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Stepping Out Of Babylon

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Parvati Valley

Parvati Valley. Keerganga

Por sugestão de muitas das pessoas com quem falámos enquanto nos demorámos pelo vale do Rio Parvati decidimos ir a Keerganga (também aparece escrito como Khir Ganga) ainda para mais tinha o atrativo de lá perto realizar-se durante o mês de Maio o Rainbow Gathering que reúne informalmente centenas de pessoas em várias partes do mundo.

O percurso até Keerganga, situada a 2960 metros de altitude, é o mais famoso trekking do vale do Rio Parvati e segundo informações que recolhemos demora cerca de 4 a 5 horas da aldeia de Pulga onde estamos alojados, pelo que saímos de manhã cedo, munidos de fruta, bolachas e água, e dirigimo-nos para a aldeia próxima, Kalga, para nos encontrar-mos com a Tree, com quem fizemos amizade desde os primeiros dias que chegámos Apple Garden Guesthouse.

Recolhemos informações sobre o percurso que devíamos seguir e mantivemo-nos atentos às setas pintadas nas rochas e nas árvores que indicavam o caminho; o trilho era claro e bem visível, pouco inclinado e o tempo estava fresco e o sol brilhava, mas a floresta de cedros protegidos, pelo que tudo indicava uma caminhada agradável até Keerganga.

Passado pouco mais de uma hora, chegados a uma clareira no meio da floresta onde havia inúmeros trilhos não se destacando nenhum em particular que parecesse levar-nos ao nosso destino, pelo que andámos um pouco desorientados até concluirmos que estávamos perdidos e sem pontos de referencia, pois à nossa volta tudo era constante e uniforme: as árvores, as rochas e o rio Parvati.

Foi nessa altura que me senti vulnerável, pequena e à mercê da vasta floresta que mostrava todo o seu poder. As gralhas com o seu grasnar apreciam que escarnecer de nós. É incrível tumulto de sons que a natureza produz quando tudo aparenta estar imóvel e em silêncio.

Foi nesta altura que avistamos um grupo de pessoas que se aproximava, quatro rapazes indianos que se dirigiam para o mesmo sitio e que conheciam o caminho, recorrendo diversas vezes a fotografias que tinham no telemóvel para se orientarem. Percebemos mais tarde que também eles se tinham perdido e tivemos que fazer um percurso bastante difícil para subir uma encosta até alcançar-mos novamente o trilho, tendo-nos atrasado quase uma hora.

O resto do percurso foi pacifico em termos de orientação pois fomos encontrando várias pessoas no sentido contrário que regressavam de Keerganga, mas foi-se tornando mais difícil, com maiores inclinações e por vezes demasiado estreito; atravessamos linhas de água, que enlameavam o caminho, ou outras maiores que formavam cascatas e que cruzávamos pisando cuidadosamente pedras que se encontravam acima da linha de água, ou mesmo passando por cima de troncos de árvore que serviam de ponte sobre as águas que seguiam velozmente encosta abaixo.

A ultima hora do percurso foi bastante dura devido ao cansaço acumulado e à altitude a que estávamos, mas o esforço das quase 5 horas de caminhada foi altamente recompensado com a paisagem que nos esperava: uma vasta clareira coberta de erva verde por onde pastavam algumas mulas, rodeada a toda a volta por montanhas onde nas zonas mais altas o branco da neve reflectia o brilho do sol. Pelas encostas escorriam largas cascatas que desapareciam na densa floresta de cedros e pinheiros.

A paisagem é deslumbrante e esmagadora na sua beleza, mostrando-se com toda a sua imponência, fazendo-nos sentir o quão pequenos nós somos e como estamos sujeitos à sua poderosa força.

Keerganga não se trata propriamente de uma povoação mas sim de um aglomerado de construções precárias feitas em madeira, plástico e chapa de zinco, que funcionam durante o verão como restaurantes, uma ou duas barracas de venda de artigos de higiene e mercearia, e algumas construções destinadas ao alojamento.

