A zona de Si Phan Don, conhecida por “quatro mil ilhas” situa-se no extremo Sul do Laos, muito perto da fronteira com o Camboja, onde a orografia plana permite que o Mekong alargue o seu leito, estendendo-se por uma largura de catorze quilómetros. É nesta espécie de delta, muito longe ainda da sua chegada ao mar, que só ocorre no Sul do Vietnam, que surgem pequenas ilhas, as maiores das quais permanentemente habitadas, outras mais pequenas sem presença humana e muitas ilhotas e bancos de areia, que na época seca surgem efemeramente nas águas esverdeadas.
A maior destas ilhas, a mais desenvolvida e a mais popular, é Don Kong; um pouca mais a Sul ficam Don Khon e Don Det, as únicas ligadas artificialmente por uma ponte, construída pelos franceses durante a colonização, numa zona onde o meio de transporte são os barcos, mais ou menos pequenos que efectuam carreiras mais-ou-menos regulares com os cais de Ban Nakasang e Ban Hat Xai Khoun, as principais povoações situadas na margem esquerda do Mekong, que nesta zona constitui fronteira com o Camboja.
A escolha foi para Don Det, recentemente tornada muito popular entre os backpackers, onde ainda a presença turística, se encontra equilibrada com o tradicional quotidiano da população, em que o dia começa cedo com a preparação do lume que enche o ar de uma fina película de fumo, para a preparação da primeira refeição do dia que reúne toda a família cujas três gerações habitam a mesma casa, com as crianças a encaminharem-se para a escola envergando os seus uniformes de camisa branca, as galinhas passeando com as suas crias enquanto esgravatam a terra seca e poeirenta, os galos entoando cânticos ao nascer do sol, alguns dos quais mantidos em gaiolas de bambu, preparados para os combates, vendedoras de legumes que transportam a sua mercadoria em cestas penduradas no bambu colocado sobre o ombro…
E a somar a tudo isto existe um outro mundo também cheio de actividade que está associada ao rio, com pequenos barcos movidos a remos que inspecionam as redes de pesca, e outros um pouco maiores destinados ao transporte de passageiros e carga, cujos estridentes motores quebram a calma da ilha.
Uma única estrada circunda a ilha, e outra que a travessa pelo meio dos campos de arroz que ocupam praticamente toda a superfície de Don Det: ambas sem pavimento e somente com largura suficiente para circularem motos com atrelado lateral, que são o meio de transporte de mercadorias mais utilizado, onde em geral a maioria das pessoas desloca-se a pé ou de bicicleta, numa ilha que não tem muito mais do que três quilómetros de comprimento.
Foi uma forma de terminar calmamente a estadia no Laos, onde da varanda do bungalow onde me instalei pude apreciar intensos nasceres-do-sol, sempre envolvidos por uma suave bruma, que só deixava ver o tom laranja do sol quando este já se afastava um pouco da linha do horizonte. Do outro lado da ilha, numa zona menos densamente ocupada por bungalow pôr-do-sol constitui outra atracção, numa zona onde a paisagem do rio é mais ampla e com menos ilhotas.
Mágicos foram também os dias em que a lua-cheia, despontando quando ainda do outro lado da ilha o sol ainda persiste, iluminou a escuridão que se abate sobre a ilha durante a noite, pouco depois das sete da tarde, altura em que a vida local se recolhe em casa para descansar, ficando a noite reservada aos cafés, restaurantes de chill-outs que se concentram ao longo do lado nascente da ilha, dispostos ente a estrada e o rio, em periclitantes estruturas de betão e madeira.