O cheiro do óleo que se intensifica à medida que o sol sob no horizonte, o luz ofuscante do meio-dia incidindo sobre o metal polido dos carris, o zumbir dos insectos somente interrompido pelo chegar de mais um táxi ou tuk-tuk trazendo mais passageiros para aquela desolada estação de comboios. A volta reina uma estranha quietude, uma imobilidade que se torna desconfortável para quem se habituou à cansativa sinfonia de buzinas e motores. Nada parece quebrar esta letargia que aumenta com a intensidade do calor: nem o movimento em torno da bilheteira, nem tão pouco a actividade junto da única loja dedicada à vende de refrigerantes, bolachas, snacks e demais parafernália disponível para quem está prestes a embarcar para o comboio.
Inicia-se aqui uma viagem de mais de 2000 quilómetros que separam o calmo e descontraído estado de Goa da caótica e agitada cidade de Delhi. Durante as mais de 30 horas de viagem, paisagens tropicais dominadas pelo verde dos coqueiros onde a espaços desponta a imaculada brancura de uma igreja, vai dando lugar a cores mais ocres, onde na secura da terra vai despontando a cada vez mais rara vegetação, à medida que o percurso rumo a norte, nos aproxima dos áridos estados do Gujarat e Rajastão. Lufadas de ar quente entram pela janela, tornado difícil perceber se a brisa criada pela deslocação do comboio é sinónimo de alivio ou se contribui para o calor que aos poucos vai tornando o corpo letárgico e as pálpebras pesadas.
Depois de mais de um mês passado em no norte de Goa, mais concretamente em Arambol, ficam poucas saudades de uma localidade que nasceu somente em função da praia, completamente virada para o turismo, onde dificilmente se consegue ter contacto com as tradições, os hábitos ou cultura locais. Não é mais do que uma estrada de acesso à praia, cuja parte final se desenvolve em paralelo ao areal, ladeada de lojas, casas, restaurantes, cafés, agências de viagens, guest houses, mercearias, frutarias, postos de internet, tendas improvisadas de vende de roupa, artesanato, lembranças e souvenires ao estilo kitsch e maioritariamente de fraca qualidade. Por trás desta primeira linha fica um emaranhado de ruas, caminhos e passagens cada vez mais labirínticos e estreitos, que dão acesso ao conjunto compacto de casas e pequenos prédios que forma a povoação de Arambol.
Incaracterística zona, esta de Arambol assim como das demais povoações que cresceram em torno das praias do estado de Goa, onde a tradicional modéstia no vestir e pudor no comportamento tradicionais da Índia é esquecida, com estrangeiros passeando-se em fatos de banho ou em roupas reduzidas pelas ruas, restaurantes e lojas.
Domina o turismo russo, que de tal forma que facilmente se encontra publicidade, anúncios, placas, flyers escritos em cirílico, e com comerciantes a falarem o suficiente da língua para cativarem cliente e fazerem negócio. É tal a presença desta comunidade, bastante fechada na sua língua interagindo pouco ou nada com os restantes estrangeiros e muitas das vezes existem produtos destinados a consumidores russos.
Com o negocio do turismo, muita da simpatia e descontração que caracteriza a população de Goa, tornou-se em avidez e ganância, tornando os estrangeiros somente um fonte de dólares, recebidos com desprezo ou indiferença.
Dos cinco séculos de presença portuguesa fica uma língua quase esquecida mas que resiste nos apelidos, nos nomes de lojas, de negócios, destacando-se os Souza, Fernandes, Piedade, Braganza… ficam os chouriços, os vestidos coloridos, de saia rodada descendo até ao joelho, usados pelas mulheres católicas que contrastam com os tradicionais sahrees.
Resistem ainda as casas construídas segundo o estilo de arquitectura colonial, geralmente de piso térreo, com amplos mas baixos alpendres dominando a fachada principal, e que ainda mantêm os telhados de quatro águas forrados a telha cujos fungos deixados pela humidade durante a monção tornaram escuros.
Apesar do críquete ser o desporto nacional, aqui o futebol marca forte presença, em improvisados campos de terra vermelha, e pela agitação que envolve os jogos do Goa Futebol Club.
Mas a marca mais evidente é sem duvida a religião católica que fez erguer igrejas e capelas um pouco por todo o lado, que se encontram mantidas com esmerado cuidado, iluminadas por colorido e intermitentes néon, e que ao fim da tarde se enchem de fieis, nas suas melhores roupas, onde se destaca o brilho acetinado dos vestidos usados pelas mulheres e o branco imaculado das camisas dos homens.
Mas as igrejas não são local de atração para os milhares de visitantes que acorrem a Arambol, alguns para umas curtas férias, mas muitos para ficarem por meses, sendo frequente voltarem aqui todos os anos, por vezes atraídos não tanto pela praia mas mais por este local se ter tornado ponto de encontro entre viajantes.
Ao fim do dia, a praia enche-se de gente aproveitando a grande extensão de areal deixado pela maré vazia, para caminhar, praticar yoga, cantar, dançar, exibir malabarismos. O pôr-do-sol marca o inicio de um pequeno mercado improvisado nas areias da praia, onde artesãos e comerciantes apresentam os seus artigos, intercalados com vendedores de bolos, salgados e demais delícias caseiras produzidas por estrangeiros residentes em Arambol e nas vizinhas povoações do norte do estado de Goa.
