Varanasi… a antiga Banares, cujo nome nos remete para exóticas paragens. Mais velha do que antiga com os seus edifícios degradados, tinta debotada onde sobressai o azul e o verde, paredes bolorentas onde rebentos de árvores tentam sobreviver aninhados em frestas e lambris, pequenos templos pintados de garridas cores, ruas estreitas e labirínticas, sujas de lixo e dejetos onde a todo o momento surge, em pequenos nichos, o lingam, decorado com coloridas e frescas flores, um misto de cheiros que vão desde o doce do chai, ao azedo dos restos de comida, ao agoniante dos esgotos até ao agressivo da urina, a presença constante dos sonolentos cães e de pachorrentas vacas… e os ghats por onde se acede ao rio… o rio…. largo, de águas turvas e castanhas: o poderoso Ganges ou Ganga usando o termo mais sagrado.
Depois de uma primeira estadia em Julho, quando as chuvas da monção fizeram subir as águas do Ganges, inundando ghats e enchendo a atmosfera de um ar húmido e pesado que juntamente com as elevadas temperaturas tornaram os passeios pela velha cidade numa penosa tarefa. O mês de Fevereiro trás à cidade dias quentes e secos, e noites amenas onde num céu sem nuvens surge o nítido brilho das estrelas.
Varanasi, que de acordo com a mitologia hindu foi fundada pelo deus Shiva, é um dos oito locais sagrados da religião Hindu, recebendo diariamente dezenas de peregrinos que em família ou em numerosos grupos, percorrem os ghats, efectuam o puja e o religiosa banho matinal, veneram estátuas e visitam templos. O rio é também o centro do quotidiano de quem vive na cidade, onde se lava roupa, tachos e panelas, onde se convive, pesca e se joga às cartas, de onde se lançam papagaios de papel que desparecem como pontos minúsculos no céu, ou onde simplesmente se senta olhando o horizonte enquanto se masca um pouco de tabaco.
Sossegadas ruas podem desembocar em agitados ghats, onde pilhas de madeira esperam para serem pesadas e vendidas à chegada de cada novo corpo, numa actividade que não conhece interrupções, decorrendo dia e noite. Manikarnika Ghat, um pouco a norte de Godaulia, é um dos locais onde se efectuam as cremações, encaradas de forma pragmática, mais como uma tarefa necessária do que propriamente uma cerimónia, onde ficam de fora manifestações de pesar ou atitudes dramáticas, numa religião onde a vida é somente uma etapa numa sequência de reencarnações.
Godaulia é o coração da parte antiga da cidade, toda ela localizada na margem esquerda do Ganges, vibrando de agitação e actividade pela presença de visitantes e peregrinos, um sem numero de bancas de rua, lojas e mais lojas, de roupas, de doces, de snacks e de chai, pequenas e abertas para a rua, onde indolentes comerciantes esperam clientes, mastigando paan e cuspindo para a rua, indiferentes a quem passa.
Dashaswamedh Ghat, onde desemboca a principal artéria de Godaulia, com o permanente tráfego de motos e tuk-tuk, que a custo de buzinadelas avançam por entre a multidão, é a zona mais confusa e movimentada da parte antiga da cidade, e é nas escadarias de acesso ao Ganges que diariamente, ao pôr-do-sol se realiza a exuberante cerimónia de puja, com colunas de som, luzes e néons, com os pujaris vestindo brilhantes e luxuosas roupas, num misto de religiosidade e espetáculo kitsch.
Intensa, decadente, Varanasi é uma cidade que atrai, surpreendendo a cada momento quem por aqui se demora. Uma cidade a revisitar.
Alojamento:
Para fugir à intensidade da zona central da cidade, Goudalia, a escolha foi para a parte mais a sul da cidade antiga, concretamente para o Asi Ghat, o mais calmo e tranquilo da cidade e que atrai viajantes que optam por permanecer por longos períodos na cidade.
A Ashish Guest House (também café e restaurante) é das opções mais em conta na zona envolvente ao Asi Ghat, oferecendo somente quatro quartos, duplos e individuais, com casa-de-banho partilhada (com duche de água quente), situados num desafogado terraço, situado por cima do restaurante de onde se ter uma estreita vista para o Ganges. Ambiente familiar e espaço limpo e sossegado. Sobressai a simpatia do proprietário.
Quarto individual: 300 rupias
Quarto duplo: 500 rupias
Casa-de-banho partilhada com duche de água quente.
Possibilidade prolongar o aluguer do quarto por mais meio dia mediante pagamento de meia estadia.
