Começa cedo a vida na aldeia, ainda antes de desparecerem as sombras, com o cantar dos galos que se passeiam livremente pelos caminhos da aldeia, ouvindo-se o som da água a correr para as lavagens matinais, o toque do sino à entrada dos templos, a faca a picar os legumes, o ritmo mecânico da máquina de costura… o cheiro da lenha a ser queimada para a aquecer a primeira refeição da manhã, que lentamente vai subindo pela chaminés e permanece sob a aldeia, retido pelas espessas nuvens que cobrem o céu donde se desprendem grossos pingos de chuva.
Situada no cimo de uma colina, perto da estrada que liga as duas maiores cidades nepalesas – Kathmandu e Pokhara – Bandipur foi durante o século IX um posto importante na rota comercial entre a Índia e o Tibete, tendo sido colonizada pelos Newar, povo oriundos do Vale de Kathmandu, desenvolvendo-se essencialmente ao longo de uma rua, com pouco mais de duzentos metros, a partir da qual divergem quatro trilhos, que aos poucos vão ficando desertos de casas e que conduzem aos campos agrícolas que circundam a povoação.
Pela aldeia existem diversos templos e santuários dedicados ao culto religioso, construídos em tijolo e com decorações em madeira trabalhada, deixados pelo Newar que praticam uma religião que consiste num misto de Budismo, que trouxeram do norte do país com o Hinduísmo vindo do Terai, as planícies do sul do Nepal.
Praticamente todos os edifícios da rua principal e alguns dos que situam nas ruas secundárias funcionam como guest-houses e restaurantes, mantendo contudo a arquitectura tradicional, constituída por casas com um ou dois pisos: o de baixo destinado a armazém ou actividade comercial e os restantes a habitação, com paredes construídas em tijolo, telhados em ardósia e onde as ombreiras de portas e janelas, assim como os varandins apresentam motivos decorativos talhados na madeira.
O quarto em que fiquei alojada, é numa destas típicas casas, onde a rústica estrutura interior é de madeira, acusando todos os movimentos dos passos, com a janela do pequeno varandim, sem vidros, protegida somente por portadas, virada para rua principal; e onde tanto as portas como as escadas de acesso ao andar superior obrigam a algum cuidado pela sua pequena altura… Bandipur é dos locais onde mais se vê o aviso “mind the head”!
Vive-se um ambiente calmo, sem veículos automóveis, com as ruas a serem ocupadas por crianças a brincar, enquanto turistas esquadrinham as várias ruas da aldeia e trilhos circundantes, de máquina em punho, em busca de registo da bucólica atmosfera rural que Bandipur proporciona.
Bandipur é uma aldeia bilhete postal, de onde se vê alguns dos picos do Annapurna mas que as nuvens cinzentas que envolvem as montanhas não deixaram captar as melhores imagens.