Para um vegetariano qualquer refeição nos estados indianos do Nordeste (Northeast States) reveste-se de uma tremenda desilusão, capaz mesmo de tirar o apetite. Com excepção do estado de Assam, cuja população é maioritariamente hindu, o consumo de carne é uma presença constante nos estados de Nagaland e de Meghalaya, onde domina o cristianismo.
Por isso este texto é somente uma pálida amostra da gastronomia destes três estados, mas serve de guia a quem opta por não comer carne nem peixe e ande em viagem por estes remotos lugares.
Nos estados de Nagaland e de Meghalaya nota-se uma clara influência da cozinha asiática, surgindo frequentemente os noodles e o chow ming, ao passo que em Assam é clara a influência da cozinha indiana, mais concretamente do região do Punjab, mas onde os mais de 2300 quilómetros fizeram esbater a intensidade dos sabores e reduziram a variedade de ingredientes.
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Assam e as parathas
Em Assam é possível e até fácil de encontrar nas grandes cidades os clássicos da cozinha indiana, como o dal e os vários caris de legumes e leguminosas, como o grão, ervilhas, couve-flor, batata, etc… sendo muito fácil encontrar chamussas (samosas) e puris. Sendo um estado atravessado pelo gigantesco Rio Brahmaputra, que alaga as planícies por onde passa, faz com que o arroz seja indispensável em qualquer refeição em Assam.
O que sobressaiu em Assam foram as paratas (ou parathas) que apesar de não serem um exclusivo local apresentam-se aqui diferentes: são mais espessas e mais oleosas, de aspecto pálido e pouco tostado, resultando numa massa compacta e mal cozida. As parathas podem ser recheadas com batata, ou mais frequentemente simples, servindo de acompanhamento a caris simples, geralmente de batata e ervilhas-amarelas, encontrando-se frequentemente em bancas de rua, sendo a mais popular street-food em Assam.
O thali, uma refeição à base de arroz, dal (sopa de lentilhas) e caril de legumes, em Assam mostrou-se diferente, com um dal muito líquido, um caril com pouco gosto e por cima do arroz um pedaço de couve cozida… assim, mesmo, só cozida sem tempero. Enche a barriga mas não deixa saudades.
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Nagaland e os puris
Se em Assam a gastronomia se mostrou sem inspiração, em Nagaland cada refeição foi um desafio para um vegetariano em viagem. Em zona de montanhas domina a carne, que se vê à venda em todas as povoações, e que ocupa grande parte dos mercados das cidades de Nagaland.
Nas pequenas povoações, encontra-se à entrada uma zona onde se concentram animais esperando para ser abatidos, enquanto ao lado são expostas as peças de carne já desmanchada e pronta para vender, a quem passa na estrada seja a quem chega de mota ou de carro, ou quem sai de um autocarro que faz uma paragem para recolha de passageiros. Nas cidades, o abate de animais encontra-se nos mercados, onde aves esperam em gaiolas para serem vendidas e abatidas. Pelo ar espalha-se um cheiro a dejetos e a sangue, que deixa pequenas poças no chão à medida que a água da chuva se vai infiltrando pelo chão do mercado.
Nas cidade de Nagaland é possível encontrar algumas opções vegetarianos, como o chamado rice, um prato à base de arroz, dal e vegetais, ou uns noodles, em sopa ou salteados. Mas nas povoações mais pequenas como Mon ou nas outras sem nome que serviram de paragem a uma longa viagem de autocarro, as opções são poucas, para além de arroz e algum legumes cozidos, cujo sabor é dado pelos gordurosas e pesados guisados de carne.
Uma opção presente um pouco por todo o lado são os puris, um pedaço de pão espalmado, frito em óleo e acompanha um caril de batata e ervilhas-amarelas, servidas numa pequena taça. Os puris são excessivamente oleosos, aqui mais do que o normal, ensopando o papel de jornal onde são servidos, e o caril é picante mas pouco espesso. Resulta numa refeição altamente calórica mas pouco nutritiva, contudo é bastante popular entre a população local, tendo servido várias vezes de refeição nos dias que passei em Mon, Kohima e Mokochung.
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Meghalaya e as influência da Ásia
Apesar de proximidade com o Bangladesh, o estado de Meghalaya apresenta forte influência da cozinha asiática com os noodles servidos tanto em sopas como salteados. Do Tibete vieram os momos, um pequeno pastel recheado de carne ou de vegetais. Shillong, a capital deste estado é bastante moderna e cosmopolita e por isso é fácil encontrar restaurantes das cadeias internacionais de fast-food, mas pelo elevado número de turistas indianos, existe uma grande oferta de restaurantes com os clássicos pratos indianos.
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Um pequeno-almoço no Nordeste da Índia
Como é uma zona com pouco turismo internacional, são pouco frequentes os locais que servem o chamado “pequeno-almoço continental” nem tão pouco se encontram cafés, padarias ou pastelarias.
Mas o pequeno-almoço não constitui um problema, pois as opções locais revelam-se quase sempre uma boa escolha, mas no Nordeste da Índia esta opções revelou-se desanimadora.
Em Assam foi uma paratha, servida com caril de batata e acompanhada de uma geleia doce. Em Meghalaya, na vila de Sohra, a única opção disponível sem carne foi um prato de arroz com caril de grão e um molho verde de menta com malagueta… por acaso uma combinação simples mas saborosa. Em Nagaland, numa das viagens de autocarro houve tempo para um chai e uma chamussa. Em Mon, antes de iniciar uma viagem de 8 horas de taxi partilhado, houve oportunidade de provar um pequeno-almoço muito popular entre a população local, massa frita acompanhada de caril de batata… um começo de dia bastante oleoso!
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Doces
Os únicos doces testados nesta viagem pelo Nordeste da Índia foram em Assam, onde se apresentam com diversos formatos, mas todos obedecendo à mesma receita: uma espécie de massa folhada, frita e regada com uma espessa calda de açúcar que depois de fria fica sólida. Desta calda resulta uma côr amarelo-torrado um aspecto brilhante e apelativo, mas de sabor monotonamente doce a açúcar. Pesados em enjoativos!
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Mercados
Os mercados são sempre um local que desperta os sentidos, aguça a curiosidade e estimula a imaginação para tentar identificar os produtos vendidos e a sua utilidade na gastronomia de cada região.
E em termos de mercados Nagaland revelou o maior exotismo, sobressaindo o Mao Market, na cidade de Kohima, onde a exótica e diversificada oferta de produtos alimentares espelha a originalidade da gastronomia deste estado, que inclui carne, peixe seco, enguias, caracóis, larvas, ratos e rãs… e larvas de vespa, vendidas ainda dentro da colmeia.
Quanto aos vegetais, encontra-se nos mercados uma mistura de produtos tropicais, como a flor de bananeira, e os que vêm das montanhas como os cogumelos e o bambu; pelo meio encontra-se uma grande variedade de vegetais, muitos dos quais totalmente desconhecidos dos paladares europeus.
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Em resumo, pode-se considerar que a experiência gastronómica proporcionada na visita aos estados mais a nordeste da Índia não deixaram saudades, tendo ficado na memória uma comida monótona e pouco apetitosa, onde a presença de batata foi presença constante ao longo dos 22 dias de viagem… mas claro que esta é um ponto de vista de um vegetariano que não pode fazer justiça à vasta cozinha de uma região tão extensa.