Free wi-fi
Alternativas:
- Shanti Guest House: próximo do Manikarnika Ghat (não confundir com outras com o mesmo nome)
- Rajastan Guest House: próximo do Dashaswamedh Ghat, com cozinha partilhada (+91-9243401510).
Onde comer:
Um dos inconvenientes do Asi Ghat é a pouca oferta de restaurantes, sendo a maioria virada para a clientela ocidental, com preços inflacionados e comida ajustada a estômagos sensíveis, onde as especiarias são moderadas e o picante está ausente. Nesta categoria encontra-se a Pizzeria Vaatika Café, com agradável esplanada com vista para o Asi Ghat e Tulsi Ghat.
No restaurante da Ashish Guest House – Ashish Café – encontra-se uma opção mais económica mas com comida pouco ‘brilhante’ (confecionada e servida maioritariamente por crianças), sobressaindo contudo os pequenos-almoços ao estilo ocidental com cereais, porridge e tostas.
Numa das estreitas ruas que desaguam no Asi Ghat, encontra-se o pequeno mas agradável Aum Cafe, com comida ocidental, apostando nos pequenos-almoços e lanches, partilhando o espaço com uma pequena loja de roupa e bijutaria.
Partilhando da mesma filosofia, o Open Hand Café, situado entre a Asi Road e o rio, oferece sofisticado menu, onde se destacam os bolos e tartes, servidos num espaço muito agradável formado por diversas divisões que funcionam como café/restaurante e loja onde se pode encontrar vestuário, bijutaria, artigos de decoração, etc… confecionados artesanalmente e vendidos com o intuído de suportar comunidades locais.
A Bhadahn Road, que se desenrola paralelemente ao rio, aberta ao trafego automóvel impossível nas pequenas ruas junto ao Ganges, onde durante as manhãs funciona um pequeno mercado de frutas e legumes, é também local para se encontrar os habituais snacks indianos à base de fritos: chamussas, pakoras, bhaji, etc… assim como os refrescantes lassis, bebida espessa feita à base de iogurte açucarado
Em Godaulia, numa estreita transversal à Dasaswamedh Road, que dá acesso ao ghat com o mesmo nome, situa-se o Restaurante New Keshari, popular escolha entre a população indiana, oferecendo os tradicionais pratos do norte da Índia, à base de expressos caris, mas também as famosas dosas e outras especialidades do sul do país.
Transportes:
A cidade de Varanasi é servida por diversas estações de comboios sendo as mais centrais: Varanasi Junction (também designada por Varanasi Cantonment, de onde partem os comboios cujo serviço se inicia na cidade) e Varanasi City. De qualquer destas estações de comboios é possível chegar ao Asi Ghat de tuk-tuk ou de rickshaw, que apesar de mais lento oferece uma experiência de deslizar lentamente pelo intenso movimento da cidade, ao ritmo de pedalar de esforçados condutores.
Como Varanasi não constitui um ponto importante na malha ferroviária do país, muitos dos comboios não passam por Varanasi Junction (Varanasi Jn), sendo a estação de Mughal Sarai situada do outro lado do rio a cerca de 20 quilómetros, pouco mais de meia hora de tuk-tuk.
Varanasi é muitas vezes escala no itinerário de quem sai da Índia em direcção ao Nepal, ou para quem efectua o percurso inverso. Daqui a opção mais popular é o comboio com direção à estação Gorakhpur, à qual se segue um percurso de 2 horas de autocarro até à fronteira Sonauli-Belayhia.
- rickshaw: Asi Ghat – Varanasi Junction: 80 rupias
- tuk-tuk: Mughal Sarai – Godaulia: 250 rupias (preço para indianos conseguido através da negociação entre dois passageiros originários do Gujarat que gentilmente partilharam o veículo)
- Comboio: New Delhi – Mughal Sarai: numero 12402. Partida 20.00. Chegada 07.40. Uma das opções para quem viaja de Delhi para Varanasi, com a vantagem de fazer a viagem de noite mas com o inconveniente de parar numa das estações mais centrais de Varanasi: Custo 425 rupias (SL class).
- Comboio: Varanasi Jn – Gorakhpur: numero 15003. Partida 00.40. Chegada 06.50. Esta é uma das opções que tem o inconveniente de sair da cidade demasiado tarde, numa altura em que as ruas se encontram desertas e a oferta de richshaw e tuk-tuk é escassa, encarecendo o preço. Geralmente este comboio circula com atraso de cerca de três horas!!!! Custo 170 rupias (SL class).