Mais uma fronteira cruzada por terra, a terceira desta viagem, depois da simples mas fisicamente penosa passagem entre da Índia para o Nepal, e depois da pacífica e eficiente mudança da Tailândia para o Laos, com o Mekong como cenário de fundo, chega a vez do Camboja.
Deixando para trás as ilhas pintadas de verde de Si Phan Don, e percorrendo de autocarro cerca de quinze quilómetros, por uma estrada praticamente desértica, que corta quase em linha recta a paisagem seca e árida, chega-se ao posto fronteiriço de Veun Kham-Nakasong, o único existente entre o Laos e o Camboja.
Espera-nos, à saída do autocarro, um conjunto de edifícios dispersos nesta paisagem desolada: uns de aspecto imponente mas desocupados, outros mais rústicos em madeira, onde um funcionário dos serviços de imigração do Laos, nos carimba o passaporte com a data de saída, estando este “serviço” sujeito ao pagamento de uma taxa de 2$ ou de 20.000 kips (o que não é exactamente a mesma coisa, sendo mais favorável o pagamento em dólares).
Segue-se a habitual caminhada a pé, numa fronteira que fica isolada de qualquer povoação, tanto do lado do Laos como do lado do Camboja, cruzando cancelas e pórticos profusamente decorados seguindo o estilo khmer, até se chegar aos serviços de imigração cambojanos, onde um zeloso funcionário nos mede a temperatura, a mim e aos restantes passageiros que efetuaram esta travessia no mesmo autocarro, como forma de despiste da malária e do dengue; o processo é mera formalidade e pouco tem de fiável pois a maioria das pessoas não tinha mais do que 35º, temperatura muito próxima da que se fazia já sentir nessa manhã.
Como eu não estava integrada no grupo que constituía a maioria dos passageiros, que optou por contratar os serviços de uma agência para tratar do processo burocrático, fui encaminhada para os serviços de quarentena: uma mesa, protegida por um toldo de lona; aí depois de avaliada a minha temperatura, e do preenchimento de alguns papéis, e uns quantos carimbos, foi-me cobrada a quantia de 1$ por este serviço, após o qual estava apta a seguir com o processo de obtenção do visto noutro departamento dos serviços de imigração. Constatei depois que este foi um pequeno exemplo do esquema de corrupção pelo qual este posto fronteiriço é famoso, onde muitas vezes é exigida uma quantia superior à legalmente estabelecida.
Depois de mais formulários, carimbos e do pagamento dos 25$ legalmente necessários, encontrei-me finalmente detentora do visto turístico para visitar o Reino do Camboja, válido por trinta dias.
Apesar de tudo, o processo desenrolou-se com a rapidez, mas a espera prolongou-se por mais de duas horas durante as quais o calor se foi intensificando, servindo de pouco os precários toldos que servem de proteção aos rústicos estabelecimentos situados próximo do posto fronteiriço, uma espécie de restaurantes que pouco mais têm para oferecer do que bebidas e snacks embalados, enquanto eram tratados os vistos dos restantes passageiros.
Seguiu-se a habitual confusão antes de se poder continuar viagem, até toda a gente conseguir perceber efectivamente qual o autocarro em que tinha que entrar em função do destino desejado: a cidade Stung Treng, a mais próxima da fronteira ou a capital, Phnom Penh.
Da parte dos funcionários da empresa de transporte houve o previsível esquema de tentar cobrar algum dinheiro extra a alguns dos passageiros, para além do preço já pago pelo bilhete, argumentado que alguma da bagagem não poderia ser transportada no autocarro e que teria que ficar para trás, provocando mais atrasos e acesa discussão até se conseguir negociar um valor razoável para ambas as partes.
Estes percalços serviram como preparação para enfrentar um país pobre, onde a corrupção marca presença.