Trinta horas de viagem; sete transbordos; quatro diferentes meios de transporte; uma noite dormida no comboio; duas refeições; 1377 bahts (cerca de 35€)… este é o balanço da viagem entre a cidade de Ayutthaya e a ilha de Koh Phangan, situada na costa Este da Tailândia.
Tudo começou calmamente com uma caminhada pela cidade de Ayutthaya, situada a cerca de 150 quilómetros a Norte de Bangkok, até à estação de comboios, depois de ter feito o check-out pelas 11 horas da manhã de mais um quarto despersonalizado e de uma estadia sem história dominada pela antipatia dos proprietários.
A travessia do pequeno rio Pa Sak, que separa a parte antiga da cidade da zona onde se situa a estação de caminhos de ferro, não demorou mais do que três minutos, num pequeno barco a motor que durante todo o dia liga pacientemente estas duas partes de Ayutthya.
Seguiu-se uma pequena espera pelo comboio que me levaria para Bangkok, o que permitiu apreciar a vida que se cria sempre em volta das estações, com os seus vendedores de frutas e legumes, os seus restaurantes improvisados, os taxistas que pacientemente esperam pela chegada de clientes, interceptando os estrangeiros com a habitual pergunta “para onde vão?”… os monges que se encontram um pouco por todo o lado, chamando a atenção pelas cores berrantes dos seus trajes que contrastam com a habitual calma e serenidade que demonstram.
A viagem, que demorou pouco mais de hora e meia, foi numa carruagem de segunda classe, longe das agruras do ar-condicionado e com mais possibilidades de contacto com a população tailandesa, sem contudo se proporcionar qualquer abertura para uma simples conversa, talvez em resultado da barreira linguística, mas que mesmo assim proporcionou abertos sorrisos que nem sempre são fáceis.
Em Bangkok, na estação de comboios de Hualamphong tinha pela frente uma espera de mais de quatro horas pelo comboio que pelas 6.30h da tarde partia com destino ao sul do país, à cidade de Surah Thani.
Dado ser o aniversário do Rei Bhumibol toda a estação estava decorada de amarelo, com grinaldas e flores, e nos ecrãs passavam imagens de sua majestade ao longo dos seus 86 anos de vida, tanto entre os monges como em visitas diplomáticas com outros chefes de estado e no meio da população, que a avaliar pelo numero de pessoas que neste dia vestiam roupa amarela, é figura muito querida dos tailandeses.
Masi uma vez, assisti ao toque do hino nacional, que soa diariamente pelas seis horas da tarde nas ruas e em outros locais públicos, durante o qual a população pára e se mantem de pé, imóvel e compenetrada, voltando tudo à normal actividade assim que deixa de soar a música.
Nesta segunda viagem de comboio pela Tailândia a opção foi novamente pela “sleeper class” devido às 12 horas de duração previstas, mas desta vez em segunda classe, de forma a fugir às agruras provocadas pelo ar-condicionado. Curiosamente as condições em termos de conforto são em tudo semelhantes, com lençóis, almofada, coberta e cortinados que promovem alguma privacidade e ajudam a proteger da agitação provocada pelas poderosas ventoinhas, que se tornam desnecessárias ao longo da noite, pois as temperaturas nesta altura do ano não são muito elevadas.
A chegada pelas sete da manhã a Sura Thani, apesar do atraso do comboio, permitiu-me chegar a tempo para comprar o bilhete com destino à ilha de Koh Phan Nang, que ainda implicava um percurso de autocarro de hora e meia, até ao cais de embarque de onde partem os barcos para as ilhas mais próximas, como Koh Samuri.
Claro que à chegada à estação tinha um conjunto de agentes das empresas transportadores que operam nas ligações a esta ilha e às outras que formam este pequeno arquipélago, oferecendo vários pacotes, com a opção em catamaram ou a mais económica, em ferry, com um preço mais acessível mas mais lenta.
