A cidade é pequena e calma, sem o habitual frenesim das cidades indianas, mas com bastante pó dado estarmos em pleno deserto, onde a água é um recurso escasso. Não um deserto de areia, mas de rocha e pedra, com terreno bastante arenoso. A pouca vegetação existente, maioritariamente faias e tílias, e os pequenos terrenos agrícolas dedicados ao cultivo de hortícolas, somente são conseguidos à custa de um complexo sistema de canais que irrigam os campos com a água que resulta do degelo das montanhas que envolvem a cidade de Leh.
As ruas principais são dominadas por, agências de viagens especializadas em caminhadas, artesanato do Ladakh e do Tibete, e pela venda de carpetes, mantas, echarpes e lenços de lã de yak ou pashemina, viradas para o turismo indiano como estrangeiro. Contudo, nas ruas secundárias podem ainda encontras lojas dedicadas ao comércio tradicional, como alfaiates, ourives, cabeleireiros, lojas de artigos religiosos budistas… e uma inúmera variedade de meias, luvas, gorros e peúgas, tido feito à mão, por senhoras que muitas vezes vemos a fiar a lã.
Por aqui domina a cultura Ladakhi, que tem origem na cultura tibetana, mas que foi ganhando características próprias, que sobressai na língua e nas roupas tradicionais que algumas pessoas, em especial as mulheres, ainda envergam. A comida é muito semelhante à que experimentámos em Macleod Ganj, dominada por sopas de vegetais com massa (thupkas) e momos, mas que aqui apresenta uma variação que é a cevada tostada, que pode ser servida em sopa, a “tsampa”, ou cozinhada como papas, servidas ao pequeno-almoço.
Dada a proximidade com a região de Kashmir, existe aqui um significativa comunidade de muçulmanos, em especial nas ruas estreitas junto da mesquita, situada na zona antiga da cidade. Aqui encontrámos diversas padarias tradicionais, que desde as cinco horas da manhã fabricam os chapatis, estendendo a massa com os dedos e “colando-a” às paredes dos tandori (fornos verticais feitos em barro, com abertura no cimo), onde rapidamente formam bolhas, até ficam cozidos e estaladiços. Outra alternativa são uns bolinhos, ligeiramente salgados, de massa quebradiça, enfeitados com sementes de sésamo, também cozinhados no mesmo tipo de forno, tradicionais de Kashmir.
Estas padarias tornaram-se um local de visita quase diário, onde muitas vezes nos abastecemos, de chapatis e de bolinhos, antes de iniciar-mos alguma viagem pelas redondezas; uma verdadeira delícia, a 4 rupias cada um…
Durante os primeiros dias que estivemos em Leh, anuviava-se o evento cultural da temporada: um concerto para recolha de fundos para obras de beneficiação de um mosteiro budista. O local do espetáculo, é um terreno onde se realizam jogos de polo a cavalo, mas que serve principalmente para estacionamento de automóveis e de autocarros.
O espetáculo contava com a presença de artistas locais, desde música tradicional a sons mais modernos como o rock e o hip-hop. As vedetas eram dançarinos de Bollywood, vindos directamente de Mumbai. Pensávamos que eram a atração principal da noite, mas foram recebido entre assobios e vaias, que se foram agravando, obrigando à interrupção da actuação. Até deu pena.
Ficou claro que a população do Ladakh não aprecia muito os indianos e soubemos mais tarde que o Ladakh reclama autonomia em relação ao estado de Jammu e Kashmir, com o qual não tem qualquer relação cultural ou religiosa.
Dzomsa, significa ponto de encontro na língua Ladakhi. Trata-se de um projecto que pretende divulgar a cultura do Ladakh, promovendo a sustentabilidade. Nesta loja, limpa e arejada, podemos encher as garrafas com água filtrada e purificada, por 7 rupias. E comprar os deliciosos alperces secos, que são a fruta de eleição do Ladakh, e que nesta loja são muito melhores, mais saborosos e macios, do que os que se encontram à venda nos mercados e nas ruas.
Neste espaço, que funciona também como lavandaria, podemos encontrar outros furtos e vegetais secos, bons para as caminhadas, assim como proceder à troca de livros.
Ficámos fãs de um sumo de “seabuck berry”… não sabemos o que é este fruto, mas cresce abundantemente nestas paragens e é bastante rico em vitamina C.
Quanto a restaurantes ficamos clientes da Família Norlakh, que serve comida tibetana, exclusivamente vegetariana, e onde podemos provar a “tsampa” de vegetais.
Restaurante Lamayuru, que “descobrimos” no dia em que regressávamos da visita ao mosteiro com o mesmo nome, e onde a comida indiana sobressaía. Junto à entrada situa-se o local de trabalho de um dos muitos sapateiros que do seu posto junto à estrada observam atentamente o estado do calçado de quem passa, na esperança de fazerem algum tipo de arranjo. Mais de uma vez tivemos que recorre aos serviços destes profissionais… quase tudo, mas mesmo quase tudo tem arranjo, até mesmo uma “havaianas” partidas!)