Magia. Sonho. Irreal.
Palavras que surgem na mente quando recordo Nongriat.

A chuva, apesar de previsível, começou inesperadamente com o inicio da descida do trilho para a aldeia de Nongriat, obrigando a algumas pausas para um chá em modestas cabanas de bambu. Mas o que se avizinhava ser um inconveniente à caminhada que se tinha pela frente ,revelou-se ser uma bênção, com a vegetação a ganhar um brilho que confere maior vivacidade e contraste aos cambiantes de verde que enchem todo o horizonte.
À medida que o som das grossas gotas de chuva se vai afastando, voltam os discretos sons da selva, com uma orquestra invisível formada por rãs e insectos. Musgos e líquenes mostram-se com todo o seu vigor, absorvendo gotas de água se desprendem lentamente das folhas de bambus, que parecem inclinar-se sob o peso da água.



Apesar de ter perdido o título de local mais chuvoso do mundo, resultante da persistente desflorestação, seja para alimentar o comércio de madeiras como para combustível das população local, Nongriat e a região envolvente de Mawsynram e Cherrapunjee nas East Kahsi Hills, continuam a registar elevada pluviosidade. E mesmo fora da monção (Julho e Agosto) é frequente haver chuvadas fortes, mas que durante a chamada estação-seca duram somente alguns minutos. Destes clima semi-tropical, resulta uma frondosa e diversificada cobertura vegetal: gigantescas árvores, palmeiras, bambus, fetos e a ficus, cujas raízes aéreas são indispensáveis à construção das pontes pedonais, que atraem tantos visitantes a Nongriat.




A noite chega cedo ao fundo do vale, com o verde das encostas e perder-se à medida que o azul do céu se rende à negrura da noite, deixando a aldeia na quase total escuridão, interrompida aqui e ali pelo brilho débil da electricidade que chega a todas as casas. É esta negrura que me faz sentir novamente o quão longe estou da chamada civilização e quão agradável pode este simples e modesto modo de vida, onde o contacto com natureza traz uma profunda calma e tranquilidade.
Apreciando a frescura trazida pela noite, somos naturalmente convidados a partilhar o calmo serão com os restantes hóspedes, envolvidos pelo manto escuro da noite. Mas um brilho inesperado, de uma intensidade invulgar, surge por detrás das montanhas, desenhando cada vez com mais clareza os contornos do topo da encosta em frente à aldeia. É o espetáculo do nascer da lua, que aqui nesta noite de lua-cheia, oferece uma visão mágica que deixa toda a gente siderada, criando um espaço de silêncio no burburinhos das conversas cruzadas dos visitantes.

Nongriat é uma das aldeias que se abrigam nas encostas das East Khasi Hills, e que devido ao isolamento mantêm quase intacto o modo de vida tradicional das tribo Khasi, que se baseia na recolha de produtos recolhidos directamente na floresta e que são vendidos no mercado de Sohra que atrai a população das regiões vizinhas todas as quartas-feiras. A floresta fornece pimenta, folha de louro, noz de bétel, canela, sumo de limão… ananases crescem naturalmente um pouco por todo o lado, jackfruit abundam nas árvores, em redor da aldeia cortiços abrigam abelhas cujo mel é também suporte da actividade económica local. Carregadores sobem e descem as encostas levando produtos da floresta e trazendo alimentos e demais produtos necessário ao simples quotidiano desta população de 150 pessoas, onde aparentemente a maioria são crianças.



É o riso das crianças nas suas brincadeiras incessante que enche o ar da aldeia, onde se estranha a ausência de aves, macacos ou outros animais. De manhã cedo, em aprumado uniforme escolar, os mais novos encaminham-se para a escola primária existente na aldeia, enquanto os mais crescidos sobem a encosta para ter aulas nas escolas de Tyrna e Sohra. Apesar do isolamento e do ambiente rural que se vive em Sohra, que poderia levar a um desinteresse pela educação académica, a escolaridade é levada muito a sério, com praticamente todas as crianças a irem à escola e a aprenderem inglês, língua que grande parte da população fala, mesmo nas vilas mais isoladas como Sohra.
A igreja cristã é também uma presença forte aqui em Megahlaya, que devido à remota localização, assim como Nagaland, se manteve impermeável ao hinduísmo, mas não resistiu à cristianização no século XIX, durante a presença britânica na Índia, imposta pelos missionários que aqui encontraram terreno propício, numa população praticante do animismo.
Mas Nongriat proporciona mais motivos de interesse do que somente as living root bridges, com vários trilhos que irradiam da aldeia, uns em direcção a aldeia vizinhas, que também escondem outras pontes-vivas, outros em direção a quedas de água, sendo a Rainbow Waterfall o destino mais popular. Para quem pretende banhar-se nas límpidas águas desta cascata, de um azul invulgar, tem que descer um íngreme trilho, mas pelo caminho, assim como em outros pontos dos rios que rodeiam Nongriat existem piscinas formadas naturalmente pelas rochas graníticas que forma o leito dos rios, proporcionando transparentes e calmas águas para um refrescante banho, aliviando peso do ar quente e húmido. Durante a monção não é permitido banhos no rio, devido à força das águas.



