Autocarros e mais autocarros. A principal forma de viajar no Camboja, um pais onde a linha de caminho de ferro existente, construído essencialmente durante a presença francesa no território então chamado de Indochina, está praticamente descativada devido ao degradado estado de conservação, encontrando-se somente a funcionar alguns serviço de transporte de mercadorias.
Contudo, não existe uma companhia estatal de transporte de passageiros, sendo a ligação entre as várias cidade assegurada por muitas pequenas e grandes companhias privadas, que oferecem diferentes ligações, diferentes horários e diferentes preços, sendo o conforto da viagem directamente proporcional ao que se pretende gastar.
Tenho escolhido a sempre estrategicamente bem posicionada no centro das várias cidades, a Capitol Tours, cujos autocarros não são nem bons nem demasiado maus, são velhos mas não decrépitos, sempre com um discreto ar-condicionado, estofos em napa de textura pegajosa, cortinas florida, com rendas e drapeados, sem casa-de-banho mas com muitas paragens para descanso e refeições, às vezes paragens a mais… mas infelizmente todas as viagens são acompanhadas por música ou filmes.
De Battambang até Phom Pehn. Trezentos quilómetros. Uma verdadeira viagem vinda dos infernos, agravada pelas poucas horas de sono que um inesperado convívio com outros viajantes, obrigou. Apesar do razoável conforto do autocarro e da não menos razoável condição da estrada, a viagem que aparentava poder proporcionar algumas horas de sono, foi violentamente corrompida pela exibição continua de filmes de artes marciais, aparentemente de origem em Hong-Kong, que o motorista fez questão de exibir em volume muito elevado, intensificando os efeitos sonoros das lutas marciais e os gritos emitidos pelas estridentes vozes dos actores.
A paisagem, foi-se desenrolando monotonamente, entre arrozais de perder de vista, maioritariamente ainda secos à espera da monção e pequenos aglomerados de casas que se vão dispondo em fila, à beira da estrada, semicobertas do pó que a passagem dos veículos liberta das bermas não pavimentadas que ladeia o estreito betuminoso que constitui as duas faixas de rodagem.
Em trinta dias foram somente 1560 quilómetros de percurso rodoviário, feito sempre de autocarro, com excepção dos 500 quilómetros feitos em mini-van entre Stung Treng e Siem Reap, numa visita que excluiu toda a zona Este do Camboja.
Mas muitos foram os quilómetros feitos de bicicleta, que se revelou ser a melhor maneira para visitar os templos de Angkor, assim como para percorrer as cidades de Siem Reap e Battambang, revelando-se tarefa demasiado arriscada para ser tentada em Phom Penh, onde as ruas da cidade foram quase sempre vencida a pé, ou quando o calor pesava demasiado, em moto-táxi.







