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Stepping Out Of Babylon

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Caminhadas

Caminhando pelas aldeias da tribo Palaung

Estranha sensação esta de estar numa remota povoação onde as colinas e as sinuosas e íngremes estradas de terra batida criam uma barreira com o mundo moderno.

Uma sensação de isolamento que é intensificada com o cair da noite, onde um manto de escuridão envolve a aldeia, onde o negrume da noite sem lua entra pela janelas, criando uma espessa barreira entre nós e os habitantes da casa onde vamos passar a noite, e onde as diferenças culturais e linguísticas não permitem romper.

Habitações amplas e feitas de madeira e bambu, simples, confortáveis as acima de tudo funcionais, onde o fogo é o centro da casa, sendo mantido aceso durante todo o dia, desde os primeiros raios de sol até à hora de dormir… que aqui não é muito depois das nove horas. Um fumo fino e discreto, que faz arder os olhos e deixa um rasto odorífero nas roupas, lembrando-nos quão diferente é o modo de vida do campo.

Pouco depois do pôr-do-sol, assim que o céu escurece, cessam os movimentos nas ruas da aldeia Palaung, aquietam-se os balados dos burros, o cacarejar das galinhas, o chilrear das aves e os risos das crianças. Todos os habitante recolhem às casas, envoltos nos rituais de preparação de comida. Rituais onde todos os habitantes, incluindo as crianças, parecem saber de cor o seu papel, fazendo com que o quotidiano se assemelhe a numa peça de teatro mudo.

Uma camada fina de fumo permanece na principal divisão da casa, uma área ampla desprovida de mobília que funciona como sala e cozinha. Os poucos pertences esperam dias festivos em armários embutidos nas paredes de madeira, quase se tornando invisíveis na penumbra que preenche permanentemente o espaço, apesar das várias janelas que olham para a sucessão de colinas cobertas de vegetação.

Desta primeira paragem numa aldeia nos arredores de Kyaukme, seguiram-se mais dois dias de caminhada pela região Oeste do estado de Shan, onde domina a tribo Palaung, cuja população partilha a herança étnica com a China, mas que durante séculos desenvolveu características próprias como a língua e a gastronomia.

Os Palaung, cujas feições são mais asiáticas do que a etnia Bamar (dominante em Myanmar) são facilmente reconhecíveis pela forma como as mulheres vestem, com sarongs de cores garridas em tons de púrpura, azul e verde, e pelo lenços branco que cobrem descuidadamente as cabeças, cujo cabelo é mantido rapado, seguindo uma desconhecida tradição.

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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A tecelagem é parte do quotidiano das mulheres da tribo Palaung
A tecelagem é parte do quotidiano das mulheres da tribo Palaung

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Palaung_Kyaukme_Shan State_Myanmar_DSC_2934
interior de uma das casas onde pernoitamos durante os três dias de caminhada pelas aldeias Palaung

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
nas principais aldeias existe sempre um pequeno mosteiro anexo à pagoda, pelo que é comum encontrar crianças com os trajes monasticos

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

 

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altar decorado com motivos birmaneses numa das aldeias
altar decorado com motivos birmaneses numa das aldeias

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mulheres da tribo Palaung, com o tradicional lenço que cobre a cabeça rapada
mulheres da tribo Palaung, com o tradicional lenço que cobre a cabeça rapada

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
durante o dia crianças brincam descontraídamente nas ruas das aldeias, praticamente sem trânsito

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Mas também aqui a religião adquire contornos próprios. Apesar do domínio do Budismo que aqui chegou no século XI, sobrevivem ainda vestígios de rituais e crenças relacionados com o animismo. Um pequeno grupo de habitantes, reúne-se numa das casas da aldeia trazendo oferendas, onde uma mulher em transe comunica com os espíritos… questões práticas sobre o paradeiro de uma vaca perdida ou sobre as colheitas são respondidas por espíritos pela voz de uma mulher possessa.

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Sessão espírita numa das aldeias, mostrando que o Budismo não esmagou totalmente as práticas animistas
Sessão espírita numa das aldeias, mostrando que o Budismo não esmagou totalmente as práticas animistas

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As ruas das aldeias por onde passámos parecem sempre cheias de crianças que correm livremente nas ruas, acenando e sorrindo, curiosas e excitadas pela presença invulgar de estrangeiros. Mas não são só as crianças que mostram a curiosidade, pois os adultos, não conseguem disfarçar o orgulho com que posam para as fotografias, escondendo dentes escuros estragados, sob um sorriso de lábios cerrados. Mas são os homens, que apesar das diferenças de língua se mostram mais comunicativos, mostrando as tatuagens que cobrem o corpo, com símbolos e inscrições, que servem de proteção, uma prática comum entre a população masculina e também entre os monges Budistas, tanto em Myanmar como no Tailândia.

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Palaung village. Kyaukme region. Shan State
Palaung village. Kyaukme region. Shan State

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as tattoos para proteção com símbolos e inscrições Budistas são comuns entre os habitantes mais velhos
as tattoos para proteção com símbolos e inscrições Budistas são comuns entre os habitantes mais velhos

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Como visitar as aldeias Palaung na região de Kyaukme

Estes três dias de caminhada foram organizados pelo Thura, um birmanês da etnia Shan, cuja mãe é da tribo Palaung, cujo bom domínio do inglês e os contactos com as populações locais lhe permite circular por esta região, que é provavelmente impossível de visitar sem um guia que fale a língua local.

O percurso é feito a pé e de mota. Os percursos a pé são curtos e faceis, mas por vezes em zonas com pouca sombra.

O grupo é pequeno, não mais do que seis pessoas.

As noites são passadas em casas de famílias locais, em improvisadas camas no chão da sala, com cobertores e mantas. As casas de banho são básicas (uma pequena cabana no exterior da casa) e as lavagens são ao ar-livre numa torneira na parte de trás da casa, o que oferece pouca privacidade, sendo mais fácil para quem tem um sarong/dhoti.

As refeições (podem ser vegetarianas ou não) são em casa de famílias ou em restaurantes locais…. e foram sempre deliciosas e são uma optima oportunidade de experimentar comida local e caseira!

Tudo incluído (mota, gasolina, refeições, água) são 25€ por pessoa/dia… o que é pouco mais do que o custo diário para quem viaja em Myanmar.

Contacto: //thuratrips.page.tl/

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casa de aldeia onde o fogo é o centro da casa seja para aquecimento seja para cozinhar
casa de aldeia onde o fogo é o centro da casa seja para aquecimento seja para cozinhar

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Refeição preparada por uma das famílias que nos acolheu durante os três dias de caminhada
Refeição preparada por uma das famílias que nos acolheu durante os três dias de caminhada

Nongriat e a floresta encantada

Magia. Sonho. Irreal.

Palavras que surgem na mente quando recordo Nongriat.

Nongriat
Nongriat

 

A chuva, apesar de previsível, começou inesperadamente com o inicio da descida do trilho para a aldeia de Nongriat, obrigando a algumas pausas para um chá em modestas cabanas de bambu. Mas o que se avizinhava ser um inconveniente à caminhada que se tinha pela frente ,revelou-se ser uma bênção, com a vegetação a ganhar um brilho que confere maior vivacidade e contraste aos cambiantes de verde que enchem todo o horizonte.

À medida que o som das grossas gotas de chuva se vai afastando, voltam os discretos sons da selva, com uma orquestra invisível formada por rãs e insectos. Musgos e líquenes mostram-se com todo o seu vigor, absorvendo gotas de água se desprendem lentamente das folhas de bambus, que parecem inclinar-se sob o peso da água.

 

a caminho de Nongriat
a caminho de Nongriat

 

a caminho de Nongriat
a caminho de Nongriat

 

a caminho de Nongriat
a caminho de Nongriat

 

Apesar de ter perdido o título de local mais chuvoso do mundo, resultante da persistente desflorestação, seja para alimentar o comércio de madeiras como para combustível das população local, Nongriat e a região envolvente de Mawsynram e Cherrapunjee nas East Kahsi Hills, continuam a registar elevada pluviosidade. E mesmo fora da monção (Julho e Agosto) é frequente haver chuvadas fortes, mas que durante a chamada estação-seca duram somente alguns minutos. Destes clima semi-tropical, resulta uma frondosa e diversificada cobertura vegetal: gigantescas árvores, palmeiras, bambus, fetos e a ficus, cujas raízes aéreas são indispensáveis à construção das pontes pedonais, que atraem tantos visitantes a Nongriat.

Nongriat. Megahlaya

 

Nongriat
Nongriat

 

carregador de folhas de louro que são colhidas na floresta

 

Nongriat. Megahlaya

 

A noite chega cedo ao fundo do vale, com o verde das encostas e perder-se à medida que o azul do céu se rende à negrura da noite, deixando a aldeia na quase total escuridão, interrompida aqui e ali pelo brilho débil da electricidade que chega a todas as casas. É esta negrura que me faz sentir novamente o quão longe estou da chamada civilização e quão agradável pode este simples e modesto modo de vida, onde o contacto com natureza traz uma profunda calma e tranquilidade.

Apreciando a frescura trazida pela noite, somos naturalmente convidados a partilhar o calmo serão com os restantes hóspedes, envolvidos pelo manto escuro da noite. Mas um brilho inesperado, de uma intensidade invulgar, surge por detrás das montanhas, desenhando cada vez com mais clareza os contornos do topo da encosta em frente à aldeia. É o espetáculo do nascer da lua, que aqui nesta noite de lua-cheia, oferece uma visão mágica que deixa toda a gente siderada, criando um espaço de silêncio no burburinhos das conversas cruzadas dos visitantes.

Kashi Hills. Megahlaya

 

Nongriat é uma das aldeias que se abrigam nas encostas das East Khasi Hills, e que devido ao isolamento mantêm quase intacto o modo de vida tradicional das tribo Khasi, que se baseia na recolha de produtos recolhidos directamente na floresta e que são vendidos no mercado de Sohra que atrai a população das regiões vizinhas todas as quartas-feiras. A floresta fornece pimenta, folha de louro, noz de bétel, canela, sumo de limão… ananases crescem naturalmente um pouco por todo o lado, jackfruit abundam nas árvores, em redor da aldeia cortiços abrigam abelhas cujo mel é também suporte da actividade económica local. Carregadores sobem e descem as encostas levando produtos da floresta e trazendo alimentos e demais produtos necessário ao simples quotidiano desta população de 150 pessoas, onde aparentemente a maioria são crianças.