Junto a Barshani está a ser construída uma barragem para produção de energia elétrica e que mudará definitivamente o Rio Parvati. Contudo, à boa maneira indiana, a construção já tem mais de 10 anos de atraso, devido a alguns problemas técnicos e ao constante desvio de fundo previstos para a sua construção, encontrando-se ainda longe de estar concluída
Junto a Barshani está a ser construída uma barragem para produção de energia elétrica e que mudará definitivamente o Rio Parvati. Contudo, à boa maneira indiana, a construção já tem mais de 10 anos de atraso, devido a alguns problemas técnicos e ao constante desvio de fundo previstos para a sua construção, encontrando-se ainda longe de estar concluída
Inicio da caminhada na aldeia de Kalga na companhia da Tree
Inicio da caminhada na aldeia de Kalga na companhia da Tree
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
A caminho de Kerrganga
Pausa para descanso
Pausa para descanso
Uma das várias cascatas que atravessámos
Uma das várias cascatas que atravessámos
Chegada a Kerrganga
Chegada a Kerrganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga
Keerganga

Outro do grande atractivos de Keerganga são as nascentes de água quente, onde nos banhamos em tanques construídos no cimo da encosta, junto a um pequeno templo hindu. À boa maneira indiana, existem tanques separados para homens e para mulheres; os homens podem assim apreciar a paisagem das montanhas cobertas de neve, tendo ao lado sido construída uma alta vedação em madeira, coberta com plástico e chapa zincada para as mulheres se poderem banhar longe dos olhares dos homens.

Piscina de água quente reservada aos homens. ao lado, pos trás das tábuas de madeira encontra-se o tanque reservado às mulheres
Piscina de água quente reservada aos homens. ao lado, pos trás das tábuas de madeira encontra-se o tanque reservado às mulheres
Tanque das nascentes de água quente reservado às mulheres
Tanque das nascentes de água quente reservado às mulheres
Na companhia de Tree, depois de um banho revigorante nas águas quentes que nascem em Keerganga
Na companhia de Tree, depois de um banho revigorante nas águas quentes que nascem em Keerganga
Um aviso, simples e directo!!!
Um aviso, simples e directo!!!
Keerganga vista das nascentes de água quente
Keerganga vista das nascentes de água quente
Keerganga
Keerganga
Mais um amigo que nos fez companhia enquanto esperávamos pelo por do sol... no fim teve uma bolacha como recompensa!
Mais um amigo que nos fez companhia enquanto esperávamos pelo por do sol… no fim teve uma bolacha como recompensa!
casas de banho de um dos alojamentos existente em Keerganga
Casas de banho de um dos alojamentos existente em Keerganga

Como chegamos um pouco tarde não conseguimos arranjar sitio para dormir nos alojamentos existente, e empreender no mesmo dia o caminho de volta estava fora de questão, pelo que ficamos a dormir nos restaurantes, que já está preparados para estas situações, fornecendo cobertores e disponibilizando espaço junto a grande fornos a lenha de forma circular, que aqui se chamam tandori. À noite fazia realmente muito frio, e sentia-se o vento gelado que vinha das montanhas e que entrava facilmente pelas inúmeras frestas destas construções rudimentares. Pagámos 50 rupias por pessoa, e lá passamos duas noites, pouco confortáveis, juntamente com a nossa amiga Tree e muitos outros estrangeiros. Todas estas povoações, Pulga, Kalga, Tosh (que fica do outro lado do rio Parvati mas que não visitamos) e Keergana ficam cobertas de neve durante o Inverno; segundo nos disseram em Abril ainda havia neve em Pulga.

O restaurante onde passámos a primeira noite. No dia seguinte procurámos outro pois aqui fazia muito frio; só mais tarde é que percebemos porquê, quando os vimos a montar as janelas onde se encontrava somente um plastico
O restaurante onde passámos a primeira noite. No dia seguinte procurámos outro pois aqui fazia muito frio; só mais tarde é que percebemos porquê, quando os vimos a montar as janelas onde se encontrava somente um plastico
Um dos restaurantes onde passamos a noite
Um dos restaurantes onde passamos a noite

O regresso foi sem a Tree que decidiu ficar acampada no Rainbow Gathering, foi mais rápido pois dominavam as descidas, mas apesar da total confiança que tínhamos, apercebemo-nos que estávamos no caminho errado ao encontrar-mos uma ponte que cruzava o rio Parvati e que nunca tínhamos atravessado. Uma coisa boa que o excesso de população que a Índia tem, é que encontra-se sempre alguém mesmo nos sítios mais recônditos e improváveis. Desta vez avistamos ao longe um carregador com as suas mulas que aqui são o único meio de transporte, e esperámos até ele se aproximar para nos indicar a direcção que devíamos tomar para retomar-mos ao trilho que nos levaria de volta a Kalga, a aldeia mais próxima.

