Licenças e Autorizações
Para entrar na região do Annapurna, seja para qualquer um dos trekkings é necessário ter autorização da ACAP (Annapurna Conservation Area Project) e o TIMS (Trekkers Information Management System), que custam respectivamente 2000 e 2010 rupias nepalesas (perto de 30€) e exigem a entrega de quatro fotografias para a emissão das respectivas autorizações que têm que ser apresentadas em postos situados no inicio e no fim do trekking, onde são carimbadas e onde o nosso nome é inscrito manualmente num grande livro de registos.

Guest-houses e restaurantes
Ao longo do percurso, desde Naya Pul até Annapurna Base Camp, existem inúmeras guest houses, algumas situadas em povoações, outras, na parte final do percurso, constituem em si a “povoação”, encontrando-se afastadas, no máximo a cerca de duas horas e meia de caminho, entre si. Todas apresentam características semelhantes: quartos básicos, somente com cama, almofada e por vezes uma pequena mesa, casa de banho e chuveiro partilhados e o restaurante onde é suposto serem efectuadas todas as refeições. A construção é em tijolo, mas muitas vezes as divisões entre os quartos são em madeira. Quase todos os quartos têm duas ou mais camas, podendo ser necessário partilhar o quarto com outras pessoas, em especial em dias de chuva, quando as guest houses ficam rapidamente cheias ou durante a época alta.
Os cobertores são fornecidos somente no fim do dia, depois do jantar… nunca cheguei a entender bem o motivo, talvez para que as pessoas permaneçam mais tempo no aconchego do restaurante e assim consumam mais?!?
O preço dos quartos, é de 150 rupias nepalesas, por pessoa (pouco mais de um euro) mas a comida é mais cara do que na cidade, e os preços vão aumentando ao longo do percurso, podendo um daal bhaat, que em Pokhara custa entre 130 e 150 rupias, custar 340 a 480 rupias. Quem optar por levar e preparar comida o preço do quarto duplo fica em 800 rupias. Para além do daal bhaat, as opções são vastas, desde a chamada comida continental, com sandwiches, pizzas, sopas, massas, tostas, panquecas, muesli, porrige, etc… passando pela comida asiática, noodles, momos, spring rools, arroz frito… uma grande variedade de escolha. Dentro de cada povoação os preços são os mesmos de guest house para guest house, assim como o menu, sendo definidos pela organização que gere os circuitos no Annapurna Sanctuary.
Os banho de água quente, que no inicio do percurso são gratuitos, passam a custar entre 150 a 250 rupias, o que pode parecer um abuso comparado com o resto, mas que comecei a achar justo depois de ver os carregadores a transportar bilhas de gás, às costas por percursos que podem demorar três dias a fazer, e onde não é possível recorrer a animais de carga. É necessário pagar para tudo, mesmo para carregar a bateria de um telemóvel ou de uma máquina fotográfica. O aquecimento no quarto é uma opção que também tem o seu custo.
Ao longo destes dias, a cor azul que caracteriza os telhados feitos de chapa metálica ondulada, que cobrem praticamente todos as guest houses e restaurantes das várias povoações e postos ao longo do ABC trek, representando pontos de referência no percurso, rapidamente ficou associada ao local para passar a noite ou somente para descanso, comer ou abastecer de água, trazendo algum alívio e encorajamento quando inesperadamente surgiam na paisagem.










Comunicações
Somente existe rede NCell no inicio do percurso até Chhomrong, a partir daqui somente em alguns locais pontuais, e nem sempre durante todo o dia. Em MBC e Dovan existe wi-fi.
Água
No inicio do percurso é possível comprar água engarrafada, mas que em vez de 20 rupias passa a ser 80. Existem postos de abastecimento de água que é filtrada e fervida mas que custar pelo menos 80 rupias. A melhor opção, e a mais ecológica, é levar pastilhas para desinfectar a água que corre das fontes existentes nas povoações ou dos riachos que se encontram pelo caminho.