Nongriat. Megahlaya

 

Homem carregando sacos de folha de louro para ser vendido no mercado de Sohra

 

Vila de Nongriat
Vila de Nongriat

 

É o riso das crianças nas suas brincadeiras incessante que enche o ar da aldeia, onde se estranha a ausência de aves, macacos ou outros animais. De manhã cedo, em aprumado uniforme escolar, os mais novos encaminham-se para a escola primária existente na aldeia, enquanto os mais crescidos sobem a encosta para ter aulas nas escolas de Tyrna e Sohra. Apesar do isolamento e do ambiente rural que se vive em Sohra, que poderia levar a um desinteresse pela educação académica, a escolaridade é levada muito a sério, com praticamente todas as crianças a irem à escola e a aprenderem inglês, língua que grande parte da população fala, mesmo nas vilas mais isoladas como Sohra.

A igreja cristã é também uma presença forte aqui em Megahlaya, que devido à remota localização, assim como Nagaland, se manteve impermeável ao hinduísmo, mas não resistiu à cristianização no século XIX, durante a presença britânica na Índia, imposta pelos missionários que aqui encontraram terreno propício, numa população praticante do animismo.

Mas Nongriat proporciona mais motivos de interesse do que somente as living root bridges, com vários trilhos que irradiam da aldeia, uns em direcção a aldeia vizinhas, que também escondem outras pontes-vivas, outros em direção a quedas de água, sendo a Rainbow Waterfall o destino mais popular. Para quem pretende banhar-se nas límpidas águas desta cascata, de um azul invulgar, tem que descer um íngreme trilho, mas pelo caminho, assim como em outros pontos dos rios que rodeiam Nongriat existem piscinas formadas naturalmente pelas rochas graníticas que forma o leito dos rios, proporcionando transparentes e calmas águas para um refrescante banho, aliviando peso do ar quente e húmido. Durante a monção não é permitido banhos no rio, devido à força das águas.

uma das pontes suspensas junto à aldeia de Nongriat que dá acesso às Rainbow falls
uma das pontes suspensas junto à aldeia de Nongriat que dá acesso às Rainbow falls

 

Rainbow falls. Nongriat. Megahlaya

 

Nongriat. Megahlaya

Como chegar a Nongriat:

  • todo o percurso é feito em escadas de cimento que têm degraus bastante regulares e em bom estado, fruto de fundos financeiros para suporte do desenvolvimento agrícola da região;
  • a descida é toda feita em degraus, até se chegar ao vale o que depois obriga a atravessar algumas pontes metálicas suspensas; são entre 2500 a 3000 degraus;
  • a descida não é difícil, mas o clima quente e muito húmido, que provocam uma transpiração constante tornam o percurso mais cansativo;
  • a subida é intensa, obrigando a algumas paragens que são sempre uma boa ocasião para apreciar a vista; é necessária bastante água em especial para o percurso ascendente;
  • a descida demora menos de 1.5 horas, mas a subida pode ser quase o dobro;
  • recomenda-se levar o mínimo de peso na mochila, sendo aconselhável deixar a maior parte da bagagem no guest house em Sohra.
  • se chover um impermeável revela-se pouco eficaz pois provoca ainda mais suor; o melhor é roupa leve que seque depressa;
  • não é necessário calçado especial, umas sandálias confortáveis servem perfeitamente pois todo o percurso é cimentado.
  • depois de Nongriat, caso se queira explorar aldeias e trilhos vizinhos um sapatos de caminhada podem ser mais confortáveis mas as sandálias cobrem as necessidades, caso tenham boa aderência em piso molhado;
  • recomenda-se ficar pelo menos uma noite me Nongriat para poder visitar mais pontes, cascatas e piscinas naturais, longe do trilho mais frequentado;
  • aos fins-de-semana aumenta significativamente o numero de visitantes, pelo que o melhor é chegar num Domingo e sair no sábado de manhã, evitando o barulho e a confusão e o rasto de lixo provocada pelos irresponsáveis visitantes que cegamente procuram a “double deck bridge” em busca da selfie perfeita!!!

 

caminho para Nongriat
caminho para Nongriat

Onde dormir em Nongriat:

Existem três homestays in Nongriat. A primeira logo à entrada da povoação, depois de se atravessar uma das living root bridges (pontes-vivas), uma no centro de Nongriat, e a ultima, já depois de se cruzar a double deck bridge. A Serene Homestay é a mais popular e a que oferece melhores condições. Existem quartos duplos e outros partilhados, mas todos com casa-de-banho partilhada. O jantar é preparado para todos os hóspedes e para quem mais tenha encomendado, servido em estilo buffet com deliciosa comida vegetariana.

Cama: 200 rupies, por pessoa, independentemente de quarto duplo ou partilhado.

Jantar: 130 rupies

O dono Ryan é uma boa fonte de informações sobre trilhos para outras aldeias e pontes, piscinas naturais, e sobre o modo de vida e cultura locais. A sua consciência ambiental e o bom inglês com que expressa fazem de Ryan o porta-voz de Nongriat e de aldeias vizinhas, que se unem para impedir o governo de abrir uma estrada até ao vale. Este chamado “progresso” iria desequilibrar o modo de vida socioeconómico e teria consequências ambientais resultantes do aumento de visitantes.

 

Serene Homestay, em Nongriat
Serene Homestay, em Nongriat

 

Serene Homestay, em Nongriat
Serene Homestay, em Nongriat

 

Onde comer em Nongritat:

Qualquer uma das homestays em Nongriat serve comida, assim como as duas cabanas junto às pontes na aldeia de Nongriat. Contudo é comida muito simples, basicamente arroz e dal… e frango.

A melhor opção é a Serene Homestay, com comida vegetariana. Os pequenos-almoços com porridge, fruta e frutos secos são deliciosos. O jantar (130 rupias) é servido em estilo buffet, tanto para hóspedes da homestay como para quem encomendar com antecedência, e é uma óptima oportunidade para sociabilizar com os restantes viajantes.

 

pequeno-almoço no Serene Homestay, em Nongriatpequeno-almoço no Serene Homestay, em Nongriat

Como ir de Sohra (Cherrapunjee) para Nongriat:

Em frente ao By the Way Lodge, há uma paragem onde pelas 9 da manhã passa um autocarro com destino a Tyrna, a povoação mais próxima de Nongriat com acesso rodoviário… daqui para a frente existem somente caminhos descendo as encostas das montanhas até às povoações situadas junto ao vale.

  • Bus de Sohra para Tyrna: 20 rupias (passa por volta das 9 am; a viagem demora perto de 1 hora)
  • shared-taxi de Sohra para Tyrna: 40 rupias
  • em Tyrna é necessário caminhar pela estrada até encontrar o caminho que dá acesso a Nongriat, cerca de 30 minutos de caminhada, descendo pela estrada. Basta ir perguntado por “Nongriat” à população local pois todos sabem indicar o caminho, até as crianças.
  • Chegando a um pequeno aglomerado de casas, onde existe uma chai-shop feita em bambu, encontra-se, do lado esquerdo o trilho para Nongriat que segundo conta tem mais de 2800 degraus e umas quantas pontes suspensas, até se chegar a Nongriat.

 

Bus de Sohra para Tyrna
Bus de Sohra para Tyrna

 

Tyrna
Tyrna

Living Root Bridges… entre musgos e fadas!

A floresta encantada onde crescem pontes feitas de raízes de árvores, onde o tempo parece suspenso num sonho, onde a natureza faz truques de magia, onde a luz chega filtrada pela tecto formado pelas copas das árvores, onde somos transportados para uma outra dimensão, como se tivéssemos entrado num mundo onde fadas e gnomos nos observam por entre musgos e gotas de chuva.

As pontes criadas pela mão paciente do Homem, parecem nascer directamente das árvores, como se estas tivessem decidi estender os braços para a outra margem do rio, fundindo-se com pedras e apoiando-se em troncos. Uma discreta camada de musgos e líquen cobrem a superfície da trama destas estruturas vivas, abrigo de insectos e de minúscula vida animal que parece indiferente ao engenho do Homem.

Mas não são somente as pontes que tornam este local especial. Toda a paisagem envolvente contribui para a atmosfera fantástica que se observa no meio desta floresta, de onde emana uma energia capaz de unir novamente o Homem às suas raízes primordiais, catalisando a troca de energias.

Não há palavras para descrever a magia deste local… e as fotografias somente podem transmitir uma impressão visual, não contendo a energia da floresta, com os sons harmoniosos da natureza nem as sensações que inundam os sentidos que tornam as memórias dos dias passados em Nongriat numa onírica memória.

… um local de onde nos espreitam fadas, duendes, elfos e gnomos!

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Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

… mais sobre as “living root bridges de Nongriat:

As chamadas pontes-vivas, ou living root bridges, são obras da engenharia humana que soube tirar partido da natureza, numa simbiose perfeita. Aproveitando as longas raízes aéreas de uma árvore (ficus erratica) a população local foi durante gerações entrelaçando estas raízes com troncos e bambus, criando pontes vegetais para atravessar os rios que cruzam os vales formados pelas Khasi Hills.

Cada uma destas pontes, adapta-se perfeitamente ao local, parecendo fundir-se na natureza. Descendo em direcção a Nongriat, encontra-se a Jingkieng Pi-Tymmen, a mais longa das pontes; passando a aldeia de Nongriat chegamos à famosa double-deck bridge, cujos dois níveis resultam da necessidade de atravessar este rio quando as chuvas da monção fazem subir a águas submergindo o nível inferior da ponte. Caminhando em direcção à Rainbow Waterfall encontra-se a Maw Saw bridge, que é a que tem uma atmosfera mais misteriosa e fantástica.

Existem diversas pontes feitas de raízes da árvore ficus nas Khasi Hills, mas Nongriat tem o privilégio de se encontrar numa zona onde a concentração é maior tornando esta aldeia numa boa base para explorar trilhos e descobrir outras living root bridges.

Living root bridges. Nongriat. Megahlaya
Living root bridges. Nongriat. Megahlaya

 

Onde dormir em Nongriat:

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Onde comer em Nongritat:

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Como ir de Sohra (Cherrapunjee) para Nongriat:

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Bako National Park

Bako é o Parque Nacional mais antigo da Malásia, criado em 1957 e deve o seu nome ao lamacento rio que desagua nas águas do Mar do Sul da China.

