A cidade de Madurai ficou um pouco aquém das espectativas que tinha, criadas com base numa descrição que menciona Madurai com uma das mais antigas cidades da Índia, em que o centro histórico se desenvolve em ruas, dispostas ortogonalmente em torno de um vasto complexo de templos hindus.
De facto assim é, mas como em praticamente todas as cidades indianas, os edifícios que se encontram nesta zona, são modernos, degradados e sem qualquer harmonia arquitectónica, com excepção de um certo respeito pela volumetria, que lhes limita a altura, de certo para não interferir com o panorama geral da cidade, onde se destacam as torres do templo.
Contudo a visita ao templo, logo pelo início da manhã, foi surpreendente e fez esquecer a má impressão deixada pela cidade. Por fora parece somente um alto e robusto muro, que forma um quadrado de onde sobressaem quatro torres, correspondem as quatro entradas no templo, orientadas segundo os pontos cardeais, totalmente cobertas de estátuas com referências a mitologia hindu, e pintadas em garridas cores.
No interior, depois de cruzar nova barreira de muros, encontram-se organizados de forma complexa e intricadas os vários altares dedicados a Shiva e à sua consorte, a deusa Menakshi, uma das formas com que Parvati surge na mitologia hindu; os mais importantes destes locais de culto estão interditos a não-hindus.
A maior parte dos edifícios que constituem este templo foi construída entre os séculos XVI e XVIII, mas existem construções anteriores a este período que foram incorporadas no conjunto.
A visita ao templo está sujeita a rigorosos procedimentos, que obrigam à revista de malas e roupa por forcas de segurança, e que impedem a entrada de máquinas fotográficas. Aproveitei os dias que estive em Madurai e fiz várias visitas ao templo, para tentar captar no papel algo do ambiente que aqui se vive e aproveitando para observar calmamente os ritos, saboreando os sons e os cheiros que impregnam as várias salas que compõem o vasto templo.
O início da manhã é a melhor altura para uma visita, onde o ambiente é mais calmo e ainda se pode sentir o ar fresco e sentir sob os pés a textura polida das pedras graníticas que cobrem o chão, quando ainda não aqueceram sob a passagem dos milhares de peregrinos que diariamente visitam este templo.
O templo fervilha de uma actividade constante, onde pela primeira vez na Índia senti uma verdadeira religiosidade e devoção por parte dos visitantes indianos e dos sacerdotes que auxiliam nas cerimónias do puja. Por todo o interior do templo, mantido numa semiobscuridade, ouvem-se permanentemente os mantras e os cânticos acompanhados pelo som de campainhas, convidando a reflexão.
À saída, aproveitando a tradição do “prasad” de comer algo após a visita e as orações feitas no templo, comi um ladoo, que é um dos doces que se encontra com muita facilidade, tanto no norte como no sul do país. Assim, terminei a visita ao templo, empanturrada com uma bola feita a base de açúcar, envolvido em farinha de grão e ghee (manteiga clarificada) e aromatizada com cardamomo.









Madurai é também conhecida pela produção de têxteis, em especial de algodão, proliferando por toda a cidade lojas de venda de dhotis, lungis, sahees e mais uma grande variedade de panos que são usados com os mais diversos fins, que que acompanham frequentemente os indianos, seja à volta do pescoço para enxugar o suor, para colocarem no chão antes de se sentares ou mesmo deitarem… acho que se pode dizer que os panos estão presentes no estilo de vida tradicional indiano, sendo a peça base do sahree também um longo pedaço de pano, assim como os dhotis e os lungis usados pelos homens no sul da Índia, à volta da cintura.
Numa das deambulações pela cidade encontrei por acaso um loja, onde ainda se vendem panos e toalhas, fiadas e tecidas em teares manuais, que são resquícios de uma filosofia do Gandhi que incentivou a população a produzir localmente e à escala doméstica os seus produtos resultantes do algodão, fazendo proliferar inúmeras manufacturas que escoavam os seus produtos nestas lojas. Uma verdadeira relíquia tanto pelo espaço em si como pela persistência da ideia que resiste à industrialização e ao crescimento económico que a Índia actualmente regista.



Na parte norte do templo encontra-se um outro edifício cujo estilo e arquitetura é muito semelhante à dos templos principais mas que atualmente alberga um mercado onde cada corredor é dedicado a uma específica actividade: venda de livros, artigos de metal, e outra de artigos religiosos. Sobressai o corredor dedicado aos alfaiates, onde inúmeras cubículos se transformam em lojas forradas do chão ao tecto com tecidos de corres garridas, sedas e algodões, cada qual com o seu alfaiate que sentado em frente, costura as encomendas, trabalhando numa penumbra que dificulta a visão mesmo a que quem está de passagem. Trata-se de uma actividade inteiramente masculina, e as poucas mulheres que se encontram nesta zona de alfaiates não executam trabalhos de costura.
Aqui podem-se encomendar peças de roupa que ficam prontas de um dia para o outro, sendo estes alfaiates especialista em fazer cópias de roupa com base em exemplares levados pelos clientes, muitas vezes estrangeiros, sendo somente necessário escolher o tecido e regatear o preço, tarefa que pode levar algum tempo até se conseguir fechar o negócio satisfazendo as duas partes.
(este texto data de Julho de 2013)




Hotel Pearls
95 ,West Perumal Maistry Street
Madurai
+91 99442 32066
www.hotelpearls.com
quarto duplo, com casa de banho: 825 rupias
“a home away from home”… um slogan usado em muitos dos hotéis na Índia… nem sempre correspondendo a realidade… neste caso, apesar de não ter encontrado nenhum ambiente familiar ou acolhedor, deparei-me com um quarto impecavelmente limpo, espaçoso e com boas condições.
