Por sugestão do senhor Arvind, fomos de comboio para cidade de Agra (cidade de passagem obrigatória para quem visita o Taj Mahal) bem cedo e regressamos no mesmo dia, pois é uma viagem que se faz em pouco mais do que 2.5h. Foi o melhor que podíamos ter feito. Teria sido uma dura prova ter ficado, mesmo que fosse só por um dia, nesta cidade: mais confusa, poeirenta, suja e ruidosa do que outras por onde temos passado, o que é agravado pelos 37 graus de temperatura que se fazem sentir por aqui.
Perto do forte de Agra (que não chegamos a visitar) estavam a executar trabalhos de remoção de uma pequena lixeira a céu aberto, com recurso a escavadoras que transportavam a “pasta” negra e fétida formada pelo lixo para camiões de obra; apesar de já estarem três camiões cheios, o trabalho estava longe de terminar. O cheiro que se libertava desta lixeira a juntar com o que emanavam as águas de uma ribeira de águas estagnadas próxima, cujo leito se assemelhava a uma pasta lodosa de cor negra, criou um cenário de pesadelo de provocar agonias.
Tudo isto fez com que a chegada ao comboio que nos levaria de volta a Jaipur, onde nos esperava um banco confortável e ar-condicionado tenha parecido uma bênção. Foi nesta altura que demos valor ao facto de termos comprado um dos bilhetes mais caros (pois já não havia lugares nas outras classes), tendo gasto no total da viagem cerca de 2000 INR (quase 30€), o que é uma pequena fortuna para as nossa economias.
Trata-se do monumento mais visitado de toda a Índia, com cerca de 3 milhões de visitantes por ano, mas só quando lá se chega é que se percebe a dimensão destes números. São milhares de pessoas dentro do recinto, que é constituído para além do famoso mausoléu, por mais dois edifícios localizados de cada lado do edifício principal, sendo um deles uma mesquita, por vastos jardins, geometricamente organizados, tudo cercado por muros, construídos em arenito vermelho, por onde se acede através de três monumentais portas.
O monumento foi construído entre 1632 e 1640, por ordem do Imperador Shah Jahan. Segundo a lenda, foi construído em homenagem a Mumtaz Mhal, a terceira esposa de Shah Jahan, que morreu em consequência do nascimento do décimo quarto filho. Contudo, segundo investigações recentes, sabe-se que Shah Jahan não passou os seus últimos dias chorando a sua amada esposa, tendo morrido poucos anos depois devido ao consumo excessivo de afrodisíacos e de ópio.
Quer tenha sido construído por amor ou para alimentar o ego de um homem, o Taj Mahal não deixa de ser um monumento de grande valor arquitectónico, exata proporcionalidade e de uma insustentável leveza.
À parte de toda esta confusão o Taj Mahl impõe a sua magnitude e a sua beleza, destacando-se o edifício do mausoléu todo construído em mármore branco, e profusamente decorado com caligrafia e motivos florais, embutidos, executados com cerca de 35 tipos diferentes de pedras, preciosas e semipreciosas. Em cada vértice do quadrado formado pelo mausoléu, existe um minarete, puramente decorativo, com cerca de 40 metros de altura. Demorámo-nos umas horas a deambular pelos edifícios e jardins observando o desfilar da paisagem humana que dá vida a teste monumento.
De cada lado do mausoléu encontram-se dois edifícios iguais, dispostos simetricamente, construídos em arenito vermelho, sendo um deles destinado à mesquita, onde os visitante muçulmanos se dirigem para uma curta oração, após a lavagem dos pés no tanque existente em frente, e onde um guarda vigia atenta e escrupulosamente para que se respeite o costume de não entrar calçado.
O edifício principal, construído em mármore está a sofre com a pressão dos visitantes e acima de tudo da poluição provocada pelo trafego e pelas fábricas existentes na região, tendo mesmo o governo proibido recentemente o acesso de veículos motorizados a menos de 200 metros dos muros do Tah Mahal. O místico nevoeiro que muitas vezes é captado nas fotografias, e que chega mesmo a cobrir o monumento, é provocado principalmente pela poluição. O monóxido de carbono tem provocado a degradação do mármore levando à perda da sua transparência e consequentemente do efeito provocado pela luz do sol ao atravessar as paredes do mausoléu.
Para além das diferenças de preços dos bilhetes entre nacionais e estrangeiros praticada na maioria dos monumentos, e no facto de haver uma quota de bilhetes de comboio reservada a estrangeiros, aqui no Taj Mahal, encontramos novas forma de tratamento discriminatório. A fila onde compramos o bilhete de entrada encontrava-se praticamente vazia, ao passo que os outros visitante tinham que esperar em longas filas, sob o sol que a partir das 10 horas da manhã é castigador. Pagámos 750 INR ao passo que os nacionais pagam 250 INR, havendo ainda, pelo que percebemos, um preço especial para habitantes de Agra, de 20 INR.
Como “vips” tivemos ainda direito a garrafas de água e a uma proteção para colocar por cima dos sapatos, pois numa parte do monumento é proibido andar com sapatos, ao passo que os visitantes nacionais têm que deixar os sapatos à entrada e percorrer o recinto descalços, o que se torna penoso dado o calor libertado pelas pedras expostas ao sol, fazendo com que a maior parte das pessoas que visita o mausoléu, circule junto às paredes do edifício principal aproveitando a estreita faixa de sombra existente.
Tanto para entrar no Taj Mahal como para visitar o edifício principal onde estão as sepulturas de Shah Jahan e de Mumtaz Mhal (de facto as que estão à vista são réplicas, encontrando-se as verdadeiras enterradas), existem filas com centenas de pessoas, mas mais uma vez existe uma entrada reservada para estrangeiros. Nem é necessário mostrar o bilhete, basta a cor da pele. É uma regra discriminatória e de certa maneira reprovável, mas confesso que uma espera de mais de meia hora, sob sol escaldante em filas com centenas de indianos, conhecendo o típico desrespeito pela noção de “fila” e a grande capacidade de compactação que têm entre si, teria sido penosa. É um tema que pede uma reflecção.
A parte mais intensa foi a entrada na sala principal do mausoléu, onde a multidão compacta circula à volta dos túmulos de Shah Janhan e da esposa, movendo-se de acordo com as ordens dos vários guardas que incansavelmente e sem sucesso tentam impedir que se tirem fotografias ou que as pessoas se aproximem demasiado da rendilhada parede de mármore que circunda os túmulos.