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A comida no Nepal
O que muitas das vezes estamos habituados a encontrar nos restaurantes nepaleses em Lisboa, não tem muito a ver com o que se come por aqui habitualmente; mas nota-se sem dúvida a forte influência da gastronomia indiana, com os seus caris de legumes acompanhados por arroz e servidos com um chutney, sendo ligeiramente menos picantes e com menos gordura.
O prato nacional do Nepal é sem dúvida do daal bhaat, que consiste num prato composto por uma grande porção de arroz que acompanha com o daal, caldo à base de lentilhas, cuja cor pode variar entre o laranja ou o acastanhadas, em função do tipo de lentilhas com que é feito, mantendo sempre a característica de ser bastante líquido; juntamente é servido uma pequena porção de carril de vegetais, muitas vezes abóbora e batata. Nos restaurantes esta refeição dá sempre direito a mais arroz e a mais daal, até o cliente ficar satisfeito, o que para um nepalês implica uma grande quantidade de arroz.
Nas zonas montanhosas do vale de Kahtmandu a refeição tradicional dos Newari, habitantes da zona, é composta por uma sopa de rebentos de bambu, caril de grão, feijão de soja salteado, salada de batata e pepino envolvida num molho de especiarias, e um chutney de espinafres secos, de sabor acre e salgado.
O chamado thakali, tradicional da zona entre os Himalayas e a planície do sul do país, o Terai, consiste numa refeição composta por carril de legumes, espinafres, daal, trigo sarraceno cozinhado até formar uma pasta moldável, iogurte, feijão salteado com espinafres secos e pickles de vegetais. O papari, feito à base de farinha de grão, de forma circular, fino e estaladiço, que muitas vezes é condimentado de especiarias e de picante, acompanha todos os pratos servidos no Nepal. Curiosamente o consumo de pão é pouco frequente às refeições.
Outra presença constante na gastronomia nepalesa, tanto em restaurantes como em snacks de rua é a comida tibetana, destacando-se os momos, que se encontram à venda em muitas bancas montadas na rua e que são consumidos geralmente no fim da tarde. Também são fácil encontrar os tradicionais snacks indianos, como as chamuças, o dai puri, channa bathura… A comida chinesa também está implementada com os seus noodles, chow mein e fried rice.
Apesar de maioritariamente hindus, os nepaleses são consumidores habituais de carne, não só pelos vários talhos espalhados pelas ruas da cidade como pela ementas dos restaurantes, onde são raros os “pure-veg”, locais onde não é consumida carne, seguindo à risca os costumes hindus.
Quanto aos doces encontra-se muitos dos doces tradicionais da Índia, como o gulab e o ladoo. Novidade foram umas argolas de massa frita, ligeiramente doce, que por vezes são servidas de manhã, em improvisadas banca de rua, juntamente com o chai.
Mas a revelação foi o curd, que é muito semelhante ao iogurte em aspecto e consistência, mas que não resulta por fermentação do leite sendo obtido por coagulação, adicionando sumo de limão ou vinagre, designando-se em português por coalho. Por vezes, tanto no Nepal como na Índia, é chamado curd ao simples iogurte. À superfície forma-se uma camada espessa e ligeiramente amarelada que é a parte mais deliciosa. Quando descobri esta iguaria comecei por consumir copinho pequenos… actualmente só me contento com meio litro!!!
Apontamentos do Nepal
Nepal vs Índia
Depois de uns meses na Índia, surgem as inevitáveis comparações entre o modo de vida, a cultura e a religião destes dois países vizinhos que à primeira vista muito têm em comum, mas onde um olhar mais atento revela bastantes diferenças: menos conservadores e mais cosmopolitas em especial em Kathmandu e Pokhara, as duas maiores cidades do país, onde não é raro encontrar casais a namorar, e onde a população mais jovem adopta roupa ocidental acompanhando as modas mais recentes, usando cortes de cabelo modernos, vendo-se mesmo rapazes de cabelo comprido, de dread locks, piercings… com as tatuagens a fazerem parte do visual urbano.