Talvez devido à rapidez com que fizemos o percurso, com bom ritmo e poucas paragens, tendo demorado cerca de 3 horas, ou devido ao cansaço acumulado por duas noites mal dormidas, fez com que o pequeno trajecto que separa Kalga da aldeia de Pulga parecesse uma eternidade, onde nas subidas cada passo requeria um esforço monumental.

Mal chegamos esperámos pela água quente, tomámos um merecido banho e pouco de pois de comermos uma reconfortante refeição, fomos dormir, só acordando no dia seguinte com o nascer do sol; foi um longo sono de 11 horas…

O Rainbow Gathring, a pouco mais de 15 minutos de Kerrganga, reunia poucas dezenas de pessoas, acampadas pela floresta à volta de uma clareira onde foi construída uma tenda para preparação de refeições e onde havia uma fogueira, que funcionavam como local de encontro.

A manhã foi preenchida com a preparação da refeição, onde diversas pessoas participavam ajudando o “chef” indiano, a quem toda a gente chamava baba (que significa pai, mas que é também usada para mostrar respeito por alguém). A refeição, um carril de vegetais e arroz, foi partilhada por todos os que ali estavam reunidos em circulo. O ponto alto, foi a preparação do pão que serviu de acompanhamento: uma especialidade do Rajastão chamada bati, e que é geralmente acompanha pratos de lentilhas.

A massa deste pão é a mesma dos rotis e das parathas: farinha, água e pouco sal. Como não leva fermento não precisa de levedar, sendo o pão sempre confecionado na hora, estendido e cozinhado numa frigideira. Os batis que acompanharam a nossa refeição tiveram um tratamento diferente, pois foram cozinhados directamente no lume, mas com a particularidade deste não ser feito com madeira mas sim com “bosta” de vaca seca. Pode parecer um pouco nojento mas o resultado foi muito bom, traduzido em pequenos pães tostados por fora, densos por dentro e com um característico sabor a fumeiro.

Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Rainbow Gathering
Preparação do almoço orientado pelo baba no Rainbow Gathering
Preparação do almoço orientado pelo baba no Rainbow Gathering
Bati, pão tradicional do Rajastão, cozinado em
Bati, pão tradicional do Rajastão, cozinado em “bosta” seca de vasa
Bati
Bati

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Rainbow Gathering
Rainbow Gathering

Parvati Valley. Requiem por Swazni

No nosso ultimo dia em Manikaran, enquanto tomávamos o pequeno-almoço, estava ao nosso lado um inglês que comia avidamente a sua paratha recheada de ovo e queijo; nunca tinha visto e resolvi pedir o mesmo. Revelou-se um óptima escolha e serviu de deixa para estabelecermos conversa com o nosso “vizinho”, que nos deu inúmeras informações e dicas importantes sobre caminhadas ao longo do Parvati Valley, pois este é o seu destino à 22 anos.

Como ele ia subir a montanha junto à aldeia de Pulga, para onde nos dirigíamos, combinámos encontrar-nos lá passado quatro dias, para fazermos a caminhada juntos até uma zona chamada swazni (esta é uma tentativa de transcrever a fonética correspondente ao nome que ouvimos).

Enquanto terminávamos o pequeno-almoço juntamente com a nossa companheira de guesthouse, a Tree, surgiu à hora marcada o nosso amigo Green, juntamente com dois carregadores que transportavam o equipamento para uma estadia de três noites na montanha.

Foi uma caminhada suave num ameno dia de sol, feita com várias paragens para descansar, o que permitiu observar com mais detalhes a paisagem, inicialmente composta por escura e densa floresta, até chegarmos ao topo da encosta onde nos esperava um clareira dominada pelo verde da vegetação rasteira que serve de pastagem ao gado, que é levado para zonas mais altas durante o verão, à medida que a neve derrete.

