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Viajar de autocarro no Sri Lanka… um desafio!
Nenhum relato sobre o Sri Lanka pode ficar completo sem se mencionar os autocarros… esse meio de transporte praticamente incontornável numa viagem pela ilha, em que apesar de existir uma razoável linha de caminho de ferro, esta está longe de cobrir todo o território.
Assim os autocarros têm o papel fundamental de ligar cidades, vilas e aldeias… e não é exagero dizer que praticamente todo o território está coberto por uma rede de autocarros, cujo serviço pode ser lento, mas é garantido! Existe sempre um serviço de autocarros ligando as principais cidades, e caso os horários não sejam convenientes, há sempre a possibilidade de seguir até uma paragem intermédia, e aí apanhar outro autocarro. Por vezes uma viagem de 150 quilómetros pode implicar dois ou três transbordos.
Uma vantagem de viajar de autocarro no Sri Lanka é que os terminal de autocarros, localmente designado de “bus station” é localizado no centro da cidade, geralmente a uma distância possível de ser coberta a pé da estação de comboios. Como inconveniente é o facto de nas grande cidades, como Colombo, atravessar a cidade para chegar ao terminal de autocarros pode implicar uma hora, mesmo fora das horas de ponta!
Os terminais de autocarros podem ser gigantescos, como em Colombo, ou modestos como em Pottuvil, onde os autocarros se alinham ao longo da estrada. Também variam em termos de organização e sinalização, mas em geral todos dispõem de indicações do local de paragem de cada autocarro em função do destino a que se dirigem. Quanto a horários a informação é inexistente, sendo necessário recorrer ao posto de informações, ou mais facilmente aos motoristas que esperam junto aos autocarros.
Dada a popularidade num país onde a esmagadora maioria da população (cerca de 8%) não tem automóvel os autocarros são a opção, não só para percursos urbanos, mas também para cobrir longas distâncias, como por exemplo os cerca de 400 quilómetros que separam Colombo de Jaffna, com a epopeica duração de mais de 12 horas.
Sim… as viagens de autocarro são lentas... muito lentas, feitas a uma velocidade média de 35 km/h. Não significa que os autocarros circulem necessariamente a esta velocidade, mas devido ao trânsito que por vezes é intenso mesmo ao longo das estradas nacionais, e essencialmente devido às múltiplas paragens para recolher e deixar passageiros e intervalos para descanso ou refeições. Os autocarros privados, que são a maioria dos que circulam nas estradas nacionais, são ainda piores em termos dos números de paragens pois recolhem passageiros em qualquer ponto, não se limitando somente às paragens oficiais.
As viagens em autocarros nocturnos demoram menos tempo mas são pouco os itinerários em que este serviço está disponível.
É um sistema de exploração onde não existem autocarros expresso, ou sejam que não efectuam paragens intermédias. Contudo os autocarros com ar-condicionado, que somente existem nas zonas mais populosas, fazem muito menos paragens, e algum chegam mesmo a usar as novas “expressways” uma espécie de autoestrada, que encurto o tempo de viagem e aumenta o conforto.
Apesar da lentidão, ninguém parece preocupar-se, aceitando o facto como garantido, o mesmo se aplica à sobrelotação, sendo normal os autocarros circularem “mais do que cheios”, ou seja com passageiros pendurados junto às portas. Situação que se agrava em fins-de-semana e feriados, ocasiões aproveitadas para visitar familiares e para peregrinações a locais religiosos.
Contudo dada a eficiente cobertura da rede de autocarros, quer públicos quer privados, e a elevada frequência, donde resulta reduzidos tempos de espera entre transbordos, os autocarros tornam-se numa forma atraente de viajar pelo Sri Lanka.
Em comparação com o comboio, igualmente lento, os autocarros a maioria das vezes não são capazes de oferecer tão interessantes paisagens, em especial nas zonas de montanha, onde o comboio circula por “trilhos” longe das povoações. As estradas nacionais, em especial as que ligam as principais cidades, ou que se desenvolvem em zonas mais densamente povoadas, como Colombo-Kandy e Colombo-Galle, estão longe de oferecerem uma paisagem agradável, com construções ao longo de quase todo o percursos, seja casas, prédios, lojas, armazéns, oficinas, vendedores ambulantes, etc.. que cria uma paisagem desinteressante e visualmente poluída. Para além desta poluição há a juntar os gases de escape dos restantes veículos, maioritariamente autocarros e camiões, aos quais se juntam motas e tuk-tuks. Impossível ficar indiferente ao infernal, constante e perturbador buzinar, que nenhum veículo evita, inclusive o próprio motorista do autocarro, que guia mantendo sempre uma mão na buzina, que está longe de produzir um som discreto, sendo alta e estridente, tornado as viagens de autocarros mais cansativas.
Contudo ficaram paisagens bonitas e viagens memoráveis!
Nenhum autocarro no Sri Lanka tem sistema de cobrança automático, pelo que para além do motorista existe sempre um ajudante, geralmente um rapaz novo, que para além de cobrar os bilhetes apregoa o destino do autocarro, cada vez que este passa por uma paragem ou por um aglomerado de pessoas à beira da estrada.
Os bilhetes podem ter os mais variados aspectos e formatos, alguns com a informação escrita em inglês, outros só em cingalês. O preço é muitas vezes escrito à mão no bilhete em função da distância percorrida… onde os valores são um mistério pois não se encontram afixados. Esta situação leva a que por vezes alguns ajudantes de motorista tentem cobrar mais dinheiro, contudo é uma situação pouco frequente notando-se um elevado grau de honestidade, que não se limite somente às viagens de autocarros mas à população em geral. Os autocarros da companhia estatal SLTB (Sri Lanka Transport Board) têm muitas vezes bilhetes impressos onde consta a origem e destino, assim como a distância e o custo associado à viagem.
Mas seja qual for o valor, o custo é sempre reduzido, contribuindo também para a popularidade dos autocarros, que sendo mais caros que o comboio, têm a vantagem de maior flexibilidade em termos de horários e imbatíveis em termos de frequência.
E não se pode falar de autocarros sem referir a Lanka Ashok Leyland, nome impresso na frente de qualquer veículo, correspondente à empresa que no Sri Lanka fabrica ou procede à montagem de praticamente todos os autocarros, camiões, tratores e tuk–tuks. Sendo todos da mesma fábrica, todos obedecem ao mesmo modelo, somente com pequenas variações de acabamentos, com o conforto a variar em função da antiguidade do veículo. Sabiamente os veículos mais antigos limitam-se aos percursos curtos e zonas urbanas. Para viagens longas, intercidades os autocarros encontram-se em bom estado, sem contudo apresentarem um maior elevado nível de conforto. Seja qual for o tipo percurso, os veículos são sempre de 5 lugares por fila, dois de um lado e três do outro, sobrando um exíguo corredor, onde é difícil os passageiros cruzarem-se em especial se transportam mercadorias. Os assentos são pouco macios e com o encosto demasiado vertical, e sem apoio para a cabeça, o que se torna incómodo em viagens longas.
Talvez como forma de personalizar esta massiva uniformidade, o interior do autocarros é geralmente decorado de acordo com o gosto e orientação religiosa do motorista, com autocolantes, pósteres, grinaldas de flores de plástico, bonecos de peluche, imagens de Buda, flores, a iconografia hindu ou o rosto de Cristo.
O tecto assim como os assentos também são personalizados em cada veículos, forrado com materiais plásticos, por vezes de motivos floridos, outros mais discretos. Seja qual for a opção o interior do veículo está geralmente limpo e em razoável estado de conservação.
Todos, mas TODOS os autocarros têm musica, geralmente num volume excessivo, debitado por um ou vários altifalantes, sempre com música local. Alguns podem até ter um televisor que passa sempre um estilo de musica semelhante.