Contudo ainda é bastante frequente o uso das roupas tradicionais, como os sahrees e as kurtas, em especial nas mulheres das comunidades hindus. Quanto aos homens é raro encontrar algum que ainda use a tradicional vestimenta nepalesa, constituída por calças justas e túnica, em tecido de algodão branco, sobrepondo-se um colete em fazenda de côr escura. O tradicional chapéu, o topi, é contudo mantido orgulhosamente pela maioria dos homens nepaleses, mas nunca pelos rapazes novos, nem mesmo nas áreas rurais.
No Nepal a mulher tem um papel mais activo na sociedade, muitas falando inglês, mesmo que básico e encontrando-se à frente de negócios, que é notório mesmo nas zonas rurais, onde grande parte do trabalho recai sobre as mulheres acumulando as tarefas domésticas com o trabalho do campo. Nas montanhas, muitas ganham a vida como carregadoras, transportando pesados cestos às costas, apoiados na testa por tiras de pano, que ajudam a equilibrar a carga e distribuir o peso. Às mulheres fica também reservado o trabalho menos qualificado na construção civil, carregando tijolos, areia e cimento nas muitas obras que são uma presença constante nas zonas mais pressionadas pelo turismo.
São claramente um povo mais calmo e mais conhecedor de outras culturas, talvez devido à sua pequena dimensão face aos países vizinhos, e à emigração que dispersou cerca de dois milhões de nepaleses pelo mundo, em especial no médio oriente, onde constituem a principal fonte de mão de obra não qualificada.
É sem duvida um país pobre e menos desenvolvido do que a Índia, com poucos recursos naturais, sem acesso ao mar, com uma orografia difícil. Está assim vulnerável à pressão económica dos dois vizinhos, a China e a Índia, que vão gradualmente inundando o mercado nepalês com os seu produtos, ao mesmo tempo que financiam projectos de desenvolvimento, em especial de estradas que permitem a estes “gigantes” mais facilmente escoarem os seus produtos, não constituindo um incremento significativo nas exportações nepalesas. Num relatório das Nações unidas de 2008, o Nepal ocupava o 145º lugar em termos de desenvolvimento, num total de 153 países.
Nas grandes cidades, em especial Kathmandu, vêm-se pedintes com frequência; geralmente idosos, mulheres e muitas crianças, que insistentemente pedem comida e dinheiro, notando-se também o trabalho infantil, que não é dissimulado e constitui uma realidade para o sustento de muitas famílias.
O turismo, com mais de 500 mil visitantes anuais, é uma das grandes fontes de entrada de dinheiro no país, e emprega uma boa parte da população, mas está sujeito às flutuações da economia, especialmente da europeia, que condiciona o número de visitantes e a quantidade de dinheiro despendida.
Contudo das cerca dos 29 milhões de habitantes que o Nepal actualmente apresenta, cerce de 80% vive da agricultura, verificando-se nos últimos anos um êxodo para as cidades, em especial para o Vale de Kathmandu que entre 1990 e 2010 duplicou a população residente atingindo os 2 milhões de habitantes, contribuindo para agravar os problemas da cidade, em especial o trânsito e a poluição.
O elevado número de emigrantes revela bem a situação económica que o Nepal vive, onde não existe suficiente oferta de emprego, situação que se tende a agravar com o aumento crescente da população com mais de meio milhão de novos habitantes por ano. O aumento da população não é só devido ao aumento da taxa de natalidade, mas também da melhoria das condições sanitárias e de acesso à saúde, que fez descer a mortalidade infantil e aumentar a esperança média de vida, que em 1971 era de 43 anos e que actualmente passou para os 63.
Tudo isto trás consigo a necessidade de mais infraestruturas: estradas, escolas, casas esgotos, abastecimento de água e especialmente de comida, que se torna problemático num país em dominado por montanhas onde a agricultura é difícil e de baixo rendimento, com pouca possibilidade de mecanização, e onde a procura de novas zonas aráveis leva ao aumento da pressão ambiental e à rápida destruição da floresta.