Guias e carregadores
Praticamente toda a gente que encontrei pelo caminho tinha um guia que geralmente acumula também as funções de carregador. Ajudam mas podem também tornar-se incómodos impondo um determinado ritmo pois muitas vezes querem acelerar o ritmo, aumentando as horas de caminhada diárias, para poderem iniciam rapidamente novo trekking, ou em algumas situações aconselharem, quando existem, o uso de jeeps ou autocarros para encurtarem o tempo de percurso.
São eles que escolhem a guest house onde se fica cada noite, pois têm uma comissão em todas as despesas que lá se efectuam, mas da experiência que tive, foram sempre boas escolhas. Praticamente toda a gente recorre a um destes guias/carregadores; grupos grandes ou que exijam o transporte de mais material, para por exemplo acamparem no Annapurna Base Camp, para além do guia têm também um grupo de dois ou mais carregadores.
Em todas as povoações existem mapas do percurso, com informação relativa à distância “em tempo” até aos postos seguintes.





Segurança
Este assunto não deve ser menosprezado pois todos os anos ocorrem acidentes, geralmente devido a desmoronamento de terras e não é raro encontrar cartazes em que se procuram pessoas desaparecidas nestes percursos.
Os trilhos tornam-se por vezes estreitos e que na presença de chuva ou nas zonas húmidas se podem tornar escorregadios. Acresce o facto de ser necessário cruzar linhas de água, que em poucos dias mudam o caudal, passando de riachos que se atravessam a vau, mas que dias mais tarde exigem um desvio para alcançar uma precária ponte feita de madeira e bambu.
A altitude é também um factor a ter em conta, pois são frequentes as queixas de dores de cabeça e dificuldades em respirar quando se caminha acima dos 3000 metros de altitude. Nestas zonas é aconselhável subir no máximo 300 metros em altitude em cada hora, para evitar problemas, mas tudo depende de cada indivíduo… os guias e carregadores com quem falei, nenhum mostrou sinais deste tipo de problemas, mesmo fazendo o percurso com grande rapidez. Pode também recorrer-se a medicação para alívio ou mesmo prevenção destes sintomas, disponíveis tanto na medicina alopática com a homeopática, à qual recorri com sucesso

Custos
Optando por duas refeições por dia, pequeno-almoço e jantar, sendo a almoço substituído por barras de cereais e frutos secos, o custo diário fica em 1165 rupias, por pessoa, incluindo um ou outro chá nos dias mais frios. Há que acrescer o preço do transporte para chegar ao inicio do trekking e para regressar a Pokhara; pode ser de autocarro público que custa cerca de 150 rupias ou uma combinação de Jeep mais táxi que ronda as 1000 rupias mas poupa tempo.
Para o pequeno-almoço optei geralmente por um prato de comida, como noodles ou arroz com vegetais, pois as caminhadas duram cerca de 6 a 8 horas o adia em muito a segunda refeição do dia Pode-se sempre por optar por fazer paragens para almoço, mas apercebi-me que não é uma opção muito comum.
Por todo o percurso existem lojas, associadas ou não a guest houses que vendem basicamente tudo o que é necessário, comida, chocolates, artigos de higiene, pilhas, papal higiénico, bebidas alcoólicas, refrigerantes, tabaco… mas tudo a um preço bastante mais elevado. Para se ter uma ideia, um cartão para carregamento de telemóvel com 100 rupias da NCell (companhia nepalesa) custa 150 se for comprado em Chhomrong!
Material
Perante a perspectiva de ir percorrer a pé 80 quilómetros, subindo dos 1025 aos 4130 metros de altitude, em aproximadamente 10 dias, sem recorrer a um carregador, impunha-se o desafio de levar na mochila somente o estritamente necessário.
Depois de cinco meses em viagem, onde muita coisa foi ficando para trás, a estadia em Lisboa serviu também para optimizar o conteúdo da mochila, tentando torná-la mais leve… perante tremendo esforço o resultado foi desanimador: 11.5 kg às costas, mais uma mochila pequena com perto de 5 kg. Não entendo como é possível precisar de tanta coisa!!!
