Os primeiros dias da minha estadia em Pondicherry foram atribulados enquanto não arranjei um sitio para ficar alojada nas três semanas que planeava ficar pela cidade. Depois de uma curta estadia no hotel Park Guest House, onde tinha uma varanda com uma agradável vista para o mar, e de uns dias no Coramandal Heritage, percorri muitas das ruas da cidade em busca de um quarto a preço razoável e com o mínimo de condições, mas todas as tentativas se revelaram sem sucesso, pois a cidade ia encher-se para as comemorações do dia da independência e em especial do aniversário do Sri Aurobindo, uma personalidade incontornável na vida da cidade, ambos no dia 15 de Agosto. Restava-me desembolsar um valor mais elevado do que tenho estado a pagar para ficar num dos anónimos e impessoais hotéis espalhados na zona mais confusa e afastada do centro, o que estava a revelar num cenário desamimado.
Por mero acaso, na sequência de uma longa conversa com o senhor que me alugou a bicicleta nos primeiros dias, em que fui começado a conhecer um pouco da filosofia e dos ensinamentos do Sri Aurobindo, sugeriu-me que procurasse a Mothers House onde de certo arranjaria um quarto para ficar pois é pouco conhecida. E assim encontrei um poiso definitivo, que tinha um quarto, com casa de banho, e varanda com vista para o mar, disponível exatamente para os dias que eu planeava passar em Pondicherry, por 300 rupias, cerca de quatro euros por dia.
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E tudo na vida é assim: umas vezes flui e tudo se conjuga de forma harmoniosa de acordo com a nossa vontade e com os nossos desejos e outras parece exactamente o contrario, e por mais que nos esforcemos para que as coisas resultem bem e de acordo com os nossos planos, mais energia negativa se gera criando frustração e ansiedade.
É aprender a aceitar as coisas como elas são, sem criar grandes espectativas, tentando observar de longe o quotidiano e os nosso próprios actos, de forma a não nos envolvermos demais em conjecturas , especulações e pensamentos que nada nos trazem de positivo. De uma forma geral, os acontecimentos vão-se sucedendo de uma forma natural, independentemente dos nosso quase sempre insignificantes esforços para a controlar-mos o que chamamos “a nossa vida”. A Índia com a sua energia própria faz com que estes acontecimentos e reviravoltas, tanto positivas como negativas ao longo do dia a dia, se tornem mais intensas, mas ao mesmo tempo ensina-nos um pouco como lidar com as mudanças no fluir das energias, que criamos, transmitimos e recebemos. Basta estarmos sintonizados na frequência certa.
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A Mothers House, fica situada na povoação de Vaithikuppan, um bairro de pescadores, imediatamente a norte do centro histórico da cidade, mas a uma distância razoável para ser percorrida a pé, se bem que eu tenho optado sempre por andar de bicicleta. A casa gerido por uma alemã rendida à filosofia espiritual da “The Mother”, é de uma extrema limpeza e organização, com inúmeras regras a respeitar e pequenos avisos espalhados por todo o lado que relembram o que se deve e e não deve fazer. A juntar a isto vêm-se fotografias do Aurobindo e da “The Mother”, quadros com pequenos textos e frases manuscritas por eles, pinturas…
Muitos dos quartos têm vista para o mar, que não fica a mais de 100 metros. Aqui para além de uma sala de estar e de refeições, virada para um pequeno e cuidado jardim, com lagos artificiais, existe uma pequena biblioteca, sala com computador, sala de meditação, cozinha, terraço, parque para as bicicletas… enfim… tudo o indispensável para se ficar aqui a viver. Efetivamente existem pessoas a viver aqui permanentemente.
Com a chegada à Mothers House voltei a ter acesso às regalias oferecidas a quem está alojado no ashram: senhas para acesso à cantina onde se podem fazer as três refeições diárias por 20 rupias (cerca de 0.25 euros), alugar de bicicleta (30 rupias), e acesso às seções colectivas de meditação, à biblioteca e a outros espaços pertencentes à organização.
Claro que tudo isto obriga ao cumprimento de muitas e rígidas regras, onde é proibido, fumar, consumir bebidas alcoólicas, ouvir música e fazer barulho e ter que recolher à guest house antes das 10h da noite, altura em que é encerrado o portão que só volta a ser aberto no início da manhã seguinte.
Na cantina deve ser mantido o silêncio durante as refeições, sendo os infractores de imediato advertidos, como já me aconteceu, não ficar mais tempo do que o necessário para comer, levantar os prato e entregá-los na zona da lavagem tendo previamente deitado fora os resto de comida, deixar as mesas limpas, respeitar os sentido de circulação dentro do espaço para que ninguém se atrapalhe… enfim uma infinidade de regras, mas que efetivamente funcionam e permitem em pouco tempo servir uma grande quantidade de refeições, que chegam a atingir as 7 mil por dia, aquando do aniversário do Sri Aurobindo, a 15 de Agosto.
Mas o que e realmente foi mais difícil de cumprir e o rígido horário a que são servidas as refeições:
Pequeno-almoço: 6.40 as 7.30
Almoço: 11.15 as 12.15
E o jantar: 20.00 as 20.30
O horário é cumprido rigorosamente… nem parece a Índia. E tudo está impecavelmente limpo! A comida é muito simples e pouco variada, tendo sido concebida pela “the Mother” e segundo dizem tem tudo o que precisamos para sermos saudáveis… segundo os conceitos alimentares dos anos 70, talvez! A todas as refeições é servido, leite ou em alternativa iogurte, pão e bananas, sempre bananas. Ao almoço e jantar é servido arroz, muito arroz, com um caldo de legumes variados e por vezes com algumas leguminosas, como as lentilhas e o grão. À primeira refeição do dia é acrescentada ao pão, bananas e leite, uma espécie de papa adocicada à base de bulgur, muito boa e servida morna, que muitas vezes serve também de sobremesa ao jantar. Esporadicamente surge panner, uma espécie de queijo, ou um pudim com frutas… muitos lacticínios e muito açúcar…. para compensar a comida é pouco picante, pouco salgada e pouco condimentada!
Claro que nos intervalos delício-me com chamussas, croisantes e lassis!!!!
Mothers House
28, Patchaivazhaiamman Koil Street
Vaithikuppan
Pundicherry
(0431 222 0337)