pastores, que ao som de uma telefonia roufenha, e carregando pesadas mantas, vão encaminhando os rebanhos para pastagens mais altas.
A descida foi feita em ritmo lento, acompanhados de nuvens que por vezes cobriam o céu de cinzento, fazendo pequenas paragens, aproveitando a desculpa de observar a paisagem do vale onde se encontra Dharamkot e Bhagsu, mas que no fundo serviram para ir descansando as pernas e aliviando os pés do irregular caminho de pedras.
Panorâmica de Triund:
Fartos do impessoal e incaracterístico hotel Sky Pie, decidimos sair de Bhagsu, deixando para trás a confusão e subimos a encosta em direção a Dharamkot, desta vez ficamos numa guesthouse; escolhemos a Pink House, governada pela simpática Tripta, com vista para o vale e numa zona só acessível a pé.
Aqui o ambiente é acolhedor, com um pequeno relvado e um alpendre onde nos vamos cruzando e sociabilizando com os outros hóspedes. Ao anoitecer, o ar perfuma-se com o cheiro dos incensos que a Tripta acende quando vai realizar as suas orações junto a um pequeno templo hindus, que se encontra em frente à casa.
Estamos em crer que descobrimos o colchão mais duro de toda a Índia, à primeira sensação que tive quando me sentei na cama é que tinha encontrado uma tábua… a partir daqui todos os colchões serão bons :
Aqui acordamos pouco depois do nascer do sol, ao som do chilrear constante dos pássaros e os barulhos do acordar da casa, encontrando a Tripta, ainda envolta na sua manta de lã a fazer as suas arrumações e limpezas, ouvindo-se no nosso quarto o raspar da vassoura, feita de ramos, no chão de cimento.
Para trás ficam os sharis de cores berrantes usados pelas mulheres do Rajastão… aqui as mulheres vestem calças de balão, muito largas, com uma túnica comprida até ao joelho, geralmente de cores baças, onde dominam os castanhos, amarelo-torrado, etc..; a cabeça é geralmente coberta com um lenço, que muitas vezes se encontra atado atrás da cabeça de forma a facilitar os movimentos dos trabalhos do campo. Alguns homens ainda usam a roupa tradicional, que não difere muito da das mulheres, acrescentando um coletes de fazenda, e cobrindo a cabeça com um pequeno chapéu justo à cabeça, de feitio cilíndrico, também de fazenda.