Mesmo antes de chegar ao parque, o percurso feito pelo rio proporciona uma paisagem memorável com a luz suave da manhã a incidir sobre as águas quase imóveis do rio, que forma um espelho que se funde com o céu e onde a linha do horizonte se esbate pela presença de uma fina camada de névoa que se desprende das águas quentes do rio.

Existem vários trilhos possíveis de serem percorridos num dia, e outros que exigem mais tempo a permanência de pelo menos uma noite no parque. Aquando desta visita a parte Oeste do parque estava interdita, mas o terço da área aberta a visitantes dispões de muitas opções, com 10 trilhos possíveis.

A opção foi para o Litang Trail com 5.8 quilómetros e que como foi feito em cerca de 3 horas ainda deu para fazer parte do percurso até Telok Paku, que apesar dos seus singelos 800 metros tem mais obstáculos e demora bastante tempo.

O Litang Trail é o que entra mais na floresta, apresentando diversas paisagens, desde densa e húmida selva, até planaltos rochosos quentes e secos. Como Novembro é já época das chuvas grande parte do trilho estava empapado em água, mas não lamacento pois o solo é predominantemente arenoso. Quase no fim do percurso, chega-se a um ponto alto de onde se avista o mar por entre os ramos das árvores; daqui é uma descida fácil até aos headquarters do parque.

O Telok Paku é o que oferece mais hipóteses de observar vida selvagem em especial o Proboscis monkey, mas dado o numero de visitantes, alguns bastante barulhentos as hipóteses de observação de animais é reduzida.

Bako National Park. Sarawak. Borneo
Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Bako National Park. Sarawak. Borneo
Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Bako National Park. Sarawak. Borneo
Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Bako National Park. Sarawak. Borneo
Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Bako National Park. Sarawak. Borneo
Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Mas o verdadeiramente marcou esta visita foi o percurso pelo Litang Trail, onde durante as cerca de três horas, pude caminhar pela selva, sem encontrar outros visitantes, podendo assim desfrutar de um contacto mais intenso com a natureza, em que a mente, focada na caminhada, nos movimento dos pés e no ritmo da respiração, se esvazia de pensamentos.

Caminhando em total isolamento, os barulhos da selva trazem os os nosso medos e fantasmas que tentamos esconder com o ritmo agitado de vida, fazendo com que a floresta nos mostre o seu lado ameaçador. Mas aceitando o poder da floresta somos conduzidos e acarinhados pela energia emanada destas árvores, fazendo-nos sentir parte desta magia a que chamamos Natureza.

Esta foi das mais interessantes e impressionantes experiências em parque naturais, deixando uma memória intensa destas horas passadas em contacto com a selva.

*Novembro de 2015

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Litang Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo
Telok Paku Trail. Bako National Park. Sarawak. Borneo

 

Alojamento:

O Baku National Park situa-se próximo de Kuching pelo que pode ser visitado numa day-trip. Contudo é possível fica nos alojamentos que se encontram junto aos Park headquarters. Convém reservar.

Onde comer:

Na entrada do parque junto ao headquarters encontra-se uma cafetaria. Contudo para uma day-trip basta levar alguma fruta e água. A água é fundamental e não é exagero 1.5 litros por pessoa.

Equipamento e orientação:

Os trilhos são bastantes fáceis e acessíveis, sendo a parte mais difícil os primeiros 500 metros que são comuns a todos os trilhos e que obrigam a subidas tanto por escadas como por trilhos entre as raízes das árvores e rochas.

Todos os trilhos estão muito bem sinalizados, com a respectiva cor, pintada em rochas e nos trocos de árvores, sendo quase impossível perder o trilho. O Litang Trail tem marcos de 100 em 100 metros com a distância percorrida o que não só facilita a orientação como o doseamento do esforço e do ritmo imposto à caminhada. A parte final do trilho, na chegada aos headquarters é feita em estrado de madeira.

O Telok Paku Trail não tem estes marcos, mas está muito bem definido, com partes do percurso em estrados de madeira e escadas que facilitam a passagem em zonas mais íngremes.

Em termos de equipamento não é necessário nada de especial, nem sequer botas de caminhada. Uns ténis ou umas sandálias servem perfeitamente. Há zonas do percurso em que o trilho tem alguma água e que não é possível evitar.

O calor e a humidade fazem suar copiosamente, pelo que toda a roupa fica ensopada em pouco tempo.

É necessário repelente de mosquitos, pois são uma presença feroz nas zonas mais húmidas do percurso.

Muita água para beber.

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Bako National Park. Map

Como ir de Kuching para o Bako National Park:

O autocarro para o Bako Park passa na Jalan Market junto ao Chinese History Museum, mas neste local não existe nenhuma indicação ou abriga que indique que aqui param autocarros; um pouco mais à frente, na Jalan Tunku Abdul Rahman, em frente ao edifício Riverside Shopping Center existe uma outra paragem.

O bus passa por volta das 7.00 am e a viagem demora cerca de uma hora.

Bus Ticket: 3.5 RM

O percurso do autocarro terminal em Bako Bazar, um pequeno aglomerado de casas onde se encontra a recepção do Bako Park: Bako Terminal; aqui compra-se o bilhete para o parque assim como o bilhete para o barco que transposta os visitantes até à entrada oficial do parque onde se situam os headquartes. O barco é a única forma de chegar ao parque e parte de um pequeno cais junto à recepção do parque.

Park fee: 20 RM

Boat: 20 RM (somente ida, o bilhete de regresso tem que ser adquirido nos headquartes do parque e convém ser adquirido com antecedência pois os barcos que partem durante a tarde ficam rapidamente cheios; o ultimo barco é às 16.00h.

A viagem de barco demora cerca de 10 minutos. Se a maré estiver baixa o barco não chega aos pequeno cais, tendo os passageiros que desembarcar na praia. O mesmo se passa no regresso.

Junto aos headquartes é fornecido mapa e todas as informações sobre os diversos trilhos, incluído grau de dificuldade, duração e extensão do percurso.

No fim é necessário reservar o barco para o regresso, e pagar o bilhete junto aos headquartes.

Os autocarros para Kuching partem do Bako Bazar a todas as horas, sendo o ultimo pelas 18.00 horas.

 

Bus Stop in Kuching to Bako National Park in front of Riverside Shopping Center
Bus Stop in Kuching to Bako National Park in front of Riverside Shopping Center

 

Bako Terminal
Bako Terminal

 

Bako National Park. Boat Ticket
Bako National Park. Boat Ticket

Atenção: o clima é quente e extremamente húmido e nem sempre os trilhos têm sobra em toda a extensão do percurso, o que provoca suor abundante e perda de líquidos, pelo que beber água é extremamente importante.

Annapurna Base Camp Trekking: logística e dicas

Licenças e Autorizações

Para entrar na região do Annapurna, seja para qualquer um dos trekkings é necessário ter autorização da ACAP (Annapurna Conservation Area Project) e o TIMS (Trekkers Information Management System), que custam respectivamente 2000 e 2010 rupias nepalesas (perto de 30€) e exigem a entrega de quatro fotografias para a emissão das respectivas autorizações que têm que ser apresentadas em postos situados no inicio e no fim do trekking, onde são carimbadas e onde o nosso nome é inscrito manualmente num grande livro de registos.

Autorizações da ACAP e da TIMS
Autorizações da ACAP e da TIMS

Guest-houses e restaurantes

Ao longo do percurso, desde Naya Pul até Annapurna Base Camp, existem inúmeras guest houses, algumas situadas em povoações, outras, na parte final do percurso, constituem em si a “povoação”, encontrando-se afastadas, no máximo a cerca de duas horas e meia de caminho, entre si. Todas apresentam características semelhantes: quartos básicos, somente com cama, almofada e por vezes uma pequena mesa, casa de banho e chuveiro partilhados e o restaurante onde é suposto serem efectuadas todas as refeições. A construção é em tijolo, mas muitas vezes as divisões entre os quartos são em madeira. Quase todos os quartos têm duas ou mais camas, podendo ser necessário partilhar o quarto com outras pessoas, em especial em dias de chuva, quando as guest houses ficam rapidamente cheias ou durante a época alta.

Os cobertores são fornecidos somente no fim do dia, depois do jantar… nunca cheguei a entender bem o motivo, talvez para que as pessoas permaneçam mais tempo no aconchego do restaurante e assim consumam mais?!?

O preço dos quartos, é de 150 rupias nepalesas, por pessoa (pouco mais de um euro) mas a comida é mais cara do que na cidade, e os preços vão aumentando ao longo do percurso, podendo um daal bhaat, que em Pokhara custa entre 130 e 150 rupias, custar 340 a 480 rupias. Quem optar por levar e preparar comida o preço do quarto duplo fica em 800 rupias. Para além do daal bhaat, as opções são vastas, desde a chamada comida continental, com sandwiches, pizzas, sopas, massas, tostas, panquecas, muesli, porrige, etc… passando pela comida asiática, noodles, momos, spring rools, arroz frito… uma grande variedade de escolha. Dentro de cada povoação os preços são os mesmos de guest house para guest house, assim como o menu, sendo definidos pela organização que gere os circuitos no Annapurna Sanctuary.

Os banho de água quente, que no inicio do percurso são gratuitos, passam a custar entre 150 a 250 rupias, o que pode parecer um abuso comparado com o resto, mas que comecei a achar justo depois de ver os carregadores a transportar bilhas de gás, às costas por percursos que podem demorar três dias a fazer, e onde não é possível recorrer a animais de carga. É necessário pagar para tudo, mesmo para carregar a bateria de um telemóvel ou de uma máquina fotográfica. O aquecimento no quarto é uma opção que também tem o seu custo.

Ao longo destes dias, a cor azul que caracteriza os telhados feitos de chapa metálica ondulada, que cobrem praticamente todos as guest houses e restaurantes das várias povoações e postos ao longo do ABC trek, representando pontos de referência no percurso, rapidamente ficou associada ao local para passar a noite ou somente para descanso, comer ou abastecer de água, trazendo algum alívio e encorajamento quando inesperadamente surgiam na paisagem.

