Kathmandu faz parte do imaginário do oriente, soando a paragens exóticas e remotas… mas hoje em dia muita coisa mudou, parecendo ao mesmo tempo que outras ficaram suspensas no tempo. É moderna e cosmopolita e mantendo-se medieval e cheia de tradições. Congestionada e poluída. Superlotada e caótica mas onde sempre se encontra um local calmo e intimista. Uma cidade de contrastes que tem sobrevivido ao crescimento sabendo manter vivas as tradições que fazem de Kathmandu um local único, de onde emana uma energia contagiante.
À primeira vista, Kathmandu pode não apresentar muitos atractivos com o seu ambiente poluído, o trânsito intenso e as persistentes buzinas, fazendo com que pouca gente se demore, não ficando mais do que o tempo suficiente para esperar pelo próximo avião… mas a quem dedica um olhar mais atento e um percurso pelas zonas mais antigas da cidade, Kathmandu tem muito para oferecer.
A Durbar Square, ou Basantapur como é mais conhecida entre os locais, é sem duvida o “coração” da cidade, dominada pelo palácio real (durbar significa palácio) rodeado de estátuas e de dezenas de templos, que reúnem os diversos estilos de arquitectura religiosa construídos típicos do Nepal. Daqui emanam várias ruas que de praça em praça nos levam para outros bairros e para zonas mais modernas da cidade, ao longo das quais se estendem bazares cuja mercadoria extravasa o espaço da loja, fazendo com que o percurso se torne penoso e lento, com constantes encontrões, obstáculos, motas e richshaws, a tentarem avançar a custo pelo meio da multidão.
As praças, dominadas por templos repletos de religiosidade, transformam-se rapidamente, com o final do dia, em frenéticos mercadores apinhados de gente, onde se vendem todos os tipos de mercadorias, desde roupa, alimentos, comida… sem que isto perturbe as orações e a realização dos puja.
Pelas ruas mais antigas, agitadas e barulhentas, entre as várias lojas e oficinas, surgem passagens, pequenas e baixas que nos levam por corredores escuros para um mundo à parte, calmo e recatado transportando-nos para um ambiente doméstico e intimo, que são o prolongamento das acanhadas casas; no centro destes pátios quais encontra-se quase sempre uma estátua de Buddha ou de alguma divindade hindu, decoradas com flores, e panos vermelhos de grinaldas douradas, símbolo de prosperidade; diante destas imagens são diariamente colocadas oferendas, como arroz, flores, frutos e uma pequena lamparina.
Apesar de já ter terminado a monção, a chuva ainda marca presença em alguns dos dias passados na cidade, surgindo imprevisível e alterando totalmente o clima… fraca mas persistente, mas sempre com a mesma cansativa intensidade durante dias, criando um som constante e monótono que envolve os dias numa melancolia cinzenta. Mas também imprevisivelmente o dia pode nascer ameno e cheio de sol, mas que raramente é suficiente para afastar as nuvens que escondem as montanhas que rodeiam a cidade.
Durante o Dasain, a principal festa religiosa Nepalesa, que se comemora nesta altura do ano, os papagaios de papel dominaram o céu da cidade, manejados por miúdos que habilmente exibiam a sua perícia elevando-os a grande altitude até se aparecerem somente pequenos pontos no azul do céu, não se distinguindo uns dos outros; ocupam praças os terraços dos prédios mais altos. É das imagens mais bonitas que fica da cidade, onde no meio de um aparente caos crianças brincam calmamente de olhos postos no céu.























