Kathmandu é nepalesa, mas convive bem com outras culturas, recebendo uma vasta comunidade de refugiados tibetanos que se encontram um pouco por toda a cidade mas que se concentra maioritariamente a oeste do Rio Bishnumati.
A vasta cidade estende-se por uma planície emoldurada por uma cadeia montanhosa que a envolve, mas que poucas vezes se deixa ver através da neblina causada pela poluição provocada pelo intenso trânsito que entope as principais avenidas e lhes confere um manto de poeira cinzenta.
Das poucas elevações, Swayambhu, situada na zona oeste da cidade, destaca-se não tanto pela vista mas pela stupa, datada do século V que domina a colina e pelo conjunto de templos budistas que a rodeia.
Os 300 degraus feitos em pedra e já muito desgastados são o principal acesso para quem aqui chega a pé, vindo do centro da cidade, que são percorridos pelos peregrinos e pelos visitantes sob o olhar atentos das centenas de macacos que dominam a colina que envolve o templo, convivendo com os visitantes sempre com o intuído de se apoderarem de algo para comer ou simplesmente por curiosidade e divertimento.
A primeira impressão à chegada não foi a mais favorável, parecendo que o recinto religioso se tinha tornado numa feira, onde por todo o lado se encontram bancas de venda de artesanato, souvenires, bandeiras tibetanas e uma parafernália de bugigangas mais ou menos relacionadas com o artesanato tibetano e com a religião budista. No meio de tudo isto, dezenas de visitantes, em muito maior numero do que os peregrinos, em grupos liderados pelos respectivos guias, iam avidamente tirando fotografias a todos os detalhes e pormenores referidos durante a explicação.
Passada a primeira impressão, e demorando o tempo suficiente para que a hora do almoço afastasse grande parte dos visitantes o local revela-se verdadeiramente especial. Como se fosse uma pequena povoação com pouco mais do que duas ou três ruas, ladeadas por casas em tijolo, actualmente convertidas em lojas e restaurantes, e onde estão dispostas estátuas, altares e dezenas de pequenas stupas, decoradas com estátuas representando Buddha sentado em posição de meditação sobre uma flor de lótus que por sua vez repousa num yoni, símbolo feminino da criação, segunda a iconografia hindu, o que mostra como estas duas religiões foram absorvidas ao longo dos séculos, pelos nepaleses, em particular os habitantes do Vale de Kathmandu.
Swayambhu, esconde muitos detalhes que só se revelam numa visita mais demorada, com tempo para apreciar a rotina dos peregrinos efectuado as suas orações, acendendo incenso e pequenas velas que vão ardendo em toscos recipientes de barro, fazendo girar as rodas de orações enquanto circundam a stupa principal sempre no sentido dos ponteiros do relógio. Pequenas stupas e templos ocupam o espaço, onde em pequenos recantos surgem nichos representando várias fases da vida de Buddha.
Mas o que domina a atenção é sem dúvida é a stupa central, cuja brancura da sua enorme cúpula esférica contrasta com o intenso azul do céu. Grande parte do simbolismo e da cosmologia budista está aqui representado proporcionado aos peregrinos meditarem e refletirem enquanto efectuam as voltas em torno da stupa.
A cúpula branca representa o útero e consequentemente a criação; à volta os quatro nichos com imagens de Buddha orientados segundo os pontos cardeais representam os quatro elementos – água, ar, fogo e terra – ao qual acresce mais um representando o elemento espaço ou céu. Sobre a cúpula ergue-se um pilar de madeira que simboliza o elemento masculino, que está apoiado numa base quadrangular decorada com um panos verde brilhante, também orientada segundo os pontos cardeais, onde uma estão pintados os chamados “Adi-Buddha” que olham nas quatro direções, e que tudo vêm. Entre os olhos, do ponto chamado “urna” sai uma espiral que desce com uma forma ondulada e que representa a luz emanada. Os anéis dourados dispostos ao longo do pilar representam os trinta degraus necessários percorrer para se atingir a iluminação. No topo encontra-se uma estrutura cilíndrica dourada, também adornada por panos do mesmo tom, que termina numa forma cónica que aponta para o céu, simbolizando a chegada à iluminação espiritual.