Percorrendo o espaço envolvente ao templo, onde vairas imagens decoradas com flores e pigmentos vermelhos e açafrão, se encontram protegidas sob frondosas árvores neem e bhodia, encontro currais onde os peregrinos vão prestar culto e alimentar as vacas que ai se encontram, oferecendo-lhe ervas que se podem comprar a um vendedor estrategicamente colocado à entrada.
Do lado oposto do edifício, um elefante recebe moedas depositadas pelos peregrinos na sua tromba, que imediatamente entrega ao carnaca, para depois passar a tomba graciosamente pela cabeça dos devotos que aguardam, de rosto virado para o chão, o contacto do paquiderme. Quando a oferenda é comida, geralmente bananas, são rapidamente engolidas, não dando direito a “bênção”!
Mas é quando se entra no interior do templo que se apercebe da devoção associada a este local, ligado ao culto da fertilidade, onde reina a calma que permite observar atentamente o local, composto por várias salas e extensos e sombrios corredores ladeados por esbeltos pilares de pedra granítica, decorados com animais e imagens relacionadas com a mitologia hindu, através dos quais passam alguma da luz do sol.
Sentada no chão, encostada a uma coluna de granito onde se encontra esculpida uma voluptuosa imagem feminina, talvez uma representação de Menakshi, observo o movimento dos visitantes que se desloca entre os vários altares e imagens, efetuando orações e ritos, nos quais não encontro uniformidade nem sentido.
Enquanto peregrinos contornam um conjunto de nove imagens, cobertas de panos de seda de cores garridas, representado os nove planetas, um deles a Lua, realizando três voltas em torno do altar, sempre no sentido dos ponteiros do relógio, outros não muito longe, conversam e descansam descontraidamente sentados no chão, enquanto outro grupo entoa mantras, sentados em círculo, frente a um lingam*, uma das formas de representação de Shiva.
Os vários pujaris, sacerdotes hindus, encontram-se em permanente azáfama, junto às principais imagens do templo, cobrindo as sobrancelhas e muitas vezes todo o corpo com uma pasta de cor amarelo-açafrão aromatizada com óleos perfumados que é diariamente substituída, depois de ser despejado leite sobre as estátuas, e de posteriormente serem lavadas com água, terminado o ritual com a colocação de finos dothis que funcionam como vestimenta.
Estes homens, sempre de tronco nu, vestidos somente com um dothi, e com um pano de seda envolvendo a cintura, têm marcadas na testa, ombros, peito e braços, as três riscas feitas de cinza que identificam os seguidores de Shiva.
Da mesma forma, praticamente todos os homens que visitam este templo em peregrinação, apresentam-se de tronco nu, vestindo somente um dothi, cuja cor assim como as marcas feitas entre as sobrancelhas, identifica a qual dos deuses dedicam o seu culto.
O ar transporta o cheiro dos incensos que se mistura com o odor quente do ghee usado nas lamparinas deixadas acesas junto das várias estátuas de Shiva, Menakshi e Ganesh, aos quais se junta o odor doce das flores de jasmim, que compõem as oferendas transportadas pelos peregrino, juntamente com côco, bananas e pó de madeira de sândalo, vendidas nas inúmeras lojas existentes nas ruas da cidade ou mesmo num pequeno bazar de artigos religiosos, existente no interior do templo.
A pedra que cobre o chão dos corredores é decorada com pinturas de mandalas, assim como o tecto que sendo poupado ao desgaste dos milhares de pés que diariamente percorrem o templo mantem as originais cores garridas onde dominam o rosa, o azul, o vermelho e o amarelo.
Por todos os recantos encontram-se pequenos altares com o lingam repousando sobre o yoni*, decorados com flores iluminados por pequenas lamparinas de barro; devotos praticam as suas orações em silêncio e de olhos fechados, junto a imagens de Shiva e de Menakshi, enquanto pequenos morcegos percorrem o fresco e sombrio espaço do templo sem quebrarem a quietude ou a solenidade do espaço.
* o “lingam” não e mais do que uma pedra, geralmente de cor negra, cilíndrica, de forma fálica, representando o elemento masculino da criação cósmica; encontra-se geralmente sobre o “yoni” que tem a forma de um receptáculo circular, simbolizando o elemento feminino da criação, representando a deusa Shakti.
(este texto data de Julho de 2013)