É dia de deixar a quietude de Majuli e as planícies de Assam para rumar à montanhosa e exigente Nagaland. Com o nascer do sol foi tempo para sair da cama e preparar a partida da ilha de Majuli, com os campos ainda envoltos numa fina neblina. O primeiro ferryboat a deixar a ilha parte às 7 da manhã, mas para lá chegar é preciso esperar à beira da estrada por um dos apinhados autocarros que se dirigem ao improvisado cais, que se vê obrigado a mudar de localização ao sabor das subidas e descidas das águas do rio Brahmaputra.
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A viagem de barco é tranquila e a paisagem monótona convida ao sono, mas assim que desembarcamos em Nimati Gaht, espera-nos o alvoroço provocado pelos condutores de tempos, que apressadamente tentam colocar o maior numero de passageiros no seu veículo, sempre em numero do que o espaço disponível.
A viagem até Jorhat não demora mais do que meia hora mas é desconfortável o suficiente para ansiar-mos pela chegada à cidade, onde somos “despejados” numa rua onde se alinham táxis e rickshaws, e onde cada condutor nos tenta levar para um qualquer lado. Nesta situações, onde não sabemos onde estamos nem tão pouco a direcção para onde ir, o melhor é caminhar um pouco para longe deste calos e procurar informações fidedignas. Assim, foi o momento para encontrar algo para comer, mas onde não foi possível fugir novamente a monótona paratha com o habitual caril de ervilhas-amarelas e batatas. Para informações, em locais onde o inglês não é “língua franca” o melhor é tentar encontrar uma farmácia, cujos proprietários são geralmente detentores de um razoável inglês.
Com orientações precisas sobre o rumo a tomar, foi tempo de iniciar mais um sucessão de autocarros e muitos transbordos… de Jorhart para Sivasagar, de Sivasagar para Sonari, de Sonari finalmente para Mon.
Como nem tudo segue a lógica a que estamos habituados, nem sempre os autocarros nos deixam nos terminais, mas sim num local qualquer da estrada nacional, deixando-nos à mercê dos motoristas de shared-taxis que avidamente esperam estes desorientados passageiros. Mas sempre, em todos as etapas deste longo percurso houve alguém que se mostrou disponível para ajudar, ou dando indicações ou partilhando parte do percurso, com a comunicação a ser feita por palavras básica ou recorrendo a gestos.
Apesar do desconforto dos autocarros, dos muitos transbordos, das longas viagens, o percurso desde Majuli estava a ser bastante fluido, com boa articulação entre transportes e curtas esperas entre autocarros, o que me encorajou a seguir no mesmo dia directamente para Mon, poupando passar uma noite na desinteressante e poeirenta cidade de Sonari.
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Nagaland tem fama de ser perigosa, em especial Mon… talvez por terem durado até à pouco tempo guerras tribais, talvez pela proximidade de Birmânia e da rota do ópio, ou mais provavelmente pelo isolamento e esquecimento a que está votada esta região, onde escasseiam infraestruturas básicas e reina um certo subdesenvolvimento. Por isso recebi muitas vezes avisos de não viajar sozinha em Nagaland, e especialmente nunca andar de noite nas ruas.
Tornou-se assim urgente chegar o mais cedo possível a Mon, numa zona do país onde o sol desaparece antes das 5 da tarde. O único sumo que estava parado em Sonari estava já cheio e não havia qualquer garantia se haver mais algum destes veículos nesse dia. Tendo vislumbrado algum espaço no banco de trás do Jeep, consegui explicar por gesto que ainda havia espaço para mais um, e o simpático motorista lá procedeu à reorganização da mercadoria para eu poder caber no exíguo espaço disponibilizados pelos restantes passageiros, que não falando inglês não se pouparam a sorrisos.
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É fácil saber quando saímos de Assam e entramos em Nagaland: Assam é plana… assim que começam as montanhas estamos em Nagaland!
A estrada que sai de Sonari, apesar de asfaltada está em péssimas condições, mas segue plana por entre plantações de chá. Nagaland começa na povoação de Tizit, e daqui para a frente sempre a subir a montanha, por uma estrada de terra batida, onde Jeep e camiões avançam com dificuldade, vencendo lombas, evitando buracos, e cruzando linhas de água que atravessam a estrada. Uma estrada aberta nas encostas da montanha, onde raramente se vêm povoações, mas onde o impacto da presença humana é evidente pela intensa desflorestação que deixa o pobre solo expostos à erosão, roubado a vida a esta montanha que de verde passa a castanha.
Como estamos perto da fronteira com a Birmânia é evidente que entrámos numa zona sensível do território Indiana, por estar-mos na rota do ópio e pelas lutas étnicas e tribais que mantiveram esta zona em guerra até à pouco mais de 10 anos. Pelo caminho somos parados diversas vezes, em check-points, por polícia e exército, e até por civis, que efectuam toscas inspeções aos veículos, à mercadoria e à documentação dos passageiros, onde os estrangeiros são sujeitos a mais burocracia.