Daal Bhat, prato típico nepalês, à base de arroz, um caldo de lentinhas, um carril de legumes, alguns vegetais verdes salteados, um chuteny e um papad. O arroz e as lentinhas podem ser repetidos várias vezes
Daal Bhat, prato típico nepalês, à base de arroz, um caldo de lentinhas, um carril de legumes, alguns vegetais verdes salteados, um chuteny e um papad. O arroz e as lentinhas podem ser repetidos várias vezes
Um dos pequenos almoços: ovos mexidos e Gurung Brad, pão tradicinal da região, feito à base de massa frita
Um dos pequenos almoços: ovos mexidos e Gurung Brad, pão tradicinal da região, feito à base de massa frita
Versão
Versão “pesada” do pequeno almoço nos dias de caminhada mais intensa: noodls salteados com vegetais
Uma das muitas paragens para descanso e para comer barras de cereais e alguns frutos secos, que substituiram o almoço quase todos os dias
Uma das muitas paragens para descanso e para comer barras de cereais e alguns frutos secos, que substituiram o almoço quase todos os dias
Paragem em Deurali
Paragem em Deurali
guet house em Chomrong
guet house em Chomrong
guet house em Dovan
guet house em Dovan
guet house em Dovan
guet house em Dovan
Quarto da noite passada em Dovan, na descida do ABC, quando começou a chuver e as guest houses rapidamente ficaram cheias; o quarto mais pequeno que alguma vez já estive, sem espaço sequer para a mochila que teve que ficar em cima da cama
Quarto da noite passada em Dovan, na descida do ABC, quando começou a chuver e as guest houses rapidamente ficaram cheias; o quarto mais pequeno que alguma vez já estive, sem espaço sequer para a mochila que teve que ficar em cima da cama
guest house em MBC
guest houses em MBC

Comunicações

Somente existe rede NCell no inicio do percurso até Chhomrong, a partir daqui somente em alguns locais pontuais, e nem sempre durante todo o dia. Em MBC e Dovan existe wi-fi.

Água

No inicio do percurso é possível comprar água engarrafada, mas que em vez de 20 rupias passa a ser 80. Existem postos de abastecimento de água que é filtrada e fervida mas que custar pelo menos 80 rupias. A melhor opção, e a mais ecológica, é levar pastilhas para desinfectar a água que corre das fontes existentes nas povoações ou dos riachos que se encontram pelo caminho.

Guias e carregadores

Praticamente toda a gente que encontrei pelo caminho tinha um guia que geralmente acumula também as funções de carregador. Ajudam mas podem também tornar-se incómodos impondo um determinado ritmo pois muitas vezes querem acelerar o ritmo, aumentando as horas de caminhada diárias, para poderem iniciam rapidamente novo trekking, ou em algumas situações aconselharem, quando existem, o uso de jeeps ou autocarros para encurtarem o tempo de percurso.

São eles que escolhem a guest house onde se fica cada noite, pois têm uma comissão em todas as despesas que lá se efectuam, mas da experiência que tive, foram sempre boas escolhas. Praticamente toda a gente recorre a um destes guias/carregadores; grupos grandes ou que exijam o transporte de mais material, para por exemplo acamparem no Annapurna Base Camp, para além do guia têm também um grupo de dois ou mais carregadores.

Em todas as povoações existem mapas do percurso, com informação relativa à distância “em tempo” até aos postos seguintes.

placar com a informação do percuro
placar com a informação do percuro
placar com a fauna e flora da região
placar com a fauna e flora da região
Carregadores trasnportando mercadoria nas tradicionais cestas de bambu
Carregadores transportando mercadoria nas tradicionais cestas de bambu
transporte de bilhas de gás junto ao MBC
transporte de botijas de gás junto ao MBC, feito por carregadores desde Shinuwa, a partir de onde não é permitida a passagem de animais por ser considerada uma zona sagrada para os Grunug
Carregadores de apoio ao trekkers
Carregadores de apoio ao trekkers

Segurança

Este assunto não deve ser menosprezado pois todos os anos ocorrem acidentes, geralmente devido a desmoronamento de terras e não é raro encontrar cartazes em que se procuram pessoas desaparecidas nestes percursos.

Os trilhos tornam-se por vezes estreitos e que na presença de chuva ou nas zonas húmidas se podem tornar escorregadios. Acresce o facto de ser necessário cruzar linhas de água, que em poucos dias mudam o caudal, passando de riachos que se atravessam a vau, mas que dias mais tarde exigem um desvio para alcançar uma precária ponte feita de madeira e bambu.

A altitude é também um factor a ter em conta, pois são frequentes as queixas de dores de cabeça e dificuldades em respirar quando se caminha acima dos 3000 metros de altitude. Nestas zonas é aconselhável subir no máximo 300 metros em altitude em cada hora, para evitar problemas, mas tudo depende de cada indivíduo… os guias e carregadores com quem falei, nenhum mostrou sinais deste tipo de problemas, mesmo fazendo o percurso com grande rapidez. Pode também recorrer-se a medicação para alívio ou mesmo prevenção destes sintomas, disponíveis tanto na medicina alopática com a homeopática, à qual recorri com sucesso

Ponte sobre o rio Kimrong Khola
Ponte sobre o rio Kimrong Khola

Custos

Optando por duas refeições por dia, pequeno-almoço e jantar, sendo a almoço substituído por barras de cereais e frutos secos, o custo diário fica em 1165 rupias, por pessoa, incluindo um ou outro chá nos dias mais frios. Há que acrescer o preço do transporte para chegar ao inicio do trekking e para regressar a Pokhara; pode ser de autocarro público que custa cerca de 150 rupias ou uma combinação de Jeep mais táxi que ronda as 1000 rupias mas poupa tempo.

Para o pequeno-almoço optei geralmente por um prato de comida, como noodles ou arroz com vegetais, pois as caminhadas duram cerca de 6 a 8 horas o adia em muito a segunda refeição do dia Pode-se sempre por optar por fazer paragens para almoço, mas apercebi-me que não é uma opção muito comum.

Por todo o percurso existem lojas, associadas ou não a guest houses que vendem basicamente tudo o que é necessário, comida, chocolates, artigos de higiene, pilhas, papal higiénico, bebidas alcoólicas, refrigerantes, tabaco… mas tudo a um preço bastante mais elevado. Para se ter uma ideia, um cartão para carregamento de telemóvel com 100 rupias da NCell (companhia nepalesa) custa 150 se for comprado em Chhomrong!

Material

Perante a perspectiva de ir percorrer a pé 80 quilómetros, subindo dos 1025 aos 4130 metros de altitude, em aproximadamente 10 dias, sem recorrer a um carregador, impunha-se o desafio de levar na mochila somente o estritamente necessário.

Depois de cinco meses em viagem, onde muita coisa foi ficando para trás, a estadia em Lisboa serviu também para optimizar o conteúdo da mochila, tentando torná-la mais leve… perante tremendo esforço o resultado foi desanimador: 11.5 kg às costas, mais uma mochila pequena com perto de 5 kg. Não entendo como é possível precisar de tanta coisa!!!

Eis uma lista enfadonha do que levei para o trekking do Annapurna Base Camp, tendo em conta que teria condições para lavar e secar a roupa:

  1. sapatos de caminhada
  2. t-shirts: 3
  3. sweat-shirt: 1
  4. camisola interior: 1
  5. calças: 2
  6. leggings
  7. meias: 3
  8. cuecas: 5
  9. camisola polar
  10. casaco polar
  11. gorro
  12. impermeável
  13. toalha de banho
  14. lenço (para proteger do sol e enxugar o suor, conforme as circunstâncias)
  15. almofada compressível
  16. saco-cama
  17. óculos de sol
  18. lanterna (frontal)
  19. protector solar
  20. chinelos de banho
  21. higiene: sabonete, champô, escova de dentes, pasta de dentes, desodorizante
  22. papel higiénico + lenços de papel
  23. saúde: papacetamol, antidiarreico, adesivos, pastilhas para a garganta, medicamento para a altitude, pomada do “chinês” (dá para tudo!)
  24. detergente para a roupa
  25. cozinha: faca, taça, caneca, colher, resistência para aquecer água
  26. comida: flocos de aveia, barras de cereais, frutos secos, canela, chá
  27. máquina fotográfica + carregador
  28. telemóvel + carregador
  29. caderno + caneta
  30. mapa
  31. garrafa de plástico e pastilhas desinfectantes da água

No total, incluindo o peso da mochila, devia ter entre 6 a 8 quilos às costas. Huffff!

Disto tudo, não fez falta:

  • saco-cama e almofada: as guest houses tinham cobertores suficientes e tanto os lençóis como as almofadas estavam limpos;
  • óculos escuros (ou o sol está encoberto pelas nuvens ou então o suor torna o uso dos óculos um tormento);
  • utensílios de cozinha: é necessário levar um adaptador para ligar as tomadas aos casquilhos das lâmpadas, pois não existem tomadas nos quartos das guest houses; contudo, a estadia nas guest houses implica o consumo das refeições no restaurante anexo, o que torna praticamente desnecessário o que levei para preparar uma refeição ligeira à base de paaps de aveia, com excepção do chá que nas zonas mais altas do percurso é reconfortante;

Ao fim dos primeiros dias, reconheci que não estava devidamente equipada, pois a roupa de algodão não seca de um dia para o outro nas zonas mais frias e húmidas, que são a maioria do percurso. Eis o que me fez muita falta e eu não levei:

  • Botas em vez de sapatos de caminhada: protegem os tornozelos; devem também ser impermeáveis à água, tanto pela chuva como pelos riachos que correm ao longo dos trilhos e no atravessamento de pequenas linhas de água;
  • Bastões de caminhada: achava um equipamento desnecessário e nunca tinha usado, mas são um grande auxilio tanto nas descidas, ajudando a equilibrar, como nas subidas pois ajudam a dar impulso ao corpo… eu desenrasquei-me com uma cana de bambu que encontrei pelo caminho;
  • Camisolas dry-fit, em vez de algodão que custam a secar e conservam a humidade do suor por mais tempo, o que é desagradável quando a temperatura é baixa e se pára para descansar;
  • O mesmo se aplica para as meias, que devem ser também dry-fit, umas para climas mais quentes e um par para as noites e dias mais frios;
  • Calças dry-fit, justas e de meia-perna: facilitam nos movimentos durante a caminhada e secam rápido, em vez de calças de algodão que com o suor ou a chuva se colam ao corpo;
  • Alguma forma de transportar a garrafa de água, para não ter que andar com ela na mão e para não ter que parar e abrir a mochila sempre para tirar de lá a garrafa; ou mochila com depósito de água incorporado ou com local para encaixar a garrafa mas que esteja facilmente acessível.
  • Luvas: dão jeito quando se permanece a maior altitude, mas não são indispensáveis.
  • Proteções elásticas para os joelhos… podem dar algum conforto;

Caso seja necessário, as lojas em Pokhara vendem todo o equipamento necessário, quase todo da North Face: casacos, camisolas, polares, impermeáveis, luvas, sacos-cama, mochilas, botas, borros luvas, meias, assim como lanternas, bastões, toalhas de banho, medicamentos, pastilhas para purificar a água… tudo se encontra nas dezenas de lojas aqui existentes e a preços muito mais acessíveis do que em Portugal. As lojas estão também preparadas com os produtos alimentares necessários, como barras de cereais, frutos secos, chocolates, etc…

esquena com o percurso do ABC Trek fornecido pela ACAP
esquena com o percurso do ABC Trek fornecido pela ACAP, com as altitudes dos vários postos, distâncias, e tempo estimado de percurso

Annapurna Base Camp Trekking

Das muitas opções de trekking na região do Annapurna, cujas mais populares são Poon Hill, Around Annapurna (também conhecido por Annapurna Circuit) e Annapurna Base Camp (conhecido por ABC) optei pelo último que vai directo ao Annapurna Sanctuary, uma região acima dos 4000 metros de altitude rodeada pelo conjunto de montanhas entre as dez maiores do mundo, cujos picos mais representativos são o Annapurna South (7219m), o Annapurna I (8091m), Himchuli (6434m) e o Machhapuchhre (6997m), também conhecido por Fish Tail.

