Restaurantes de estrada
Nas muitas e longas viagens de autocarro, uma presença constante foram os restaurantes de estrada, poiso frequente de camionistas e de autocarros de longo curso, mesmo os das empresas públicas, efectuam diversas paragens para as refeições, as imperativas idas à casa de banho e muitas vezes para dormir umas horas antes de prosseguir viagem. São geralmente sujos, escuros e mal iluminados; a comida, que poucas vezes experimentei, era de fraca qualidade e de aspecto pouco convidativo, mas são locais sempre prontos a servir uma refeição a qualquer hora.
De noite é quando apresentam o aspecto mais sórdido, mas mesmo assim são pontos de luz na escuridão compacta, afastados de qualquer povoação ou local com vida, que servem de refúgio a quem efectua viagens noturnas, mas que ao mesmo tempo nos fazem sentir abandonados num imenso espaço vazio, até que de novo o motor volte a trabalhar e o autocarro nos leve para longe.
Viajar sozinha na Índia:
Não chega uma boa companhia para nos sentirmos bem, nem tão pouco o facto de estarmos sós nos tem que fazer sentir mal.
A constante actividade e a vida agitada que levamos ajuda-nos a esconder e a camuflar alguns sentimentos: leva-nos para o futuro ou por vezes remete-nos para o passado, mas definitivamente esquecendo-nos do presente. O facto de passar mais tempo sozinha obriga-me a olhar mais para mim, para as minha reações e para os meus medos. E mais tempo para apreciar o presente. Observar. Estar simplesmente. Reservar algum tempo para não fazer nada. Coisa que nos nosso dias não é cultivada e é vista como preguiça.
Como mulher recebo as atenções e os cuidados que de outra forma não teria; sou vista como fenómeno estranho, pois andar sozinho na Índia é coisa pouco frequente muito menos para uma mulher, especialmente num país em que a maior parte das viagens se fazem em família, em peregrinações a locais sagrados ou para visitar outros familiares. É mais fácil ser abordada por uma mulher do que se tivesse acompanhada por um homem; mostram-se espantadas mas ao mesmo tempo parecem que me admiram pela audácia e pela liberdade que represento, no seu mundo dominado pela presença masculina. Convidam-me por meio de gesto para me sentar junto delas, e ficam a observar-me detalhadamente, sorrindo e fazendo perguntas numa língua que eu não entendo…
Nem sempre é fácil… o peso da mochila é maior, e dado o volume nem é sempre possível levá-la para todo o lado… há que confiar em alguém para ficar a tomar conta, enquanto vou, por exemplo, à casa de banho, quando alguém a iça para o tejadilho de um autocarro e a perco de vista… é confiar! E confiar também na intuição, seguindo o instinto e deixando para trás medos e desconfianças
Viajar sozinha deu-me força e confiança, mas para isto contribuiu muito o facto de já conhecer o país, o funcionamento do seu quotidiano, as burocracias, as regras, os preços, a comida…
Perde-se um pouco a satisfação que é a partilha das experiências mas ganha-se uma imensa liberdade!