Estranha sensação esta de estar numa remota povoação onde as colinas e as sinuosas e íngremes estradas de terra batida criam uma barreira com o mundo moderno.
Uma sensação de isolamento que é intensificada com o cair da noite, onde um manto de escuridão envolve a aldeia, onde o negrume da noite sem lua entra pela janelas, criando uma espessa barreira entre nós e os habitantes da casa onde vamos passar a noite, e onde as diferenças culturais e linguísticas não permitem romper.
Habitações amplas e feitas de madeira e bambu, simples, confortáveis as acima de tudo funcionais, onde o fogo é o centro da casa, sendo mantido aceso durante todo o dia, desde os primeiros raios de sol até à hora de dormir… que aqui não é muito depois das nove horas. Um fumo fino e discreto, que faz arder os olhos e deixa um rasto odorífero nas roupas, lembrando-nos quão diferente é o modo de vida do campo.
Pouco depois do pôr-do-sol, assim que o céu escurece, cessam os movimentos nas ruas da aldeia Palaung, aquietam-se os balados dos burros, o cacarejar das galinhas, o chilrear das aves e os risos das crianças. Todos os habitante recolhem às casas, envoltos nos rituais de preparação de comida. Rituais onde todos os habitantes, incluindo as crianças, parecem saber de cor o seu papel, fazendo com que o quotidiano se assemelhe a numa peça de teatro mudo.
Uma camada fina de fumo permanece na principal divisão da casa, uma área ampla desprovida de mobília que funciona como sala e cozinha. Os poucos pertences esperam dias festivos em armários embutidos nas paredes de madeira, quase se tornando invisíveis na penumbra que preenche permanentemente o espaço, apesar das várias janelas que olham para a sucessão de colinas cobertas de vegetação.
Desta primeira paragem numa aldeia nos arredores de Kyaukme, seguiram-se mais dois dias de caminhada pela região Oeste do estado de Shan, onde domina a tribo Palaung, cuja população partilha a herança étnica com a China, mas que durante séculos desenvolveu características próprias como a língua e a gastronomia.
Os Palaung, cujas feições são mais asiáticas do que a etnia Bamar (dominante em Myanmar) são facilmente reconhecíveis pela forma como as mulheres vestem, com sarongs de cores garridas em tons de púrpura, azul e verde, e pelo lenços branco que cobrem descuidadamente as cabeças, cujo cabelo é mantido rapado, seguindo uma desconhecida tradição.
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Mas também aqui a religião adquire contornos próprios. Apesar do domínio do Budismo que aqui chegou no século XI, sobrevivem ainda vestígios de rituais e crenças relacionados com o animismo. Um pequeno grupo de habitantes, reúne-se numa das casas da aldeia trazendo oferendas, onde uma mulher em transe comunica com os espíritos… questões práticas sobre o paradeiro de uma vaca perdida ou sobre as colheitas são respondidas por espíritos pela voz de uma mulher possessa.
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As ruas das aldeias por onde passámos parecem sempre cheias de crianças que correm livremente nas ruas, acenando e sorrindo, curiosas e excitadas pela presença invulgar de estrangeiros. Mas não são só as crianças que mostram a curiosidade, pois os adultos, não conseguem disfarçar o orgulho com que posam para as fotografias, escondendo dentes escuros estragados, sob um sorriso de lábios cerrados. Mas são os homens, que apesar das diferenças de língua se mostram mais comunicativos, mostrando as tatuagens que cobrem o corpo, com símbolos e inscrições, que servem de proteção, uma prática comum entre a população masculina e também entre os monges Budistas, tanto em Myanmar como no Tailândia.
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Como visitar as aldeias Palaung na região de Kyaukme
Estes três dias de caminhada foram organizados pelo Thura, um birmanês da etnia Shan, cuja mãe é da tribo Palaung, cujo bom domínio do inglês e os contactos com as populações locais lhe permite circular por esta região, que é provavelmente impossível de visitar sem um guia que fale a língua local.
O percurso é feito a pé e de mota. Os percursos a pé são curtos e faceis, mas por vezes em zonas com pouca sombra.
O grupo é pequeno, não mais do que seis pessoas.
As noites são passadas em casas de famílias locais, em improvisadas camas no chão da sala, com cobertores e mantas. As casas de banho são básicas (uma pequena cabana no exterior da casa) e as lavagens são ao ar-livre numa torneira na parte de trás da casa, o que oferece pouca privacidade, sendo mais fácil para quem tem um sarong/dhoti.
As refeições (podem ser vegetarianas ou não) são em casa de famílias ou em restaurantes locais…. e foram sempre deliciosas e são uma optima oportunidade de experimentar comida local e caseira!
Tudo incluído (mota, gasolina, refeições, água) são 25€ por pessoa/dia… o que é pouco mais do que o custo diário para quem viaja em Myanmar.
Contacto: //thuratrips.page.tl/
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