Situada a cerca de cinco quilómetros do perímetro de Kathmandu, por um percurso feito por avenidas de intenso tráfego e onde não se chega nunca a sair do meio urbano com os seus edifícios desprovidos de harmonia arquitectónica, envoltos numa camada de pó, que é uma constante das ruas da cidade, Boudhanath, também conhecida somente por Boudha, surge como um local atópico neste cenário.
É aqui, neste ponto situado na antiga rota comercial entre o Tibete e o Nepal, que se encontra uma das maiores stupas do mundo, e o maior templo budista existente fora do Tibete, que desde à séculos é local de devoção para quem efectuava a perigosa travessia dos Himalaias em direção ao Vale de Kathmandu.
Após a invasão chinesa, tornou-se um local de abrigo para os refugiados tibetanos, que hoje em dia ocupam praticamente todo o bairro existente à volta da stupa, contribuindo fortemente para criar uma verdadeira comunidade onde se encontram outros templos, mosteiros, restaurante e lojas com todo o tipo de artigos tradicionais do Tibete, tanto roupas como alimentos, para além dos inúmeros alfaiates e de oficinas dedicados ao fabrico de artigos e peças de carácter religioso.
Por todo o lado se vêm homens e mulheres, maioritariamente idosos, envergando as tradicionais vestimentas Tibetanas, usando pesada joalharia, assim como monges com as suas vestimentas grená, e onde a língua falada não é o nepalês mas sim o Tibetano. Sente-se aqui mais intensamente a presença da cultura tibetana do que na cidade de McLeod Ganj, no norte da Índia onde actualmente reside o Dalai Lama.
A stupa situa-se no centro de uma praça, rodeada de pequenos prédios, praticamente ocupados por hotéis, lojas e restaurantes; aqui podem-se encontrar de todo o tipo de artesanato tradicional tibetano, destacando-se as pinturas thanka com as suas representações das várias etapas da vida de Buddha em minuciosos e delicados desenhos.
Vive-se uma atmosfera confusa e agitada, pela azáfama comercial que tenta cativar os grupos de turistas que enchem o espaço, que mesmo assim não desencorajam os peregrinos de praticarem os seus ritos, fazendo girar as dezenas de rodas de oração e de circundar a stupa, três vezes, sempre no sentido dos ponteiros do relógio.
A construção apresenta a tradicional forma esférica assente sobre uma base em forma de mandala, acessível aos visitantes, tudo pintado de imaculada cal branca, destacando o dourado da torre, debroada pelos panos brilhantes de cores vermelho, verde e amarelo. Do cimo os familiares “olhos” de Buddha observam-nos dos quatro pontos cardeais.
Acredita-se que o interior da stupa alberga relíquias de Buddha assim como textos sagrados, que se encontram selados à séculos no seu interior, contribuindo para a importância e pelos poderes que são atribuídos a este local, tornando-o quase obrigatório nas peregrinações Budistas. Ao contrário da stupa que se encontra em Swayambhu, venerada essencialmente por budistas Niwari, Boudhanath é local de culto para os budistas Tibetanos, representando a tolerância religiosa que se vive no Nepal.