Fazendo-me sentir mais turista do que viajante, a Tailândia deixou-me muitas vezes num impasse com a indecisão em relação ao rumo a seguir e aos locais a visitar.
A vontade de participar em excursões para fazer passeios de elefante, visitar cabarets com espetáculos de lady-boys, combates de thai-boxing, visitas a orfanatos, excursões a aldeias típicas tailandesas, visita às chamadas “mulheres-girafas” (que efectivamente são originárias da Birmânia) cujo pescoço continua a ser esticado para agradar às objectivas dos turistas… tudo isto num país onde a entrada num autocarro de turismo rapidamente se pode transformar numa excursão com visitas a templos e com paragem em restaurantes dispendiosos.
Para fugir a esta oferta procurei refúgio no trabalho de voluntariado, longe do circuito turístico, o que me levou a ter contacto com a New Life Foundation, situada a uns 18 quilómetros de Chiang Rai, muito perto das fronteiras com o Laos e a Birmânia, destinada a acolher pessoas com problemas relacionados com a dependência de álcool e drogas ou que necessitem de apoio psicológico.
A fundação foi criada à cerca de três anos, por um belga que após ter passado pelo processo de desintoxicação de drogas no mosteiro Thamkrabok, situado no sul da Tailândia, com o objectivo de acolher e de apoiar outras pessoas em circunstâncias semelhantes. Aqui é disponibilizada o apoio de Life Coaching, assim como de outras terapias e de apoio psicológico.
O espaço, com alojamento para mais de cinquenta pessoas, dispõem para além dos blocos para alojamento, de sala de refeições e convívio, amplos jardins relvados, piscina, banho-turco, salas e pavilhões para meditação e pratica de yoga, thai-chi, palestras e outras actividades de grupo, como biodanza, workshops, etc…
Diariamente, depois da aula de yoga e do pequeno almoço, é realizada uma reunião com todos os residentes e voluntários onde se abordam vários temas do quotidiano da instituição, aberta a sugestões e à apresentação de problemas; no final são indicadas as tarefas a realizar por cada um dos membros da comunidade, divididas por duas horas e meia de manhã e mais hora e duas horas durante a tarde, chamados “working meditation”. Os residentes ficam dispensados da maioria do trabalho diário para poderem participar nas secções individuais e colectivas orientadas pelo psicólogos.
O trabalho pode por vezes ser duro, como é o caso da agricultura que implica andar a tratar das árvores e da horta, ou o fabrico de tijolos de adobe, devido ao calor provocado pelo sol intenso. Contudo, de uma forma geral o trabalho não é muito intenso sendo é feito de forma descontraída e sem pressões, intercalado por momentos de conversa e de descanso ao abrigo dos bambus.
Aqui reúnem-se pessoas de várias partes do mundo, dominado contudo os ingleses, americanos e canadianos, sendo a conversação sempre feita em inglês.
Para além dos residentes que permanecem por períodos mais ou menos longos, tendo diariamente seções de terapias, há também espaço para os voluntários que se juntam aos residentes nas tarefas diárias.
Não existem portões nem vedações, mas tudo obedece a regras e a horários rígidos, mas que são cumpridos sem grande pressão, proporcionado um ambiente descontraído o que permite facilmente o contacto entre os voluntários e os residentes.
Apesar do trabalho a que os voluntários e os residentes estão sujeitos é necessário pagar para permanecer na New Life Foundation e que dependendo do período da estadia, pode variar entre os 300 baht e os 600 baht (cerca de 15€).
O dia começa cedo, pelas seis horas, com a aula de yoga, que se inicia ainda antes do nascer do sol e que permite ver cambiar das cores do céu em tons de lilás e laranja, à medida que o dia vai nascendo, e a bruma da noite se vai evaporando.
Os dias são quentes e o ar seco, o que é proporciona as condições ideais para proceder à secagem do arroz após a colheita que é feita por meios mecânicos feito pelo pessoal tailandês. Coube aos voluntários espalhar os grãos num terreiro de cimento, na zona mais quente da quinta, o que apesar do desconforto do suor proporcionou um conjunto de sensações, para mim únicas, com o sentido do olfato a ser brindado com o aroma fresco do cereal recém colhido que se intensificava à medida que o íamos espalhando com a ajuda dos pés, tarefa que se prolongou por mais de uma hora e que proporcionou realmente momentos únicos de meditação.
Todas as refeições, têm a opção vegetariana e não-vegetariana, com deliciosa comida preparada pelo staff local, seguindo os pratos tradicionais da Tailândia onde sobressaem os caris frescos e picantes; excepção é o pequeno almoço, preparado pelos residentes com a ajuda de voluntários, onde para além do porridge e dos cereais, é servida fruta, leite das vacas da quinta do qual também se faz o iogurte, pão, compotas feitas com a fruta do pomar… papaia, bananas, dragon-fruit, ananás, dióspiros… e claro: ovos e mais ovos, presentes a todas as refeições, fritos ou cozidos, que todos os dias são depositados pela dezenas de patos existentes na quinta.
A partir das nove e meia da noite é altura de manter silêncio e é quando a maior parte das pessoas se refugia nos quarto; parecendo demasiado cedo para ir para a cama, o corpo pede descanso pela intensidade do dia.
Aos fins de semana, o trabalho é ligeiro e no domingo é folga total organizando-se por vezes visitas à cidade mais próxima, Chiang Rai, para compras ou um passeio pelo mercado.
Vida fácil a agradável nesta comunidade, longe da realidade mas numa agradável e doce utopia!!! Faz pena ter que daqui sair…
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