A educação é uma grande aposta do estado, mas mesmo assim a percentagem de literacia ronda actualmente os 58%, valor em 1951, ano em que o país abriu as portas ao exterior rondava os 2%. Por todo o lado vêm-se crianças a irem para escola, com os seus uniformes, mesmo em zonas mais remotas das montanhas; mas por vezes têm que acumular os estudos com tarefas nos campos e o cuidar dos animais, fazendo com que muitos desistam, em especial nas famílias mais pobres.
Para quem avança para estudos superiores, abrem-se poucas perspectivas de emprego, pois o estado é o maior empregador de quadros superiores, e está sujeito às influências políticas, familiares e de castas que encerram a porta a muita gente, sendo a opção de muitos dos jovens as bolsas de estudo, oferecidas por ONG e outras organizações internacionais, que lhes permite irem para o estrangeiro, onde muitas vezes ficam a viver e trabalhar por falta de perspectivas no Nepal.
Há um esforço no aproveitamento hidro-eléctrico dos inúmeros rios que atravessam o país, construído com base em ajuda financeira externa, que permitiria ao Nepal resolver os problemas de abastecimento eléctrico à população, que actualmente obriga a cortes diários, podendo mesmo ser vendida aos países vizinhos passando a constituir fonte de rendimento. Contudo a actividade sísmica que caracteriza a região dos Himalayas juntamente com o clima de monções põem em causa a estabilidade das grande barragens, tendo já ocorrido acidentes.
É de uma forma geral um país mais limpo, onde não se vê com tanta frequência lixo despejado pelas rua… não quer dizer que estejam limpas mas nota-se um maior cuidado em comparação com as cidades indianas, o que também ajuda o facto de não haver praticamente vacas a passear pelas ruas das cidades de Kathmandu ou Pokhara.
Quanto à condução automóvel, também no Neplal se conduz pela esquerda, havendo à semelhança da Índia algum desrespeito pelas regras de circulação automóvel, mas mesmo assim os nepaleses são mais calmos na estrada não praticando uma condução tão agressiva. Mesmo as buzinas dos automóveis, que são poucos e das motas que são um constante nas cidades são uma presença menos intensa e perturbante, com excepção da cidade de Kathmandu, onde a densidade populacional a faz parecer, neste aspecto, com as mais caóticas cidades indiana.
Ao contrário da Índia, dominada pelo críquete, aqui no Nepal o futebol é rei, o que se vê pelos improvisados jogos de rua e pelo conhecimento de jogadores portugueses: Cristiano e Figo são nomes sabidos de cor o que faz do futebol um dos mais fortes factores de divulgação de um país.
Castas
Uma das coias que o Nepal importou do seu vizinho do sul, trazida pela população indiana, em especial das castas mais altas, os brâmanes, que foi fugindo da ameaça Muçulmana que aos poucos foi ocupando o norte do país, foi o sistema de castas que apesar de ilegal ainda hoje se mentem e que domina fortemente a sociedade e mesmo a economia.
Apesar de ter sido oficialmente abolido em 1964, o sistema de castas é ainda válido no comportamento social dos Nepaleses em especial no que se relaciona com os casamentos; contudo vão-se verificando lentas mudanças existindo actualmente vários casais constituídos por indivíduos de castas diferentes, mas que por vezes não são bem aceites pelas famílias, o que numa sociedade baseada nas relações familiares implica muitas dificuldades.
Os grupos étnicos habitantes das regiões montanhosas, onde a religião hindu não tem grande expressão, não se encaixam nesta organização social sendo maioritariamente influenciados pelo Budismo Tibetano.
Numeração e calendário
Para além de pouca coisa estar escrita em caracteres ocidentais, o Nepal tem a sua própria grafia em relação aos algarismos.