É nesta zona dos Himalayas que se situa a região sagrada para os Gurung, uma das etnias que habita as montanhas nepalesas.

 A duração prevista para o trekking, incluindo a descida e a subida, é de 8 a 12 dias de caminhada, dependendo do numero de horas de caminhada diária, das condições meteorológicas, do estado do trilho, da condição física de cada um e da disponibilidade de tempo para encaixar esta actividade num curto período de férias.

 Optando por uma solução mais económica decidi não recorrer a agências para organizarem o trekking e com muita confiança, decidi ir sem guia e sem carregador, pois das várias pessoas com quem falei, todas em garantiram que seria fácil e que não teria dificuldades de maior em me orientar.

E dia 21 de Setembro começa a aventura!

 

Dia 1#: Naya Pul (1070m) – Ghandruk (1940m)

Praticamente todos os trekking na região do Annapurna têm como base Pokhara, uma cidade situada junto a um pacífico lago, que se desenvolveu em função do turismo.

Daqui é necessário ir de autocarro, ou para quem se encontra num trekking organizado, num dos jeeps disponibilizados pelas agências, em direção a Naya Pul, povoação a partir da qual se pode seguir para o ABC ou para Poon Hill.

A primeira meia-hora é passada atravessando povoações até chegar a Birethani, onde se encontra o check-point que obriga à apresentação da documentação necessária, e onde oficialmente começa o trekking.

A manhã correu sem história, com o percurso sendo feito ao longo de uma estrada, poeirenta, sem grandes inclinações, mas que o sol se foi tornando mais penosa, assim como o constante passar de carrinhas de mercadorias e dos jeeps que transportam os caminhantes até à povoação de Kimche, onde termina a estrada.

Seguindo as indicações dos aldeões e das pessoas que ia encontrando na estrada, pensava dirigir-me para Ghandruk, mas apercebi-me que estava no caminho errado, a andar na direção oposta (no ultimo dia do trekking percebi finalmente que havia dois percursos para Ghandruk, e que afinal não estava no caminho errado).

Com a ajuda de alguns locais apanhei um autocarro, que liga Kimche a Pokhara, que me deixou novamente no caminho certo. Mas toda esta situação me fez perder um pouco da confiança que tinha de que não havia hipóteses de me perder pelos vários trilhos, como me foi garantido por várias pessoas, tendo passado a confirmar o percurso com cada pessoa que via. Foi numa destas ocasiões que encontrei um casal – Irina e Leon – com quem partilhei a minha aventura e que mais tarde no mesmo dia, voltei a encontrar e que num misto de admiração e surpresa quando souberam da minha intensão de fazer o percurso sem recuso a um guia ou carregador, me permitiram partilhar da sua companhia durante o resto do trekking.

Depois do almoço, um reconfortante daal bhat, o caminho foi mais agradável, por caminhos pedonais abrigados por árvores e vegetação, mas com muitos percursos de escadas, formadas por blocos de pedra. Toda a paisagem é verde, com pequenos aglomerados de casas anichadas nas encostas cujo vale é percorrido pelo rio Modi Khola, que irá ser a companhia e o ponto de referência de praticamente todo o percurso até ao Annapurna.

A primeira etapa terminou em Ghandruk, já perto das cinco da tarde, altura em que o denso nevoeiro rapidamente envolvia a povoação num luminosidade cinzenta e húmida, contrastando com o calor que se sentiu durante o dia, e que contribuiu para tornar este primeiro dia muito desgastante.

Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Chimrong e Syauli Bazar
Entre Kimche e Ghandruk
Entre Kimche e Ghandruk

Dia 2#: Ghandruk (1940m) – Chhomrong (2140m)

Apesar de em altitude não ter havido grandes diferenças, o percurso obrigou a descer aos 1715m, antes de chegar a Kimrong Khola para atravessar o rio com o mesmo nomes, e que é um dos afluentes do Modi Khola, através de uma precária ponte que permite cruzar as águas que nesta altura do ano ocupam muito pouco do que é o leito do rio.

O inicio da manhã, pouco depois do sol se mostrar por trás das montanhas, é sempre a parte mais agradável do dia, pois o ar ainda está fresco e mesmo as subidas mais longas, que deixam o coração a bater forte contra o peito, não se tornam tão penosas.

Perto do meio-dia, já com o sol bem alto a aquecer a encosta do vale, deixando o rio Kimrong Khola para trás, inicia-se uma longa subida de mais de hora e meia, para atingir uma zona de vegetação mais densa, onde o caminho se embrenha na floresta de rododendros, com os seus troncos retorcidos cobertos de musgos, e têm que esperar pelos meses de Inverno para exibirem as suas características flores. Os bambus, aninhados uns contra os outros, rangem ao sabor do vento que tornou o percurso deste segundo dia mais agradável do que o anterior.

Chhomrong, rodeada de montanhas cobertas de impenetrável vegetação, onde nas zonas mais brandas surgem pequenos aglomerados de casas rodeados de campo de arroz, dispostos em socalcos, cujo verde claro se destaca na encosta escura da montanha; que apesar de se situar num ponto alto, não se consegue avistar daqui nenhum dos principais picos do Annapurna, que marcaram a manhã, em Ghandruk.

Com a aproximação do fim do dia, farrapos de nuvens, ocupam lentamente o vale, como se se estivessem a desprender do manto compacto que cobre o céu.

Annapurna South visto de Ghandruk ao nascer do dia
Annapurna South visto de Ghandruk ao nascer do dia
Komrong Danda
Komrong Danda
Komrong Danda
Komrong Danda
Rio Kimrong Khola
Rio Kimrong Khola
Rio Modi Khola, antes de chegar a Kimrong Khola
Rio Modi Khola, antes de chegar a Kimrong Khola
Entre Kimrong Khola e Chhomrong
Entre Kimrong Khola e Chhomrong
Machapuchre (Fish Tail)
Machapuchre (Fish Tail)

Dia 3#: Chhomrong (2140m) – Dovan (2505m)

Com o corpo a adaptar-se ao ritmo das cerca de sete a oito horas de caminhada diária, este terceiro dia decorreu suavemente, contribuindo também o facto de o percurso não ter apresentado grandes dificuldades, sendo marcado por descidas de grandes escadarias de pedra, com compactas nuvens brancas a taparem o sol, deixando esporadicamente ver o azul intenso do céu.

O ultimo troço do dia, entre Bamboo e Dovan, onde o caminho se foi gradualmente estreitando, tornando-se num trilho serpenteando no meio da floresta, obrigando a contornar troncos de árvores cujas raízes expostas se destacam no chão de onde despontam blocos de pedra, atravessando pequenos riachos que muitas vezes deslizavam ao longo do caminho, perdendo-se na encosta ao encontrarem um brecha por onde desaparecer.

Foi até agora a parte mais bonita do percurso, com bambus e rododendros formando uma intrincada floresta, cuja luz dificilmente penetra, tornando-a sombria e húmida, mas ao mesmo tempo criando com uma atmosfera mágica e onírica, com feixes de luz solar a atravessar a compacta folhagem indo pontualmente iluminar fetos que se agitam com as gotas de água que se desprendem da copa das árvores. Tirando os insectos, com os seu zumbido incessante, pouca vida animal se avista por aqui.

A temperatura é nitidamente mais baixa, o que se nota quando se pára para descansar, e se sente o frio do suor que ensopa a roupa e que rapidamente arrefece a pele.

Dovan, é uma paragem fria e húmida, com nuvens a formarem-se com a evaporação da água que se desprende do solo e das árvores. Desde Sinuwa que se deixaram de ver campos de cultivo ou aldeias, sendo Dovan não mais do que um conjunto de guest houses de apoio as caminhantes, não só aos trekkers mas também à população e aos carregadores que transportam mercadorias para os postos mais altos do percurso, onde não é possível a agricultura e onde são interditos os animais de carga, por se a região considerada sagrada dos Gurung.

Annapurna South visto de Chhomrong
Annapurna South visto de Chhomrong
Uma das muitas pontes susprensa que evitam atravessar vales sem ter que descer toda a encosta até ao leito do rio
Uma das muitas pontes susprensa que evitam atravessar vales sem ter que descer toda a encosta até ao leito do rio
Entte Chhomrong e Sinuwa
Entte Chhomrong e Sinuwa
Depois de Sinuwa é proibido o consumo de carne de búfalo, porco e galinha, pois trata-se da zona das montanhas considerada sagrada para os Gurung, uma das etnias que povoa as montanhas dos Himalayas
Depois de Sinuwa é proibido o consumo de carne de búfalo, porco e galinha, pois trata-se da zona das montanhas considerada sagrada para os Gurung, uma das etnias que povoa as montanhas dos Himalayas
Entre Sinuwa e Bamboo
Entre Sinuwa e Bamboo
Entre Sinuwa e Bamboo
Entre Sinuwa e Bamboo
Entre Bamboo e Dovan
Entre Bamboo e Dovan

Dia 4#: Dovan (2505m) –  Machapuchre Base Camp (3700m)

A chegada a Machapuchre, o ultimo posto antes do Annapurna Base Camp, foi pelas três da tarde, mas o nevoeiro que em espessas camadas ia ocupando velozmente todo vale, envolvendo rapidamente o Machapuchre Base Camp (muitas vezes designado por MBC) e o conjunto de guest houses aninhadas na zona mais suave da encosta, criando um ambiente fantasmagórico onde o único som vem do rio que tumultuosamente corre lá em baixo, fora do alcance da vista, contribuindo para a sensação de isolamento que aqui se sente, antecipando a noite e entrando a humidade no corpo.

