Após o processo burocrático nos serviços fronteiriços de Myawaddy, seguisse uma espera de mais de uma hora por um dos muitos veículos particulares, que dada a ausência de transportes públicos nesta povoação funcionam como táxis, e são a única forma de se conseguir alcançar os destinos mais próximos, mas que só iniciam o percurso quando estão cheios.
Após várias tentativas de negociação com diversos motoristas, que com o avançar do dia iam tornando o ar mais quente e a espera mais penosa, agravada pelo pó, barulho e confusão que envolvem o local, conseguisse o razoável valor de 8000 kyats (cerca de 6€) por pessoa; valor um pouco superior aos 5000 kyats pagos pelos birmaneses para efectuar o trajecto de 175 quilómetros que separam Myawaddy de Mawlamyine.
A viagem até Mawlamyine que demorou seis horas foi desgastante e cansativa, onde a somar ao cansaço de uma noite passada no autocarro entre Bangkok e Mae Sot, onde o sono foi diversas vezes interrompido por check-points da policia tailandesa para verificação dos passaportes, houve o intenso calor, o caótico trânsito, a condução agressiva e o mau estado da estrada, cuja faixa de rodagem não tem largura suficiente para o cruzamento de dois veículos, o que obriga muitas vezes a circular a recorrer às bermas pedregosas e poeirentas para efectuar ultrapassagens.
A parte inicial do trajecto atravessa uma cadeia montanhosa, de encostas cobertas de densa floresta tropical, em algumas zonas fortemente delapidada pela acção do homem, ao longo de uma estrada estreita e sinuoso, onde as fortes inclinações dificultavam a circulação dos veículos de mercadorias, cuja avançada idade, mau estado de conservação e excesso de cargo, obrigavam a frequentes paragens para arrefecimentos dos motores ou à saída de um dos ocupantes para colocar calços nas rodas, até o veículo recuperar força para seguir viagem.
Tudo isto fez crescer a fila de veículos que em fila serpenteava a estrada, fazendo com que os carros e carrinhas de transporte de passageiros, nervosamente tentassem todas as oportunidades para, um a um, irem ultrapassando estes obstáculos, com manobras arriscadas e perigosas, bruscas acelerações, abruptas travagens e constantes solavancos.
Deixando para trás a montanha, seguisse uma planície sem fim, onde os campos de arroz se estendem até ao limite do horizonte e onde, a espaços, a monotonia da paisagem é rasgada por formações rochosas, altas e escapadas, coroadas pelas torres douradas dos diversos mosteiros e pagodas.
Ao longo de todo o percurso, houve muitas paragens em check-points, uns com polícias ou exército, mas muitos aparentemente improvisados controlados por civis, que funcionavam como portagem e o que obrigava o motorista a alguma negociação, conseguindo muitas vezes poupar-se a pagar, e chegando a habilmente contornar as cancelas. Todo este ritual repetiu-se mais de uma dezena de vezes, obrigando a fechar as janelas do carro, que com os vidros fumados impediam de ver os passageiros do veículo, onde os três ocupantes ocidentais ocuparam a parte de trás da carrinha, semi-escondidos dos olhares vigilantes, tornando o interior já quente do veículo numa verdadeira fornalha.
A chegada a Mawlamyine, também chamada de Moulmein, que foi capital durante a colonização britânica, durante entre 1827 to 1852, pelo meio da tarde, permitiu ainda um passeio pela marginal que se desenvolve ao longo do Rio Thanlwin que de tão largo se parece com o mar que efectivamente não se encontra muito longe, e de onde sopra uma ligeira mas refrescante brisa.
A cidade apresenta à primeira vista poucos motivos de interesse para além de algumas pagodas resplandecentes de dourado, situadas nos pontos mais elevados, e que proporcionam uma vista geral da cidade que se aninha entre as colinas e o rio, e que ao fim da tarde atraem muita gente, que para além de executar os ritos religiosos, aproveita também para saborear a brisa que aos poucos se vai tornado menos escaldante, criando um ambiente familiar e descontraído onde o riso das crianças compete com o tilintar dos pequenos sinos que decoram o topo da pagoda.
Contudo a proximidade com o rio, a presença de edifícios a lembrarem a evocarem a época colonial, orgulhosos na sua decadência e aparente abandono, e acima de tudo o ambiente calmo e pachorrento proporcionado pela acolhedora população, fazem de Mawlamyine um local capaz de proporcionar uma estadia agradável por uns dias.
Durante a manhã, todo o movimento se concentra em volta dos fervilhantes mercados situados no centro da cidade, muito próximos uns dos outros, onde as ruas circundantes são ocupadas com uma sucessão de lojas de venda de todo o tipo de mercadorias, onde dominam os produtos importados das vizinhas China e Tailândia, e onde surgem pequenas bancas de venda de paan, consumido abundantemente pelo homens e mesmo por bastantes mulheres (uma clara influência indiana), e improvisados postos onde se pode tomar um café ou fazer uma refeição à base de arroz ou noodles, aromaticamente condimentados com caldos de peixe ou legumes.
Mawlamyine, calma e sonolenta, cativou e serviu de introdução a este país que mantem uma forte identidade cultural.




























