Pela “estrada” fora… de Bago até Yangon… de Yangon até Nyaung-U (Bagan)
A primeira experiência em termos de viagens ferroviária na Birmânia foi agradável apesar de ter sido feita em carruagem de terceira classe, com bancos de madeira e com um número de passageiros superior aos lugares disponíveis, mas cujo desconforto não causou história devido às escassas três horas de viagem que separam a cidade de Bago de Yangon, a maior cidade do país e que foi capital durante a presença inglesa até 2006, data em que a junta militar que governa o país decidiu criar uma nova cidade: Naypyidaw que passou a ser a capital de Myanmar.
Ajudou a também o animado movimento dos vendedores de comida que constantemente percorrem o comboio, entoando pregões indecifráveis e paisagem de campos de arroz que mesmo nesta época seca se encontram pintados de verde dos rebentos recentemente plantados, privilégio só possível pela proximidade do delta do rio Ayeyarwaddy (Ayarwaddy), que percorre praticamente todo o país de norte a sul.
Já a segunda viagem, entre Yangon e Bagan, mais concretamente até Nyaung-U, a estação ferroviária mais próxima da primeira capital do Reino da Birmânia entre os séculos XI e XIII, famosas pelos seus cerca de 3000 templos budistas, foi longa e penosa, tendo-se arrastado por mais quatro horas para além das doze horas previstas para percorrer os cerca de 630 quilómetros que separam as duas estações.
Dada a época de festas que dura mais de cinco dias, onde se junta ao Festival Thingyan as celebrações da passagem do ano, todos os autocarros se encontram há muito esgotados apresentando-se o comboio como única alternativa para viajar nesta altura do ano. De optimismo estampado no rosto e de mochila às costas, a realidade revelou-se frustrante perante o facto de já não haver lugares disponíveis no único comboio que efectua, uma vez por dia este trajecto.
Após muita insistência junto dos funcionários, e abusando um pouco dos estatuto privilegiado que os estrangeiros (talvez resquícios do colonialismo) ainda usufruem neste país, foi possível falar com o chefe da estação, que juntamente com os restantes funcionários presentes se desdobraram em esforços e telefonemas para resolver a situação. Contudo não foi possível arranjar lugar nas carruagens-cama, o que nos empurrou, a mim e a minha companheira de viagem, para uma viagem em segunda classe que dada a duração se avizinhava penosa, apesar do incremento em termos de conforto, com bancos almofadados.
Apesar das carruagens se encontrarem em razoável estado de conservação, tendo em conta a antiguidade que aparentam ter, viajar nos caminhos de ferro Birmaneses é bastante desconfortável, devido principalmente ao degradado estado da via férrea que provoca bruscas e fortes oscilações das carruagens, que para além do permanente e intenso tilintar metálico, torna difícil caminhar ou mesmo permanecer de pé nas carruagens, e onde uma ida à casa de banho constitui uma verdadeira proeza.


















