Nenhum relato sobre o Sri Lanka pode ficar completo sem se mencionar os autocarros… esse meio de transporte praticamente incontornável numa viagem pela ilha, em que apesar de existir uma razoável linha de caminho de ferro, esta está longe de cobrir todo o território.
Assim os autocarros têm o papel fundamental de ligar cidades, vilas e aldeias… e não é exagero dizer que praticamente todo o território está coberto por uma rede de autocarros, cujo serviço pode ser lento, mas é garantido! Existe sempre um serviço de autocarros ligando as principais cidades, e caso os horários não sejam convenientes, há sempre a possibilidade de seguir até uma paragem intermédia, e aí apanhar outro autocarro. Por vezes uma viagem de 150 quilómetros pode implicar dois ou três transbordos.
Uma vantagem de viajar de autocarro no Sri Lanka é que os terminal de autocarros, localmente designado de “bus station” é localizado no centro da cidade, geralmente a uma distância possível de ser coberta a pé da estação de comboios. Como inconveniente é o facto de nas grande cidades, como Colombo, atravessar a cidade para chegar ao terminal de autocarros pode implicar uma hora, mesmo fora das horas de ponta!




Os terminais de autocarros podem ser gigantescos, como em Colombo, ou modestos como em Pottuvil, onde os autocarros se alinham ao longo da estrada. Também variam em termos de organização e sinalização, mas em geral todos dispõem de indicações do local de paragem de cada autocarro em função do destino a que se dirigem. Quanto a horários a informação é inexistente, sendo necessário recorrer ao posto de informações, ou mais facilmente aos motoristas que esperam junto aos autocarros.

Dada a popularidade num país onde a esmagadora maioria da população (cerca de 8%) não tem automóvel os autocarros são a opção, não só para percursos urbanos, mas também para cobrir longas distâncias, como por exemplo os cerca de 400 quilómetros que separam Colombo de Jaffna, com a epopeica duração de mais de 12 horas.
Sim… as viagens de autocarro são lentas... muito lentas, feitas a uma velocidade média de 35 km/h. Não significa que os autocarros circulem necessariamente a esta velocidade, mas devido ao trânsito que por vezes é intenso mesmo ao longo das estradas nacionais, e essencialmente devido às múltiplas paragens para recolher e deixar passageiros e intervalos para descanso ou refeições. Os autocarros privados, que são a maioria dos que circulam nas estradas nacionais, são ainda piores em termos dos números de paragens pois recolhem passageiros em qualquer ponto, não se limitando somente às paragens oficiais.
As viagens em autocarros nocturnos demoram menos tempo mas são pouco os itinerários em que este serviço está disponível.
É um sistema de exploração onde não existem autocarros expresso, ou sejam que não efectuam paragens intermédias. Contudo os autocarros com ar-condicionado, que somente existem nas zonas mais populosas, fazem muito menos paragens, e algum chegam mesmo a usar as novas “expressways” uma espécie de autoestrada, que encurto o tempo de viagem e aumenta o conforto.

Apesar da lentidão, ninguém parece preocupar-se, aceitando o facto como garantido, o mesmo se aplica à sobrelotação, sendo normal os autocarros circularem “mais do que cheios”, ou seja com passageiros pendurados junto às portas. Situação que se agrava em fins-de-semana e feriados, ocasiões aproveitadas para visitar familiares e para peregrinações a locais religiosos.
Contudo dada a eficiente cobertura da rede de autocarros, quer públicos quer privados, e a elevada frequência, donde resulta reduzidos tempos de espera entre transbordos, os autocarros tornam-se numa forma atraente de viajar pelo Sri Lanka.
Em comparação com o comboio, igualmente lento, os autocarros a maioria das vezes não são capazes de oferecer tão interessantes paisagens, em especial nas zonas de montanha, onde o comboio circula por “trilhos” longe das povoações. As estradas nacionais, em especial as que ligam as principais cidades, ou que se desenvolvem em zonas mais densamente povoadas, como Colombo-Kandy e Colombo-Galle, estão longe de oferecerem uma paisagem agradável, com construções ao longo de quase todo o percursos, seja casas, prédios, lojas, armazéns, oficinas, vendedores ambulantes, etc.. que cria uma paisagem desinteressante e visualmente poluída. Para além desta poluição há a juntar os gases de escape dos restantes veículos, maioritariamente autocarros e camiões, aos quais se juntam motas e tuk-tuks. Impossível ficar indiferente ao infernal, constante e perturbador buzinar, que nenhum veículo evita, inclusive o próprio motorista do autocarro, que guia mantendo sempre uma mão na buzina, que está longe de produzir um som discreto, sendo alta e estridente, tornado as viagens de autocarros mais cansativas.
Contudo ficaram paisagens bonitas e viagens memoráveis!





Nenhum autocarro no Sri Lanka tem sistema de cobrança automático, pelo que para além do motorista existe sempre um ajudante, geralmente um rapaz novo, que para além de cobrar os bilhetes apregoa o destino do autocarro, cada vez que este passa por uma paragem ou por um aglomerado de pessoas à beira da estrada.

