Deixando para trás o rio Parvati, seguimos para norte ao longo do vale de Kullu, até à cidade de Manali, numa viagem totalmente feita em autocarros publico, com três trasbordos e que demorou umas 4 horas, sempre ao longo do turvo e tumultuoso rio Beas.
Deparámos com uma cidade que vive muito do turismo indiano, que foge das altas temperaturas que nesta altura do ano tornam praticamente toda a Índia num verdadeiro braseiro, com Delhi a atingir os 47 graus.
Aqui o tempo é ameno, mas sujeito aos caprichos da montanha, com o clima a variar abruptamente entre sol e calor, chuva e vento, e sempre com uma descida da temperatura à noite.
Para nos afastarmos do habitual frenesim das cidades, optámos por subir uma das encostas que circunda Manali, em direção à aldeia que deu o nome à moderna cidade: Old Manali.
Ficámos alojados numa guesthouse, a Mountain Dew, situada no caminho que liga as duas povoações e que se encontra repleta de lojas de artesanato, postos de internet, agências de viagens, restaurantes, cafés, alojamentos e tudo o mais que possa ser útil para um turista ocidental. Mais acima, no topo da encosta, encontra-se a aldeia de Old Manali, que contrasta totalmente com todo este cenário, onde se conserva o ambiente rural.
Em Old Manali encontram-se ainda as habitações tradicionais construídas em madeira e pedra, com os telhados feitos com pesadas pedras de xisto, semelhantes às que encontrámos nas aldeias de Parvati, mas com a particularidade destas apresentarem as entradas das casas decoradas com motivos religiosos, como a suástica (que para os hindus representa a roda da vida), pintados rusticamente com os dedos em cores ocre.










Enquanto esperávamos para que a estrada para o vale de Spiti fosse aberta, pois ainda se encontrava cortada pela neve, impedindo a circulação automóvel, os dias foram passados entre visitas à cidade de Manali para saborear a tradicional comida indiana, e uns curtos passeios pelas encostas à volta de Old Manali.
Apesar da guesthouse em que ficámos ter todas as comodidades, como casa de banho privativa com água quente todo o dia (desde que houvesse eletricidade, claro!), internet no quarto, uma varanda com vista para as montanhas, restaurante com boa comida e uma pequena esplanada, ao fim do terceiro dia deparámo-nos com algumas borbulhas na pele aparentemente resultantes de picadas de insectos; reclamámos e ficamos a saber que eram “bed bugs” que em português deve ser qualquer coisa parecida com percevejos. Nunca chegamos a ver nenhum, mas o nome é deveras nojento e foi, de longe, a pior “companhia” que tivemos ao longo desta viagem, onde já partilhamos o quarto com osgas, aranhas “peludas” do tamanho da palma da mão, centopeias, uma família de ratinhos do campo e uma grande variedade de pequenos insectos voadores.
Mudámos de quarto e toda a nossa roupa foi para a lavandaria, o que resolveu o problema; contudo ainda subsistem algumas marcas na nossa pele, ughhhh!
Os dias foram passando calmamente o que nos permitiu ir conhecendo melhor o grupo de rapazes que geriam a guesthouse, todos indianos mas de outras zonas do país, que com idades entre os 20 e os 23 anos estavam à frente deste e de outros negócios em Goa, para onde se mudam no Inverno. Representam um pouco da nova geração que nada têm a ver com a Índia tradicional e mística que é vendida nos folhetos turísticos; estão claramente virados para os negócios, para o dinheiro e tudo o que dele possa oferecer em termos materiais, procuram o estilo de vida ocidental, que transparece nas roupas, tatuagens, estilo de música, fumam, não têm qualquer vínculo religioso e para eles o casamento está fora de questão, pois a vida é para curtir! Boys will be boys…
Para nosso descontentamento, os dias na guesthouse eram “animados” com a seleção musical dos nosso amigos, que ia desde o hip-hop indiano, passando pelo rock, os clássicos da música pop e o trase-psicadélico que era debitado em elevados decibéis de umas insignificantes colunas, que nos obrigavam a procurar outros restaurantes e cafés para descansar os ouvidos!
Para compensar, o Bruno foi-se imiscuindo na cozinha da guesthouse, de onde saiam bons pitéus, e onde foi aprendendo os segredos da confecção de alguns dos pratos que íamos comendo, como por exemplo do “dal makhani”, um prato tradicional no norte da Índia e do Nepal, à base de lentilhas e feijão que é acompanhado de arroz.
Ficámos a saber o “segredo” de ter sempre arroz solto, sem ter que o preparar na hora nem ficar com o aspecto e o sabor requentado… Até agora o arroz preparado pelo nosso amigo foi o mais saboroso que até agora comemos aqui na Índia, pois geralmente é confecionado particamente sem sal, e por vezes servido aos grumos.