Pelo caminho o Green foi-nos dando dicas sobre orientação na floresta e cuidados, ao mesmo tempo que nos indicava pontos de referência para depois empreendermos o caminho de regresso sozinhos e que nos permitirão, um dia, lá voltar. Foi como se nos estivesse a passar um legado, algo que ele descobriu  e que neste momento está prestes a abandonar, não só porque se sente já velho (são palavras dele) como devido ao aumento de insegurança e à invasão do turismo que tem vindo a descaracterizar estas e muitas outras paragens pela Índia.

Foi como um requiem.

Inicio da caminhada pouco depois de sairmos de Pulga
Inicio da caminhada pouco depois de sairmos de Pulga
Pausa para descanso e conversa
Pausa para descanso e conversa
Pela floresta
Pela floresta
Chegada à zona de clareira no cimo da encosta. Para trás ficou a densa e escura floresta de cedros
Chegada à zona de clareira no cimo da encosta. Para trás ficou a densa e escura floresta de cedros
Mais uma pausa. Nesta altura um dos carregadores já tinha desistido e ido embora, tendo o Green que carregar uma das pesadas mochilas
Mais uma pausa. Nesta altura um dos carregadores já tinha desistido e ido embora, tendo o Green que carregar uma das pesadas mochilas
A caminho de Swazni
A caminho de Swazni

Fizemos a caminhada até à zona onde o Green ia montar acampamento, um gruta formada por uma grande rocha, junto a um riacho e numa zona de clareira acima da densa floresta de cedros, já muito perto da linha de neve. A toda a volta vêm-se montanhas que nos pontos mais elevados estão cobertas de neve, de onde sopra um ar fresco que atenua os efeitos dos raios solares.

A convite do nosso anfitrião, acabámos por almoçar com ele, uma refeição à base de arroz e vegetais, preparada rapidamente numa panela de pressão e cozinhada num portátil fogão a gás…. claro que todos estes luxos juntamente com cobertores, saco-cama, almofadas e muitos mais requintes só foram possíveis a esta altitude com a ajuda dos carregadores.

Pouco depois do almoço, com a aproximação de algumas nuvens cinzentas que ameaçavam chuva, deixamos o Green a preparar o resto do acampamento e juntamente com a Tree, iniciamos a descida para a aldeia de Pulga. Mesmo com todas as indicações que nos foram dadas, falhámos o caminho de regresso, quando saímos da zona de clareira e nos embrenhamos na floresta, mas fomo-nos orientando pela cascata que corria ao nosso lado e que foi companheira de grande parte do trajecto e pelo som dos tambores que vinham da aldeia e que assinalavam o segundo dia de festa.

Foi uma caminhada revigorante, não só pela envolvente como pela contagiante energia do Green. Obrigada Green pela experiência; espero que os nosso caminhos se voltem a cruzar.

A caminho de Swazi
A caminho de Swazi
Este é um dos vários abrigos que encontrámos pelo caminho, que serviu de acampamento ao Green em anteriores visitas
Este é um dos vários abrigos que encontrámos pelo caminho, que serviu de acampamento ao Green em anteriores visitas
Chegada à gruta onde terminou a nossa caminhada
Chegada à gruta onde terminou a nossa caminhada
Preparação do almoço
Preparativos para o almoço
neve!!!!
Neve!!!!
Um pouco mais acima da zona onde o Green montou o acampamento para passar os dias seguintes
Um pouco mais acima da zona onde o Green montou o acampamento para passar os dias seguintes
Os ultimos toques nos temperos do almoço
Os ultimos toques nos temperos do almoço
Momento de descontração antes de inicarmos a descida
Momento de descontração depois do almoço, antes de inicarmos a descida

Parvati Valley. Pulga

As trovoadas têm sido uma constante neste percurso pela Índia: em Delhi, Jaipur e Pushkar, eram uma promessa de uma temperatura mais amena e menos poeira no ar. Nas montanhas, tanto em Dharamkot como aqui no Parvati Valley, trazem quase sempre chuva, frio e muitas vezes granizo.

