Sistema de condução
Neste aspecto a Birmânia apresenta uma situação um pouco bizarra, com os veículos a circularem pela direita, ao contrário dos vizinhos, Tailândia e Índia, e em clara oposição à herança colonial britânica, sendo contudo o parque automóvel constituído maioritariamente por veículos com o volante também do lado direito.
Esta situação torna-se deveras confusa para quem não está habituado, em especial nas entradas dos autocarros, quase todos de origem japonesa, o que coloca o volante do lado direito, surgindo por vezes alguns com o condutor a ocupar o lugar da esquerda, o que por vezes obriga os passageiros a andar em redor do veículo em busca da porta de entrada… ou como eu a tentar entrar para o lugar do motorista, ignorando os avisos e os gestos dos outros passageiros para dar a volta ao autocarro.
Descriminação de tarifas entre nacionais e estrangeiros
Na Birmânia, aparentemente por orientação governamental é cobrado um preço especial aos estrangeiros, não sei se todos ou os que aparentam ser não-asiáticos, tanto no custo do alojamento, como nas entradas de museus e palácios, no acesso aos templos e pagodas, ou simplesmente nos transportes, em travessias de ferry, percursos de barco e autocarros de longa-distância.
Quanto ao alojamento a situação é mais complexa pois a maioria dos estabelecimentos não estão autorizados a receber estrangeiros, sendo necessário procurar pela identificação de “establishment licensed” colada na entrada dos edifícios, o que empurra inevitavelmente os visitantes para opções mais caras e onde são oferecidos as condições supostamente necessárias a um ocidental: como o ar-condicionado, as sanitas em vez das asiáticas e práticas retretes de agachar e um deslavado pequeno-almoço constituído por café ou chá instantâneos, fatias de pão branco que se pode animar com margarina ou compota industrial.
As diferenças dos preços rondam o tripo em termos de autocarros, sendo contudo possível em itinerários mais curtos optar pelos chamados trucks, ou carrinhas de caixa-aberta questão o meio mais comum de transporte na Birmânia, mas que para percorrer grandes distâncias é necessário andar a saltar de carrinha em carrinha em cada cidade, pois estes veículos não efectuam trajectos muito superiores aos 100 quilómetros.
Quanto às pagodas, dada a sua colossal dimensão são facilmente observadas do exterior, pois o que sobressai destas construções é a pagoda em si, supostamente onde está guardada uma relíquia de Buda, e que por natureza está selada e não é visitável, sendo os conjunto de construções que rodeia as pagodas uma sucessão de tempos dominados pela imagem de Buda, de significativa importância religiosa mas com pouco interesse estético.
Sistema imperial vs sistema internacional
A juntar à confusão em termos de condução automóvel há o também pouco claro sistema de medida, com a gasolina a ser vendida em galões, as placas rodoviárias a indicarem distância ora em quilómetros ora em milhas e a população a não fazer grande distinção entre uma ou outra unidade quando questionada sobre uma determinada distância, sendo três quilómetros o mesmo que três milhas… o que no fundo até tem a sua justificação num país que dada a qualidade das estradas e o estado da maioria dos veículos que nelas circulam, a distância percorrida conta muito pouco sendo mais importante a duração da viagem e a hora a que está prevista a chegada.
Thanaka
É uma das imagens que fica da Birmânia: os rostos com thanaka, que as mulheres não dispensam, sendo decorativo e ao mesmo tempo, protegendo do sol, evitando a oleosidade da pele e criando uma sensação de fresco quando é aplicada.
A thanaka resulta da moagem de um tronco de árvore, que lhe dá o nome, e que depois de misturado com um pouco de água é espalhado, de forma mais ou menos criativa, pelo rosto e por vezes estendendo-se às orelhas, pescoço e braços.
Para além de ter funções estéticas, pois a forma como é espalhada na cara difere muito de pessoa para pessoa, podendo ser uma camada uniforme ou limitando-se ao nariz e às faces, em manchas circulares ou marcas formadas pela passagem dos dedos.
A maior parte das pessoas opta por fazer estre preparado diariamente em casa, usando uma espécie de prato de superfície finamente rugosa que funciona como lixa, e com diferentes tamanhos se encontra um pouco por todas as casas.
Contudo há a versão industrializada, pronta a utilizar, vendida em embalagens, que podem apresentar combinações diversas de thanaka com outras plantas como o sândalo.
