O mosteiro de Lamayuru, que domina a colina onde se estende a pequena povoação com o mesmo nome, é dos mais antigos da região, datando do século IX e X. Para além do valor histórico, apresentava o atractivo de nos dias seguintes se realizar o festival anula de máscaras executado, pelo monges no interior do mosteiro.
Mais uma vez, optámos pelos transportes públicos para percorrer os cerca de 150 quilómetros que separam Leh de Lamayuru, e que nos levou 4 horas, pois mais uma vez tivemos que cruzar um dos passos a grande altitude. Parámos na povoação de Kaltse, para descansar e tomar um “chai” o que me levou a reparar nos pósteres que decoravam algumas lojas e restaurantes: em vez da habitual fotografia do Dalai Lama que se encontra por todo o lado em Leh e em outas zonas que visitamos do Ladakh, aqui aparece a imagem do Ayatola Komeni, o que representa bem a diversidade de culturas, e em particular de religiões, que existentes Índia.
Chegámos pelas 9 horas ao mosteiro, onde já decorria o festival, num recinto ao ar livre, onde se encontravam monges entoando cânticos e tocando tambores, enquanto no meio do recinto desfilavam outros monges envergando trajes de cerimónia com altos chapéus, transportando pesadas trompas metálicas, acompanhados por outros que executavam danças enquanto tocavam gongos.
Durante toda a manhã foram desfilando monges envergando diversos trajes, feitos com ricos materiais, e máscaras de madeira representando imagens alusivas à Roda da Vida, como por exemplo o porco e o Yamantaka, o Senhor da Morte, cujo rosto diabólico é encimado com figuras de caveiras, empunhando espadas e machados.
A assistência que inicialmente não era muita foi durante a manhã aumentando, em especial no numero de turistas indianos e estrangeiros. Um pouco à parte do frenesim das máquinas fotográficas, encontravam-se os habitantes do Ladakh, envergando as roupas tradicionais e girando continuamente a roda de orações.
Nos intervalos, monges vestidos de forma descuidada e com máscaras de pele avermelhada e cabelos e barbas brancas, comportavam-se como diabretes, enquanto animadamente incentivavam a assistência a fazer donativos, que eram atirados para um lenço branco e recebidos com muita euforia e animação.
Muito do que se passou no recinto escapou ao nosso entendimento e interpretação pois todo o simbolismo destas danças, objectos, gestos e rituais está intimamente associado à religião budista e à cultura Tibetana e do Ladakh, não tendo por isso deixado de ser muito interessante e surpreendente.
























O Ladakh, apresenta a maior concentração de mosteiros tibetanos, sendo o de Lamayuru o mais antigo. Aproveitámos o intervalo para almoço do festival, para irmos visitar o mosteiro, que suplantou o que tínhamos visto dias anteriores em Thikse, não só pelos conjunto de edifícios como pela enorme quantidade de stupas e rodas de orações que encontramos ao percorrermos os labirínticos existentes entre as várias construções e templos.
Enquanto apreciávamos a paisagem árida e desértica, pontuada ocasionalmente por manchas de verde, chegou até nós o som dos cânticos budistas, que fomos seguindo até entrar-mos num dos vários templos do mosteiro, onde vários monges entoavam orações ao som do hipnótico ritmo dos tambores, envoltos na penumbra. Demorámo-nos neste espaço ao mesmo tempo estranho e cativante, embalados pelo som dos cânticos, ao mesmo tempo que assistíamos às prostrações executadas pelo fiéis que prestavam homenagem às três stupas ricamente executadas em prata e adornadas de pedras preciosas, contendo relíquias de algum monge ou outra figura importante da religião budista.










Depois de um almoço numa das guesthouses de Lamayuru, onde as opções variavam entre o arroz com lentilhas e massa salteada com vegetais, dirigimo-nos para Kaltse, num táxi partilhado, uma das formas de transporte existentes nesta zona, que consiste num carrinha pequena, com cerca de sete lugares, que faz um percurso fixo entre duas povoações, sem ter locais especifico para parar nem tão pouco horário certo… passa quando passa.
Em Kaltse, contávamos apanhar um autocarro de volta para Leh, mas uma paragem no posto de policia existente uns quilómetros antes, onde tivemos que apresentar os passaportes e preencher o livro de registos, atrasou-nos e fez com que perdêssemos o últimos autocarro. Restou-nos esperar pacientemente, juntamente com um rapaz indiano que estava na mesma situação que nós, pela passagem de algum táxi ou outro veículo turístico que nos levasse ao nosso destino. As horas foram passando, enquanto o optimismo ia esmorecendo e o cansaço se instalava, fazendo com que a possibilidade de sair de Kaltse nesse dia se tornasse mais remota.
Um pouco em desespero dirigi-me a um mini-bus para saber se tinham lugar para nós, mas só mais tarde, quando finalmente tivemos a confirmação que nos podiam transportar para Leh, é que nos apercebemos que estávamos num veículo alugado por uma família indiana, de Mumbai, que andava em turismo pelo norte da Índia. Foram extremamente simpáticos e bastante curiosos sobre o nosso país e o nosso modo de vida, tendo partilhado connosco alguma da comida caseira que transportavam na viagem. Para nós foi bastante interessante poder saber mais alguma coisa sobre a sociedade indiana, em especial vista da perspectiva de uma família com uma confortável situação económica, bastante viajados, com filhos na faculdade e com dinheiro para fazerem férias.
No fim da viagem à chegada a Leh, perguntaram-nos onde era o nosso resort…. resort… bem… respondemos que estávamos alojados numa guesthouse mas omitimos que nem sequer tinha água quente corrente; acho que não iriam compreender que os “ricos” europeus venham para a Índia fazer vida de pobres, a dormir em hotéis baratos e a andar em transportes públicos J





Estas paragens para registo junto da policia são frequentes por todo o estado de Jammu e Kashmir, dada a proximidade com as fronteiras da China e do Paquistão, com que a Índia tem uma história recente de confrontos e guerras. Pelo mesmo motivo os telemóveis não têm acesso às redes internacionais nem mesmo às indianas. A presença policial e militar nesta zona é muito mais evidente do que nos locais por onde temos passado, sendo frequente haver postos de controlo nas estradas principais da região.