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A chegada a Mon foi um pouco sinistra, ainda para mais depois dos avisos de esta ser uma zona “perigosa”, de perigos nunca revelados nem especificados, mas que deixam uma sombra de preocupação no ar.
O optimismo e entusiasmo que caracterizou esta viagem desde as planícies da ilha de Majuli, esmoreceu à chegada a Mon… talvez pelo cansaço, talvez pelo chuvoso clima… mas provavelmente por aqui se sentir uma energia pesada. Mas a hora tardia e o dia chuvoso não deixou ver mais do que um aglomerado de casas que se espalha pelas encostas das colinas, onde o tom cinzento do céu se mistura com a ferrugem dos telhados de chapa metálica.
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Autorizações (permits):
Não é necessária qualquer autorização para entrar e viajar no estado de Nagaland. Contudo é necessário entregar uma cópia do passaporte num dos check–point existentes pelo caminho, em Tizit. Caso não se tenha uma cópia é possível fazer uma fotocópia numa das lojas em frente, por 5 rupias.
Não é necessária qualquer autorização para entrar e viajar no estado de Nagaland. Contudo é necessário entregar uma cópia do passaporte num dos check–point existentes pelo caminho, em Tizit. Caso não se tenha uma cópia é possível fazer uma fotocópia numa das lojas em frente, por 5 rupias.
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Como ir de Majuli para Mon:
E uma viagem longa e exigente, mas que com sorte é possível de ser feita num único dia, poupando uma noite na desinteressante cidade de Sonari. Mas caso seja necessário Sonari dispõem de alojamento. Uma outra alternativa é ficar em Sivasagar um dia, aproveitando para visitar os famosos templos e iniciar a segunda etapa do percurso no dia seguinte.
- A viagem começa pelas 6.30h da manhã para se apanhar o primeiro ferry que sai de Majuli às 7 am.
- Depois é seguir num dos tempos (pequenos táxis partilhados que levam mais de 8 passageiros muito apertados) que fazem a ligação até Jorhat. Todos terminam numa transversal à estrada principal de Jorhat, junto a uma bomba de gasolina. Em frente à bomba de gasolina estão tempos ou tuk-tuk (também partilhados) que seguem até ao Jorhat Bus Terminal, situado à entrada da cidade.
- No terminal é necessário perguntar por autocarros que vão para Sonari ou caso não haja serviços directos para a cidade de Sivasagar. Fora do terminal, param autocarros de empresas privadas com destino a Dibrugarh, e que passam em Sivasagar. Esta foi a opção para não ter que esperar por um dos autocarros da ASTC (empresa pública) mas tem a desvantagem de pararem em todos os locais para recolher passageiros… mas mesmo assim são mais rápidos.
- De Sivasagar é necessário apanhar outro autocarro para Sonari, que parte do Bus Terminal. Como são cidades próximas serviço é regular e funciona como local bus, onde se pode comprar o bilhete no interior do veículo, mas onde não se assegura lugar sentado.
- Em Sonari, o bus termina na rua principal, sendo necessário apanhar um tempo para o local de onde partem os sumos para Mon, que fica numa rua secundária, paralela à estrada principal. Não há qualquer indicação sobre destino ou horários dos sumos… quanto mais tarde se chega menores são as hipótese de se encontrar um sumo para Mon. Caso seja necessário, neste local existem quartos e é possível fazer uma refeição à base de arroz e caril (50 rupias) enquanto se espera.
- A viagem de sumo até Mon é longa e penosa, com a primeira parte de pavimento degradado mas numa zona plana, mas que depois de se passar a fronteira com o estado de Nagaland, assinalado por um check-point da Polícia/Exército em Tizit, prioram as condições da estrada, passando a ser em terra-batida, em muito mau estado, num sinuoso percurso de montanha. Ao longo do percurso fazem-se várias paragens para deixar mercadoria e passageiros, mas não existe nenhuma povoação. Somente a meio do caminho encontram-se uma sequência de bancas vendendo fruta e legumes, e onde se pode comprar água.
- A viagem de Sonari até Mon demora cerca de 3 horas, dependendo do numero de paragens, de obstáculos na estrada, e dos vários check-points que obrigam por vezes os passageiros a sair do Jeep.
- A chegada a Mon faz-se quase ao fim do dia, antes das 5 horas da tarde.
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Resumo
Bus até Kamalabari Ghat: 15 rupias (15 minutos)
Ferry de Kamalabari Ghat (Majuli) para Nimati Gaht: 20 rupias (1.15h)
tempo de Nimati Gaht para Jorhat: 30 rupias (30 minutos)
tempo de Jorhat (petrol station) para Jorhart Bus terminal: 10 rupias (10 minutos)
bus de Jorhat para Shivasagar: 50 rupias (2 horas)
tempo Shivasagar para bus stand: 20 rupias (5 minutos)
Bus de Shivasagar para Sonali: 30 rupias (2 horas)
tempo de Sonali para a sumo stand (para Mon): 10 rupias (10 minutos)
sumo de Sonali para Mon: 200 rupias (3 horas)… para 65 km!!!
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