Depois de cerca de sete meses passados entre a Índia e o Nepal, que apesar das diferenças sociais e culturais, apresentam bastantes pontos em comum, a chegada à Thailândia, tendo como porta de entrada a cidade de Bangkok, revelou-se uma mudança abrupta de cenário. Da poeirenta e desregrada Kathmandu, o avião transportou-me em três horas e meia para a brilhante Bangkok com as suas grandes avenidas, de trânsito organizado respeitando as faixas de rodagem e circulando ao ritmo dos semáforos, a linha do horizonte a ser recortada por prédios com dezenas de andares, as lojas e restaurantes oferecendo uma variedade infindável de produtos, paragens de autocarro, linhas de metro, ar-condicionado… enfim: um salto para um país de abundância, organizado e desenvolvido.
Para trás ficou o acolhimento nepalês, com a simpatia expressa em largos sorrisos, em calorosos olhares e mesmo quando a língua se apresentava como barreira intransponível, havia sempre alguma disponibilidade e satisfação em ajudar; uma afabilidade que ainda não encontrei nos tailandeses, provavelmente por estar na capital, que como todas as grandes cidades sofre com o ritmo acelerado e onde pouco tempo há a perder.
Aqui a língua acrescentou mais uma dificuldade, não sendo fácil encontrar pelas ruas da cidade quem fale suficientemente inglês para dar explicações sobre uma direção, nem tão pouco que consiga compreender as minhas tentativas para pronunciar palavras em tailandês.
Os dias foram passando e aos poucos a estranheza foi-se esbatendo, à medida que fui explorando a cidade, inicialmente com o pretexto de visitar templos e palácios situados na zona mais central cidade, onde dominam as largas e extensas avenidas mas onde um olhar mais atento revela pequenas ruas que se prolongam labirinticamente por entre casas pequenas e modestas, levando-nos para um quotidiano domesticamente pacato onde os gatos são presença constante, e que inesperadamente desembocam em ruas movimentadas.
Bangkok é atravessado pelo Rio Chao Phraya, com as suas águas turvas e acastanhadas, e que é a melhor forma de percorrer grandes distâncias, utilizando o rápido e eficiente serviço dos ferrys que fazem o percurso ao longo do rio. Depois de muito andar pela cidade e de frequentemente estar no caminho errado, este tornou-se o meio de transporte de eleição, que para além de ser de fácil orientação, pois todos os cais de embarque estão identificados por um numero, permite saborear a brisa fresca proporcionada pela deslocação do barco que é um lenitivo à humidade morna que envolve o ar ao mesmo tempo que se pode apreciar a cidade vista de outra perspectiva.
Ao longo das ruas, nas esquinas, em pequenos becos, no acesso aos cais de embarque dos ferrys, em mercados improvisados que ocupam ruas inteiras… surgem locais onde comer; nem sempre se podem chamar restaurantes, pois muitas vezes são locais improvisados que durante a maior parte do dia não se vêm e que surgem rapidamente, mesas, bancos, cozinha, fogão, e prontamente confecionam apetitosos pratos, enchendo as ruas dos vapores da comida, sobressaindo o aroma fresco do gengibre.
Para além disso, é frequente encontrarem-se vendedores ambulantes de comida, oferecendo fruta, sumos, doces, fritos, carne grelhada e uma infindável variedade de comida que nem sempre é fácil de identificar, mas onde predomina a carne e o marisco, sendo a opção vegetariana mais difícil de satisfazer.
O bairro de Chinatown demarca-se do resto da cidade com as lojas apinhadas de artigos importados da china, dedicados essencialmente ao comércio por grosso, e onde se pode encontrar quase tudo. Vive-se uma fervilhante azáfama com o fluxo dos visitantes a ser constantemente interrompido pelo transporte de mercadorias, embaladas em grandes caixas de cartão, que se encontram por todo o lado, tornando a vista às ruas mais estreitas num percurso árduo e extenuante.
No norte da cidade, onde se pode chegar ao fim de cerca de meia hora de metropolitano, encontra-se o Mercado de Chatuchak que se realiza todos os fins de semana; não se trata dos tradicionais mercados de comida, mas onde se encontra de tudo um pouco, sobressaindo as pequenas galerias de arte e as lojas com roupa e acessórios de criadores independentes, sendo visitado sobretudo por tailandeses, mas atraindo também muitos turistas que aqui podem encontrar também artigos de artesanato local. O mercado estende-se num intricado e estreito conjunto de ruas ao longo das quais se dispõem os vários stand de venda, ocupando uma vasta área, que pode levar todo o dia a visitar.
A rua Khao San e a zona envolvente, é o local de eleição para o turismo low-budget, em especial os backpackers, e onde toda a rua está orientada para as necessidade do visitante ocidental, com restaurantes, Mac Donald’s e Sub Way, supermercados, hotéis, agências de viagens, lojas de câmbio, muitos vendedores ambulantes de roupa, comida…. onde se pode tirar fotografias com uma iguana ao ombro, sonde e pode fazer um cartão falsificado de estudante ou de uma qualquer organização, ou mesmo forjar um diploma na hora, onde se pode comprar livremente viagra e valium e outras drogas menos legais, comer escorpiões fritos, fazer uma tattoo ou um piercing, nas dezenas de lojas e estúdios espalhados pela zona, enquanto no intervalo se pode descansar a beber um balde de um litro de cerveja servido por raparigas tailandesas em escassas roupagens.
Este é o ambiente de Khao San, popular entre turistas mas também atração para a população local, onde ao longo do dia a rua se vai enchendo para à noite exibir todo o seu esplendor, com corpos cobertos com pouca roupa, mostrando tatuagens e músculos, e intensos bronzeados trazidos das praias do sul do país… um choque para quem veio de meses de ambiente pudico e recatado do subcontinente indo-indiano.
Ao mesmo tempo Bangkok é uma cidade de templo e de monges, com inúmeras manifestações de devoção, onde a entrada em templos e palácios implica algum decoro na indumentária, com ombros e pernas cobertas.



