Estes veículos que se assemelham a volumosos paralelepípedos pintados de vermelho escuro ou de branco e azul só um marco incontornável na paisagem do Sri Lanka, seja nas cidades seja ao longo das estradas nacionais, onde por vezes circulam a velocidade excessiva tendo em conta o numero de peões e de outros veículos que ocupa ou crua as estradas. Contudo são uma forma eficiente e prática de viajar pelo Sri Lanka.
… para quem viaja de autocarro no Sri Lanka:
- Nunca usar a bagageira, está sempre cheia de pó ou de lama, caso chova; mesmo que o motorista insista em colocar a mochila na bagageira, nunca deixar que isso aconteça, insistindo em coloca-la no interior, seja junto ao condutor seja junto à porta da frente, num espaço que não tem assentos.
- Pode-se dizer que é desnecessário perguntar pela duração da viagem, pois a resposta obriga a longa considerações por parte do motorista e resulta quase sempre “3 horas”… que por vezes se revelam em 4 ou mais. O melhor á fazer um cálculo em função da distância (que geralmente os motoristas também não sabem) e considerar uma velocidade média de 35 km/h.
- Para poder apreciar a paisagem a melhor opção é ficar sentado no banco da frente, do lado esquerdo (oposto ao condutor) e junto à janela. Caso se fique do lado do corredor, tem-se o desconforto de levar alguns encontrões com a passagem e das pessoas e bagagem. Ficar sentado à frente, no autocarro, tem outro inconveniente que é o som persistente da buzina, que se fazer sentir mais intensamente; em compensação tem-se mais ar fresco que entra pela porta, que geralmente está sempre aberta.
- A entrada nos autocarros faz-se pela porta de trás, sendo a da frente reservada para a saída dos passageiros. Mas esta regra está longe de ser rígida, sendo por vezes mais fácil entrar pela porta da frente, para pedir informações directamente ao motorista sobre o local de paragem e destino do autocarro.
- Os veículos pintados de vermelho-escuro pertencem à companhia pública, a SLTB. Os veículos das companhias privadas são geralmente brancos com algumas faixas em azul.
- Não existem “sleeping buses” no Sri Lanka.
Sobre o Sri Lanka
Um país rico e de cultura interessante e diversificada, resultante da longa história e pela posição geográfica que coloca esta ilha na rota comercial entre oriente e ocidente que dominou os mares por vários séculos, donde resulta uma mistura de várias influências: religiosas, culturais, gastronómicas e sociais.
Onde para além das naturais divisões religiosas a sociedade se encontra estratificada por castas, o que condiciona o nível e qualidade da escolaridade, os casamentos, os empregos e a posição na sociedade, que claramente é dominada pelos Cingaleses, maioritariamente budistas, onde pouco espaço sobra para Tamils ou muçulmanos.
Um país onde o clima proporciona abundância e variedade em termos de alimentos, o que é visível nos mercados e ao nível da gastronomia local, e onde o turismo desempenha um papel importante na economia do país.
Um país onde a grande maioria dos 20 milhões de habitantes vive longe da pobreza, onde o nível de literacia é de 98% (um dos mais elevados da Ásia) e onde a esperança média de vida é de 75 anos.
Religião
Apesar da proximidade com a vizinha Índia, a religião dominante no Sri Lanka é o Budismo seguido por 70% da população; segue-se o hinduísmo com 8%, os muçulmanos com 7% e o restante dividido pelas várias correntes do cristianismo deixado pela presença portuguesa, holandesa e britânica.
O budismo domina claramente o mapa religiosa do país, ocupando toda a região central do país, tanto as zonas montanhosas como as planícies, com excepção do norte do país, zona claramente onde a presença Tamil torna claramente hindu.
A comunidade muçulmana é bastante evidente na costa este, predominantemente na zona envolvente a Trincomalee e mais a sul na região de Pottuvil.
O cristianismo ganhou raízes em algumas zonas da costa oeste a norte de Colombo.
Disto resulta uma particular organização da sociedade no Sri Lanka, que se divide por religiões que de grosseiramente correspondem aos diferentes grupos étnicos, e donde resultou uma guerra civil que se arrastou por 25 anos e somente terminou em 2009, opondo a maioria cingalesa ao grupo étnico Tamil, maioritariamente hindu, cuja presença na ilha é anterior ao domínio Britânico, mas que criou um movimento migratório de população do sudoeste da Índia para trabalhar nas plantações de chá do Sri Lanka.
Língua ou línguas…
No Sri Lanka falam-se duas língua oficiais: o Cingalês, e o Tamil… sendo o inglês o elo de ligação entre toda a população, independentemente de etnias, religiões ou castas. Apesar do ensino do inglês ser corrente nas escolas, nem toda a população, em especial das castas mais baixas, tem oportunidade de aprender inglês. De qualquer das formas praticamente toda a população fala palavras básicas o que é geralmente suficiente para saber preços, direções, horários.
De facto o Sri Lanka é o país onde mais facilmente se encontra população a falar inglês, em comparação com países vizinhos do subcontinente Indiano, anteriormente visitados, como a Índia e o Nepal. É bastante frequente as coisas estarem identificadas também com caracteres latinos, juntamente com a escrita cingalesa e tamil, diferentes entre si, mas usando ambas caracteres complexos de forma arredondada.
Em termos de pronuncia, a leitura do nome das povoações ou de comida, por exemplo, quando escrito em caracteres latinos, não fica muito longe da pronuncia local, com uma ou outra excepção… Ella, pronuncia-se “elaá”!
Poya Day
Segundo a tradição Budista Cingalesa os dias de lua-cheia são considerados sagrados, chamado o Poya, sendo feriado nacional; ou seja, todos os meses há pelo menos um feriado, a somar aos outros dias religioso correspondentes à religião Hindu, praticada pela comunidade Tamil, os da religião católica como o Natal e a Páscoa, aos quais se junta ainda o dia que marca a independência em relação ao Império Britânico.
Mas apesar de serem feriado, nestes dias não é difícil encontrar o comércio a funcionar normalmente, assim como mercados e demais serviços. Excepção são os organismos oficiais, como embaixadas, correios, etc…
Contudo estes feriados, quer seja o Poya day ou outro qualquer dia religioso, em especial se for numa sexta ou segunda-feira, são aproveitados para visitar familiares e amigos e para peregrinações a locais sagrados, pelo que usar transportes públicos, seja autocarro ou comboio, é uma tarefa difícil, que obriga a fazer viagens de duas ou três horas de pé… sem espaço sequer para sentar no chão.
Burghers
Na costa este do Sri Lanka, em particular nas cidades de Batticaloa e Trincomalee concentra-se uma comunidade distinta dos grupos étnicos dominantes: os burgers.
Por burghers identificam-se os descendentes de portugueses e de holandeses que por laços familiares se foram ligando à população cingalesa, criando um grupo étnico com língua própria, o crioulo, e professando a religião cristã, que ainda hoje se mantêm apesar da passagem dos ingleses que aqui deixaram a religião protestante.
Da presença portuguesa ficaram nomes, os Silva, os Pereira ou Perera, os Fonseca… em nomes de actividades comerciais, em nomes de ruas, inscritos em placas que identificam consultórios médicos ou gabinetes de advogados… mostrando que esta pequena população de burgher detém um estatuto elevado na sociedade Cingalesa.
Em Batticaloa encontra-se a “Lourenço de Almeida Social & Cultural Centre”, uma associação cultural pertencente à “Sri Lankan Portuguese Burgher Foundation”, que desenvolve diversas actividades sociais na região Este do Sri Lanka.
A presença dos burghers, que representam cerca de 0.3% da população do Sri Lanka, é discreta, mas estende-se para além dos nomes e apelidos, nos tons claros de pele e pelos olhos azuis e verdes de alguns dos habitantes.
