Dos muitos festivais que se comemoram ao longo do ano, de acordo com o calendário budista, o Thingyan, também designado por Festival da Água é o que tem maior impacto junto da população, durando oficialmente os quatro dias que antecedem a comemoração da Passagem de Ano.
Apesar das suas origens religiosas, baseadas na versão budista da mitologia hindu, este festival é visto como ocasião para idas aos templos redobrando a devoção e os ritos, visitas a familiares e amigos que esgotam todos os meios de transporte, férias e uma oportunidade para viajar pelo país muitas das vezes rumo a destino religiosos.
Mas essencialmente o Thingyan funciona como divertimento, com a população a ocupar as ruas, seja das grandes cidades, como em pequenas povoações, ou ao longo das estradas, despejando água por quem passa, com tijelas, baldes ou mesmo com mangueiras; motos e veículos de caixa-aberta circulam pelas ruas apinhados de gente, que ao som de música estridente, dá mostras de alegria recebendo e despejando água.
Toda esta água alaga ruas, forma poças e torna impossível caminhar pelas ruas mais do que cinco minutos sem sentir a água a escorrer pelo corpo, ensopando roupas e refrescando o corpo, o que nesta altura do ano, devido às elevadas temperaturas é uma bênção.
Nas povoações, tanto nas pequenas aldeias como nas cidades, são construídos palcos com potentes sistemas de som que ao longo do dia emitem música de forte batida electrónica, em volta dos quais se reúnem, essencialmente rapazes e homens dando largas a exuberantes manifestações de alegria, exacerbadas pelos efeitos do álcool, enquanto despejam água por quem passa. Mas toda esta festa termina com o pôr-do-sol, iniciando-se no dia seguinte, bem cedo, com ainda mais entusiasmo, num crescendo de euforia que funciona um pouco como libertação de regras, com alguma loucura mas sem cair em excessos.
Durante estes dias é costume oferecer-se comida, o chamado satuditha, que tanto pode ser uma refeição como pequenos doces feitos à base de massa de arroz recheados de açúcar de palma, o que reúne pessoas nas ruas para a sua confecção e que vão sendo distribuídos a quem passa, entre muitos sorrisos e palavra calorosas.
No dia seguinte à passagem do ano, é tempo de rumar aos templos para orações matinais que incluem oferendas de água e incensos, onde se reúnem famílias e grupos de amigos, criando no espaço tradicionalmente sóbrio dos templos um ambiente de festa, com pic-nics, vendedores de comida, onde crianças emitem sonoras gargalhadas enquanto correm pelos templos, jovens casais namoram e enquanto grande parte das pessoas se entrega ao torpor provocado pela elevada temperatura e que aos poucos invade o corpo, convidando ao sono.


