A saída de Dovan, como sempre de manhã cedo, foi feita ainda pela floresta, onde a humidade se foi intensificando, e por onde o trilho avançava sujeito a ligeiras subidas e descidas, atravessados por pequenos riachos, e onde a atenção se deteve perante a agitação provocado por um conjunto de langures, cujas longas caudas e focinho negro dificilmente se identificavam no emaranhado de troncos das árvores mais altas.

À medida que subíamos em altitude, passando o posto de Himalaya em direção a Deurali, o vale foi ficando cada vez mais estreito com o rio Modi Khola a ganhar velocidade, alimentado pelas muitas cascatas que se desprendem verticalmente a centenas de metros de altitude do topo das montanhas, tornando as suas águas acastanhadas e fazendo aumentar o seu rugido que se sobrepõem a todos os outros sons.

As ultimas horas do trajecto foram agravadas pelo esforço que é caminhar acima dos 3000 metros de altitude, obrigando a encurtar o passo e a abrandar o ritmo em particular nos várias zonas de degraus, construídos toscamente em pedra por mão humana, de forma a não se sentir os efeitos da altitude. As paragens para descansar tornaram-se cada vez mais curtas pois o frio rapidamente tornava o suor que envolvia a pele e a roupa numa humidade doentia. A chuva marcou presença, mas por sorte coincidiu com uma das paragens para descanso em Deurali.

Com a noite, a sala de refeições da guest house encheu-se de vozes e dos vapores da comida, transmitindo algum conforto aquecido pelo chá de gengibre, servido em fumegantes canecas metálicas.

À medida que se avança pelo vale em direção a norte, as montanhas adquirem uma beleza cada vez mais intensa; por muito difícil que seja o percurso, estes são os momentos que preenchem os sentidos e que compensam o esforço que se exige ao corpo, sujeitando-o a um ritmo intenso e às condições de temperatura e altitude a que não está habituado. Mas nada se compara com esta beleza: selvagem, abrupta, insondável e dominadora que se mantem impávida aos que se aventuram nas suas encostas, com a humildade devida a estes gigantes de pedra.

Fish Tail visto de Dovan
Fish Tail visto de Dovan
Entre Dovan e Himalaya
Entre Dovan e Himalaya
Entre Dovan e Himalaya
Entre Dovan e Himalaya
Com o guia, Robi
Com o guia, Robi
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Com a Irina e o Leon
Com a Irina e o Leon
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Entre Himalaya e Deurali
Chegada a Machapuchre Base Camp
Chegada a Machapuchre Base Camp
Machapuchre Base Camp
Machapuchre Base Camp
Machapuchre Base Camp
Machapuchre Base Camp

Dia 5#: Machapuchre Base Camp (3700m) – Annapuna Base Camp (4130m) – Dovan (2505m)

Avizinha-se um dia longo, com inicio pelas 4h, ainda sob o manto da noite que a lua em quarto minguante debilmente ilumina, para fazer as duas ultimas horas de percurso até ao Annapurna Base Camp e chegar a tempo de ver o nascer do dia.

O percurso nocturno, apesar da violência que foi sair tão cedo da cama ainda para mais com o frio característico das grande altitudes, teve a sua dose de mística, com a paisagem envolta em sombras formadas pela frágil lua, que se destacava num céu limpo de nuvens.

O Annapurna Base Camp, que funciona como ponto de partida para escalar os vários picos que constituem o Annapurna, representa o fim do percurso para quem se encontra a fazer o trekking. Daqui têm-se a visão dos principais picos: Annapurna South, Annapurna I e do lado oposto, ainda na sombra da noite fica o Fish Tail, cujo nome corresponde à forma criada pelos dois picos mais altos, que de alguns ângulos se assemelha ao rabo de um peixe.

Mas em poucos minutos, praticamente toda a paisagem ficou encoberta pelas nuvens que pontualmente iam criando clareiras que deixavam ver as encostas das montanhas cobertas de espessa neve iluminadas pelo sol da manhã, mas sem nunca se conseguir ter uma visão global de todos os picos.

O cortante ar gélido que se desprende do Glaciar Sul do Annapurna, visível por alguns momentos, com a sua massa azulada e brilhante, torna a permanência no Annapurna Base Camp penosa, fazendo enregelar o corpo, em especial para quem não ia preparado para tais temperaturas, em que uma luvas fazem muita diferença.

Após cerca de uma hora de espera por melhores condições de visibilidade, iniciou-se a descida novamente rumo ao MBC, com a paisagem dominada pela vegetação rasteira que cobre em tufos todo a vale, ficando gradualmente menos nublada e com o sol a brilhar sob a neve que cobre as montanhas, conferindo ao céu um azul intenso, proporcionando as melhores imagens do Annapuna South, o pico mais alto e o que se destaca de todo o conjunto.

Durante a descida começou a notar-se algum cansaço, devido ao acumular dos dias de caminhada e às poucas horas de descanso da noite anterior, mas o caminho não apresentava grandes dificuldades até Bamboo, local previsto para pernoitar. De amanhã, alguns pingos de chuva foram marcando presença, sem contudo criarem preocupação, pois são frequentes na zona mais alta da floresta; mas em poucos instantes um nevoeiro maciço penetrou pelo vale invadindo a floresta, tornando a escurecendo a manhã quase como se fosse o anoitecer, aumentando o humidade e o frio, adensando o ambiente misterioso que envolve o trilho, mas que gradualmente se foi tornando sinistro e ameaçador, trazendo consigo grossos pingos de chuva fria.

Com a chuva a cair forte, rapidamente os riachos que nos dias anteriores pareceram encantadores se transformaram em verdadeiros obstáculos difíceis de evitar, obrigando a mergulhar os pés na água, que aos poucos ia enlameado o trilho. Algumas da linhas de água que atravessei na subida, pisando com cuidado as pedras que alguém colocou ao longo do caminho, estavam agora praticamente cobertas pelo aumento do caudal, obrigando a seguir outro trilho para alcançar uma tosca e escorregadia ponte feita de troncos de árvore e de bambus.

Todo o percurso entre Himalaya e Dovan, um dos mais bonitos e fáceis, foi feito em passo acelerado, tornou-se mais arriscado com a presença da chuva, que em cerca de uma hora deixou a roupa e os sapatos ensopados, que com o frio e a humidade se tronam impossíveis de secar.

Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp. Annapurna South (7219m)
Annapurna Base Camp. Annapurna South (7219m)
Annapurna Base Camp
Annapurna Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
Entre Annapurna Base Camp e Machapuchre Base Camp
 Machapuchre Base Camp
Machapuchre Base Camp
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Entre MBC e Deurali
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Entre MBC e Deurali
Entre MBC e Deurali
Entre Deurali e Himalaya

Dia 6#: Dovan (2505m) – Jhinu Dando (1710m)

O dia amanheceu limpo, sem nuvens e sem vestígios da chuva que no dia anterior atormentou os vários caminhantes e obrigou a encurtar o percurso, dormindo em Dovan, em vez de Himalaya.

Foi um percurso descontraído, continuando pela floresta, cujos riachos e linhas de água mostravam ainda a força da tempestade do dia anterior, com a temperatura a tornar-se ligeiramente mais amena e com a paisagem gradualmente a ganhar presença humana, com casas, animais e campos cultivados, sendo esta diferença mais nítida depois de Sinuwa, que marca o fim da densa e húmida floresta de bambus e rododendros. A agricultura nesta zona dos Himalayas e predominantemente de arroz, cultivado em sucalcos, mas de uma variedade que não necessita de estar em terrenos submerso de água; surgem esporádicas hortas de vegetais couves e espinafres, mas pouco mais se planta nesta altura do ano, tendo que a maior parte dos alimentos vir de Pokhara ou de outras zonas de menor altitude.

Pela manhã, os carregadores que ascendem pelo trilho trazem consigo o cheiro das fogueiras com que na noite anterior se aqueceram, enquanto partilham histórias entre rizadas e copos de “raksi”, uma aguardente produzida localmente.

Apesar de ainda faltar mais um dia de caminhada, começa-se a crescer um sentimento de despedida e uma certa tristeza por abandonar estas montanhas que proporcionaram intensas e marcantes emoções.

Entre Dovan e Jhinu
Entre Dovan e Jhinu
Entre Dovan e Jhinu
Entre Dovan e Jhinu

Dia 7#: Jhinu Dando (1710m) – Kimche (1550m)

O ultimo dia, apesar de ser o que apresentava menos horas de caminhada, foi onde senti mais dificuldades com o corpo a mostrar sinais de cansaço agravado com o calor que se sente durante o dia nas zonas de menos altitude, tendo tido mesmo dificuldades de acompanhar o ritmo da Irina e do Leon, com que partilhei toda esta aventura ao longo de sete dias.

É nas zonas mais habitadas que o percurso se torna mais confuso, não só por existirem vários caminhos possíveis como também por se encontraram alguns trilhos que se desviam para os campos de cultivo. Por todo o lado nos cruzamos com vacas que indiferentes aos caminhantes devoram as ervas que crescem ao longo dos caminhos e entre as pedras dos muros, e com mulas que são usados para transporte de mercadoria até Sinuwa, deixando atrás de si um rasto de dejetos que se mistura com o odor das ervas frescas que os habitantes transportam à costas em pesados fardos para alimento dos animais.

Em Jinhu, conhecida pelas suas nascentes de água quente onde se pode tomar banho, houve tempo para relaxar, mas já não houve coragem para descer até às nascentes que se situam no fundo do vale a meia hora de caminho.

O regresso a Pokhara foi abrupto, com o silêncio e a cala da montanha a serem rapidamente substituídos por uma agitada viagem de Jeep de Kimche até Naya Pul, com o seu bazar barulhento e as ruas cheias de pó, e daí mais duas horas de autocarro até à cidade de Pokhara.

