Com cerca de 2243 metros de altura Adam’s Peak não é o ponto mais alto da ilha que constitui o Sri Lanka, mas é de certo o mais sagrada, não só para a os budistas que aqui encontram a pegada de Buddha e lhe chamam Sri Pada, como para os Hindu é a pegada de Shiva e para muçulmanos e cristãos o rasto deixado por Adão.
Aparentemente no cimo da colina encontra-se uma depressão na rocha e que com alguma imaginação se pode considerar um pé gigante, o que misturado com algum devoção religiosa tornam esta montanha um dos principais locais de peregrinação no Sri Lanka.
A época favorável para a peregrinação é entre Dezembro (Unduwap poya*) e Maio (Wesak poya) com Janeiro e Fevereiro sendo os melhores meses, pois proporcionam melhor visibilidade e clima mais estável, sem risco de chuva. Contudo a esta altitude a temperatura desce bastante durante a noite, altura em que é mais comum os peregrinos efectuarem a subida dos 1400 metros que separam Dalhousie do cume. Os meses de Maio e Outubro não é recomendável a subida pois a montanha encontra-se envolta em nuvem a maior parte do tempo e o clima é mais instável.
Durante a época das peregrinações mais de 20.000 pessoas sobe o Adam’s Peak durante os fins-de-semana, o que faz destes dias pouco recomendáveis a quem aqui vem em turismo e não pretende passar horas para fazer a subida… mas por falta de informação o dia escolhido calhou num fim-de-semana, com a agravante de ser prolongado com mais um feriado religioso, desta vez o Thai Pongal Day comemorado pela comunidade Tamil, mas que é também feriado nacional. Assim o dia escolhido para efectuar a subida foi provavelmente o dia que atraiu mais gente a fazer a peregrinação da subida ao Adam’s Peak.
A caminhada começou pontualmente às duas da manhã, com 4 horas para fazer calmamente a subida que muitos dizem poder ser feita em 3 horas, com vista a se chegar ao cume ao nascer do sol e assim poder assistir ao espetáculo que tem um pouco de misticismo onde, por instantes, surge reflectida na encosta oposta uma sombra de perfeitas formas triangulares que nada têm a ver com o formato do pico, mas que provavelmente resultam de um efeito óptico causado pela dispersão da luz ao nascer do sol misturado com o efeito da altitude… mas que produz um fenómeno único.



O inicio do trilho é muito fácil com a subida a ser feita por rampas ou pequenos grupos de degraus, mas onde o frio e a escuridão da noite tornam o percurso monótono. Contudo o percurso e razoavelmente iluminado, por alguns candeeiros mas principalmente pelas lojas dispostas ao longo do percurso, vendendo artigos religiosos, agasalhos, doces e servindo comida, seja a que horas for do dia ou da noite. Os preços vão aumentando à medida que se sobe, o que é razoável pois tudo, desde arroz, lentilhas, garrafas de água, refrigerantes, legumes, botijas de gás, etc… tem que ser transportado por carregadores encosta acima, que no máximo recebem 1500 rupias caso entreguem mercadoria no ultimo restaurante do trilho, o que deve demorar, entre ida e volta todo o dia, no que resulta em menos de 10 euros por dia de trabalho árduo e sazonal.
Depois de percorrido o primeiro terço do percurso, o trilho até então bastante largo começa a estreitar e a ser totalmente dominado por escadas, muitas das vezes ocupadas por peregrinos que aproveitam para descansar do esforço, o que atrapalha um pouco a circulação dos restantes visitantes, obrigando a abrandar o ritmo.
E a um ritmo mais lento, quando o ego deixa de estar alimentado pela veloz ascensão, pelo orgulha na boa forma física e pela competição de chegar rapidamente ao topo, surge espaço para tomar-mos consciência do que nos rodeia. Tempo para observar a devoção que leva milhares de pessoas a fazer este percurso, que não sendo muito exigente não é fácil, em especial para quem o faz com crianças ao colo ou para as pessoas mais idosas, lentamente e com muitas paragens caminham com determinação. É comovente ver famílias de três gerações caminhando ao ritmo dos mais lentos, mães amamentando bebés durante uma pausa nos degraus, pais transportando crianças adormecidas ao colo e ver como adolescente amparam os passos cansados dos avós.
A caminhada estava a decorrer suavemente até que na aproximação ao ultimo terço do trilho, altura em que os degraus se tornam mais estreitos, o elevado numero de peregrino aos quais se juntavam alguns turistas, tornou a subida impossível, com o caminho totalmente bloqueado por pessoas que a custo deixavam passar quem fazia a descida. Tão perto do topo não era hora de desistir e como ainda faltam duas horas para o nascer do sol, por isso não restou alternativa do que juntar à multidão e ir caminhando a passo muito-muito lento. As horas foram passando lentamente com o frio a tornar penosa a espera e a falta de movimento a deixar o corpo enregelado com o ar gélido que sopra na encosta desprotegida da montanha.
O sol nasceu num magnifico espetáculo de diáfana luz, como se um manto de escuridão fosse sendo lentamente removido deixando ver as cores da paisagem que lentamente foram ganhando intensidade. Mas o topo ainda estava longe e mais de duas horas depois do dia despontar a fila para chegar ao cimo, local onde se encontra a pegada do Buddha ainda estava longe de ser alcançado, pelo que tendo-se perdido o espetáculo do efeito óptico da sombra que surge com o nascer do sol, e sem a motivação religiosa dos peregrinos a quem a espera não é demais para chegarem a tão sagrado local, o cansaço venceu e pela 8 horas foi tempo de iniciar a descida.





