Inicialmente o vale por onde corre o Rio Parvati e as aldeias em redor não estavam no nosso itinerário inicial, mas à medida que fomos falando com outros viajantes pareceu-nos um destino apetecível, para fugir ao calor do verão que já invadia a zona de Dharamkot.
Para tornar a viagem menos penosa, em termos de conforto e de numero de horas, optámos por um autocarro turístico, em vez dos velhos e desconfortáveis autocarros públicos, que nos obrigariam a vários transbordos.
Somente conseguimos bilhete para um mini-bus, que saiu de Mcleod Ganj às 9 horas da noite e nos deixou ao nascer do dia na adormecida e desinteressante cidade de Bhunter, para aí esperar-mos pelo autocarro publico que faz o percurso pelas várias povoações ao longo do Rio Parvati.
Foi uma viagem extenuante, pois devido ao estado das estradas e ao percurso sinuoso pelas montanhas os esforços para arranjar uma posição confortável para dormir foram infrutíferos. Contudo os restantes passageiros lá foram dormitando e houve alturas e que eu e o motoristas éramos as únicas pessoas acordadas…. bem, quanto ao motorista não tenho grande certeza, pois por diversas vezes vi o autocarro a sair da faixa de rodagem e circular pelo meio da via só se afastando quando vinha outro veículo em sentido contrário, se bem que por aqui na Índia, esta forma de conduzir é uma prática frequente.
Parámos por diversas vezes em restaurantes desertos à beira da estrada, uma para jantar, já perto da meia-noite e outra para o motorista descansar. Como a espera se estava a prolongar e a conversa com os ouros passageiros esmorecia pelo cansaço e pelo adiantado da hora, fomos saber a causa da demora e informaram-nos que o motorista estava cansado e tinha decidido ir dormir por uma hora.



Pelo caminho fomos passando por filas de camiões parados à beira da estrada, envoltos na espessa escuridão da noite, somente iluminada pelos faróis do autocarro, esperando pelo nascer do dia para iniciarem o resto da jornada.
Com o nascer do dia, mesmo antes de se verem os primeiros raios de sol, percorremos o troço final da nossa viagem sempre ao lado do Rio Beas, e das suas águas tumultuosas e turvas, que percorrem o escarpado vale, pelo qual a estrada corajosamente serpenteava.
Em Bhuntar, a espera pelo próximo autocarro que nos levaria ao nosso destino, a aldeia de Pulga, foi amenizada pela alegre companhia da Zia, uma rapariga argentina que conhecemos na viagem, e que nos sugeriu ficar em Manikaran onde podíamos ficar a descansar e a aproveitar as nascentes de águas quentes pela qual é famosa, antes de nos dirigirmos para Pulga. Bem precisávamos, pois os 32 quilómetros que percorremos demoraram cera de duas horas, por uma sinuosa estrada sempre ao longo do rio Parvati, encaixado entre altas montanhas densamente cobertas de pinheiros e cedros.
Manikaran é também um local de peregrinação de Hindus e especialmente de Sikhs que aí têm um grande templo dedicado a Shiva.
Ficamos dois dias em Manikaran, onde o som das revoltas águas do Rio Parvati são uma presença constante, onde para além dos templos e das piscinas de água quente, não apresentava muitos mais atrativos, mas que representou um agradável “regresso” ao tradicional modo de vida indiano, sem as lojas de artesanato, restaurantes com comida internacional e música transe que por vezes transformam zonas como Dharamkot em refúgios para ocidentais, mas que perdem alguma da sua identidade.
Contudo, no segundo dia fomos surpreendidos quando o templo Sikh que foi construído sobre uma das nascente de água quente, o que faz com que todo o complexo de edifícios adjacentes esteja permanentemente envolto numa nuvem de vapor, e onde são cozinhadas refeições em potes de barro emersos nas águas borbulhantes e ligeiramente sulfurosas, e que são servidas gratuitamente a qualquer pessoa, diariamente durante todo o dia.
Quando visitámos o templo aproveitámos para ir ao refeitório onde serviam a comida. Tivemos que deixar os sapatos à entrada e só podemos entrar com a cabeça coberta; depois foi seguir as indicações que nos iam sendo dadas pelos funcionários do templo. Munimo-nos de prato e copo e fomo-nos sentar no chão junto das dezenas de peregrinos, em tapetes corridos que formavam corredores ao longo da grande sala, permanentemente envolta uma morna nuvem de vapor, à espera que nos servissem.
Foi uma refeição simples, constituída por sopa de lentilhas, carril de grão, arroz e chapatis, retirados de balde metálicos e servidos por Sikhs. Pelo que percebemos, todo este ritual tem o nome de parshad, e representa um gesto de hospitalidade que não deve ser recusado.
Foi uma experiencia intensa e muito interessante, não pela refeição em si, mas por toda a envolvência e pelo significado de oferecer comida a qualquer pessoa sem pedir nada em troca. De seguida fomos para o local onde se realizam as cerimónias religiosas, o Gurudwara, onde ouvimos cânticos retirados do livro sagrado dos Sikhs, o Guru Granth Sahib, entoados ao som de tablas e tambores, e que se prolongaram pela noite dentro.