Entre Jhinu e Kimche
Entre Jhinu e Kimche
Chegada a Kimche
Chegada a Kimche

Epílogo

Este como outros trekking que fiz, foi um esforço brutal, onde várias vezes pensei “o que é que eu estou a fazer à minha vida, enquanto podia estar sentada no sofá a ver televisão?!?!”… mas que no fundo sei bem que vale sempre a pena!

Foram sete dias, sendo que o ultimo só durou as primeiras horas da manhã, onde as cerca de 7 a 8 horas de caminhada diária foi excessivo para a minha condição física, tendo em conta o peso que transportava; seria preferível ter demorado mais dois ou três dias. Valia a pena ter ficado mais umas horas em ABC para obter melhores imagens do Annapurna, visto que este era o objectivo de todo o percurso, mas citando uma frase que retive “não é o objetivo que importa, mas sim o percurso que se faz para lá chegar”!

A ideia de fazer o ABC sem guia ou carregador, e em particular sem companhia, não foi o mais acertado, pois nesta altura do ano (meados de Setembro) ainda não é o pico da época alta e o numero de trekkers não é assim tão elevado, o que fez com que não me tivesse cruzado com ninguém no primeiro dia durante a parte inicial do caminho; no regresso contatei que o numero de pessoas a iniciar a subida, curiosamente pelo mesmo horário, era de várias dezenas…

Contudo fazer o ABC fora da época alta tem a vantagem de não haver problema em encontrar quarto nas guest houses, que têm a fama de ficarem cheias e de ser necessário passar a noite nas várias camas que existem no interior dos restaurantes.

Mas sempre que virem imagens de gente sorridente e com ar descontraído a anunciarem trekking pelas montanhas… é tudo falso!!! Durante estas caminhadas longas e fisicamente exigentes, poucas são as ocasiões para sorrir. Em vez disso vêm-se corpos vergados sob o peso das mochilas, do cansaço e da altitude, pés pesados atirados contra o chão, rostos vermelhos do esforço, cabelo colado ao rosto do suor, o cheiro dos corpos, músculos doridos que por mais alongamentos que se façam parecem pedra sempre que arrefecem durante uma qualquer pousa para descanso… este é o aspecto de quem anda quilómetros, por trilhos que penetram em regiões de difícil acesso, de mochila às costas em condições adversas, tornando lúdica uma actividade que as populações das montanhas conhecem como o seu dia-a-dia e que é indispensável à sua subsistência.

São demasiado exigentes para quem não tem boa preparação física, roubando parte do prazer que se poderia desfrutar, fazendo com que o esforço se torne demasiado penoso deixando para segundo plano o desfrute da paisagem, pois as características dos trilhos obrigam a focar a atenção no caminho, às vezes traiçoeiro, para escolher bem onde se põem os pés.

Mas quem já passou por esta experiência sabe que há muito mais do que só admirar a paisagem; há um secreto desafio individual de superar os nosso limites, e acima de tudo as caminhadas que penetram fundo na natureza obrigam-nos a permanecer durante algum tempo isolados, proporcionado momentos de introspecção em que “caminhamos” interiormente e nos vemos confrontados com intermináveis pensamentos e sensações.

Mergulhar as mãos, nas águas frias de um riacho que se cruza no nosso percurso, enquanto o sol aquece as costas expostas ao sol, e deixá-las lá saboreando a cortante sensação do frio da água, que gradualmente as vão tornando brancas, ouvindo o marulhar das águas e o chilrear de alguma ave que pousa por perto, fazendo abanar os frágeis ramos dos arbustos… dando tempo para absorver as sensações mais primitivas em pleno desfrute da simplicidade da natureza, que só em locais como estes podem ser sentidas com tanta intensidade.

Estes percursos intensificam as sensações, despertam os sentidos, predispondo-nos para a contemplação do nosso interior.

Annapurna
Annapurna

Itinerário completo:

Ida:

  • Naya Pul (1070m)
  • Birethanti (1025m)
  • Chimrong (1120m)
  • Syauli Bazar (1180m)
  • Kimche (1550m)
  • Ghandruk (1940m)
  • Komorong Danda (2100m)
  • Kimrong Khola (1715m)
  • Chhomrong (2340m)
  • Sinuwa (2340m)
  • Bamboo (2335m)
  • Dovan (2505m)
  • Himalaya (2920m)
  • Deurali (3230m)
  • Machapuchre Base Camp (3700m)
  • Annapurna Base Camp (4130m)

Volta:

  • Machapuchre Base Camp (3700m)
  • Deurali (3230m)
  • Himalaya (2920m)
  • Dovan (2505m)
  • Bamboo (2335m)
  • Sinuwa (2340m)
  • Chhomrong (2340m)
  • Jhinu Dando (1710m)
  • Kimche (1550m)

Um obrigado especial ao meu amigo Zé Pedro, pelo incentivo e pelas dicas que me deu; e também ao Nuno Oliveira pela ajuda homeopática a esta caminhada!

Parvati Valley. Keerganga

Por sugestão de muitas das pessoas com quem falámos enquanto nos demorámos pelo vale do Rio Parvati decidimos ir a Keerganga (também aparece escrito como Khir Ganga) ainda para mais tinha o atrativo de lá perto realizar-se durante o mês de Maio o Rainbow Gathering que reúne informalmente centenas de pessoas em várias partes do mundo.

O percurso até Keerganga, situada a 2960 metros de altitude, é o mais famoso trekking do vale do Rio Parvati e segundo informações que recolhemos demora cerca de 4 a 5 horas da aldeia de Pulga onde estamos alojados, pelo que saímos de manhã cedo, munidos de fruta, bolachas e água, e dirigimo-nos para a aldeia próxima, Kalga, para nos encontrar-mos com a Tree, com quem fizemos amizade desde os primeiros dias que chegámos Apple Garden Guesthouse.

Recolhemos informações sobre o percurso que devíamos seguir e mantivemo-nos atentos às setas pintadas nas rochas e nas árvores que indicavam o caminho; o trilho era claro e bem visível, pouco inclinado e o tempo estava fresco e o sol brilhava, mas a floresta de cedros protegidos, pelo que tudo indicava uma caminhada agradável até Keerganga.

Passado pouco mais de uma hora, chegados a uma clareira no meio da floresta onde havia inúmeros trilhos não se destacando nenhum em particular que parecesse levar-nos ao nosso destino, pelo que andámos um pouco desorientados até concluirmos que estávamos perdidos e sem pontos de referencia, pois à nossa volta tudo era constante e uniforme: as árvores, as rochas e o rio Parvati.

Foi nessa altura que me senti vulnerável, pequena e à mercê da vasta floresta que mostrava todo o seu poder. As gralhas com o seu grasnar apreciam que escarnecer de nós. É incrível tumulto de sons que a natureza produz quando tudo aparenta estar imóvel e em silêncio.

Foi nesta altura que avistamos um grupo de pessoas que se aproximava, quatro rapazes indianos que se dirigiam para o mesmo sitio e que conheciam o caminho, recorrendo diversas vezes a fotografias que tinham no telemóvel para se orientarem. Percebemos mais tarde que também eles se tinham perdido e tivemos que fazer um percurso bastante difícil para subir uma encosta até alcançar-mos novamente o trilho, tendo-nos atrasado quase uma hora.

O resto do percurso foi pacifico em termos de orientação pois fomos encontrando várias pessoas no sentido contrário que regressavam de Keerganga, mas foi-se tornando mais difícil, com maiores inclinações e por vezes demasiado estreito; atravessamos linhas de água, que enlameavam o caminho, ou outras maiores que formavam cascatas e que cruzávamos pisando cuidadosamente pedras que se encontravam acima da linha de água, ou mesmo passando por cima de troncos de árvore que serviam de ponte sobre as águas que seguiam velozmente encosta abaixo.

A ultima hora do percurso foi bastante dura devido ao cansaço acumulado e à altitude a que estávamos, mas o esforço das quase 5 horas de caminhada foi altamente recompensado com a paisagem que nos esperava: uma vasta clareira coberta de erva verde por onde pastavam algumas mulas, rodeada a toda a volta por montanhas onde nas zonas mais altas o branco da neve reflectia o brilho do sol. Pelas encostas escorriam largas cascatas que desapareciam na densa floresta de cedros e pinheiros.

A paisagem é deslumbrante e esmagadora na sua beleza, mostrando-se com toda a sua imponência, fazendo-nos sentir o quão pequenos nós somos e como estamos sujeitos à sua poderosa força.

Keerganga não se trata propriamente de uma povoação mas sim de um aglomerado de construções precárias feitas em madeira, plástico e chapa de zinco, que funcionam durante o verão como restaurantes, uma ou duas barracas de venda de artigos de higiene e mercearia, e algumas construções destinadas ao alojamento.

Junto a Barshani está a ser construída uma barragem para produção de energia elétrica e que mudará definitivamente o Rio Parvati. Contudo, à boa maneira indiana, a construção já tem mais de 10 anos de atraso, devido a alguns problemas técnicos e ao constante desvio de fundo previstos para a sua construção, encontrando-se ainda longe de estar concluída
Junto a Barshani está a ser construída uma barragem para produção de energia elétrica e que mudará definitivamente o Rio Parvati. Contudo, à boa maneira indiana, a construção já tem mais de 10 anos de atraso, devido a alguns problemas técnicos e ao constante desvio de fundo previstos para a sua construção, encontrando-se ainda longe de estar concluída
Inicio da caminhada na aldeia de Kalga na companhia da Tree
Inicio da caminhada na aldeia de Kalga na companhia da Tree
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
Pausa para descanso
Pausa para descanso
Uma das várias cascatas que atravessámos
Uma das várias cascatas que atravessámos
Chegada a Kerrganga
Chegada a Kerrganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga

Outro do grande atractivos de Keerganga são as nascentes de água quente, onde nos banhamos em tanques construídos no cimo da encosta, junto a um pequeno templo hindu. À boa maneira indiana, existem tanques separados para homens e para mulheres; os homens podem assim apreciar a paisagem das montanhas cobertas de neve, tendo ao lado sido construída uma alta vedação em madeira, coberta com plástico e chapa zincada para as mulheres se poderem banhar longe dos olhares dos homens.