Cricket vs futebol
Sem dúvida que domina o cricket em termos e desporto, não só pelo que se vê em jornais e televisão mas também pelos campos de cricket improvisados um pouco por todo o lado que atraem a população mais jovem, exclusivamente rapazes.
Pouco ou nenhum espaço sobra para o futebol mas onde o nome de Cristiano Ronaldo não é totalmente desconhecido.
Vestuário
No Sri Lanka convive o modo de vestir ocidental com a roupa mais tradicional, com os homens a optar maioritariamente por calças e camisa, em especial nas cidades e zonas urbanas, mas onde não é raro encontrar homens usando o tradicional lungi, uma clara influência do sul da Índia e que é uma indumentária leve e fresca, adequada ao clima quente e húmido da região.
Os lungi não seguem nenhum estilo particular do Sri Lanka em termos de cores ou padrões, contudo algum homem ainda optam por usar o tradicional lungi como motivos estampados pela técnica de batik, com desenhos e padrões florais e geométricos, simples e geralmente em cores discretas.
As mulheres maioritariamente abandonaram o complexo e pouco prático sahree, para vestirem saia ou vestido, geralmente abaixo do joelho. Mas o sahree é ainda bastante popular, influência também da cultura indiana, mas que no Sri Lanka é usado num estilo um pouco diferente na forma como é enrolado à volta do corpo. Apesar do uso de não ser dominante, o sahree faz parte da roupa a usar em ocasiões especiais como celebrações religiosas ou dias festivos, e curiosamente faz parte da indumentária obrigatória para professoras das escolas públicas.
Os uniformes dos alunos mantêm um certo estilo colonialista, alguns com gravata, calções e camisa onde sobressaem emblemas… tudo de cor branca, incluindo os sapatos. As raparigas, de cabelo obrigatoriamente entrançado, seguem um estilo semelhante, com saia e camisa.
Custo das atrações turísticas
Como habitual em alguns países Asiáticos, o património cultural, natural e religioso capaz de atrair mais turismo é sujeito a uma tarifa mais elevada para estrangeiros.
No Sri Lanka esta descriminação é evidente e extensível a praticamente tudo, desde templos, parques naturais, zonas arqueológicas, museus, grutas, etc.. A única excepção encontrada foi o Dambulla Cave Temple, onde recentemente o governo aboliu o bilhete de entrada, abrangendo qualquer visitante.
Isto faz com que quem viaja com um orçamento reduzido, seja obrigado a fazer uma seleção criterioso e ponderada para eventualmente visitar um dos locais do “roteiro turístico”. A escolha nesta viagem foi para Sigiriya, donde resultam estas considerações…
Como todo o Património Classificado pela UNESCO no Sri Lanka, Sigiriya tem também um elevado custo de entrada, 4200 LKR, o que equivale a 27€, muito mais caro do que um bilhete para visitar o Museu do Louvre (15€) ou o Museu do Vaticano (16€). O que faz da visita aos locais históricos/turísticos do Sri Lanka, como por exemplo Sigirya, Polonnaruwa ou Anuradhapura, mais cara do que os mais famosos locais da Europa.
A população local paga um valor irrisório, no caso de Sigiriya é de 50 LKR, equivalente a 0.30€, ou tem por vezes direito a entrada gratuita, como é o caso do Buddha Tooth Relic Temple, em Kandy.
O elevado valor serve para preservação dos locais, não estando disponível informação relevantes no local, nem sendo distribuída qualquer brochura ou mapa que permita uma melhor interpretação do local.
Para além da questão da descriminação no preço dos bilhetes, entre população local e estrangeiros, que pode ser até certo ponto aceitável, os valores cobrados aos visitantes são deveras elevados, por vezes 90 vezes mais caros!!!!!… e tudo isto subsidiado pela UNESCO, que por sua vez é financiada por dezenas de países, entre eles os países dos “estrangeiros” que visitam o Sri Lanka!!!
Dinheiro, Bancos e ATM
A moeda no Sri Lanka e a rupia cingalesa, local identificada por “rupia”, que circula em bonitas notas ornamentadas com motivos da flora e da fauna locais, misturados com motivos étnicos e folclóricos aos quais se juntam “marcos” de progresso nacional, como barragens, pontes, portos, etc… tudo envolvido pelos caracteres da escrita cingalês e tamil, que por si só servem de motivo decorativo.
Para os valores mais baixos circulam notas com novo design paralelamente a outras mais antigas, mas mantendo a mesma gama de cores para as duas versões
Moedas também circulam mas mais difíceis de encontrar, num país onde escasseiam os trocos e onde a inflação fez com que com a moeda de valor mais elevado não se consiga comprar um snack, sendo contudo útil bilhetes nos autocarros.
Existem ATM’s um pouco por todo o lado, dos mais variados bancos. A quantidade máxima de dinheiro que é possível obter num ATM no Sri Lanka é de 50.000 LKR por dia. Contudo o valor máximo depende fundamentalmente do limite associado a cada cartão e definido pelo banco. Em Portugal o limite máximo por levantamento é 200€ por movimento, com o máximo de dois movimentos por dia, donde resulta o valor de 30.000 LKR por levantamento.
Independentemente das taxas e impostos cobrados pelo banco associado ao cartão, os banco no Sri Lanka cobram uma taxa de 200 LKR (HNB-Hatton National Bank) a 300 LKR (Comercial Bank… por exemplo).
… sobre o branco no Sri Lanka!
Uma das imagens que fica do Sri Lanka é o branco. O branco dos uniformes de escola, o branco das roupas usados pelos peregrinos que rumam aos templos budistas, o branco do lungi do tamil que efectuam os puja junto aos templos hindus, o branco das flores depositadas junto aos templos…
E ainda o branco que impecavelmente cobre igrejas, templos e stupas…. o branco imaculado e impecavelmente mantido que contrasta com o verde da vegetação tropical e com os cabelos negros dos habitantes.
Tuk-tuks, Tuk-tuks, Tuk-tuks…
Impossível ficar indiferente aos milhares de tuk-tuk que circulam pelas ruas e estradas do país… sim milhares, pois não há local onde não estejam presentes na “paisagem” do Sri Lanka, marcando-a de cores garridas e enchendo o ar com a “sinfonia” de buzinadelas.
Uma das populares formas de transporte em meios urbanos e para curtas distâncias, os tuk-tuks no Sri Lanka são modernos, limpos e em bom estado de conservação. Todos têm o mesmo modelo, com pequenas variações, sendo fabricados localmente pela omnipresente Lanka Ashok Leyland, que fabrica também autocarros, camiões, tratores, etc…
Talvez como forma de personalizar tão massiva produção muitos dos motoristas de tuk-tuk, que geralmente são também proprietários dos mesmos, optam por colocar garridas decorações no interior ou autocolantes com motivos religiosos ou com frases ou citações cujo significado é por vezes obscuro e enigmático, no exterior do veículo.
Qualquer viagem de tuk-tuk deve ser negociada antes, e é pouco provável que um estrangeiro consiga um preço inferior a 100 LKR, mesmo para distância curtas de dois ou três quilómetros. Mas mesmo negociando o preço, os condutores de tuk-tuk no Sri Lanka não fazem grandes descontos ao valor inicial.
30 dias no Sri Lanka: custos
Viajar no Sri Lanka não é tão dispendioso como pode parecer à primeira vista, sendo contudo um local pouco atractivo para backpackers, pois as infraestruturas de turismo estão mais vocacionadas nas excursões e nos grupos organizados por agências de viagem. Um turismo mais focado em resorts, boutique hotels, heritage houses, tea states… onde a maioria dos turistas viaja de taxi ou de avião, sendo raro encontrar estrangeiros em autocarros ou comboios, excepto na linha férrea que atravessa o Hill Country e as plantações de chá.
Contudo o Sri Lanka atrai alguns backpackers, especialmente os que procuram os surf spots e outros que escolhem esta ilha como paragem intermédia entre a Índia e o Sudoeste Asiático.