Enquanto escrevo estas notas, num rústico mas confortável quarto todo construído em madeira, observo através das janelas que rasgam a toda a largura duas das paredes do quarto, as nuvens negras que aos pouco vão cobrindo os picos das montanhas, ainda cobertos de neve, que se avistam da aldeia de Pulga.

Acordo com o sol a aquecer-me a cara e com o chilrear dos pássaros, enquanto os aldeões encaminham o gado para as montanhas ao som de assobios. Dos telhados das casas sai o fumo dos fogões e dos aquecedores de água a lenha, que aos poucos vão enchendo a aldeia com uma neblina que lentamente se encaminha para o céu.

Pulga
Pulga
Pulga
Pulga
Pulga
Pulga
Pulga
Pulga

Pulga, situada a cerca de 2269 metros de altitude, não acessível por automóveis, existindo somente um trilho pedonal que também é percorrido por mulas que aqui asseguram o abastecimento desta aldeia e das que se encontram próximas. Devido a um problema numa central eléctrica também não tem luz há cerca de uma semana… não há música, os frigoríficos não passam de armários, a noite é iluminada por velas e as refeições são cozinhadas a lenha.

Em frente à Apple View Guesthouse, onde estamos alojados, do outro lado do rio Parvati, encontra-se a feia povoação de Barshani, onde termina a estrada por onde chegamos, vindos de Manikaran. Foi uma viagem feita de autocarro, que demorou uma hora para percorrer os cerca de 14 quilómetros que separam as duas povoações. O estado da estrada, sem pavimento e com várias linhas de água a travessá-la, juntamente com o estreito e sinuoso traçado que acompanha de perto o Rio Parvati, fizeram desta viagem uma aventura cansativa, obrigando a paragens frequentes e a manobras complicadas cada vez que o autocarro se cruzava com outro veículo. Por diversas vezes saltamos literalmente do assento quando passávamos por cima de buracos e lombas que eram uma constante ao longo da estrada.

Para compensar, a paisagem que íamos avistando ia-se tornando cada vez mais  deslumbrante com a aproximação das montanhas ainda cobertas de neve, mas olhar para o vale e para o rio que corria lá em baixo obrigava a uma dose de coragem, dada a proximidade com que o autocarro circulava do precipício.

Autocarro que nos levou de Manikaran para Barshani
Autocarro que nos levou de Manikaran para Barshani enquanto esperávamos quase uma hora para a partida. Nos lugares do lado esquerdo cabem duas pessoas, nos do lado direito cabem três, mas tudo muito apertado!!!
Bilhetes da viagem de autocarro entre Bhunter e Pulga
Bilhetes da viagem de autocarro de um das viagens que fizemos no Parvati Valley
Restaurante em Barhsani
Restaurante em Barshani, com a habitual decoração dominada por divindades hindus, gurus e  actores de cinema

Pulga não deve ter mais do 300 habitantes mas é surpreendente a quantidade de jovens e de crianças que se vês nas ruas… ruas é uma forma de identificar os caminhos, muitas vezes enlameados que separam as casas. No centro, entre os dois templos, encontra-se praticamente toda a actividade comercial da aldeia: três mercearias que vendem de tudo um pouco, desde produtos alimentares a alfaias agrícolas. Muitas das casa mantêm a arquitectura tradicional, em que o corpo central é constituído por uma estrutura de madeira, preenchida com pedra e forrada com uma argamassa argilosa; o piso térreo é destinado a armazenamento de forragem , madeira ou destinado aos animais, enquanto que os pisos superiores, rodeados com as características varandas de madeira que circundam toda a casa, são destinados à habitação. As casa de banho são invariavelmente no exterior.

Os dias passados em Pulga foram dominados pela falta de luz, que acentuou o carácter rural da aldeia, cobrindo-a com um silêncio só interrompido pelo mugir das vacas, pelas vozes alegres das crianças enquanto apanham erva para os animas, pelo grasnar das gralhas e pelo ranger dos ciprestes agitados pelo vento, na floresta que envolve parte da povoação e que se estende até às zonas mais altas, com neve.

Este ritmo foi interrompido para a festa anual de Pulga, que reuniu os homens da terra, junto ao templo mais antigo, todos com a cabeça coberta com o tradicional chapéu de feltro, decorado com fitas coloridas feitas em teares manuais, com motivos e cores tradicionais da região.

