Da ilha de Majuli ficou uma tranquila memória onde os dias foram passando calmamente ao ritmo de passeios de bicicleta, por estradas ladeadas de bambus, que cortam gentilmente campos de arroz cujo verde se esbate sob o cinzento do céu, cujas camada de nuvens traz uma promessa de chuva.
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Sente-se a presença de um misterioso silêncio, somente interrompido pelo som ritmado do piar de invisíveis aves, ocultas na densa copa das árvores. Garças e cegonhas vasculham o fundo lodoso das pequenas lagoas deixadas pela monção, enquanto pequenos pássaros debicarem insectos junto à berma da estrada, num ritmo apressado.
A paisagem plana a perder de vista, com a linha do horizonte a esbater-se na neblina que se liberta dos campos constantemente ensopados em água. A este cenário difuso junta-se o fumo que lentamente se desprende das fogueiras onde restos da colheita anterior são queimados, na preparação dos campos para mais uma sementeira de arroz, numa ilha onde a agricultura é a principal actividade da população que pouco ultrapassa as 150 mil pessoas.
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Brahmaputra, o mítico e barrento rio, cujas aparentemente suaves águas se tornam violentas durante a monção, extravasando o leito, e provocando sérias inundação. É esta poderosa força que está a provocar uma acelerada erosão das margens do ilha, que anualmente vê a sua área ser reduzida, tendo algumas aldeias já sido varridas pelas águas. Segundo previsões analíticas ás águas do Brahmaputra poderão fazer desaparecer a totalidade da ilha de Majuli em 20 anos…. as mesmas águas que em 1750 provocaram gigantescas cheias e que deram origem a esta ilha.
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Mas são as satras espalhadas um pouco por todo o estado de Assam, mas que em Majuli se encontram a maior concentração, que atraem as atenções e que contribuem para tornar este pedaço de terra, plano e verde, num local especial.
As satras são como mosteiros dedicados ao Hinduísmo, que foram criados no século XVI pelo rei de Assam, e que apesar de mudanças e reformas, funcionam desde então como centro de artes e cultura paralelamente às praticas religiosas. Mas práticas religiosas destes mosteiros diferem do Hinduísmo que se encontra no resto do país, tendo divergido e ganho contornos próprios pela mão de Srimanta Sankardeva que professou uma forma monoteísta do hinduísmo, denominada de Vaishnavism. Depositárias de escrituras sagradas do Vaishnavism, cujo santo Sankardeva encontrou refúgio em Majuli, as satras continuam a ser actualmente local de peregrinação entre a população de Assam.
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Existem centenas destes mosteiros espalhados pelo estado de Assam, com 65 dos quais concentradas nos 1250 km2 da ilha de Majuli, onde somente 26 se encontram ainda em funcionamento.
Diferindo de importância, antiguidade e tamanho, basicamente todas as satras seguem a mesma estrutura, ocupando uma área ampla, cujo acesso é simbolicamente identificado por um pórtico, decorado com leões, elefantes, peixes, cavalos, por vezes representados com asas ou detalhes que nos remetem para uma mitologia desconhecida. No centro da satra encontra-se um amplo pavilhão reservado para o ensaio e apresentação de música e de dança, onde uma gigantesca estátua de madeira representa garuda, uma figura alada de nariz longo, um misto de homem e ave, que de costas para a entrada protege o local. Anexo a este espaço comunitário encontra o altar, cujo melhor exemplo é o da Sri Sri Auniati Satra, ricamente decorado. Em redor, formando geralmente um rectângulo, dispõem-se dormitórios e demais instalações, alinhadas sob galerias de piso térreo.
Das satras visitadas a Uttar Kamalabari, situada muito próxima da povoação com o mesmo nome, é a mais atraente, mantendo bem conservada a sua estrutura antiga, o que confere uma atmosfera capaz de nos transportar no tempo.