Apesar de um certo desencanto por não se ter chegado ao topo, a descida feita à luz suave da manhã revelou uma paisagem admirável de encostas de imaculada vegetação sem vestígios de presença humana, lagos ocupando o fundo dos vales, suaves encostas onde plantações de chá formam um tapete ondulado, e um mar de verde que enche os olhar, quebrado aqui e além pelo castanho-ferrugem das rochas graníticas que parecem irradiar brilho quando expostas aos primeiros raios de sol.




Dalhousie é a povoação que vive em função dos peregrinos e que não é mais do que uma rua ao longo da qual se alinham umas casa, algumas guest houses, restaurantes e muitas lojas de doces, todas vendendo praticamente os mesmos produtos. Pelo meio fica um terreno em terra batida, uma espécie de terminal de autocarros que fazem a ligação entre Dalhousie e Hatton, a estação de caminhos de ferro mais próxima. É em Dalhousie que começa o trilho que dá acesso ao cume da montanha, e onde a maioria das pessoas fica instalada, se bem que muita gente chega de autocarro e inicia de imediato a subida, deixando o local assim que chega novamente a Dalhousie.





*Poya: são dias sagrados segundo o calendário budista e coincidem com a lua cheia. Assim cada mês no Sri Lanka tem um dia feriado, com muitas lojas assim como organismo oficiais (correios, etc…) a fecharem neste dia.
Metereologia em Adam’s Peak:
//www.mountain-forecast.com/peaks/Adams-Peak/forecasts/2243
O que é preciso para subir o Adam’s Peak:
Basicamente, não muito. Roupa confortável para suportar as baixas temperaturas durante a noite que parecem mais baixas devido ao vento que se vai fazendo sentir à medida que se aproxima do cume. Na descida parte desta roupa é excessiva e provavelmente chega-se a Dalhousie de t’shirt.
A maioria dos estrangeiros usar sapatos de caminhada, mas o percurso pode ser feito de sandálias, mas o frio da noite recomenda o uso de meias. A maioria dos peregrinos faz o percurso de sandálias, ou mesmo mais frequentemente de chinelos (os de borracha de enfias ente os dedos), não sendo raro ver pessoas descalços a fazerem esta caminhada, não por pobreza mas por devoção.
Atalho para Sri Pada (Adam’s Peak):
Nos dias de maior afluência compensa usar um caminho alternativo para chegar ao cimo do Adam’s Peak. Quem usou este “atalho” conseguiu chegar a tempo de ver o nascer do sol, tendo começado o percurso também às 2 horas da manhã.
Depois de se percorrer cerca de dois terços do trilho encontra-se uma bifurcação com uma estátua de Buddha. Do lado direito inicia-se um trilho em terra batida que de noite obriga ao uso de uma lanterna pois o piso é irregular com pedras e troncos. No fim deste trilho chega-se a um caminho cimentado que leva a uma outras escadas que também acedem ao topo do Adam’s Peak, mas como o acesso não é tão fácil de encontrar têm menos pessoas.


