“Akbar english”… são as primeiras palavras que se ouvem quando somos abruptamente despejados do autocarro numa rotunda na interseção de largas avenidas. Assim sem saber onde estamos sentimos o irónico conforto de saber que os outros sabem para onde queremos ir.
Perante a insistência dos taxistas em me levar ao “Akbar”, que de facto era o poiso eleito em Bam, segui a minha intuição e decidi fazer o caminho a pé, sem orientação precisa, sem mapa, e com poucas hipóteses de comunicar em inglês. Depois de caminhar de rotunda em rotunda, solução que se revelou um erro, pois a distância e demasiado grande para ser feita com uma mochila de 14 quilos às costas, fui aconselhada por um habitante local a optar por um táxi.
Bam, anteriormente popular paragem para quem viagem para Zahedan com destino ao Paquistão, é famosa pelas tâmaras e pela Arg-e Bam, um dos principais atrações turísticas do Irão, juntamente com Persepolis, mas o sismo de 2003, que destruiu praticamente toda a cidade, matando mais de 25 mil pessoas, afectando seriamente a Arg-e Bam, castelo e cidadela construídos em adobe.
Apesar da cidade de Bam ter sido reconstruída, mostrando-se organizada e moderna mas com alguma falta de identidade, Arg-e Bam com mais de 2000 anos, e classificada como património mundial pela Unesco, foi irreversivelmente destruída e apesar dos esforços na sua reconstrução que ainda decorre, está longe de provocar a admiração e o impacto dos tempos antigos. Contudo vale a deslocação e a visita, pela vista sobre a cidade com os seus campos de palmeiras, cujo verde contrasta com a aridez do deserto que rodeia Bam, fazendo-nos lembras que estamos num oásis.
Destas extensas plantações de palmeiras resultam as deliciosas tâmaras que dão fama a Bam e à região de Kerman, tanto a nível nacional como internacional, com muita da produção a ser escoada para o estrangeiro. Posso afirmar que foram as melhores tâmaras de sempre, frescas, doces e macias, tendo que ser mantidas refrigeradas.
Mas se Arg-e Bam impressiona apesar da destruição, o que mais marcou não foram patrimónios, edifícios, castelos… foi uma pessoa: o Akbar… “Akbar english” cujo cognome vem do facto de ter sido durante muitos anos professor de inglês, exprimindo-se fluentemente nesta língua e apresentando um curioso sotaque americano. Apesar das condições simples da guest house, ainda a ser reconstruída depois do sismo, a estadia em Bam ficou marcada pela hospitalidade do Akbar, pela suas história e pelas longas e interessantes conversas que podemos ter o privilégio de escutar, sentados nos degraus ao fim de tarde.
É de encontros como estes que nos relembram porque andamos a viajar…
Alojamento:
Akbar Tourist Guest House
Morada: Sayyeh Jamal od-Din Street
Contacto: 0913 246 0731
… mas basta perguntar pelo “Akbar english” e toda a gente conhece o local assim como o carismático proprietário que por si só é um bom motivo para ficar mais do que dois dias em Bam.
O preço é acordado com o proprietário em função do quarto, existindo quartos single, duplos, ou triplos, com casa-de-banho ou casa-de-banho partilhada. Mas seja qual for a escolha é uma opção económica.
Onde comer:
Como qualquer pequena cidade Bam onde as distâncias entre casa e trabalho não são longas levando a maioria dos habitantes a almoçar e jantar em casa, não oferece muitas opções.
Contudo muito próximo da Akbar Guest house existe um restaurante de fast-food, que serve um muito competente falafel (30.000 rials) para além de kebabs; como o local carece de atmosfera é preferível optar pelo take-away.
Para uma refeição um pouco “melhorada” existe um restaurante afastada pouco mais do 15 minutos a pé, que á primeira vista parece uma vulgar pizzaria com uma decoração ao estilo de restaurante urbano de fast-food, mas que se revelou uma surpresa, com um jardim nas traseiras, cheio de árvores, arbustos onde emana um doce aroma a jasmim; as mesas estão dispersas pelo jardim ou ao longo de um corredor, e a refeição é servida ao modo tradicional Iraniano, em carpetes assentes onde nos sentamos e nos podemos reclinar sobre almofadas.
Servem-se muito boas pizzas assim como também se pode encontrar comida tradicional iraniana, e apesar da apresentação do local uma refeição não fica em mais do que 60.000/70.000 rials. O nome e a localização perdeu-se no tempo, mas basta perguntar ao Akbar.
Transportes:
Os autocarros que fazem o percurso entre Kerman e Zahedan passam por Bam. Existem vários durante o dia, mas é difícil obter informações sobre horários. Contudo do terminal de Kerman, parte um autocarros pelas 14h, e que demora 3.5 horas até Bam.
- Táxi desde a rotunda Arg Square, onde os autocarros fazem paragem, e onde táxis e shavaris (shared táxis) esperam por passageiros: 30.000 rials, e não demora mais do que 5 minutos, sendo possível de alcançar a pé, pois não são cerca de dois quilómetros.
- Táxi para Arg-e Bam: 30.000 rials. Apesar de ser possível fazer esta distância a pé, pois a cidade é plana, o calor torna esta jornada pouco apetecível através de avenidas que poucos atractivos têm para além de uma sequência de lojas e oficinas.
Cambiar dinheiro:
Em Bam não existem lojas de câmbio, pelo que a única hipótese são os bancos que cobram comissão ou a guest house.
Arg-e Bam:
Ticket: 150.000 rials (não grátis como vem referido no guia turístico), mais 75.000 rials para entrar “ilegalmente “ no castelo, que se encontra encerrado para trabalhos de reconstrução.
Horário: 9 am to 5 pm (confirmar junto do Akbar)
A melhor altura para visitar Arg-e Bam é por volta das 4.30 da tarde, altura em que o sol fica menos forte e as temperaturas menos elevadas. A luz do fim do dia reflectida nas paredes ocres dos edifícios, muralhas e castelo, proporciona cores fantásticas e um ambiente mágico com o sol a desaparecer por detrás das montanhas, pois no Irão, mesmo nos planos e extensos desertos a monotonia da paisagem é sempre interrompida por colinas e montanhas.
O castelo encontra-se em reconstrução, pelo que não é possível de ser visitado… mas, é possível subir ao topo de Arg-e Bam para se apreciar a vista sobre a cidadela e sobre a cidade de Bam com os seus palmeirais. Aproximando-nos da entrada do castelo, bloqueada por tubos metálicos, há que tentar chamar a atenção do guarda de serviço, e pedir para entrar no castelo. A comunicação é baseada mais em gestos pois o inglês não tem utilidade aqui, e a resposta é negativa. Contudo insistindo um pouco ouvimos a palavra “money”. Acenando positivamente com a cabeça aceitamos o “negócio” e somos encaminhados ao topo do castelo pelo guarda, vestido de uniforme militar. Simples… mas a descida tem um pouco de aventura, com o guarda a avistar alguém e a fazer sinal para nos acocorar-mos por trás de um muro, onde esperámos a ter ordem de comando para avançar, em passo rápido para a saída. Sob sol e sob a tensão causada pela ilegalidade de toda esta situação, não foi possível deixar de achar piada por esta aventura em estilo militar, que custou 75.000 rials, valor que pode ser negociado.