Contudo, apesar do pouco “backpackers friendly”, viajar no Sri Lanka pode ser uma opção mesmo para reduzidos orçamentos, desde que se opte por usar os transportes públicos (bus e comboio), por dormir em guest houses ou homestays, por evitar as mais populares atrações turísticas, monumentos, templos, parques naturais… basicamente tudo o que envolva excursões ou um bilhete de entrada!
A comida é muito barata, e os restaurantes locais oferecem bastante qualidade a preços muito baixos. A comida de rua é ainda mais barata e geralmente com qualidade.
Os transportes, autocarros e comboio, são extremamente baratos em proporção directa com a lentidão e a falta de conforto.
Custo: 14€/dia
Divididos da seguinte forma:
32% comida
45% alojamento
5% transportes
10% cultura e turismo
8% diversos
Este valor foi obtido tendo em conta:
- Todas as viagens formam feitas de comboio ou de autocarro; somente dois tuk-tuks.
- Praticamente todas as refeições foram em restaurantes de comida local ou street-food. Incluí pelo menos um rice and curry, snacks, fruta e “king coconut” por dia.
- A água consumida foi em grande parte da torneira, dado que no Sri Lanka é segura, em especial nas cidades.
- O alojamento foi em guest houses, homestays e alguns budget hotels; maioritariamente em quartos com casa-de-banho. Nunca com ar-condicionado, ou pequeno-almoço incluído.
- Algumas estadias foram com quarto partilhado.
- As estadias nas praias da costa Este foram em época baixa; na costa Oeste foram durante a época alta.
- Nenhum alojamento foi reservado. No local é quase sempre possível negociar um desconto, em especial se se estiver a viajar em época baixa.
- Inclui somente uma visita um dos muitos locais turísticos: Sigiriya, cerca de 28€… o mais caro por sinal!
- Não inclui excursões, guias, actividades desportivas ou visitas a parques naturais.
- Não inclui os custos do Visto.
Preços em Janeiro de 2016:
- Um quarto individual custa no mínimo 1000 LKR
- Bilhete de comboio Kandy-Colombo (2ª classe): 190 LKR (normal) ou 280 LKR (express)
- Bilhete de Bus Kandy-Colombo: 160 LKR (115 km)
- Rice and curry: entre 100 a 200 LKR
- King coconut: 50 LKR
- 5 maçãs: 100 LKR
- Roti (street food): 30 LKR
- Kottu: 70 LKR
Custo do Visto: 35USD
//www.eta.gov.lk/slvisa/visainfo/fees.jsp?locale=en_US
A comida no Sri Lanka
A comida do Sri Lanka é sem duvida marcada fortemente pelas especiarias, pelo côco e sobre tudo pelo picante… sim, a comida tradicional é verdadeiramente picante e não é para estômagos fracos, contudo não é de todo em exagero, pois não se sobrepõe ao sabor dos restantes ingredientes!
Em termos de especiarias o que sobressai é o cominhos, coentro, cravinho, cardamomo, gengibre e açafrão (tumeric) e folhas de caril (curry leaves) e canela, que no Sri Lanka tem um paladar menos doce do que o habitual. O coentro é usado em pó, sementes ou fresco. O cominho é também muito frequente, sendo comum encontrar estas sementes nos caris, que são fritas juntamente com alho. A cebola é usada muitas vezes crua, na preparação de condimentos que acompanham os caris, como o sambol, uma mistura de ingredientes crus, que pode ser de côco (pol sambol) ou de vegetais (gotukola sambol)… mas sempre picante.
Como base da alimentação está sempre o arroz, seja simplesmente cozido a acompanhar os aromáticos e deliciosos caris ou seja na preparação de string hoppers (idyyappam), uma espécie de noodles feitos de farinha de arroz que podem ser consumidos como refeição, acompanhados de caris, ou numa versão doce, recheados de côco ralado e açúcar chamados de lavariya (sweet string hoppers)… ambos podem ser encontradas ao pequeno-almoço!
O arroz está também presente num outro ícone da cozinha Cingalesa, os hoppers, uma panqueca espessa no centro e estaladiça nas pontas, feita à base de farinha de arroz e leite de côco, que serve de snack ou como refeição, acompanhados de caris ou de molhos picantes. Com ingredientes semelhantes, fazem-se os coconut hoppers, mas sendo cozinhados ao vapor, ficam macios e suaves, menos populares do que os hoppers mas muito mais saborosa e adocicada versão.
A comida do Sri Lanka apresentam uma grande variedade de ingredientes sobretudo vegetais, e apesar de ser um país maioritariamente budista, não é raro o consumo de carne, geralmente frango, e de peixe, em especial nas zonas mais perto da costa. Mas é extremamente fácil encontrar comida vegetariana, tanto ao nível de refeições como de snacks. Nas regiões onde predomina a religião muçulmana é evidente o maior consumo de caris feitos de carne, ao passo nas regiões de maior presença Tamil, é mais fácil encontrar comida vegetariana.
Snacks e Street food:
E por falar em snacks… o Sri Lanka foi uma agradável surpresa: pela variedade, pelo sabor, pela facilidade em encontrar um pouco por todo o lado estes deliciosas petiscos seja logo pelo pequeno-almoço, como em qualquer hora do dia, que servem de refeição ligeira. Vendem-se nas bakery, nas roti shops, nos restaurantes, em quiosques e bancas de rua… nos comboios, nos autocarros… em vendedores ambulante de bicicleta…
Os nomes são muitos… ulundhu vadai, parippu vada, samosas, pol roti, coconut roti, patties, rolls, cutlets, roti... que em comum têm o facto de serem fritos, picantes e geralmente vegetarianos.
Em termos de comida de rua os mais fáceis de encontrar são os ulundhu vadai um pastel de massa frita, em forma de anel, condimentado com especiarias, que por vezes é aberto ao meio e recheado de uma pasta vermelha e picante. Também muito populares são os parippu vada, um pequeno pastel cuja massa é feita de uma pasta de lentilhas, que depois de frito fica estaladiço e picante.
Ambos bastante oleoso, mas muito saborosos, vendidos frequentemente nos comboios e nos autocarros, por vendedores ambulantes que a custo circulam com cestos pelos onde estes petiscos se empilham… mas que também fáceis de encontrar em bancas de rua, geralmente nas zonas mais movimentadas da cidade, como os mercados, terminais de autocarros e à entrada de estações de comboio. Feitos logo pela manhã, ou ao fim da tarde, ficam empilhados nas vitrines, que expostas para a rua servem para anunciar uma nova remessa destes snacks.
A estes podem-se juntar os chamados patties, um pastel em forma de meia-lua, cuja massa faz lembrar os pastéis de massa-tenra, e que são recheados com uma pasta de vegetais ou de lentilhas, e fritos em óleo. Com um recheio semelhante, mas com uma massa diferente e cozinhados no forno, surgem as samosas (chamussas) sendo geralmente vendidos em bakery, lojas semelhantes a cafés mas destinadas essencialmente à venda destes snacks salgados, assim como alguns doces, sumos e gelados… e onde também se pode saborear chá e café.
Há ainda mais uma grande variedade de snacks, quase sempre fritos como os rolls e os cutlets, geralmente de peixe ou carne, mas por vezes também de vegetais, semelhantes aos croquetes, em forma de cilindro ou de bola, mas sempre panados e fritos em óleo. Seja qual for a opção o recheio é sempre picante.
Mas sem duvida que os mais populares, seja em que parte do país for, seja em grande cidades ou pequenas povoações são os roti, confeccionados nas chamadas roti shops, que também servem kottu. Os rotis são pastéis feitos de massa muito fina, a mesma massa que se usa nas parahtas, que é recheada com uma pasta de vegetais, fortemente condimentada e picante. Depois da massa ser dobrada em forma de triângulo, ligeiramente espalmado, é frita sob uma placa metálica. Se forem recheados de peixe têm uma forma de cilindro e se forem de carne têm a forma de um rectângulo.