Onde dormir em Adam’s Peak (Dalhousie):
O autocarro termina num terreiro que constitui o terminal de bus de Dalhousie que é o cento da povoação. Caminhando um pouco para trás encontram-se a maioria das guest-houses. Avançando em direção ao inicio do trilho pode-se também encontrar mais duas guest houses e quem alugue quartos. Os preços são claramente inflacionados e um pequeno quarto somente com uma cama, com casa-de-banho partilhada, chega aos 2500 LKR por pessoa.
Caminhado mais um pouco, já depois de passar a indicação “Adam’s Peak” pintada a amarelo na rocha, por entre a fiada de lojas a vender doces, encontra-se do lado direito da Sri Pada Road, depois de descer uns degraus uma casa que aluga quartos: Dilani Ligh House.
Os quartos são ultra-básicos, somente com uma cama mas o preço pode ser negociado: 1000 LKR para um quarto para duas pessoas. A casa-de-banho é somente uma retrete, sendo o banho tomado ao ar-livre, com água fria. O suficiente para passar umas horas antes de iniciar o percurso, deixar a bagagem e descansar um pouco depois da caminhada.



Onde comer em Adam’s Peak (Dalhousie):
Mesmo ao lado da Dilani Ligh House guest house, na Sri Pada Road, um restaurante com o mesmo nome, que serve-se desde manhã até ao inicio da tarde, um rice and curry simples mas bastante bom, apesar de extremamente picante, por 100 LKR, que ajuda a recuperar a energia despendida.
Ao longo da caminhada, encontra-se sempre comida nos restaurantes que surgem ao longo do trilho, quase até chegar ao topo. Funcionam 24 horas e mesmo que não tenham rice and curry têm sempre prontas os deliciosos coconut rotis (uma espécie de panqueca salgada mas feita com côco ralado) e outros snacks tipicos do Sri Lanka.

Como chegar ao Adam’s Peak:
Dalhousie é uma pequena povoação que quase não surge no mapa, sendo Hatton a cidade mais próxima com algumas infraestruturas. Sendo Hatton uma das mais importantes povoações na rota do chá no Sri Lanka, é servida por caminho-de-ferro pela linha que atravessa o “hill country”, que se inicia em Colombo, passa em Kandy e termina em Bandulla.
- De Kandy para Hatton de comboio
Os bilhetes de comboio para a 1º classe encontram-se esgotados com cerca de 45 dias de antecedência, podendo contudo ser encontrados nas agências de viagens, que os compram com antecedência e depois os vendem aos turistas com elevada comissão. Contudo, mesmo nas agência de viagem em Kandy não é fácil de encontrar pois geralmente estes lugares estão reservados para tours organizados.
Por isso a alternativa é viajar em 2ª ou 3ª classe onde não há lugares reservados.
Somente há um comboio por dia que inicia o percurso em Kandy e parte às 3.30 am, o que o torna pouco atractivo. Todos os restantes comboios partem de Colombo e chegam a Kandy cheios sendo mesmo difícil entrar para o comboio nos dias de maior afluência como fins-de-semana e feriados. O comboio chegou atrasado e partiu ainda com maior atraso devido à dificuldade de fazer entrar todos os passageiros, que são bastantes, a maioria estrangeiros com grande mochilas, num comboio que já vem cheio desde Colombo.
A viagem demorou 2.5 horas, e por certo atravessando uma paisagem interessante, mas como não havia hipótese de ter um lugar sentado o melhor que se consegui foi um espaço mínimo para sentar no chão.
Train Ticket: 110 LKR (2ª class)

- De Hatton para Dalhousie de bus
Mesmo à saída da estação de comboios de Hatton, estacionado do lado esquerdo encontra-se o autocarro (vermelho) com destino a Dalhousie, que aguarda a chegada dos passageiros do comboio, partindo assim que fica cheio… o que não demora muito durante a época alta, em especial ao fim-de-semana.
Bus Ticket: 70 LKR
Segue-se 1.50 horas para percorrer os 33 quilómetros que separaram Hatton de Dalhousie por uma estreita e muito sinuosa estrada entre plantações de chá entre as quais sobrevivem algumas árvores do que foi em tempos uma floresta.
A vista ao longo do percurso é deslumbrante mas a condução acelerada torna esta viagem cansativa e sujeita a enjoos.
O autocarro termina num terreiro que constitui o terminal de bus de Dalhousie que é o cento da povoação.


