Enquanto olho o mar que reflecte as nuvens cinzentas que cobrem o céu, observo as ondas que lentamente se formam e vêm rebentar junto à chamada costa de Coramandel onde se situa a cidade de Pondicherry, no estado de Tamil Nadu. Nuvens de libelinhas efetuam os seus voos sem aparente ordem ou objectivo enquanto pousadas no cimo dos coqueiros as gralhas insistem no seu grasnar rouco e constante. O calor da tarde gera um torpor que inibe qualquer iniciativa ou movimento.
A viagem desde Thanjavur, feita de autocarro público, transportou-me por extensas planícies, salpicadas de coqueiros, onde pontualmente despontam, como que arrancadas do chão, maciças formações graníticas, cuja cor não difere muito do avermelhado ferroso da terra, cujos campos permanecem despidos e por lavrar, enquanto esperam pela monção. Zonas há em que a água dos rios, que se espalha facilmente pelo terreno plano é suficiente para irrigar o campos de cana-de-açucar, com as suas folhas verdes escuras e brilhantes, e para permitir o cultivo de arroz que se parecem com um macio tapete vegetal.
Todos os percursos que fiz pelo sul desde que saí de Chennai, revelaram uma paisagem predominantemente rural, em que a estrada serpenteia por campos agrícolas, atravessando pequenas povoações, cujas casa construídas maioritariamente em folha de bananeira habilmente entrançada formando paredes e tecto, estáo dispostas à beira da estrada, expondo o quotidiano doméstico à vista de quem passa.
Pondicherry é mais do que uma cidade pois o mesmo nome pode também designar a União Territorial de Pondicherry, considerada como um estado independente e que é constituída por mais três pequenos territórios: Karaika situada a cerda de140 km para sul, ainda junto ao estado de Tamil Nadu, Yanam a 870 quilómetros para norte e Mahé que se situa no estado de Kerala, na costa oeste, ficando afastada mais de 647 quilómetros. Todas estes territórios constituíam colónias francesas que com a independência ficaram agregadas num único estado, mantendo ainda alguma da identidade cultural francesa, que é cultivada pelos locais.
A presença cristã, que praticamente só se nota no sul da Índia, torna-se mais evidente em Pondicherry, onde proliferam igrejas, católicas e protestantes, conventos, escolas e outas instituições de carácter religioso, algumas com fins caritativos, existindo até uma livraria dedicada exclusivamente à religião cristã.
Mas o mais evidente é a presença francesa, que se manifesta pela arquitectura dos edifícios, pelos restaurantes, cafés e esplanadas e também pela forte presença cultural resultante da actividade da Alliance Française, que promove exposições, secções de cinema e outros eventos, paralelemente aos cursos de francês que atraem indianos vindos de várias partes do país.
Aqui também se podem encontrar o Lycée Françaises, frequentado tanto por crianças indianas como francesas, pois aqui reside um significativa comunidade francófona, muitas vezes ligada ao turismo, restauração, lojas de decoração e ao comércio de artigos orientados para o gosto e para os padrões ocidentais.
As ruas da cidade são disposta ortogonalmente, orientadas paralelamente à praia, muitas delas orladas de árvores que proporcionam cor e alguma frescura, sendo frequente penderem dos muros cachos de buganvílias de intenso rosa. De uma forma geral toda a parte considerada como centro histórico, e que corresponde à maior presença francesa, é calma, limpa e organizada, não existindo lixo nas ruas, esgotos a céu aberto, ou vacas a passear. O trânsito é pouco intenso, dominado as bicicletas, os rickshwas, e cada vez mais as motorizadas e os tuk-tuk que aos poucos se vão impondo, sendo contudo um local para descobrir a pé, ou melhor ainda, de bicicleta, para manter o espírito da cidade!
Ao fim da tarde a marginal que se estende ao longo de toda a frente marítima da cidade, é fechada ao trânsito e literalmente ocupada pelos habitantes e pelos turistas, a maioria indianos, que aproveitam o ar fresco proporcionado pela ligeira brisa do mar enquanto convivem e caminham, em grupos de amigos ou em família, debicando amendoins e pistácios, lambuzando os dedos em colorido algodão doce e enchendo a rua de frenética animação. Pela manhã, enquanto a marginal não é aberta ao trânsito, vêm-se muitas pessoas a praticar exercício físico, como correr, caminhar, fazer flexões e alongamentos, o que é verdadeiramente invulgar num país pouco dado à prática desportiva.


















Contrastando com a calma e tranquila Pondicherry francesa, há ainda para descobrir a sua irmã indiana, que se vai manifestando à medida que nos afastamos do mar, com os seus habituais bazares, barulhentos e fervilhando de gente, em especial ao cair do dia, em que se fazem as compras nos mercados que estão aberto desde a manhã, só abrandando o ritmo na altura mais quente do dia. Por oposição à “white town” a parte mais indiana de Pondicherry é discriminatóriamente denominada de “black town”.
A zona onde fiquei alojada a maior parte dos dias que passei em Pondicherry situa-se na parte norte da cidade, numa povoação de pescadores: Vaithikuppan. Aqui voltava-se novamente à Índia, com cães e vacas, crianças a brincar na rua, miúdos a jogar críquete e volei… os altifalantes a debitarem estridentemente os cânticos religiosos logo pela manhã durante a semana em que decorreu um dos muitos festivais que preenchem o calendário hindu; motivo de festa e de grande azáfama, na decoração dos andores que percorrem a povoação com imagens de deuses coberto de ricos panos, seguidos pela fanfarra e iluminados por focos de luz fornecida pelo ruidoso e gerador poluente gerador a diesel que fornece energia elétrica ao cortejo. Enfim… sempre com vida e energia.









A chamada Pondicherry Beach, não é uma verdadeira praia, pois com o avanço do mar nas ultimas décadas foi necessário construir uma barreira de pedra para manter as águas suficientemente afastadas da marginal, não sobrando nenhum acesso de areia ao mar. Para mergulhar na águas é necessário viajar alguns quilómetros, para norte ou para sul, mas mesmo assim não é fácil encontrar uma praia minimamente limpa, tanto pelo lixo e pelos dejectos deixados na praia, como pelos resíduos da pesca que é ainda a principal actividade económica das pequenas populações situadas junto ao mar.

No Café des Artes, na Rue Suffreon situado na parte mais francesa da cidade que ocupa os quarteirões mais próximos do mar, pode-se beber um café expresso acompanhado de um croissant enquanto se ouvem discretamente nos altifalantes a voz de Bob Marley. Sabe bem. Também sabe bem “voltar” a estes ambientes ocidentais e de certa maneira familiares, pois por mais atrativos sejam os locais que visitamos ou o tempo que lá passarmos manter-se-á presente sempre a nossa identidade e cultura. Ao fim de quase cinco meses na Índia sinto-me perfeitamente confortável e à vontade neste país, mas sempre mantive presente que nunca poderei fazer parte desta cultura.
(este texto data de Agosto de 2013)



Park Guest House
1, Goubert Avenue (Beach Road)
Pondicherry – 605001
Phone: +91413 2224644 / 2233644
Email: [email protected]
Quarto duplo com casa de banho: 600 rupias


Coramandel Heritage Hotel
36, Rue Nidarajapayer
email: [email protected]
site: www.hotelcoramandal.com
Quarto individual com casa de banho: 800 rupias