Ao som de tambores e do som soprado por cornos de vaca, os homens da aldeia foram-se encaminhando para a floresta, para uma zona sagrada onde existe um templo, para aí procederem ao sacrifício de um carneiro, cuja carne é depois é dividida pela população, que apesar deste costume, segue a dieta vegetariana.

Templo no centro de Pulga
Templo no centro de Pulga
Junto ao templo de Pulga
Junto ao templo de Pulga
Concentração de homens junto ao templo no dia da festa
Reunião dos homens da aldeia junto ao templo no dia da festa
Floresta sagrada junto à aldeia de Pulga
Floresta junto à aldeia de Pulga onde existe uma zona considerada sagrada e cujo acesso nos está interdito

No dia seguinte, também ao som de tambores acompanhados por longas trombetas, a população reuniu-se no centro da aldeia. Somente nesta ocasião vimos as mulheres participar na festa, dançando juntamente com os homens, e envergando trajes tradicionais. Como não havia electricidade a festa terminou ao anoitecer.

Apesar das diversas guesthouses existente na aldeia apresentarem uma grande variedade de comida internacional, que não explorámos, a comida em Pulga não apresenta grande diversidade, dominado a batata, a couve flor e por vezes o feijão verde ou umas ervilhas. Como não havia electricidade o panner, que é um queijo tradicional indiana usado frequentemente na culinária de todo o país estava excluído da ementa.

 Apesar da aparente falta de conforto, resultante em parte de não termos luz, nem das comodidades a que estamos habituados, como água quente corrente para tomar banho foram dias muito bons, onde o sono chegava cedo à luz das velas.

À medida que a chuva deixava de nos visitar e em que os dias iam ficando mais quentes, aproveitámos para fazer algumas caminhadas pela floresta e pelas montanhas nas redondezas de Pulga, a uma aldeia próxima chamada Kalga, situada a cerca de uma hora de caminho e a Keerganga que consistiu na “joia da coroa” desta estadia no Parvati Valley.

Pulga
Pulga
Crianças a jogar cricket em Pulga
Crianças a jogar cricket em Pulga junto ao templo mais antigo da aldeia
Pulga
Pulga
Jogo de cricket que reúne semanalmente os rapazes da aldeia de Pulga e das povoações vizinhas, numa das poucas zonas planas da floresta
Jogo de cricket que reúne semanalmente os rapazes da aldeia de Pulga e das povoações vizinhas, numa das poucas zonas planas da floresta
Apple Garden Guesthouse
Apple Garden Guesthouse

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Chill-out da Apple Garden Guesthouse
Chill-out da Apple Garden Guesthouse
Casa de banho da Apple Garden Guesthouse
Casa de banho da Apple Garden Guesthouse. O edificio ao lado era a cozinha
Apple Garden Guesthouse
Apple Garden Guesthouse. O nosso quarto situava-se no segundo andar o que nos obrigava a frequentes descidas e subidas pela estreita e íngreme escada, que rangia a cada passo que dávamos… aliás como toda a estrutura em madeira da casa
Visto do quarto na Apple Garden Guesthouse
Visto do quarto na Apple Garden Guesthouse
Apple Garden Guesthouse
Apple View Guesthouse, que efetivamente estava rodeada de macieiras, mas cujas maçãs só são esperadas para Setembro.
Aquecendo água para o banho na guesthouse onde estávamos instalados
Aquecendo água para o banho na guesthouse onde estávamos instalados, processo que demorava perto de uma hora e que custava 30 rupias (cerca de 0.40€). Um balde dava para tomar-mos banho os dois e ainda sobrava um resto de água quente para lavar a roupa, pois sem electricidade não havia lavandarias a funcionar.
Dado não haver electricidade e o uso de botijas de gás está excluído devido ao facto de a aldeia de Pulga não ter acesso automóvel e de ficar a cerca de 1 hora a pé da estrada mais próxima, a água para os banhos é aquecida neste engenhoso equipamento, onde a lenha é queimada até fazer brasa, e por onde é despejada água que após alguns segundos sai quente, mesmo quente!
Dado não haver electricidade e o uso de botijas de gás está excluído devido ao facto de a aldeia de Pulga não ter acesso automóvel e de ficar a cerca de 1 hora a pé da estrada mais próxima, a água para os banhos é aquecida neste engenhoso equipamento, onde a lenha é queimada até fazer brasa, e que tem um funil por onde é despejada água que após alguns segundos sai quente, mesmo quente!
Pulga
Pulga
Pequeno almoço tradicional indiano com uma paratha, um dos tradicionais e mais comuns pães indianos, que pode ser recheado com vegetais ou ovo. Ao centro está um pickle de vegetais que inclui rebentos de fetos apanhados na floresta... picante e salgado, mas que dá um toque delicioso à paratha, que vem sempre barrada com manteiga. Uma energética refeição para começar um dia nas montanhas!
Pequeno almoço tradicional indiano com uma paratha, um dos tradicionais e mais comuns pães indianos, que pode ser recheado com vegetais ou ovo. Ao centro está um pickle de vegetais que inclui rebentos de fetos apanhados na floresta… picante e salgado, mas que dá um toque delicioso à paratha, que vem sempre barrada com manteiga. Uma energética refeição para começar um dia nas montanhas!

