São as praias que atraem a maioria dos visitantes seja nacionais ou estrangeiros, mas Goa não é só praias… Panjim, Margao, Mapusa, Vasco da Gama, nomes a lembrar a presença portuguesa num estado em que o futebol supera o críquete e onde a religião católica, apesar de minoritária em relação ao hinduísmo, é uma presença constante, quer nas inúmeras igrejas e capelas, imergindo um pouco por toda a paisagem, quer na decoração de casas, onde cruxifixos e imagens de Cristo tomam lugar de Shiva e demais panteão da iconografia Hindu.
Longe das praias, do ambiente ocidentalizado, dos vendedores de artesanato de má qualidade, de recordações de gosto duvidoso, do ‘roncar’ dos poderosos motores das Royal Enfield, dos pouco escrupulosos agentes de viagens, das festas de trance, dos hambúrgueres e das pizzas, encontra-se um modo de vida calmo e tranquilo, dominado pelo ritmos das estações, onde a agricultura de trigo, cana de açúcar e arroz, é ainda o sustento da maioria da população que vive afastada do litoral.
Percorrendo as estradas que se desenvolvem paralelamente à costa do estado de Goa, atravessam-se rios cujo abundante cauda serve para irrigar os campos de arroz que apesar de estarmos na estação seca ainda se encontram verdes, com o brilho reluzente dos novos rebentos; aventurando-nos por caminhos de terra batida que se embrenham pela sombria floresta é possível descobrir praias quase desertas, onde o pôr-do-sol é sempre um espetáculo que fica na memória.
O Konkani que apesar de ser a língua do estado, e que é falado pela generalidade da população, raramente aparece escrito, seja em placas de sinalização, nomes de lojas, anúncios e publicidade, sendo mais frequente as inscrições em caracteres ocidentais. O inglês, fora dos locais mais frequentados por turistas não está tão presente, mas a simpatia e disponibilidade da população ajudam os turistas que facilmente se desorientam na malha de estradas ausentes de placas de orientação.
Uma visita ao mercado semanal de Mapusa, principal cidade do norte de Goa, transporta-nos para o habitual caos de sons, cortes e cheiros, onde entre uma aparente desordem de lojas, bancas e de vendedores ambulantes se encontra um pouco de tudo e onde se podem encontrar alguns produtos que relembram os quinhentos anos de presença portuguesa, como é o caso do pão que aqui em Goa se chama de pao, dos enchidos com a habitual forma de chouriços ou na original de forma que faz lembras as contas de um rosário.
Lojas de doces com o nome de ‘Felicidade’, o café ‘Aurora’, a loja de licores ‘Branganza’ e muitos ‘Souza’ e ‘Fernandes’, apelidos que surgem inscritos um pouco por todo o lado, em placas de nomes de médicos e advogados, em ‘pastores’ de orientação cristã, em nomes de lojas, restaurantes e de diversas actividades comerciais que trazem à memória um país que se esqueceu de investir na preservação e dinamização de uma cultura e língua que o tempo já erodiu e da qual parece só restar poeirentas recordações.