Os bilhetes podem ter os mais variados aspectos e formatos, alguns com a informação escrita em inglês, outros só em cingalês. O preço é muitas vezes escrito à mão no bilhete em função da distância percorrida… onde os valores são um mistério pois não se encontram afixados. Esta situação leva a que por vezes alguns ajudantes de motorista tentem cobrar mais dinheiro, contudo é uma situação pouco frequente notando-se um elevado grau de honestidade, que não se limite somente às viagens de autocarros mas à população em geral. Os autocarros da companhia estatal SLTB (Sri Lanka Transport Board) têm muitas vezes bilhetes impressos onde consta a origem e destino, assim como a distância e o custo associado à viagem.


Mas seja qual for o valor, o custo é sempre reduzido, contribuindo também para a popularidade dos autocarros, que sendo mais caros que o comboio, têm a vantagem de maior flexibilidade em termos de horários e imbatíveis em termos de frequência.

E não se pode falar de autocarros sem referir a Lanka Ashok Leyland, nome impresso na frente de qualquer veículo, correspondente à empresa que no Sri Lanka fabrica ou procede à montagem de praticamente todos os autocarros, camiões, tratores e tuk–tuks. Sendo todos da mesma fábrica, todos obedecem ao mesmo modelo, somente com pequenas variações de acabamentos, com o conforto a variar em função da antiguidade do veículo. Sabiamente os veículos mais antigos limitam-se aos percursos curtos e zonas urbanas. Para viagens longas, intercidades os autocarros encontram-se em bom estado, sem contudo apresentarem um maior elevado nível de conforto. Seja qual for o tipo percurso, os veículos são sempre de 5 lugares por fila, dois de um lado e três do outro, sobrando um exíguo corredor, onde é difícil os passageiros cruzarem-se em especial se transportam mercadorias. Os assentos são pouco macios e com o encosto demasiado vertical, e sem apoio para a cabeça, o que se torna incómodo em viagens longas.
Talvez como forma de personalizar esta massiva uniformidade, o interior do autocarros é geralmente decorado de acordo com o gosto e orientação religiosa do motorista, com autocolantes, pósteres, grinaldas de flores de plástico, bonecos de peluche, imagens de Buda, flores, a iconografia hindu ou o rosto de Cristo.



O tecto assim como os assentos também são personalizados em cada veículos, forrado com materiais plásticos, por vezes de motivos floridos, outros mais discretos. Seja qual for a opção o interior do veículo está geralmente limpo e em razoável estado de conservação.
Todos, mas TODOS os autocarros têm musica, geralmente num volume excessivo, debitado por um ou vários altifalantes, sempre com música local. Alguns podem até ter um televisor que passa sempre um estilo de musica semelhante.


Estes veículos que se assemelham a volumosos paralelepípedos pintados de vermelho escuro ou de branco e azul só um marco incontornável na paisagem do Sri Lanka, seja nas cidades seja ao longo das estradas nacionais, onde por vezes circulam a velocidade excessiva tendo em conta o numero de peões e de outros veículos que ocupa ou crua as estradas. Contudo são uma forma eficiente e prática de viajar pelo Sri Lanka.





… para quem viaja de autocarro no Sri Lanka:
- Nunca usar a bagageira, está sempre cheia de pó ou de lama, caso chova; mesmo que o motorista insista em colocar a mochila na bagageira, nunca deixar que isso aconteça, insistindo em coloca-la no interior, seja junto ao condutor seja junto à porta da frente, num espaço que não tem assentos.
- Pode-se dizer que é desnecessário perguntar pela duração da viagem, pois a resposta obriga a longa considerações por parte do motorista e resulta quase sempre “3 horas”… que por vezes se revelam em 4 ou mais. O melhor á fazer um cálculo em função da distância (que geralmente os motoristas também não sabem) e considerar uma velocidade média de 35 km/h.
- Para poder apreciar a paisagem a melhor opção é ficar sentado no banco da frente, do lado esquerdo (oposto ao condutor) e junto à janela. Caso se fique do lado do corredor, tem-se o desconforto de levar alguns encontrões com a passagem e das pessoas e bagagem. Ficar sentado à frente, no autocarro, tem outro inconveniente que é o som persistente da buzina, que se fazer sentir mais intensamente; em compensação tem-se mais ar fresco que entra pela porta, que geralmente está sempre aberta.
- A entrada nos autocarros faz-se pela porta de trás, sendo a da frente reservada para a saída dos passageiros. Mas esta regra está longe de ser rígida, sendo por vezes mais fácil entrar pela porta da frente, para pedir informações directamente ao motorista sobre o local de paragem e destino do autocarro.
- Os veículos pintados de vermelho-escuro pertencem à companhia pública, a SLTB. Os veículos das companhias privadas são geralmente brancos com algumas faixas em azul.
- Não existem “sleeping buses” no Sri Lanka.