Parvati Valley. Manikaran

Inicialmente o vale por onde corre o Rio Parvati e as aldeias em redor não estavam no nosso itinerário inicial, mas à medida que fomos falando com outros viajantes pareceu-nos um destino apetecível, para fugir ao calor do verão que já invadia a zona de Dharamkot.

Para tornar a viagem menos penosa, em termos de conforto e de numero de horas, optámos por um autocarro turístico, em vez dos velhos e desconfortáveis autocarros públicos, que nos obrigariam a vários transbordos.

Somente conseguimos bilhete para um mini-bus, que saiu de Mcleod Ganj às 9 horas da noite e nos deixou ao nascer do dia na adormecida e desinteressante cidade de Bhunter, para aí esperar-mos pelo autocarro publico que faz o percurso pelas várias povoações ao longo do Rio Parvati.

Foi uma viagem extenuante, pois devido ao estado das estradas e ao percurso sinuoso pelas montanhas os esforços para arranjar uma posição confortável para dormir foram infrutíferos. Contudo os restantes passageiros lá foram dormitando e houve alturas e que eu e o motoristas éramos as únicas pessoas acordadas…. bem, quanto ao motorista não tenho grande certeza, pois por diversas vezes vi o autocarro a sair da faixa de rodagem e circular pelo meio da via só se afastando quando vinha outro veículo em sentido contrário, se bem que por aqui na Índia, esta forma de conduzir é uma prática frequente.

Parámos por diversas vezes em restaurantes desertos à beira da estrada, uma para jantar, já perto da meia-noite e outra para o motorista descansar. Como a espera se estava a prolongar e a conversa com os ouros passageiros esmorecia pelo cansaço e pelo adiantado da hora, fomos saber a causa da demora e informaram-nos que o motorista estava cansado e tinha decidido ir dormir por uma hora.

Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar
Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar
Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar
Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar
Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar
Restaurante à beira da estrada entre Mcleod Ganj e Bunthar

Pelo caminho fomos passando por filas de camiões parados à beira da estrada, envoltos na espessa escuridão da noite, somente iluminada pelos faróis do autocarro, esperando pelo nascer do dia para iniciarem o resto da jornada.

Com o nascer do dia, mesmo antes de se verem os primeiros raios de sol, percorremos o troço final da nossa viagem sempre ao lado do Rio Beas, e das suas águas tumultuosas e turvas, que percorrem o escarpado vale, pelo qual a estrada corajosamente serpenteava.

Em Bhuntar, a espera pelo próximo autocarro que nos levaria ao nosso destino, a aldeia de Pulga, foi amenizada pela alegre companhia da Zia, uma rapariga argentina que conhecemos na viagem, e que nos sugeriu ficar em Manikaran onde podíamos ficar a descansar e a aproveitar as nascentes de águas quentes pela qual é famosa, antes de nos dirigirmos para Pulga. Bem precisávamos, pois os 32 quilómetros que percorremos demoraram cera de duas horas, por uma sinuosa estrada sempre ao longo do rio Parvati, encaixado entre altas montanhas densamente cobertas de pinheiros e cedros.