Bengenaati e Garamur são outras duas satras facilmente acessíveis de bicicleta, que valem a pena visitar com tempo para apreciar a quietude e tranquilidade do lugar. Mas são também um bom pretexto para explorar a ilha, e observar o quotidiano da população, apreciando os cambiantes de luz, capazes e tornar a monotonia de uma paisagem plana em surpreendentes e misteriosos cenários.
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Anoitece cedo em Majuli, visto que estamos muito a Este do que constitui o corpo central da Índia, pelo que pouco depois das quatro horas da tarde o céu começa a escurecer, ficando breu pelas 5 horas. Isto faz parecer os dias curtos para quem não tem o hábito de acordar cedo, mas aqui a população começa cedo as rotinas diárias, com o trabalho nos campos a dominar o quotidiano em Majuli.
E é com o anoitecer que algo de mágico parece acontecer em algumas das satras, que se mostram quase desertas durante o dia. Sob a luz débil e amarelada, rapazes e jovens adultos reúnem-se no espaço comunitário da Uttar Kamalabari, e ao som de discretos tambores e de suaves melodias, executam danças e representações teatrais, onde os mudras são fundamentais. Em volta, sentados sob esteiras, Bhakats (monges celibatários) mais velhos observam atentamente os movimentos destes aprendizes, corrigindo e incentivando, e por vezes tenho papel activo nos ensaios. As satras, para além do carácter religioso, funcionam também com centros de artes, onde a dança, teatro, canto e música são pilares fundamentais da difusão do Vaishnavism.
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Satras:
Das dezenas de satras estas são facilmente acessíveis de bicicleta. Para outras é necessário contratar um táxi.
Bengenaati: a mais antiga das satras
Garamur: ampla e bem preservada
Sri Sri Auniati Satra: a mais ricamente decorada
Uttar Kamalabari: a que conserva melhor as características arquitectónicas originais e a que tem mais atmosfera.
Existe um museu na Sri Sri Auniati Satra (50 rupias) mas que não tem grande interesse, com algumas das peças em mau estado, e com escassa informação sobre o que está exposto. Algumas das outras satras têm também museu mas encontram-se fechados sendo necessário encontrar quem tenha as chaves e disponibilidade para abrir o espaço aos visitantes.
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Tecelagem em Majuli:
Se bem que a maior atração de Majuli são as satras, uma visita mais demorada não deixa escapar o modesto mas elaborado trabalho de tecelagem, diariamente executado pelas mulheres.
Em precários telheiros, por baixo das casas, nos quintais, nos alpendres… mulheres passam horas tecendo elaboradas tramas em simples teares de madeira de onde resultam coloridos e intrincados padrões.
Poderia pensar-se que se trata de uma importante actividade económica que ocupa as mulheres durante a época em que os campos e a plantação de arroz não necessita de tanta mão-de-obra. Mas estas bonitas peças de tecelagem são para uso das mulheres que as fazem, sendo as mais simples usados no dia-a-dia, e as mais elaboradas e vistosas para ocasiões especiais como a ida a uma satra, que é sempre feita em família.
Os Assameses, em particular os homens usam frequentemente um pano ao pescoço em forma de lenço, o gamosa, onde sob fundo branco surgem padrões geométricos ou figurativos construídos em fio vermelho que sobressaem no fundo liso. Estes panos, que facilmente se confundem com toalhas têm várias utilizações e servem não só de adorno em volta do pescoço, em volta da cintura, como também como tolha de banho, ou decorando mesas e altares. O vermelho e branco destes panos é um elemento comum à decoração das figuras que se encontram nas satra, assim como adorno do indispensável garuda, de longo nariz e amplas asas.
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Onde dormir em Majuli:
Em Kamalabari existem várias guest houses a uma distância razoável de ser feita a pé de mochila às costas. Contudo algumas recusam-se a receber estrangeiros argumentando que estão cheias. Outras oferecem fracas condições. De qualquer das formas o alojamento na ilha, assim como nas principais cidades dos estados do Nordeste, é mais caro do que o habitual, com um quarto duplo, com casa-de-banho partilhada, a custar no mínimo 400 rupias.