Eis uma lista enfadonha do que levei para o trekking do Annapurna Base Camp, tendo em conta que teria condições para lavar e secar a roupa:
- sapatos de caminhada
- t-shirts: 3
- sweat-shirt: 1
- camisola interior: 1
- calças: 2
- leggings
- meias: 3
- cuecas: 5
- camisola polar
- casaco polar
- gorro
- impermeável
- toalha de banho
- lenço (para proteger do sol e enxugar o suor, conforme as circunstâncias)
- almofada compressível
- saco-cama
- óculos de sol
- lanterna (frontal)
- protector solar
- chinelos de banho
- higiene: sabonete, champô, escova de dentes, pasta de dentes, desodorizante
- papel higiénico + lenços de papel
- saúde: papacetamol, antidiarreico, adesivos, pastilhas para a garganta, medicamento para a altitude, pomada do “chinês” (dá para tudo!)
- detergente para a roupa
- cozinha: faca, taça, caneca, colher, resistência para aquecer água
- comida: flocos de aveia, barras de cereais, frutos secos, canela, chá
- máquina fotográfica + carregador
- telemóvel + carregador
- caderno + caneta
- mapa
- garrafa de plástico e pastilhas desinfectantes da água
No total, incluindo o peso da mochila, devia ter entre 6 a 8 quilos às costas. Huffff!
Disto tudo, não fez falta:
- saco-cama e almofada: as guest houses tinham cobertores suficientes e tanto os lençóis como as almofadas estavam limpos;
- óculos escuros (ou o sol está encoberto pelas nuvens ou então o suor torna o uso dos óculos um tormento);
- utensílios de cozinha: é necessário levar um adaptador para ligar as tomadas aos casquilhos das lâmpadas, pois não existem tomadas nos quartos das guest houses; contudo, a estadia nas guest houses implica o consumo das refeições no restaurante anexo, o que torna praticamente desnecessário o que levei para preparar uma refeição ligeira à base de paaps de aveia, com excepção do chá que nas zonas mais altas do percurso é reconfortante;
Ao fim dos primeiros dias, reconheci que não estava devidamente equipada, pois a roupa de algodão não seca de um dia para o outro nas zonas mais frias e húmidas, que são a maioria do percurso. Eis o que me fez muita falta e eu não levei:
- Botas em vez de sapatos de caminhada: protegem os tornozelos; devem também ser impermeáveis à água, tanto pela chuva como pelos riachos que correm ao longo dos trilhos e no atravessamento de pequenas linhas de água;
- Bastões de caminhada: achava um equipamento desnecessário e nunca tinha usado, mas são um grande auxilio tanto nas descidas, ajudando a equilibrar, como nas subidas pois ajudam a dar impulso ao corpo… eu desenrasquei-me com uma cana de bambu que encontrei pelo caminho;
- Camisolas dry-fit, em vez de algodão que custam a secar e conservam a humidade do suor por mais tempo, o que é desagradável quando a temperatura é baixa e se pára para descansar;
- O mesmo se aplica para as meias, que devem ser também dry-fit, umas para climas mais quentes e um par para as noites e dias mais frios;
- Calças dry-fit, justas e de meia-perna: facilitam nos movimentos durante a caminhada e secam rápido, em vez de calças de algodão que com o suor ou a chuva se colam ao corpo;
- Alguma forma de transportar a garrafa de água, para não ter que andar com ela na mão e para não ter que parar e abrir a mochila sempre para tirar de lá a garrafa; ou mochila com depósito de água incorporado ou com local para encaixar a garrafa mas que esteja facilmente acessível.
- Luvas: dão jeito quando se permanece a maior altitude, mas não são indispensáveis.
- Proteções elásticas para os joelhos… podem dar algum conforto;
Caso seja necessário, as lojas em Pokhara vendem todo o equipamento necessário, quase todo da North Face: casacos, camisolas, polares, impermeáveis, luvas, sacos-cama, mochilas, botas, borros luvas, meias, assim como lanternas, bastões, toalhas de banho, medicamentos, pastilhas para purificar a água… tudo se encontra nas dezenas de lojas aqui existentes e a preços muito mais acessíveis do que em Portugal. As lojas estão também preparadas com os produtos alimentares necessários, como barras de cereais, frutos secos, chocolates, etc…