Rice and curry:
Mas se os snacks criaram boa impressão da variedade e paladar da gastronomia do Sri Lanka, o rice and curry, foi marcante, tendo sido a refeição obrigatória dos 30 dias passados no Sri Lanka. Geralmente ao almoço, mas por vezes também como primeiro refeição da manhã, o rice and curry é uma refeição equilibrada, saudável e energética, deixando o estômago satisfeito por bastantes horas. Por tudo isto é a refeição mais popular no Sri Lanka, sendo barato e fácil de encontrar um pouco por todo o lado.
Mesmo sendo consumido diariamente o rice and curry (assim chamado também no Sri Lanka) nunca cansa nem se torna aborrecido, pois é surpreendente a variedade de ingredientes usados, dos quais resulta uma grande diversidade de caris.
Para além do arroz e de um espesso caril de lentilhas condimentado com folhas de caril (curry leaves) e malaguetas secas e fritas, os caris usam ingredientes como abóbora, courgette, jackfuit, banana, batata, beterraba, feijão verde, quiabos, beringela, diversos legumes de folha verde, alguns frutos… a somar a muitos outros ingredientes não identificados ou que fogem aos meus conhecimentos. A completar o prato que tem sempre uma base vegetariana, podem ainda ser adicionados caris de peixe ou de carne.
A jackfruit, um gigantesco fruto tropical, consumido fresco mas que no Sri Lanka é mais usado em caris, nos seus diferentes estados de maturação, desde “verde” a maduro; é não só a polpa é usada, sendo aproveitadas também as sementes, que são cozinhadas como feijões. O jackfruit, apesar de não ter um sabor muito intenso, apresenta uma textura macia deixando a comida com um aspecto pegajoso, resultante da goma natural do fruto… um pouco como os quiabos.
Apesar da diversidade de caris, a base é sempre o arroz, servido numa generosa quantidade, podendo ser de grão branco ou o chamado localmente “red”, uma variedade de arroz tradicional do Sri Lanka, que onde o grão depois de cozido parece trazer uma pequena camada de “pele” de tom avermelhado ou acastanhado. Mais saboroso mas menos comum do que o arroz “branco”.
Acompanhado quase sempre o prato de rice and curry vem o papadum, uma bolacha fina e estaladiça que é frita em óleo, servida sempre numa pequena quantidade.
As combinações de caris são muitas e variadas, geralmente com duas ou três variedades, por vezes quatro, resultando num prato colorido e atractivo. Atractivo é também o preço, pois pode-se encontrar um rice and curry vegetariano por 80 LKR (0.50€) nas pequenas povoações, e nas cidades a custar entre 100 a 150 LKR, caso se opte por um dos restaurantes mais simples e informais. Nas zonas turísticas os valores sobem para 200 LKR (1.3€) mas em alguns restaurantes podem custar mais do 400 LKR. As opções com carne ou peixe são sempre um pouco mais caras.
O rice and curry é servido no prato, mas sempre com direito a “refill” caso não se esteja num restaurante mais sofisticado ou em zonas muito turísticas.
Em alguns locais, seja em pequenas bancas de rua, à porta de um café, num quiosque de um terminal de autocarros e em restaurantes mais modestos é frequente encontrar-se o rice and curry em sistema de takeaway, no Sri Lanka chamado de “parcel” em que a comida é envolvida num plástico e depois embrulhada e papel de jornal. Este sistema e bastante popular entre a população local, mas pouco prático caso se esteja em viagem , pois não são fornecidos talheres, dado que no Sri Lanka é tradição e costume comer com a mão (direita) sendo os talheres facultados somente nos restaurantes, resumindo-se a uma colher.
Pode-se considerar que o rice and curry é o prato nacional do Sri Lanka, transversal a todos os grupos étnicos, castas e religiões.
Roti e Kottu:
Apesar de poder dizer que o rice and curry é o prato nacional do Sri Lanka, os rotis e kottus, são fortes concorrentes neste título. São baratos. fáceis de encontrar um pouco por todo o lado, apresentam uma grande variedade e são apetitosos.
Os rotis são mais frequentes como snack, de manhã ao pequeno almoço ou durante o dia entre refeições. Mas podem ser consumidos como almoço acompanhados de outros snacks disponíveis no restaurante, que vêm para a mesa num prato, com o cliente a fazer a seleção e a pagar somente os que consumiu.
Os rotis são feitos com a mesma massa das lachha parathas, um pão achatado de massa muito fina, não levedada, que é estendida com a ajuda de bastante óleo até quase rasgar. Depois de enrolada é espalmada e frita numa chapa metálica até ficar dourada e ligeiramente estaladiça… um pão que acompanha refeições e que é uma clara influência Tamil do Sul da Índia (não confundir com as parathas do norte da Índia).
Os kottus, cozinhados nas chamadas “roti shops” são a mais popular opção para o jantar fora de casa. Os kottus têm por base uma panqueca feita de farinha de trigo, semelhante às parathas, que é frita em chapa metálica, e depois cortada em pequenos pedaços e misturada com legumes, ovo ou carne. Disto resulta uma refeição consistente mas pouco nutritiva dado que os vegetais (cebola, cenoura, tomate, ervilhas, spring onions…) são em pequena quantidade, donde resulta muito massa e algum óleo. Mas a preparação do kottu merece sempre atenção, pois envolve um pequeno espetáculo do cozinheiro que com duas espátulas metálicas, corta e mistura os ingredients com a massa, sobre a chapa metálica, tarefa executada com movimentos elaborados e espetaculares, mas que produz um barulho um pouco irritante e que se sobrepõe às conversas.
Mas com o mesmo nome, roti, pode também indicar outro snack, este mais comum nas roti shops e em alguns restaurantes. Estes roti são feitos com a mesma massa das parathas, sendo preparados no momento, e podendo ter variados recheios (vegetais, carne, peixe, queijo) resultando numa espécie de crepe de massa muito fina, achatado, dobrada em forma de rectângulo.
As “roti shops” especializam-se em rotis, kotus e fried-rice… mas para encontrar um rice and curry, o melhor é procurar um restaurante que aqui no Sri Lanka, se identificam de “hotel”, sendo esta designação aplicada a estabelecimentos mais simples, despretensiosos e baratos,mas que são os locais favoritos entre a população local.
King Coconut:
O “rei” dos côco! Esta espécie de côcos nativa do Sri Lanka, é uma imagem que marca de amarelo a estadia na ilha, onde por todo o lado se vendem estes côcos, que crescem um pouco por todo o lado, sem necessitarem de cuidados especiais, com excepção das zonas mais elevadas e montanhosas.
E não é só na côr que estes côcos são diferentes, são também no sabor, muito mais doces e intensos do que os habituais côcos de casca verde, populares na vizinha Índia.
O côco tem propriedades refrescantes, ajudando abaixar a temperatura do corpo, o que é óptimos em climas tropicais como o Sri Lanka. Para além de deixar uma sensação de frescura quando é bebida a água (coconut water) que contem no seu interior, deixa também o estômago saciado devido à riqueza nutricional do côco, servindo muitas vezes de pequeno-almoço ou ente refeições.
O leite de côco usado na comida é feito a partir da polpa, que vai ficando mais espessa à medida que o côco amadurece e vai perdendo a água no seu interior. Quando quase seco, é ralado e usado para fazer o pol sambol, uma mistura de côco ralado, chilli (malaguetas), frescas e secas trituradas, cebola, sumo de lima e sal. O côco ralado é também usado como ingrediente do gotukola sambol, uma mistura crua de uma planta de folha verde (gotukola) com chilli, cebola e algumas especiarias.