Dos vários locais visitados em Kamalabari e em Garamur a melhor opção é sem dúvida o Ygdrasill Bamboo Cottage, situado próximo da estrada que liga as duas povoações. É possível alugar bicicleta (50 rupias) e encomendar refeições, com um delicioso jantar composto por variados e deliciosas pratos, a custar 150 rupias… mas com a comida adaptada ao “gosto” ocidental, ou seja, sem picante.
Existem vários tipos de quartos, mas todos construídos em madeira e bamboo. Um quarto duplo, com casa-de-banho pode variar entre 600 e 1000 rupias.
Ygdrasill Bamboo Cottage (na estrada entre Kamalabari e Garamur)
Contact: [email protected]
Telef: 08876707326; 088 222 42244
Em paralelo com esta actividade hoteleira, e com sede nas mesmas instalações existe um NGO – Amar Majuli – dedicada a apoiar projectos de desenvolvimento local, em especial mulheres.
//rupias.facebook.com/pages/Amar-Majuli/706510102708825
Contact: [email protected]
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Onde comer em Majuli:
Na Ygdrasill Bamboo Cottage é servido jantar que vale bem a pena, pois as opções em termos de restaurantes, tanto em Kamalabari como em Garamur são deveras pobres e pouco atractivas. Ao pequeno-almoço pode-se encontrar samosa ou puris (pão achatado frito) acompanhados de um fraco caril de batata. Ao almoço o habitual arroz com caril de batata e mais uns escassos vegetais acompanhados por um dal (caril de lentilhas) aguado. Contudo o prato mais popular é paratha, que aqui é feita sem recheio, que não é mais do que um pão espalmado cozinhado na frigideira com um pouco de óleo. Para acompanhar esta espécie de panqueca é servido um caril de batata onde se uns grãos de leguminosas e um chutney doce que mais se assemelha a uma compota de fruta.
Claramente Assam não é um destino para quem a comida é um dos atractivos das viagens!!! Ficou a memória de batatas a todas as refeições! Contudo a comida é bastante barata, com uma samosa a custar 5 rupias, uma refeição de paratha cerca de 25 rupias e uma refeição à base de arroz a custar 60 rupias.
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Transportes em Majuli:
Entre Kamalabari e Garamur circulam shared-taxis, localmente chamados de tempos, ou sumos, caso sejam um Jeep, que ligam as principais povoações até ao Kamalabari Gaht, de onde parte o ferry. Assim o melhor é caminhar pela estrada e esperar que passe algum destes veículos ou um dos poucos autocarros que fazem a ligação ao ferryboat.
- bus de Garamur para Kamalabari Gaht: 15 rupias
- tempo ou sumo (táxis partilhados) de Garamur para Kamalabari: 10 rupias
- táxi de Garamur para Kamalabari Gaht: 200 rupias
Outra opção é pedir boleia, aos pouco carros que passam, não sendo contudo difícil conseguir uma boleia dada a generosidade das pessoas.
Mas o melhor é alugar uma bicicleta. As estradas são planas mas têm algumas zonas em más condições. Não existe nenhuma loja especializada neste negócio, pelo que é necessário ir perguntado à população local. Algumas das guest houses alugam bicicletas.
Raja é um taxista simpático que foi muito prestável na busca por alojamento, numa altura em que quase tudo estava cheio por causa da visita do primeiro ministro à ilha. Contacto: 8811 9777 51
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Internet em Majuli:
Como é normal nos alojamentos em Assam e nos restantes estados do nordeste da Índia, não há wi-fi. É necessário procurar um posto de internet: “web-cafe” ou “cyber-cafe”. Contudo nem sempre há wi-fi, mas somente computadores.
Mas Kamalabari tem um posto de Internet com wi-fi e com boa ligação e velocidade razoável, situado entre o cruzamento principal e a bomba de gasolina.
- Wi-fi: 20 rupias por hora.
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altitude: 84 m
população: 153.400