Como chegar a Nongriat:
- todo o percurso é feito em escadas de cimento que têm degraus bastante regulares e em bom estado, fruto de fundos financeiros para suporte do desenvolvimento agrícola da região;
- a descida é toda feita em degraus, até se chegar ao vale o que depois obriga a atravessar algumas pontes metálicas suspensas; são entre 2500 a 3000 degraus;
- a descida não é difícil, mas o clima quente e muito húmido, que provocam uma transpiração constante tornam o percurso mais cansativo;
- a subida é intensa, obrigando a algumas paragens que são sempre uma boa ocasião para apreciar a vista; é necessária bastante água em especial para o percurso ascendente;
- a descida demora menos de 1.5 horas, mas a subida pode ser quase o dobro;
- recomenda-se levar o mínimo de peso na mochila, sendo aconselhável deixar a maior parte da bagagem no guest house em Sohra.
- se chover um impermeável revela-se pouco eficaz pois provoca ainda mais suor; o melhor é roupa leve que seque depressa;
- não é necessário calçado especial, umas sandálias confortáveis servem perfeitamente pois todo o percurso é cimentado.
- depois de Nongriat, caso se queira explorar aldeias e trilhos vizinhos um sapatos de caminhada podem ser mais confortáveis mas as sandálias cobrem as necessidades, caso tenham boa aderência em piso molhado;
- recomenda-se ficar pelo menos uma noite me Nongriat para poder visitar mais pontes, cascatas e piscinas naturais, longe do trilho mais frequentado;
- aos fins-de-semana aumenta significativamente o numero de visitantes, pelo que o melhor é chegar num Domingo e sair no sábado de manhã, evitando o barulho e a confusão e o rasto de lixo provocada pelos irresponsáveis visitantes que cegamente procuram a “double deck bridge” em busca da selfie perfeita!!!

Onde dormir em Nongriat:
Existem três homestays in Nongriat. A primeira logo à entrada da povoação, depois de se atravessar uma das living root bridges (pontes-vivas), uma no centro de Nongriat, e a ultima, já depois de se cruzar a double deck bridge. A Serene Homestay é a mais popular e a que oferece melhores condições. Existem quartos duplos e outros partilhados, mas todos com casa-de-banho partilhada. O jantar é preparado para todos os hóspedes e para quem mais tenha encomendado, servido em estilo buffet com deliciosa comida vegetariana.
Cama: 200 rupies, por pessoa, independentemente de quarto duplo ou partilhado.
Jantar: 130 rupies
O dono Ryan é uma boa fonte de informações sobre trilhos para outras aldeias e pontes, piscinas naturais, e sobre o modo de vida e cultura locais. A sua consciência ambiental e o bom inglês com que expressa fazem de Ryan o porta-voz de Nongriat e de aldeias vizinhas, que se unem para impedir o governo de abrir uma estrada até ao vale. Este chamado “progresso” iria desequilibrar o modo de vida socioeconómico e teria consequências ambientais resultantes do aumento de visitantes.


Onde comer em Nongritat:
Qualquer uma das homestays em Nongriat serve comida, assim como as duas cabanas junto às pontes na aldeia de Nongriat. Contudo é comida muito simples, basicamente arroz e dal… e frango.
A melhor opção é a Serene Homestay, com comida vegetariana. Os pequenos-almoços com porridge, fruta e frutos secos são deliciosos. O jantar (130 rupias) é servido em estilo buffet, tanto para hóspedes da homestay como para quem encomendar com antecedência, e é uma óptima oportunidade para sociabilizar com os restantes viajantes.
pequeno-almoço no Serene Homestay, em Nongriat
Como ir de Sohra (Cherrapunjee) para Nongriat:
Em frente ao By the Way Lodge, há uma paragem onde pelas 9 da manhã passa um autocarro com destino a Tyrna, a povoação mais próxima de Nongriat com acesso rodoviário… daqui para a frente existem somente caminhos descendo as encostas das montanhas até às povoações situadas junto ao vale.
- Bus de Sohra para Tyrna: 20 rupias (passa por volta das 9 am; a viagem demora perto de 1 hora)
- shared-taxi de Sohra para Tyrna: 40 rupias
- em Tyrna é necessário caminhar pela estrada até encontrar o caminho que dá acesso a Nongriat, cerca de 30 minutos de caminhada, descendo pela estrada. Basta ir perguntado por “Nongriat” à população local pois todos sabem indicar o caminho, até as crianças.
- Chegando a um pequeno aglomerado de casas, onde existe uma chai-shop feita em bambu, encontra-se, do lado esquerdo o trilho para Nongriat que segundo conta tem mais de 2800 degraus e umas quantas pontes suspensas, até se chegar a Nongriat.