Resultando da mistura de farinha de arroz e de côco ralado, resulta o pittu que é cozinhado ao vapor numa forma cilíndrica, e é ensopado em caris, tanto ao pequeno-almoço como ao jantar. Também desta mistura resulta o pol roti, mas onde a massa é trabalhada em forma de panqueca que é cozinhada ao lume, e que serve também como acompanhamento de caris.
Para além disto o côco é indispensável à confecção da maioria dos caris que servem de base às refeições no Sri Lanka, seja ralado, como condimento ou em forma de óleo de côco.
Doces:
Os doces não foram o que mais marcou a experiência gastronomica do Sri Lanka, contudo dois sobressaíram: coconut hopper e lavariya… não muito doces, leves e sem óleo!!!
Os sweet string hoppers ou lavariya são string hoppers, uma espécie de noodles feitos com massa de arroz e cozidos ao vapor, que são depois recheados com uma mistura de côco ralado, açúcar escuro (jaggery) e condimentados com cardamomo… uma delícia.
Os coconut hoppers, são feitos com farinha de arroz e côco, cozinhados ao vapor sobre folha de bananeira; vendidos aos pares com um ligeiro recheio adocicado e cremoso. São suaves, leves e deliciosos.
O curd and honey, que não é mais do que iogurte regado com mel, que de facto não é mel mas sim melaço (treacle), muito popular Ella, onde se pode encontrar com diferentes variações como o curd and honey com arroz, o que torna uma boa opção para pequeno-almoço. Bom, mas não surpeendeu.
O tradicional curd, um iogurte mais espesso e com mais gordura do que o que estamos habituados, feito com leite de búfala. Pode ser vendids nos “milk bar” que são pequeno quiosques de rua, nas “milk shops” e em algumas mercearias, mas sempre em potes de barro, com a versão mais pequena a pesar meio quilo. São misteriosamente mantidos durante o dia fora do frigorífico, sem se deteriorarem. Não têm açucar, como é habitual encontrar nas versões Nepalesas e Indiana.
Nas bakeries para além da venda de salgados apresentam também bolos, a fazer lembrar muito a doçaria europeia com versões de pão-de-ló ou do bolo-mármore, mas em formato rectangular. A estes juntam-se outro bolo muito comum, semelhante aos “muffins” ou ao português “queque” (por vezes com a forma de estrela), mas que se mostraram secos e bastante desinteressantes. Em algumas cidades, algumas pastelarias oferecem maior variedade de pastelaria baseada em bolos com cremes e recheio, mas pouco cativante e de sabor industrial.
Pão:
Apesar destas iguarias, o pão, numa versão ocidental, tipo pão de forma, branco e “borrachoso” é bastante popular… torrado com manteiga ou partido em pedaços e regado com caril… pouco atractivo mas vendido um pouco por todo o lado nas chamadas “bakery” ou nos vendedores ambulantes com carrinhos de mão ou triciclos motorizados que circulam pelas ruas das povoações.
A pequenos pães de massa branca, muito leves e sem sabor, vendidos simples ou recheados com omolete: redondos ou em forma de baguette, são uma versão Cingalesa da sandwich. A estes juntam-se outros a fazer lembrar o “pão de leite” e os “donuts” mas cujo aspecto industrializado não atraiu.
Chá e café:
O Sri Lanka é conhecido pelo chá, o famoso chá do Ceilão que os ingleses introduziram que continuam a ser plantado em larga escala. E é de facto a bebida nacional, sendo consumida com leite e açúcar.
Mas o café, não tendo fama, é bastante agradável, sendo preparado por filtragem (café de filtro), mostrando-se pouco denso e suave.
Horários:
Para encontrar um determinado tipo de comida, é necessário alguma aprendizagem relativamente aos horários, pois no Sri Lanka seguem-se regras não-escritas sobre o que comer a determinadas horas do dia.
Assim, de manhã, é hora para os roti, recheados de vegetais, peixe ou carne, assim como de samosas (chamussas), patties (estilo pastéis de massa-tenra), rolls (croquetes) e cutlets (estilo croquete mas redondos) também com diferentes tipos de recheios mas todos deep-fry, ou seja fritos imersos em óleo. Os coconut hoppers e lavariya, sendo ligeiramente adocicados e cozinhados ao vapor servem muitas vezes de pequeno-almoço.
Ao almoço, o popular rice and curry, é servido geralmente a partir do meio-dia, sendo servido até acabar, ou seja, pode durar hora e meia mas também se pode prolongar até às 2 horas… procurar um rice and curry depois deste horário aumenta as possibilidades de comer comida fria ou requentada… ou mais provavelmente de nem sequer encontrar rice and curry. Em alguns locais, geralmente em cidades e nos grandes restaurantes esta tradicional refeição está disponível desde a manhã, sendo servida ao pequeno almoço. Ao almoço, uma alternativa ao rice and curry são os string hoppers, mas estes só mesmo nos locais mais tradicionais do Sri Lanka.
Ao jantar, que termina cedo, sendo difícil encontrar locais servindo refeições depois das 9.30h da noite, o mais popular são os kottu, os roti e as parahtas. Para quem quer uma refeição mais substancial tem também o fried–rice, fácil de encontrar nas chamadas Roti Shops, que como o nome indica se dedicam aos roti e kottu. Os hoppers são também uma das escolhas tradicionais ao fim do dia.
Durante todo o dia, é possível encontrar os ulundhu vadai (massa frita em forma de anel), parippu vada (pastel de lentilhas frito), os pol roti (panqueca à base farinha e côco), os coconut roti (em forma de disco com cebola e côco)… e os sempre presentes roti, cuja popular opção vegetariana em forma de triângulo fica marcada na memória dos snacks Cingaleses.
Em resumo, a gastronomia do Sri Lanka foi uma boa surpresa, bastante diferente da Índia vizinha, muito saborosa, colorida, rica, nutritiva… e amigável para vegetarianos. Resultado de várias influências, a cozinha Cingalesa está totalmente associada com a paisagem verde e com o clima quente e tropical.
…. o “rice and curry” e o “king coconut” deixaram saudades!
Sri Pada… na peugada do Buddha
Com cerca de 2243 metros de altura Adam’s Peak não é o ponto mais alto da ilha que constitui o Sri Lanka, mas é de certo o mais sagrada, não só para a os budistas que aqui encontram a pegada de Buddha e lhe chamam Sri Pada, como para os Hindu é a pegada de Shiva e para muçulmanos e cristãos o rasto deixado por Adão.
Aparentemente no cimo da colina encontra-se uma depressão na rocha e que com alguma imaginação se pode considerar um pé gigante, o que misturado com algum devoção religiosa tornam esta montanha um dos principais locais de peregrinação no Sri Lanka.
A época favorável para a peregrinação é entre Dezembro (Unduwap poya*) e Maio (Wesak poya) com Janeiro e Fevereiro sendo os melhores meses, pois proporcionam melhor visibilidade e clima mais estável, sem risco de chuva. Contudo a esta altitude a temperatura desce bastante durante a noite, altura em que é mais comum os peregrinos efectuarem a subida dos 1400 metros que separam Dalhousie do cume. Os meses de Maio e Outubro não é recomendável a subida pois a montanha encontra-se envolta em nuvem a maior parte do tempo e o clima é mais instável.
Durante a época das peregrinações mais de 20.000 pessoas sobe o Adam’s Peak durante os fins-de-semana, o que faz destes dias pouco recomendáveis a quem aqui vem em turismo e não pretende passar horas para fazer a subida… mas por falta de informação o dia escolhido calhou num fim-de-semana, com a agravante de ser prolongado com mais um feriado religioso, desta vez o Thai Pongal Day comemorado pela comunidade Tamil, mas que é também feriado nacional. Assim o dia escolhido para efectuar a subida foi provavelmente o dia que atraiu mais gente a fazer a peregrinação da subida ao Adam’s Peak.
