O dia tinha sido cansativo e de certa forma frustrante, pois a visita ao Monte Kyaytyo com a famosa Golden Rock era parte do plano inicial da estadia na Birmânia.
Mas talvez tenha havido um propósito nisto tudo: chamemos-lhe destino ou coincidência, mas a chegada a Bago, um dia ou dois antes do previsto, foi brindada com a celebração de um festival hindu, o Ramayana, que nesse dia encheu a rua principal da cidade com um vibrante e colorido cortejo.
À medida que o cortejo ia avançando, encabeçado por um pujari, de olhos embriagados de devoção e de algo mais, carregando uma taça de brasas incandescentes das quais se libertava um intenso e agradável aroma de óleos perfumados, iam-se sucedendo os vários penitentes, num crescendo de intensidade e dor, alguns em estado de transe intensificado pelo ritmo do matraquear seco e frenéticos dos tambores.
Indiferente a tudo isto o trânsito orientado por indolentes polícias, ia a custo de muitas buzinas avançando pela cidade, enquanto a população ia assistindo num misto de excitação e de curiosidade, num país em que a esmagadora maioria da população é budista.
O festival terminou junto ao principal templo Hindu de Bago, cuja arquitectura é uma versão humilde dos templos indianos característicos de Tamil Nadu, com os penitentes a caminharem, um a um, sobre as brasas enquanto o sol se ia escondendo no horizonte.
Intenso. Poderoso. Como todas as manifestações associadas à religião hindu. Capaz de provocar arrepios e despertar a repulsa, mas ao mesmo tempo com um hipnótico poder de atracção.
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