Piscina de água quente reservada aos homens. ao lado, pos trás das tábuas de madeira encontra-se o tanque reservado às mulheres
Piscina de água quente reservada aos homens. ao lado, pos trás das tábuas de madeira encontra-se o tanque reservado às mulheres
Tanque das nascentes de água quente reservado às mulheres
Tanque das nascentes de água quente reservado às mulheres
Na companhia de Tree, depois de um banho revigorante nas águas quentes que nascem em Keerganga
Na companhia de Tree, depois de um banho revigorante nas águas quentes que nascem em Keerganga
Um aviso, simples e directo!!!
Um aviso, simples e directo!!!
Keerganga vista das nascentes de água quente
Keerganga vista das nascentes de água quente
Keerganga
Keerganga
Mais um amigo que nos fez companhia enquanto esperávamos pelo por do sol... no fim teve uma bolacha como recompensa!
Mais um amigo que nos fez companhia enquanto esperávamos pelo por do sol… no fim teve uma bolacha como recompensa!
casas de banho de um dos alojamentos existente em Keerganga
Casas de banho de um dos alojamentos existente em Keerganga

Como chegamos um pouco tarde não conseguimos arranjar sitio para dormir nos alojamentos existente, e empreender no mesmo dia o caminho de volta estava fora de questão, pelo que ficamos a dormir nos restaurantes, que já está preparados para estas situações, fornecendo cobertores e disponibilizando espaço junto a grande fornos a lenha de forma circular, que aqui se chamam tandori. À noite fazia realmente muito frio, e sentia-se o vento gelado que vinha das montanhas e que entrava facilmente pelas inúmeras frestas destas construções rudimentares. Pagámos 50 rupias por pessoa, e lá passamos duas noites, pouco confortáveis, juntamente com a nossa amiga Tree e muitos outros estrangeiros. Todas estas povoações, Pulga, Kalga, Tosh (que fica do outro lado do rio Parvati mas que não visitamos) e Keergana ficam cobertas de neve durante o Inverno; segundo nos disseram em Abril ainda havia neve em Pulga.

O restaurante onde passámos a primeira noite. No dia seguinte procurámos outro pois aqui fazia muito frio; só mais tarde é que percebemos porquê, quando os vimos a montar as janelas onde se encontrava somente um plastico
O restaurante onde passámos a primeira noite. No dia seguinte procurámos outro pois aqui fazia muito frio; só mais tarde é que percebemos porquê, quando os vimos a montar as janelas onde se encontrava somente um plastico
Um dos restaurantes onde passamos a noite
Um dos restaurantes onde passamos a noite

O regresso foi sem a Tree que decidiu ficar acampada no Rainbow Gathering, foi mais rápido pois dominavam as descidas, mas apesar da total confiança que tínhamos, apercebemo-nos que estávamos no caminho errado ao encontrar-mos uma ponte que cruzava o rio Parvati e que nunca tínhamos atravessado. Uma coisa boa que o excesso de população que a Índia tem, é que encontra-se sempre alguém mesmo nos sítios mais recônditos e improváveis. Desta vez avistamos ao longe um carregador com as suas mulas que aqui são o único meio de transporte, e esperámos até ele se aproximar para nos indicar a direcção que devíamos tomar para retomar-mos ao trilho que nos levaria de volta a Kalga, a aldeia mais próxima.

Talvez devido à rapidez com que fizemos o percurso, com bom ritmo e poucas paragens, tendo demorado cerca de 3 horas, ou devido ao cansaço acumulado por duas noites mal dormidas, fez com que o pequeno trajecto que separa Kalga da aldeia de Pulga parecesse uma eternidade, onde nas subidas cada passo requeria um esforço monumental.

Mal chegamos esperámos pela água quente, tomámos um merecido banho e pouco de pois de comermos uma reconfortante refeição, fomos dormir, só acordando no dia seguinte com o nascer do sol; foi um longo sono de 11 horas…

O Rainbow Gathring, a pouco mais de 15 minutos de Kerrganga, reunia poucas dezenas de pessoas, acampadas pela floresta à volta de uma clareira onde foi construída uma tenda para preparação de refeições e onde havia uma fogueira, que funcionavam como local de encontro.

A manhã foi preenchida com a preparação da refeição, onde diversas pessoas participavam ajudando o “chef” indiano, a quem toda a gente chamava baba (que significa pai, mas que é também usada para mostrar respeito por alguém). A refeição, um carril de vegetais e arroz, foi partilhada por todos os que ali estavam reunidos em circulo. O ponto alto, foi a preparação do pão que serviu de acompanhamento: uma especialidade do Rajastão chamada bati, e que é geralmente acompanha pratos de lentilhas.

A massa deste pão é a mesma dos rotis e das parathas: farinha, água e pouco sal. Como não leva fermento não precisa de levedar, sendo o pão sempre confecionado na hora, estendido e cozinhado numa frigideira. Os batis que acompanharam a nossa refeição tiveram um tratamento diferente, pois foram cozinhados directamente no lume, mas com a particularidade deste não ser feito com madeira mas sim com “bosta” de vaca seca. Pode parecer um pouco nojento mas o resultado foi muito bom, traduzido em pequenos pães tostados por fora, densos por dentro e com um característico sabor a fumeiro.

Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Preparação do almoço orientado pelo baba no Rainbow Gathering
Preparação do almoço orientado pelo baba no Rainbow Gathering
Bati, pão tradicional do Rajastão, cozinado em
Bati, pão tradicional do Rajastão, cozinado em “bosta” seca de vasa
Bati
Bati

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Rainbow Gathering
Rainbow Gathering

Parvati Valley. Requiem por Swazni

No nosso ultimo dia em Manikaran, enquanto tomávamos o pequeno-almoço, estava ao nosso lado um inglês que comia avidamente a sua paratha recheada de ovo e queijo; nunca tinha visto e resolvi pedir o mesmo. Revelou-se um óptima escolha e serviu de deixa para estabelecermos conversa com o nosso “vizinho”, que nos deu inúmeras informações e dicas importantes sobre caminhadas ao longo do Parvati Valley, pois este é o seu destino à 22 anos.

Como ele ia subir a montanha junto à aldeia de Pulga, para onde nos dirigíamos, combinámos encontrar-nos lá passado quatro dias, para fazermos a caminhada juntos até uma zona chamada swazni (esta é uma tentativa de transcrever a fonética correspondente ao nome que ouvimos).

Enquanto terminávamos o pequeno-almoço juntamente com a nossa companheira de guesthouse, a Tree, surgiu à hora marcada o nosso amigo Green, juntamente com dois carregadores que transportavam o equipamento para uma estadia de três noites na montanha.

Foi uma caminhada suave num ameno dia de sol, feita com várias paragens para descansar, o que permitiu observar com mais detalhes a paisagem, inicialmente composta por escura e densa floresta, até chegarmos ao topo da encosta onde nos esperava um clareira dominada pelo verde da vegetação rasteira que serve de pastagem ao gado, que é levado para zonas mais altas durante o verão, à medida que a neve derrete.

Pelo caminho o Green foi-nos dando dicas sobre orientação na floresta e cuidados, ao mesmo tempo que nos indicava pontos de referência para depois empreendermos o caminho de regresso sozinhos e que nos permitirão, um dia, lá voltar. Foi como se nos estivesse a passar um legado, algo que ele descobriu  e que neste momento está prestes a abandonar, não só porque se sente já velho (são palavras dele) como devido ao aumento de insegurança e à invasão do turismo que tem vindo a descaracterizar estas e muitas outras paragens pela Índia.

Foi como um requiem.

Inicio da caminhada pouco depois de sairmos de Pulga
Inicio da caminhada pouco depois de sairmos de Pulga
Pausa para descanso e conversa
Pausa para descanso e conversa
Pela floresta
Pela floresta
Chegada à zona de clareira no cimo da encosta. Para trás ficou a densa e escura floresta de cedros
Chegada à zona de clareira no cimo da encosta. Para trás ficou a densa e escura floresta de cedros
Mais uma pausa. Nesta altura um dos carregadores já tinha desistido e ido embora, tendo o Green que carregar uma das pesadas mochilas
Mais uma pausa. Nesta altura um dos carregadores já tinha desistido e ido embora, tendo o Green que carregar uma das pesadas mochilas
A caminho de Swazni
A caminho de Swazni

Fizemos a caminhada até à zona onde o Green ia montar acampamento, um gruta formada por uma grande rocha, junto a um riacho e numa zona de clareira acima da densa floresta de cedros, já muito perto da linha de neve. A toda a volta vêm-se montanhas que nos pontos mais elevados estão cobertas de neve, de onde sopra um ar fresco que atenua os efeitos dos raios solares.

A convite do nosso anfitrião, acabámos por almoçar com ele, uma refeição à base de arroz e vegetais, preparada rapidamente numa panela de pressão e cozinhada num portátil fogão a gás…. claro que todos estes luxos juntamente com cobertores, saco-cama, almofadas e muitos mais requintes só foram possíveis a esta altitude com a ajuda dos carregadores.

Pouco depois do almoço, com a aproximação de algumas nuvens cinzentas que ameaçavam chuva, deixamos o Green a preparar o resto do acampamento e juntamente com a Tree, iniciamos a descida para a aldeia de Pulga. Mesmo com todas as indicações que nos foram dadas, falhámos o caminho de regresso, quando saímos da zona de clareira e nos embrenhamos na floresta, mas fomo-nos orientando pela cascata que corria ao nosso lado e que foi companheira de grande parte do trajecto e pelo som dos tambores que vinham da aldeia e que assinalavam o segundo dia de festa.

Foi uma caminhada revigorante, não só pela envolvente como pela contagiante energia do Green. Obrigada Green pela experiência; espero que os nosso caminhos se voltem a cruzar.

A caminho de Swazi
A caminho de Swazi
Este é um dos vários abrigos que encontrámos pelo caminho, que serviu de acampamento ao Green em anteriores visitas
Este é um dos vários abrigos que encontrámos pelo caminho, que serviu de acampamento ao Green em anteriores visitas
Chegada à gruta onde terminou a nossa caminhada
Chegada à gruta onde terminou a nossa caminhada
Preparação do almoço
Preparativos para o almoço
neve!!!!
Neve!!!!
Um pouco mais acima da zona onde o Green montou o acampamento para passar os dias seguintes
Um pouco mais acima da zona onde o Green montou o acampamento para passar os dias seguintes
Os ultimos toques nos temperos do almoço
Os ultimos toques nos temperos do almoço
Momento de descontração antes de inicarmos a descida
Momento de descontração depois do almoço, antes de inicarmos a descida
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