A caminhada começou pontualmente às duas da manhã, com 4 horas para fazer calmamente a subida que muitos dizem poder ser feita em 3 horas, com vista a se chegar ao cume ao nascer do sol e assim poder assistir ao espetáculo que tem um pouco de misticismo onde, por instantes, surge reflectida na encosta oposta uma sombra de perfeitas formas triangulares que nada têm a ver com o formato do pico, mas que provavelmente resultam de um efeito óptico causado pela dispersão da luz ao nascer do sol misturado com o efeito da altitude… mas que produz um fenómeno único.
O inicio do trilho é muito fácil com a subida a ser feita por rampas ou pequenos grupos de degraus, mas onde o frio e a escuridão da noite tornam o percurso monótono. Contudo o percurso e razoavelmente iluminado, por alguns candeeiros mas principalmente pelas lojas dispostas ao longo do percurso, vendendo artigos religiosos, agasalhos, doces e servindo comida, seja a que horas for do dia ou da noite. Os preços vão aumentando à medida que se sobe, o que é razoável pois tudo, desde arroz, lentilhas, garrafas de água, refrigerantes, legumes, botijas de gás, etc… tem que ser transportado por carregadores encosta acima, que no máximo recebem 1500 rupias caso entreguem mercadoria no ultimo restaurante do trilho, o que deve demorar, entre ida e volta todo o dia, no que resulta em menos de 10 euros por dia de trabalho árduo e sazonal.
Depois de percorrido o primeiro terço do percurso, o trilho até então bastante largo começa a estreitar e a ser totalmente dominado por escadas, muitas das vezes ocupadas por peregrinos que aproveitam para descansar do esforço, o que atrapalha um pouco a circulação dos restantes visitantes, obrigando a abrandar o ritmo.
E a um ritmo mais lento, quando o ego deixa de estar alimentado pela veloz ascensão, pelo orgulha na boa forma física e pela competição de chegar rapidamente ao topo, surge espaço para tomar-mos consciência do que nos rodeia. Tempo para observar a devoção que leva milhares de pessoas a fazer este percurso, que não sendo muito exigente não é fácil, em especial para quem o faz com crianças ao colo ou para as pessoas mais idosas, lentamente e com muitas paragens caminham com determinação. É comovente ver famílias de três gerações caminhando ao ritmo dos mais lentos, mães amamentando bebés durante uma pausa nos degraus, pais transportando crianças adormecidas ao colo e ver como adolescente amparam os passos cansados dos avós.
A caminhada estava a decorrer suavemente até que na aproximação ao ultimo terço do trilho, altura em que os degraus se tornam mais estreitos, o elevado numero de peregrino aos quais se juntavam alguns turistas, tornou a subida impossível, com o caminho totalmente bloqueado por pessoas que a custo deixavam passar quem fazia a descida. Tão perto do topo não era hora de desistir e como ainda faltam duas horas para o nascer do sol, por isso não restou alternativa do que juntar à multidão e ir caminhando a passo muito-muito lento. As horas foram passando lentamente com o frio a tornar penosa a espera e a falta de movimento a deixar o corpo enregelado com o ar gélido que sopra na encosta desprotegida da montanha.
O sol nasceu num magnifico espetáculo de diáfana luz, como se um manto de escuridão fosse sendo lentamente removido deixando ver as cores da paisagem que lentamente foram ganhando intensidade. Mas o topo ainda estava longe e mais de duas horas depois do dia despontar a fila para chegar ao cimo, local onde se encontra a pegada do Buddha ainda estava longe de ser alcançado, pelo que tendo-se perdido o espetáculo do efeito óptico da sombra que surge com o nascer do sol, e sem a motivação religiosa dos peregrinos a quem a espera não é demais para chegarem a tão sagrado local, o cansaço venceu e pela 8 horas foi tempo de iniciar a descida.
Apesar de um certo desencanto por não se ter chegado ao topo, a descida feita à luz suave da manhã revelou uma paisagem admirável de encostas de imaculada vegetação sem vestígios de presença humana, lagos ocupando o fundo dos vales, suaves encostas onde plantações de chá formam um tapete ondulado, e um mar de verde que enche os olhar, quebrado aqui e além pelo castanho-ferrugem das rochas graníticas que parecem irradiar brilho quando expostas aos primeiros raios de sol.
Dalhousie é a povoação que vive em função dos peregrinos e que não é mais do que uma rua ao longo da qual se alinham umas casa, algumas guest houses, restaurantes e muitas lojas de doces, todas vendendo praticamente os mesmos produtos. Pelo meio fica um terreno em terra batida, uma espécie de terminal de autocarros que fazem a ligação entre Dalhousie e Hatton, a estação de caminhos de ferro mais próxima. É em Dalhousie que começa o trilho que dá acesso ao cume da montanha, e onde a maioria das pessoas fica instalada, se bem que muita gente chega de autocarro e inicia de imediato a subida, deixando o local assim que chega novamente a Dalhousie.
*Poya: são dias sagrados segundo o calendário budista e coincidem com a lua cheia. Assim cada mês no Sri Lanka tem um dia feriado, com muitas lojas assim como organismo oficiais (correios, etc…) a fecharem neste dia.
Metereologia em Adam’s Peak:
//www.mountain-forecast.com/peaks/Adams-Peak/forecasts/2243
O que é preciso para subir o Adam’s Peak:
Basicamente, não muito. Roupa confortável para suportar as baixas temperaturas durante a noite que parecem mais baixas devido ao vento que se vai fazendo sentir à medida que se aproxima do cume. Na descida parte desta roupa é excessiva e provavelmente chega-se a Dalhousie de t’shirt.
A maioria dos estrangeiros usar sapatos de caminhada, mas o percurso pode ser feito de sandálias, mas o frio da noite recomenda o uso de meias. A maioria dos peregrinos faz o percurso de sandálias, ou mesmo mais frequentemente de chinelos (os de borracha de enfias ente os dedos), não sendo raro ver pessoas descalços a fazerem esta caminhada, não por pobreza mas por devoção.
Atalho para Sri Pada (Adam’s Peak):
Nos dias de maior afluência compensa usar um caminho alternativo para chegar ao cimo do Adam’s Peak. Quem usou este “atalho” conseguiu chegar a tempo de ver o nascer do sol, tendo começado o percurso também às 2 horas da manhã.
Depois de se percorrer cerca de dois terços do trilho encontra-se uma bifurcação com uma estátua de Buddha. Do lado direito inicia-se um trilho em terra batida que de noite obriga ao uso de uma lanterna pois o piso é irregular com pedras e troncos. No fim deste trilho chega-se a um caminho cimentado que leva a uma outras escadas que também acedem ao topo do Adam’s Peak, mas como o acesso não é tão fácil de encontrar têm menos pessoas.
Onde dormir em Adam’s Peak (Dalhousie):
O autocarro termina num terreiro que constitui o terminal de bus de Dalhousie que é o cento da povoação. Caminhando um pouco para trás encontram-se a maioria das guest-houses. Avançando em direção ao inicio do trilho pode-se também encontrar mais duas guest houses e quem alugue quartos. Os preços são claramente inflacionados e um pequeno quarto somente com uma cama, com casa-de-banho partilhada, chega aos 2500 LKR por pessoa.
Caminhado mais um pouco, já depois de passar a indicação “Adam’s Peak” pintada a amarelo na rocha, por entre a fiada de lojas a vender doces, encontra-se do lado direito da Sri Pada Road, depois de descer uns degraus uma casa que aluga quartos: Dilani Ligh House.
Os quartos são ultra-básicos, somente com uma cama mas o preço pode ser negociado: 1000 LKR para um quarto para duas pessoas. A casa-de-banho é somente uma retrete, sendo o banho tomado ao ar-livre, com água fria. O suficiente para passar umas horas antes de iniciar o percurso, deixar a bagagem e descansar um pouco depois da caminhada.