É usado essencialmente por mulheres crianças, mas também pelo homens que geralmente optam por aplicar a thanaka de uma forma discretamente uniforme no rosto.




Como chamar a atenção de alguém…
Quando se quer chamar um empregado numa restaurante ou café, ou a atenção de algum vendedor ambulante de comida, a forma como os birmaneses o fazem é imitindo um som, semelhante a um beijo sonoro lançado ao ar.
Parecendo simples, não é muito fácil de pôr em prática de forma ao som se sobrepor ao barulho ambiente e sem cair na tentação de rir às gargalhadas… confesso que das vezes que tentei não tive grande sucesso, surgindo nos meus lábio um sorriso, cujo movimento é contrário ao necessário para o virtual-beijo.
Paan
Definitivamente, o paan, apesar de originário da Índia e uma imagem marca a Birmânia; marca o chão com as constantes marcas vermelhas do paan mastigado e cuspido, nos pequenos baldes existentes em restaurantes e cafés que servem o mesmo fim, nos lábios tingidos de vermelho, nos dentes e gengivas e aspecto sanguinolento de adultos e crianças, nas várias paragens que um autocarro efectua para o motorista e ajudantes se irem abastecer de mais paan e nas sempre presentes banca de preparação e venda de paan que se encontram pelas ruas e estradas com mais frequência do que qualquer outra coisa na Birmânia.
Mais comum entre os homens, não é raro ver mulheres a mastigar esta mistura de pequenos pedaços de noz-de-areca (fruto de uma espécie de palmeira) que é envolvida por uma folha de betel coberta por uma fina camada de cal diluída em água; a esta mistura podem-se adicionar tabaco de mascar e outros ingredientes difíceis de identificar. A folha de bétel é dobrada formando um pequeno rectângulo que é colocado na boca entre os dentes e a face, sendo de inicio ligeiramente mastigada para misturar a saliva com os ingredientes, e conservada na boca, indo-se lentamente libertando o característico suco vermelho, que obriga a constantes cuspidelas.
De inicio esta mistura produz uma dormência nas gengivas, mas em doses maiores tem efeitos psicotrópicos causando uma sensação de ligeira euforia. A longo prazo os efeitos são evidentes, danificando irreversivelmente dentes e gengivas, efeitos estes que são visíveis mesmo nos mais jovens incluindo crianças.
Socialmente aceite e não sendo aparentemente considerado inestético, nas cidades e nos meios mais modernizados encontram-se pessoas que rejeitam o uso paan, visto como sinal de pobreza.



Longis
O longi, usado por homens e por mulheres birmaneses é uma peça de vestuário que hoje em dia se mantem como escolha da maioria da população, apesar de nas maiores cidades, como Yangon e Mandalay ser já muito frequente os homens e algumas mulheres, em especial as camadas mais jovens da população, adaptarem a roupa ocidental.
Muito semelhante ao usado tradicionalmente nos países vizinhos; na Tailândia é chamado de sarong, onde praticamente já não usado, e na Índia é designado por dhoti, diferindo no facto de ser uma peça de tecido aberta, sendo atada à cintura de uma forma diferente, estando reservado aos homens, em especial no sul do país.
O longi birmanês consiste num peça de tecido, geralmente de algodão, que é cosida de modo a criar uma espécie de tubo largo, que é preso à cintura com uma espécie de nó, estendendo-se até aos pés; a parte da frente fica com folga suficiente para facilitar os movimentos. As mulheres, geralmente optam por uma solução mais elegante sobrepondo as extremidades do tecido, e prendendo-o à frente na cintura.
Dependendo da etnia ou do gosto, os longis das mulheres podem apresentar desenhos geométricos em cores garridas sobre fundo preto ou sobre cores vivas, ou serem estampados com motivos de flores, e muito raramente liso. Quanto aos homens o padrão é invariavelmente de xadrez, em tons predominantemente escuros.
São de tal forma enraizados na sociedade que muitas vezes os funcionários bancários, homens e mulheres, ou de outros organismos públicos e oficiais usam os longi, como farda.
A combinar com os longi, usa-se uma camisa abotoada lateralmente para as mulheres e À frente para os homens, que tradicionalmente adopta um corte sem colarinho, mas que hoje em dia é quase sempre substituído por uma camisa ou t-shirt ao estilo ocidental.




