Ainda com os raios de sol a aparecerem timidamente por trás da colina que ladeia Pashupatinath, eleva-se o fumos dos incensos queimados no interior do Pashupati Mandir, situado juntos aos ghats que dão acesso ao poluído Rio Bagmati e cujo acesso ao templo é interdito a não hindus.
Pashupatinath, é o local mais sagrados da religião hindu existentes no Nepal, em particular para os seguidores do deus Shiva, sendo o local de eleição para as cerimónias de cremação que se realizam nas margens do rio, que serve também para rituais banhos purificadores.
Apesar de situada a uns escassos cinco quilómetros de Kathmandu, vive-se aqui uma atmosfera sagrada, onde a religiosidade e a devoção são evidentes, vivendo-se com mais intensidade durante as cerimónias fúnebres, acompanhadas do toque seco dos damaru, pequenos tambores com duas faces, e do som estridente dos pratos metálicos.
Atravessando o rio, chega-se a uma pequena elevação por onde se encontram espalhados em pequenos grupos formando um vasto conjunto de templos: o Gorakhnath, encerrando imagens de Shiva ou do lingam, outa forma de o representar. Abrigado pelas gigantescas árvores que cobrem a colina, este é local de eleição para bandos de macacos que há muito se habituaram a conviver com os humanos.
A toda a volta a povoação vive uma harmoniosa rotina, longe da confusa e movimentada avenida que lhe dá acesso, com os seus vendedores de artigos religiosos, intercalados por pequenos restaurantes, onde moradores conversam enquanto comem o pequeno-almoço mergulhando argolas de massa frita no fumegante chai.
Junto aos ghats sagrados, sentados em algum canto, debaixo de uma árvore ou encostados a um templo, encontram-se os shadus: homens considerados sagrados, vindos originalmente da Índia, ascetas, renunciantes da vida e dos bens materiais que deambulam pelo país reunindo-se em locais sagrados como Pashupatinath, sendo essencialmente adoradores de Shiva, e como tal ostentando na testa o simbólico tridente e transportando consigo os colares de sementes de rudraska, consideradas sagradas.
São facilmente reconhecidos de pelas suas longas barbas, cabelo com dreadlocks, muitas vezes longas ao ponto de tocarem os pés, magros, geralmente praticantes de yoga e dedicados à meditação, vivendo em busca da consciência profunda, considerando que o mundo que nos rodeia, não é mais do que uma ilusão, a que chamam maya.
Podem andar despidos, cobertos de cinzas ou envergando panos laranja e amarelos, conforme a divindade que seguem, sendo frequentemente fumadores de charas (haxixe), nos seu tradicionais chilums, cachimbos de forma cilíndrica que se fumam verticalmente, como prática habitual no caminho da espiritualidade.
Despojados de bens materiais, transportam consigo somente o que cabe num pequeno saco que transportam ao ombro: um cobertor onde se sentam e que representa o espaço físico que ocupam neste mundo, alguns panos com que se cobrem e um recipiente metálico com o qual recolhem donativos de comida e dinheiro, vivendo de esmolas e de caridade, dormindo em abrigos improvisados ou em dharamsalas, locais de acolhimento de peregrinos que se encontram espalhados um pouco por toda a Índia e Nepal.
Os sadhus são considerados homens santos, sendo procurados para abençoarem, darem orientações a quem procura fé ou tem duvidas sobre ela, oferecendo palavras sábias, dando conselhos e resoluções para os problemas da vida, recebendo em troca veneração de quem os visita e lhe toca pés em sinal de respeito, dando-lhes oferendas, e mostrando veneração e respeito.
Para algumas pessoas são vistos como vagabundos, preguiçosos, impostores, vendedores de charas ou mesmo criminosos que decidiram seguir este caminho para evitarem as regras da sociedade ou fugirem ao rígido sistema de castas.
Alguns reclamam poderes especiais, como o de se tornarem invisíveis, de morrerem e ressuscitarem, de jejuarem durante meses ou anos.
Pashupatinath é também local de eleição para os babas, cuja palavra significa pai tanto em hindu como em nepalês, que são também considerados homens santos, filósofos religiosos e sábio, sendo muitas vezes visitados para abençoarem alguém ou para darem orientação moral e espiritual, realizando pujas e praticas ancestrais.
Vêm-se muitas vezes a deambular pelas ruas de Kathmandu, a pedir dinheiro ou comida; na Durbar Square, encontram-se muitas vezes vestindo as suas roupas de cor açafrão ou laranja, ostentando na testa elaborados pinturas e abordando os turistas para posarem para as fotografias em troca de dinheiro… estes são os falsos-babas, que nada têm de sagrado e nem sequer são respeitados pelos habitantes locais.
Contudo fronteira entre babas e shadus é bastante ténue sendo este tema um dos mais complexos do mundi espiritual da rica religião hindu.