Onde comer em Adam’s Peak (Dalhousie):
Mesmo ao lado da Dilani Ligh House guest house, na Sri Pada Road, um restaurante com o mesmo nome, que serve-se desde manhã até ao inicio da tarde, um rice and curry simples mas bastante bom, apesar de extremamente picante, por 100 LKR, que ajuda a recuperar a energia despendida.
Ao longo da caminhada, encontra-se sempre comida nos restaurantes que surgem ao longo do trilho, quase até chegar ao topo. Funcionam 24 horas e mesmo que não tenham rice and curry têm sempre prontas os deliciosos coconut rotis (uma espécie de panqueca salgada mas feita com côco ralado) e outros snacks tipicos do Sri Lanka.
Como chegar ao Adam’s Peak:
Dalhousie é uma pequena povoação que quase não surge no mapa, sendo Hatton a cidade mais próxima com algumas infraestruturas. Sendo Hatton uma das mais importantes povoações na rota do chá no Sri Lanka, é servida por caminho-de-ferro pela linha que atravessa o “hill country”, que se inicia em Colombo, passa em Kandy e termina em Bandulla.
- De Kandy para Hatton de comboio
Os bilhetes de comboio para a 1º classe encontram-se esgotados com cerca de 45 dias de antecedência, podendo contudo ser encontrados nas agências de viagens, que os compram com antecedência e depois os vendem aos turistas com elevada comissão. Contudo, mesmo nas agência de viagem em Kandy não é fácil de encontrar pois geralmente estes lugares estão reservados para tours organizados.
Por isso a alternativa é viajar em 2ª ou 3ª classe onde não há lugares reservados.
Somente há um comboio por dia que inicia o percurso em Kandy e parte às 3.30 am, o que o torna pouco atractivo. Todos os restantes comboios partem de Colombo e chegam a Kandy cheios sendo mesmo difícil entrar para o comboio nos dias de maior afluência como fins-de-semana e feriados. O comboio chegou atrasado e partiu ainda com maior atraso devido à dificuldade de fazer entrar todos os passageiros, que são bastantes, a maioria estrangeiros com grande mochilas, num comboio que já vem cheio desde Colombo.
A viagem demorou 2.5 horas, e por certo atravessando uma paisagem interessante, mas como não havia hipótese de ter um lugar sentado o melhor que se consegui foi um espaço mínimo para sentar no chão.
Train Ticket: 110 LKR (2ª class)
- De Hatton para Dalhousie de bus
Mesmo à saída da estação de comboios de Hatton, estacionado do lado esquerdo encontra-se o autocarro (vermelho) com destino a Dalhousie, que aguarda a chegada dos passageiros do comboio, partindo assim que fica cheio… o que não demora muito durante a época alta, em especial ao fim-de-semana.
Bus Ticket: 70 LKR
Segue-se 1.50 horas para percorrer os 33 quilómetros que separaram Hatton de Dalhousie por uma estreita e muito sinuosa estrada entre plantações de chá entre as quais sobrevivem algumas árvores do que foi em tempos uma floresta.
A vista ao longo do percurso é deslumbrante mas a condução acelerada torna esta viagem cansativa e sujeita a enjoos.
O autocarro termina num terreiro que constitui o terminal de bus de Dalhousie que é o cento da povoação.
Subcontinente Indiano
Os mastigadores de “paan”
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Da intensa experiência que foi viajar nos estados do Nordeste da Índia, uma coisa houve que ficou marcada vivamente na memória dos sentidos: o paan… o cheiro, a côr, os gestos, o som do cuspir e o rasto vermelho deixado pelo chão.
Mas o que é o paan!?! Basicamente paan é noz de areca (areca nut), cujo aspecto se assemelha à noz-moscada, cortada em pequenos pedaços, e envolvida em folha de bétel, uma trepadeira de folha verde que tem efeitos estimulantes. A esta mistura junta-se muitas vezes tabaco (de mascar) e cal (hidróxido de cálcio)… sim, a mesma cal como a que se usa para revestir paredes.
A noz de areca, assemelha-se muito à noz-moscada, tanto no tamanho como no aspecto do fruto, mas em vez de nascer de uma árvore é o fruto de uma palmeira, cujas nozes crescem em cachos no topo de um fino e alto tronco.
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A folha de bétel é cuidadosamente dobrada em forma de um pequeno rectângulo, conservado a noz de areca, e colocada na boca, sendo ligeiramente mastigada de forma a libertar lentamente os sucos, que aos poucos vão dando uma coloração avermelhada à saliva, que se estende aos cantos da boca e aos lábios. Ao fim de alguns anos de utilização, resulta não só os dentes deteriorados e manchados de vermelho, como também uma certa adição, devido às propriedade da folha de bétel. Misturada com tabaco, aumentam ainda mais os efeitos cancerígenos da noz de areca.
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O paan produz uma forte salivação, o que faz com que os seus consumidores tenham necessidade frequente de cuspir, o que é muitas das vezes feito de forma aparatosa, num jacto de saliva avermelhada, que deixa um rasto pelas ruas, passeios e até paredes!
Sendo bastante popular na Índia, o hábito de consumir paan encontra-se espalhado um pouco por todos os países asiáticos, como o India, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka e Birmânia, sendo este ultimo o país onde a presença de paan é uma constante, desde mulheres a crianças.
Mas a passagem por alguns dos estados do Nordeste da Índia, Assam, Nagaland e Meghalaya deixou uma marca mais forte deste fenómeno. Aqui, talvez mais do que em qualquer outra das regiões da Índia a noz de areca é “rainha”, sendo mesmo mastigada sem a folha de bétel ou outros ingredientes.
Sendo predominantemente um hábito masculino, comum entre a população mais pobre, é uma imagem de marca entre motoristas de autocarros e condutores de tuk-tuks; mas no Nordeste da Índia o paan é também bastante popular entre as mulheres, sendo o seu consumo transversal às várias camadas sociais, não sendo de estranhar encontrar um pastor na ilha de Majuli a cuspir o paan ou a recepcionista de um hotel em Mokokchung com os cantos da boca marcados pelo vermelho da noz de areca.
O consumo de tabaco de mascar é também bastante popular, sendo misturado com cal, de forma a humedecer as folhas formando uma pasta que se coloca junto à gengiva. A preparação do tabaco, esfregando a mistura na palma da mão com os dedos, que depois é ligeiramente batida para ficar espalmada, são um dos gestos que se vêm constantemente… nas cidades ou nas vilas, nas ruas ou nas lojas, em autocarros e comboios…
Apesar do acto de mascar tabaco ser desagradável, pois produz também a necessidade frequente de cuspir, o paan, com o seu cheiro adocicado criou ao fim de três semanas de viagem pelo Nordeste da Índia, uma certa repugnância pela combinação do som com o jacto de saliva vermelha libertado pelos mastigadores de paan, que não se esforçam por ser discretos ou delicados, fazendo do acto de cuspir uma arte, onde por certo a trajetória e distância do rasto vermelho deixado no chão é motivo de orgulho.
E um pouco por todo o lado, vêm-se sempre marcas brancas deixadas pela cal que colada aos dedos, é que depois são esfregando em ombreiras das portas, junto à lojas de paan, ou nos bancos dos autocarros e comboios…
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E o cheiro deixou também uma forte marca na minha memória, com quartos de hotel a cheirarem a paan, e com viagens longas de autocarro ou the sumo, a serem feitas na companhia de activos mastigadores de paan, cujo cheiro adocicado impregna o espaço, e a cruzam regularmente o meu campo de visão para cuspirem pela janela.
Uma negativa mas forte memória que criou em mim uma repugnância ao paan, ao qual os meus sentidos não conseguem ficar indiferentes.
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