Alojamento:
Existem centenas de alojamentos em Arambol… cabanas de bambu e bungalow na praia, guesthouses, hotéis, apartamentos e quartos… muitos quartos para alugar: ao dia, à semana, ao mês… nem sempre estão identificados, mas o melhor é caminhar pelo confuso e labirinto emaranhado de ruas que se desenvolvem ao longo da estrada que dá acesso à praia. O preço é negociado caso a caso, dependendo do numero de hóspedes, do facto de ter ou não cozinha ou casa de banho partilhada, mas dificilmente se consegue menos do que 400 rupias. A escolha foi para a Vasu Guest House, situada numa zona não muito movimentada, de fácil acesso à rua principal mas suficientemente longe para não sofrer os efeitos do barulho de motas e veículos no constante buzinar.
Curiosamente aqui em Goa, e mais notoriamente em Arambol são as mulheres que comandam o negocio de aluguer de quartos e casas, e muitas vezes encontram-se em pequenos grupos em locais estratégicos interceptando turistas em busca de alojamento. Caso não tenhamos gostado do que nos oferecem, de certo conhecem alguém que tem mais um quarto para alugar… uma vizinha, um familiar, uma amiga… é assim que funciona o grosso do mercado de arrendamento em Goa 😉
Vasu Guest House
Quarto individual: 400 rupias
Quarto duplo: 500 rupias (alugado ao mês fica em 13.500 rupias)
No wi-fi
No hot water
Contact: 9822168071
Onde comer:
Em Arambol não é fácil encontrar restaurantes locais, os chamados dhaba ou hotel, sendo a oferta dominada por restaurantes onde a ementa é um misto de comida indiana, chinesa, mexicana, italiana e israelita. Contudo um olhar mais atento vislumbra um ou outro local com o simples thali, com um preço mais atractivo, mas acima do que é frequente encontrar noutros locais e com o preço um pouco inflacionado.
Existem dezenas ou mesmo centenas de restaurantes, bares, pizarias, pastelarias e cafés em Arambol, tanto ao longo da estrada de acesso à praia como ao longo das dunas. As opções são muitas,
Para café os locais mais populares para saborear um bom expresso ou um americano são o Dreamland Café, na estrada principal, o Cookie Walla, famoso pelas suas bolachas e o Double Dutch, que também funciona como restaurante e que se destaca pelas sobremesas, sendo as mais populares a ‘apple pie’ e o ‘cherry moonsoon’. A German Bakery é uma opção menos sofisticada mas mais barata, sendo os ‘coconut cookies’ uma boa escolha, sendo o pão de evitar, tendo em conta outras opções existentes na cidade.
Dada a permanência de muitos estrangeiros por longos períodos, que podem ser de várias semanas mas que se podem estender mesmo a toda a ‘época alta’, que vai de Outubro a Março, encontram-se ao longo da estrada principal diversas bancas de frutas e legumes, assim como lojas/supermercados que oferecem num exíguo espaço um pouco de tudo, desde alimentos, a produtos de higiene, limpeza, e artigos para a casa. Aqui encontra-se uma boa oferta de produtos ‘ocidentais’ como vinhos, queijos, pão, chocolates, produtos biológicos e demais iguarias para matar-saudades de ‘casa’. Dada a esmagadora presença de turistas russos é possível também adquirir produtos e comida, muitas vezes caseiros, feitos por ex-pats russos residentes em Goa, e que assim encontram um meio de subsistência.
Transportes:
Arambol não tem estação de comboios, sendo Prenem e Thivim, as que se encontram mais próximas, situadas a cerca de 30 a 40 minutos da praia de Arambol, sendo necessário recorrer ao serviço de táxi, ou usar os autocarros públicos, pois a distância é demasiado extensa para o serviço de tuk-tuks. De notar que não existe ligação directa entre Thivim e Arambol, sendo necessário mudar de bus em Mapusa. De Prenem é necessário usar um tuk-tuk para ir da estação à cidade, que fica um pouco afastada da povoação.
Caso se opte pelo autocarros públicos, que oferecem um serviço barato e com intervalos de 15 a 30 minutos, estes efectuam paragem na estrada principal que se desenvolve paralelemente à costa, sendo necessário percorrer os cerca de 1000 metros até à praia de Arambol a pé ou de moto-taxi.
Caso se queira compara bilhetes de comboio, e de forma a evitar a excessivas comissões dos agentes de viagens, que podem encarecer o bilhete em pelo menos 400 rupias, chegando a pedir quase o dobro pelo bilhete, o melhor é uma deslocação à cidade de Margao, para compara o bilhete nas estação de comboios. Demora duas horas na ida e mais duas horas par ao regresso, e implica o recuos a três autocarros e a um moto-taxi, o que custa cerca de 300 rupias, que é claramente vantajoso caso se queira adquirir mais do que um bilhete e especialmente se queira evitar os sempre antipáticos e gananciosos agentes de viagens de Arambol.