Os 485 quilómetros que percorremos até Leh, atravessando uma vasta cadeia montanhosa, fez com que quase tudo tenha mudado radicalmente: a paisagem, a cultura, a comida, a língua, a escrita, as roupas, a religião e a fisionomia dos rostos.
Chegámos ao estado de Jammu e Kashmir, o mais a norte da Índia, que faz fronteira com o Paquistão e com a China (Tibete), vizinhos com quem os indianos têm tido muitos problemas fronteiriços, desde guerras a terrorismo, fazendo com que grande parte deste território estivesse interdito a estrangeiros até aos anos noventa. Ainda o mês passado tropas chinesas ocuparam uma faixa tipo “terra de ninguém” existente entre a Índia e o Tibete, criando algum atrito e apreensão mas que foi resolvido em poucos dias. Por tudo isto nota-se nesta região uma forte presença militar.
Leh é a capital da região do Ladakh, que se localiza junto à fronteira com o Tibete de onde vêm uma forte influência cultural e religiosa, praticando-se o Mahayana, o Budismo Tibetano, cujos símbolos estão presentes em todo o lado, como as rodas e as bandeiras de orações e as incontáveis gompas (mosteiros) e stupas.
As stupas são construções feitas em pedra e argila (e mais recentemente em cimento), que funcionam como locais de devoção, e cuja característica forma resulta, segundo a tradição, da resposta que Budha deu quando lhe pediram para criar um símbolo que ajudasse a espalhar os seus ensinamentos; a resposta foi dada dobrando as suas roupas e colocando sobre elas a taça, virada ao contrário, com que recolhia as dádivas e no topo o pedaço de madeira.
Junto às stupas e frequente encontrar pedras empilhadas, que formam muros com alguns metros, que contêm inscrições em relevo com orações ou mantras, geralmente ”om mani padme hum”.
Esta região é extremamente árida, registando-se pouco precipitação para além da neve que cobre a paisagem durante a maior parte do ano. Em Leh, a 3505 metros de altitude, nota-se bem o ar seco que juntamente com a altitude provocam um cansaço físico acompanhado por fortes dores de cabeça e algumas dificuldades de respiração. Para compensar estes efeitos temos bebido muita água, mas mesmo assim não tem sido suficiente, levando-nos a ter que repousar mais horas do que o normal para recuperar de algum esforço físico, mesmo que seja uma pequena caminhada ou uma visita a algum mosteiro próximo.
Enquanto recuperávamos da viagem que nos trouxe de Manali, aproveitámos para conhecer a cidade e os principais monumentos, donde se destaca o Palácio e a Namgyal Tsemo Gompa, que dominam a cidade de Leh.
Junto a estes edifícios, situados no topo de um maciço granítico, encontra-se a parte mais antiga da cidade, com as tradicionais casas construídas com tijolos de argila cinzenta, fazendo com que se fundam com as cores da paisagem.








No interior do Palácio de Leh, enquanto procurávamos refúgio do intenso sol e do calor que abrasava a pele, fomos surpreendidos ao encontrar o templo budista que ocupa uma das salas interiores do edifício. Reinava um silêncio total, e o ar estava pesado com o fumo e o cheiro do óleo queimado nas lamparina, permanentemente acesas, e que debilmente tentavam iluminar o espaço.















Um pouco mais afastado do centro, encontra-se a Shanti Stupa, inaugurada em 1983 pelo Dalai Lama, decorada com episódios da vida de Budha, e de onde se tem uma ampla vista da cidade de Leh. Demorámo-nos por lá enquanto recuperávamos da subida dos 531 degraus que são necessários subir para lá chegar.





Panorâmica de Leh, vista da Shanti Stupa:



