Somente três anos se passaram desde a minha última visita a Myanmar e muitas foram as mudanças neste país: em 2014, o governo militar que controlava o país desde 1962 foi afastado, e as primeira eleições democráticas deram uma vitória esmagadora à National League for Democracy, abrindo as portas para a eleição do primeiro presidente não-militar nos últimos 54 anos, donde resultaram profundas reformas políticas, económicas e sociais num país que conquistou novamente a liberdade de expressão. Aung San Suu Kyi, o rosto da luta pela liberdade, pelos direitos humanos e pela democracia em Myanmar está um pouco por toda parte, mais visível do que nunca. O pai, Aung San, cuja figura estava impressa nas antigas notas de kyat, continua orgulhosamente a decorar as paredes das casas.
Apesar de todas estas mudanças, Myanmar ainda está longe de ser um país pacificado. Continuam os conflictos entre o exército e os grupos “rebeldes” nas colinas do estado de Shan, e as diferenças religiosas e étnicas são responsáveis pelo massacre da população Rohingya no estado de Rakhine, num país onde o budismo é a religião dominante e onde os monges exercem uma forte influência no governo de Myanmar.
***
[clear]
![Yangon... Where bodhi tree grows freely on the buildings, taking advantage of the wall cracks, softening the austerity of colonial British-style buildings](http://i2.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2243.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
Mas todas estas mudanças não alteram o ritmo da antiga capital de Myanmar, noutros tempos chamada de Rangon… onde os edifícios de grandiosa arquitectura colonial Britânica mantêm o charme decadente, resultante de anos de negligência e falta de conservação…
…onde uma camada de bolor conquista lentamente o azul e o verde pálidos das fachadas dos prédios…
… onde pequenas árvores bodhi crescem espontaneamente nos edifícios, aproveitando as fissuras das paredes, suavizando a austeridade da arquitectura colonial…
… onde os pombos esperam pacientemente alinhados em cabos elétricos, junto a um esquina onde um vendedor de milho aguarda por clientes dispostos a criar bom karma, gastando algum dinheiro a alimentar as aves…
… onde todas as manhãs grupos de monges caminham descalços ao longo da cidade recolhendo donativos, tingindo a paisagem urbana com a característica de cor grená dos mantos…
… onde os mercados mantêm seu burburinho habitual, com o cheiro do peixe seco a mistura-se com o cheiro fermentado dos rebentos de bambu, e onde o som das vozes e dos pregões se sobrepõe às buzinas dos automóveis…
… onde videntes e astrólogos esperam os clientes à sombra de uma árvore, num país onde o budismo não apagou totalmente a superstição e as tradições animistas…
… onde ler o jornal é uma atividade quase obrigatória entre os homens, independentemente de religião ou grupo étnico…
… onde os condutores de rickshaw aguardam calmamente pelos raros clientes, indiferentes ao intenso movimentado da cidade, mastigando paan ou fumando um charuto…
… onde a comida de rua está presente em todos os lugares, seguindo um calendário preciso mas indecifrável, com um vendedor de parathas a desaparecer e a ser substituído por um vendedor paan num piscar de olhos…
… onde uma sinagoga está localizada a poucas centenas de metros de um templo budista, de onde se avista o minarete de uma mesquita do outro lado da rua, enquanto se ouve o som dos sinos vindos de templo hindu próximo…
… onde as casas de chá, herança da antiga presença chinesa no país, servem um chá com leite excessivamente adocicado, onde o som das vozes masculinas se dispersa com o movimento preguiçoso das ventoinhas de tecto…
… onde os sorrisos surgem facilmente em todos os rostos, revelando na maioria das vezes, dentes tingidos de vermelho pela noz de areca e pela folha de betel, sendo o mastigar do paan um vício nacional.
[clear]
![Yangon... where the smiles pop up easily from any faces revealing, most of the times, the teeth red dyed by the areca nut and the betel leaf, as chewing paan is a national addiction](http://i2.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2185.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
![Yangon... where the teahouses, remind us of the Chinese presence, a heritage of the Chinese presence in the country, serve an excessively sweetened milk tea mixed with the sound of the male chat, under the freshness of the lazy ceiling fans](http://i1.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_1945.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
![Yangon... here every morning monks walk along the city begging for alms, dyed the street with the maroon color](http://i0.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2104.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
![Yangon... where the rickshaw drivers wait quietly indifferent to the busy traffic of the city, chewing paan or smoking a cigar.](http://i2.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2194.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
![Yangon... where the street food is present everywhere, following a precise but indecipherable schedule, with a paratha stall vanish and replaced by a paan hawker in a blink.](http://i0.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2090.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
![Yangon... where the pigeons wait patiently aligned along electric cables, nearby a corner where a corn seller wait for customers that will come to create good karma feeding the birds](http://i1.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_3261.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)
[clear]
[columns] [span6]
![Yangom... Where fortune tellers and astrologers wait for customers on the shade of a tree, in a country where the Buddhism didn’t erase totally superstition and the animist traditions](http://i0.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_3186.jpg?resize=480%2C640&ssl=1)
[/span6][span6]
![Yangon](http://i1.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_2105.jpg?resize=480%2C640&ssl=1)
[/span6][/columns]
[clear]
Yangon definitivamente é uma cidade que seduz e cativa, onde diferentes culturas, etnias e religiões partilham pacificamente o mesmo espaço.
[clear]
![Yangon... multiethnic and multicultural and multireligious](http://i1.wp.com/steppingoutofbabylon.com/wp/wp-content/uploads/2017/03/DSC_3245.jpg?resize=960%2C638&ssl=1)