Acabei por optar por comprar o bilhete conjunto bus+ferry a um destes operadores por ser a solução mais fácil e cómoda, aperar de ser certamente mais dispendiosa. Contudo viajar por meios próprios, como estava habituada no Índia e no Nepal, não se tem afigurado tarefa fácil: muitas vezes desconheço completamente os locais onde chego, não conseguindo assim avaliar o preço de um tuk-tuk ou de um táxi; obter informações junto da população é complexo e muitas vezes frustrante dada a dificuldade de comunicar em inglês e a minha inaptidão para o tailandês; é também difícil obter informações da parte do pessoal dos hotéis que encaminham sempre para os serviços turísticos que vendem; as estações de autocarros ficam muitas vezes longe do centro da cidade, o que implica apanhar um táxi-coletivo, que se não for partilhado com mais gente se pode tornar bastante caro… tudo isto mais a necessidade constante de negociar o preço e o facto de muitas vezes ser necessário efectuar vários transbordos numa só viagem faz com que muita gente opte pelos serviços turísticos. Por isso se ouve com frequência da parte dos estrangeiros que viajar pela Tailândia é fácil… “easy easy”!
A espera pelo autocarro demorou bem mais do que o previsto, prolongando-se por três horas enquanto se aguardava pela chegada de mais um comboio vindo de Bangkok, que traria o número suficiente de passageiros que justificasse fazer a viagem até ao cais de embarque do ferry, o que me impossibilitou de apanhar o primeiro ferry da manhã, tendo que esperar pelo das 13h…. mais três horas de espera.
Durante a manhã, o céu que era azul e o ar que era quente a abafado rapidamente se transformaram em cinzento com as nuvens que o intenso e fresco vento arrastavam, criando forte ondulação no mar e ameaçando tornar ainda mais longa a travessia, prevista inicialmente para duas horas e meia de viagem.
À chegada ao porto de Thong Sala, a principal cidade Koh Phan Nang, a chuva começou a cair, forte e fria, vinda das nuvens negras que cobriam o céu, dando à tarde uma tonalidade quase nocturna.
Tudo isto me fez parar e esperar que algo acontecesse, pois as informações que fui recolhendo eram de que seria impossível chegar à praia de Had Tien, destino final desta viagem, devido às condições do mar. Esperei e como sempre algo surgiu a solução: entre as poucas pessoas que ainda se encontravam abrigadas da chuva junto ao cais de embarque, duas tinham o mesmo destino que eu, com a vantagem de já conhecerem a zona.
Depois de muita negociação, o táxi lá seguiu atravessando a ilha por íngremes estradas emolduradas pelo verde dos coqueiros e das bananeiras, para Haad Rid, praia famosa pela “Full Moon Parties” e por muitas mais festas que aqui ocorrem quase diariamente. Aqui a estrada acaba, sendo praticamente intransitável até Haad Tien, o que obriga a seguir viagem nuns pequenos barcos de pesca que funcionam como táxi, ligando Had Rin às restantes praias da costa Este da ilha.
Foi aqui que olhando a rebentação das ondas questionei se seria boa ideia continuar nesse dia até Haad Tien, pois o barco que aguardava na areia oferecia pouca confiança perante a ondulação do mar. Todos ajudamos a empurrar o barco para o mar, e numa rápida e desajeitada corrida saltei lá para dentro, encorajada pela confiança dos restantes passageiros, tanto estrangeiros como tailandeses. De inicio a rebentação era forte e o som seco da madeira do casco do barco a bater contra o mar ao mesmo tempo que as ondas nos iam molhando a roupa, foi um pouco assustador mas a viagem decorreu sem incidentes.
Contudo dado o estado do mar o barco ficou numa praia próxima de Haad Tien, sendo o resto do percurso feito a pé por um trilho que iam serpenteando por vários bungalows construídos em madeira e folha de bananeira, através da densa vegetação que cobre toda a ilha de um verde compacto que contrasta com o tom quente alaranjado das rochas graníticas constantemente fustigadas pela ondulação de um mar azul claro.