No caso das notas o valor facial aparece com os dois tipos de caracteres, assim como por extenso em nepali e em inglês, mas somente numa das faces, o que obriga a quem ainda não está habituado a virar e revirar as notas para ver o seu valor, com a agravante de estarem quase sempre em mau estado, o que dificulta a percepção da côr que as poderia facilmente identificar. Moedas é coisa rara.
Apesar dos Nepaleses adoptarem o calendário internacional, mantêm o seu próprio calendário cujos meses não coincidem exactamente aos que estamos habituados, fazendo com que o ano nepalês seja actualmente de 2070.
Tabaco e Alcool
O álcool está bastante difundido pelo Nepal, tanto nas montanhas com a sua tradicional aguardente, o raksi, como por todo o restante território onde abunda a cerveja e as bebidas destiladas, sendo já o alcoolismo um dos principais problema de saúde pública do país. Nas zonas mais turísticas facilmente se encontra vinho oriundo do Chile, Argentina África do Sul, França… e também o vinho nacional: o Hinwa. No bairro mais turístico de Kathmandu, o Thamel, é possível encontrar Mateus Rosé!!!! Somos grandes!
Num país onde o consumo de tabaco é permitido em praticamente todo o lado, nota-se um elevado número de fumadores, que abrange cerca de metade da população.
As mulheres das várias tribos e grupos étnicos que habitam as montanhas na zona do Annapurna, e que se vêm nas cidades vizinhas vendendo os seus produtos agrícolas, são também grandes consumidoras de tabaco, vendo-as nos momentos de pausa para descanso e conversa entre si a desencantarem um cigarro, do meio da longa faixa de tecido com que envolvem a cintura e que ajuda assegurar o lungi, pano longo até aos tornozelos, que enrolam à cintura, e onde sobressaem os padrões florais e geométricos em cores quentes e ocre.
Nos percursos que fiz pelas montanhas, é muito frequente ver homens e mulheres a consumir tabaco de mascar, que retiram de pequenas caixas metálicas, e colocam na boca, depois de amassarem os pedaços na palma da mão.
Viajar de autocarro no Nepal
Qualquer percurso de autocarro no Nepal é por si uma viagem.
Num país que somente nos anos 50 começou a abrir as suas fronteiras ao estrangeiros, e onde até então Kathmandu permanecia acessível somente a pé, onde não existe via férrea, as únicas formas de viajar pelo Nepal são de avião ou as estrada que gradualmente têm sido construídas e que cobrem praticamente todo o território.
O avião que é a opção preferida pelos turistas, não só pela rapidez associada ao reduzido custo, mas especialmente para evitar as longas e sinuosas estradas que atravessam as montanhas e que invariavelmente se encontram ao mau estado, com lombas, buracos e por vezes com zonas praticamente sem pavimento, onde cada monção arrasta consigo parte do esforço despendido na construção de novas vias e na manutenção das existentes, e que dados os fracos recursos económicos do país são difíceis de recuperar.
Contudo os autocarros são a forma mais barata de viajar, para quem tem tempo para apreciar o colorido e a agitação de uma destas viagens, em autocarros degradados pelos anos e pelo estado das estadas, mas onde se nota um cuidado muito particular na sua manutenção, não só pelas sucessivas camadas da colorida pintura exterior realçadas pelos elaborados desenhos de “Shiva” como na decoração com fitas de aplicações metálicas que tornam cada veículo diferente de todos os outros.
O interior é também por vezes uma verdadeira obra-de-arte, com painéis coloridos a revestirem o tecto e as paredes do veículo, e coloridos panos cobrindo os assentos que por vezes se encontram partidos ou substituídos por bancos que deve ter pertencido a outro veículo. A música é uma constante em todas as viagens, sendo debitada pelo improvisado sistema de som que cada autocarro tem.
Em todos os autocarros, tanto os que circulam em meio urbano como os de longo curso, para além do condutor existe o cobrador de bilhetes, que acumula com a função de arrumar a diversificada bagagem que é transportada tanto no interior como no exterior do veículo; tem um papel importante na angariação de “clientes”, saindo em cada paragem e gritando pela rua o destino do autocarro, e dando pancadas com a mão no exterior do veículo para indicar ao motorista que ainda tem que esperar por mais algum passageiro atrasado que se apressa a correr para o autocarro.
