Três meses na Tailândia… muitas viagens, muitos quilómetros percorridos num país que pela sua geografia é pouca convidativo a viagens “circulares”, com perto de 5000 quilómetros percorridos em autocarro e pouco mais do que 2000 quilómetros percorridos de comboio, o que dá uma ideia bem precisa da bem mais estruturada e abundante oferta proporcionada pelo transporte rodoviário. A todos estes quilómetros acresce as horas passadas em barcos nas viagens para as ilhas e mais um inúmero conjunto de pequenos percursos efectuados em táxis-colectivos e mini-vans que permitem fazer ligações entre terminais de autocarros, cais, estações de comboios e as principais cidades.
Pode-se dizer que viajar pela Tailândia é bastante fácil, mesmo para quem não queira optar pelos autocarros turísticos, pois todas as principais povoações dispõem de um terminal de autocarros onde facilmente se consegue fazer a ligação para outros destinos.
Todos as viagens feitas neste país, foram efectuadas maioritariamente em transportes públicos, preferencialmente de comboio, mas nem sempre possível devidos à pouca oferta e aos rígidos horários que não são compatíveis com os vários transbordos necessários; como foi por exemplo, para percorrer os mais de 1400 quilómetros que me propus fazer quando saí de Chiang Mai, principal cidade do norte do país e que foi o meu poiso quase permanente durante esta estadia na Tailândia, com destino às praias das ilhas do Mar de Adamão e do Golfo da Tailândia.
As viagens de barco foram também uma boa dose de aventura nas deslocações que fiz às ilhas, obrigando a pelo menos um percurso marítimo, que pode ser de ferry, no caso de ilhas mais turísticas e com maior população; nas ilhas mais isoladas o meio de transporte é geralmente numa embarcação mais modesta, em barcos de madeira, mas que nem sempre podem chegar a terra, pois nem sempre existe um cais de embarque, obrigando a um transbordo para um simples barco de pesca movido a motor que permite transportar os passageiros até ao areal.
De inicio as minhas viagens de comboio começaram por ser em carruagem cama, primeiro em segunda-classe com ar-condicionado, o que se mostrou muito agressivo devido à baixas temperaturas, mais tarde em carruagens somente equipadas com ventoinhas que da mesma forma proporcionam um sono confortável; mas a opção que dominou foi a viagem em terceira classe, atrativa pelo seu baixo custo, sem camas, lençóis ou cortinas, mas onde os desconfortáveis bancos corridos de três lugares, proporcionam razoáveis noites e onde durante o dia se pode apreciar a paisagem pelas janelas abertas que vai arrefecendo o ambiente durante a tarde, quando as ventoinhas se mostram insuficientes.
Percorrendo as diversas carruagens, e atravessando a antiquada carruagem restaurante, é possível chegar ao fim do comboio e pela porta, que tal como as outras, se encontra quase sempre aberta, apreciar o desfilar da paisagem e o ritmo hipnótico das travessas de betão e o aparente ondular dos carris ao ritmo do balanço constante do comboio.
Estas viagens de comboio e autocarro proporcionam um maior contacto com a população tailandesa, que não sendo muito comunicativa, aparentemente pela barreira linguística, sempre dá a conhecer um pouco da sua forma de estar, mostrando respeito pelos outros, não provocando grande agitação à chegada, mantendo-se calma e ordeiramente no seu lugar e que ao abandonar o comboio ou um autocarros ao fim de umas quinze horas de viagem, recolhe quase sempre o lixo que produziu, o que para mim foi um grande contraste com as viagens que fiz pela Índia.
Os autocarros, tanto os da empresa pública como os das companhias privadas, oferecem nas viagens de longo curso um serviço semelhante ao de um avião, tanto para as classes mais baixas como para os lugares VIP: todos equipados com casa de banho, televisão, e respectiva hospedeira, que de inicio distribui garrafas de água e algum snack, como bolachas ou batatas-fritas, e pela manhã um café, uma em embalagem de sumo ou de leite de soja, e antes da chegada um toalhete para higienizar as mãos… um luxo!
As viagens de longo curso, quase sempre feitas durante a noite, com chegada ao destino pela manhã, implicam a paragem em algum terminal de autocarros, que está preparado para receber as centenas de passageiros, com casas-de-banho, mini-mercados e restaurantes, alguns dos quais servem a refeição que se encontra incluída no preço do bilhete, sendo disponibilizada em alguns locais, para além de pratos vegetarianos, refeições halal, destinadas à população muçulmana que é bastante notória no sul do país.
Estes locais surgem no meio da noite, isolados de povoações, longe de qualquer ponto de referencia, iluminados fortemente pelas frias luzes eléctricas que conferem a estes espaços um ambiente artificial parecendo transportar-nos para uma outra realidade.







