Após três horas de autocarro, por uma estrada poeirenta, que apesar de pavimentada se encontra em mau estado, obrigando a constantes abrandamentos dos veículos, mas que mesmo assim não são suficiente para evitar os saltos a que os ocupantes são sujeitos. O mini-autocarro preparado para nove passageiros transportou catorze, que se foram acomodando em cadeiras acrescentadas que pertenceram a um outro qualquer veículo, ou em sacos de arroz, bidões, bilhas de gás e demais mercadoria transportada tanto no interior como no topo, onde também se acomodam as mochilas dos poucos turistas que ousam efectuar viagens nos transportes públicos do Laos.
Para trás fica a bonita cidade de Luang Prabang, com o seu estilo colonial, ocidentalizada e sofisticada; pela frente encontra-se o norte do Laos, rural, pobre e pouco desenvolvido, dominado por montanhas de encostas arborizadas, que se estendem até às fronteiras com a China, Vietnam e Tailândia.
O destino é a povoação Nong Khiaw, situada na encosta do rio Nam Oú, um dos muitos afluente do Mekong. Até há poucos meses atrás era possível viajar de barco, rio acima, desde Luang Prabang, mas as obras de construção de uma barragem inviabilizam esta possibilidade, obrigando a percorrer o trajecto até Nong Khiaw por estrada, sendo possível a partir daí navegar livremente no rio, até quase ao extremo norte do país.
Ao ritmo monótono e barulhento do motor, a embarcação que nos transporta rio acima, deslizando suavemente pelas águas turvas e acastanhadas. Antes foi a habitual azáfama em Nong Kiaw, que antecede o início da viagem para acomodar carga e passageiros nos pequenos barcos que ainda utilizam este rio como principal meio de transporte, ligando povoações que se encontram dispersas pelas suas margens, algumas das quais sem acesso por estrada.
Os barcos, pequenos e de casco pouco profundo são ideias para percursos neste rios, cujas águas durante a estação seca estão de tal forma baixas que expõem os fundos rochosos, deixando a descoberto bancos de areia, que são evitados pelo olhar atento do condutor do barco que se mantem vigilante, lendo na superfície das águas, o percurso a seguir.
As encostas do vale onde se encaixa o rio são cobertas de vegetação tropical, de onde sobressaem os bambus e uma grande diversidade de árvores, cujos variados tons de verde e os diversos brilhos, formam um padrão que se mantem constante ao longo de praticamente todo o percurso, sendo interrompido nas zonas junto às povoações, onde esta floresta se encontra seriamente devastada pela presença humana, tanto em busca de espaço para a agricultura como em busca de madeira, usada como combustível, mas também vendida para a industria.
É uma vida simples e rural que se observa nas margens do rio, onde as crianças que não se encontram ocupadas com os trabalhos agrícolas ou com os búfalos, se entregam a brincadeiras junto à água, mergulhando de improvisadas jangadas, enchendo o ar de gargalhadas e transmitindo uma alegria capaz de provocar sorrisos a quem as observa.
Penhascos de pedra calcária, quase totalmente cobertos de vegetação, surgem abruptamente nas encostas do rio, criando zonas de sombra, tornando a suave brisa provocada pela deslocação do barco, numa aragem desconfortavelmente fresca, antecedendo as baixas temperaturas que se sentem no norte do país, depois do pôr do sol.
É durante estes percursos dominados pelo aparente silêncio da natureza emanado das encostas, e pelo murmúrio constante das águas, que se cria espaço para observar os nosso pensamentos, escutar as nossas emoções, refletir sobre o caminho percorrido e deixar fluir os sentimentos que nos indicam a direcção a seguir.
Sunrise Bungalow (Nong Khiaw)
Quarto duplo: 80.000 KIP
com WC
vista para o rio
free wi-fi