Manikaran é também um local de peregrinação de Hindus e especialmente de Sikhs que aí têm um grande templo dedicado a Shiva.

Ficamos dois dias em Manikaran, onde o som das revoltas águas do Rio Parvati são uma presença constante, onde para além dos templos e das piscinas de água quente, não apresentava muitos mais atrativos, mas que representou um agradável “regresso” ao tradicional modo de vida indiano, sem as lojas de artesanato, restaurantes com comida internacional e música transe que por vezes transformam zonas como Dharamkot em refúgios para ocidentais, mas que perdem alguma da sua identidade.

Contudo, no segundo dia fomos surpreendidos quando o templo Sikh que foi construído sobre uma das nascente de água quente, o que faz com que todo o complexo de edifícios adjacentes esteja permanentemente envolto numa nuvem de vapor, e onde são cozinhadas refeições em potes de barro emersos nas águas borbulhantes e ligeiramente sulfurosas, e que são servidas gratuitamente a qualquer pessoa, diariamente durante todo o dia.

Quando visitámos o templo aproveitámos para ir ao refeitório onde serviam a comida. Tivemos que deixar os sapatos à entrada e só podemos entrar com a cabeça coberta; depois foi seguir as indicações que nos iam sendo dadas pelos funcionários do templo. Munimo-nos de prato e copo e fomo-nos sentar no chão junto das dezenas de peregrinos, em tapetes corridos que formavam corredores ao longo da grande sala, permanentemente envolta uma morna nuvem de vapor, à espera que nos servissem.

Foi uma refeição simples, constituída por sopa de lentilhas, carril de grão, arroz e chapatis, retirados de balde metálicos e servidos por Sikhs. Pelo que percebemos, todo este ritual tem o nome de parshad, e representa um gesto de hospitalidade que não deve ser recusado.

Foi uma experiencia intensa e muito interessante, não pela refeição em si, mas por toda a envolvência e pelo significado de oferecer comida a qualquer pessoa sem pedir nada em troca. De seguida fomos para o local onde se realizam as cerimónias religiosas, o Gurudwara, onde ouvimos cânticos retirados do livro sagrado dos Sikhs, o Guru Granth Sahib, entoados ao som de tablas e tambores, e que se prolongaram pela noite dentro.

Manikaran
Manikaran
Manikaran
Manikaran. Vendedor de oleos medicinais
Manikaran
Uma das pontes que liga Manikaran à estrada principal que acompanha o Rio Parvati
Templo Sikh em Manikaran
Templo Sikh em Manikaran dedicado a Shiva, constantemente envolvido pelo vapores libertados pelas nascentes de água quente
Templo Sikh em Manikaran onde é cozinhada o prashd
Templo Sikh em Manikaran onde é cozinhada o prashad que é uma refeição servida gratuitamente, durante todo o dia
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Uma das muitas lojas dedicadas à venda de artigos religiosos e de oferendas para os rituais religiosos que se encontram nas ruas junto ao templo Sikh
Manikaran. Rio Parvati
Manikaran. Rio Parvati
Guesthouse O-Rest em Manikaram
Guesthouse O-Rest onde ficamos duas noites em Manikaran na companhia de um pequeno roedor que não nos importunou
O nosso quarto na O-Rest Guesthouse que servia também de armazém de arroz e de açucar
O nosso quarto na O-Rest Guesthouse que servia também de armazém de arroz e de açucar
Manikaran. Rio Parvati visto da janela do nosso quarto na O-Rest Guesthouse
Rio Parvati visto da janela do nosso quarto na O-Rest Guesthouse em Manikaran
Casa de banho da Guesthouse O-Rest em Manikaran, onde a água quente vinha directamente da nascente para um tanque de onde tirávamos a água para o banho
Casa de banho da Guesthouse O-Rest em Manikaran, onde a água quente vinha directamente da nascente para um tanque de onde tirávamos a água com um pequeno púcaro de plástico para nos lavar-mos
Ponte sobre o Rio Parvari, entre Manikaran e Kasol
Ponte sobre o Rio Parvari, entre Manikaran e Kasol, a povoação mais próxima onde estivemos só de passagem
Caminho pedonal entre Manikaran e Kasol
Caminho pedonal entre Manikaran e Kasol

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