Provocam um frenesim cada vez que chegam a uma paragem, mas são uma grande ajuda para saber qual o autocarro certo para o nosso destino e para nos indicarem ao local onde queremos sair, especialmente num país onde poucas indicações existem em caracteres ocidentais, incluindo a numeração que usa frequentemente os caracteres nepaleses.
Encontrar uma paragem de autocarro também não é tarefa fácil, pois, com excepção de algumas zonas dentro das cidades e ao longo das principais estradas, não existe qualquer indicação quanto ao local de paragem. A solução é perguntar aos solícitos habitantes que prontamente nos indicam o local, onde geralmente se encontram outras pessoas já à espera. Não há horários certos, iniciando-se a viagem geralmente quando o autocarro está cheio ou quase; pára-se se o motorista quer ir comer alguma coisa ou cumprimentar alguém… e pára-se muitas vezes… Esta ausência de paragens proporciona a entrada e saída do autocarro em praticamente todo o lado, o que torna alguns curtos percursos numa longa viagem, tornando imprevisível a hora de chegada ao destino.
Num país onde o transporte individual é raro, o autocarro serve para transportar de tudo; é preciso arranjar espaço, num veículo já cheio para uma mulher que entra carregando o seu cesto de bambu, com produtos para vender nos mercados, entram sacas de arroz, bilhas de gás… no tejadilho vão uns móveis e mais sacas, umas cabras, que de inicio protestam ao serem içadas mas que permanecem sossegadas o resto do caminho…
Para além dos autocarros, os camiões de mercadorias são também uma presença constante nas estradas, provocando longas filas nas íngremes subidas das estradas de montanha, onde estes veículos acusam o peso da idade, mas cuja decoração é orgulho dos motoristas, com desenhos de deuses hindus e de outra simbologia religiosa, fazendo com que cada veículo seja diferente.
Subcontinente Indiano
Tihar… o festival pelas ruas de Kathmandu
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Kukur Puja
Kukur Puja
Durante o festival Tihar, um dos mais importantes festivais religiosos no Nepal, há um dia dedicado aos cães, “kukur” em nepalês.
De manhã cedo, através de ruas de Katmandu, as pessoas colocam o “tikka”, pigmento vermelho, na testa dos cães, uma grinalda de flores amarelas no pescoço, espalham grãos de arroz e algumas gotas de água sobre o animal. É oferecida comida como doces, carne e o “sel roti”, o pão tradicional nepalês feito de farinha de arroz e frito em óleo.
Tanto os cães domésticos ou vadios recebem o puja, acreditando-se que este ritual traz proteção e fortalece a ligação entre humanos e cães.
Os cães parecem confusos com o “tikka” e as grinaldas, mas eles facilmente esquecer a suspeita e o desconforto perante as guloseimas.
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Gai Puja
No terceiro dia do Festival Tihar é a vez das vacas serem veneradas, com ofertas de arroz, milho, frutas, sal, farinha de trigo, biscoitos, e “chapattis” e vegetais de tenras folhas verdes! Ao mesmo tempo que as vacas recebem alimento, as pessoas acendem velas e incenso, deixam cair pétalas de flores na cabeça e no dorso do animal e envolvem a cauda com um colorido cordel. Umas gotas de óleo de sésamo são vertidas na testa da vaca e um “tikka” é feito com pigmento vermelho.
Ao contrário dos cães, que na parte da manhã estão mais dispostos a dormir do que a comer, as vacas entusiasmam-se com as oferendas sendo totalmente indiferentes às guirlandas de flores e aos restantes rituais do “puja“. Pequenas notas de rupias são colocadas na cabeça das vacas, mas desaparecem rapidamente no bolso de alguém, contudo isto não parece perturbar o ritual de Gai Tihar.
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Lakshmi Puja
O Tihar é comemorado principalmente durante o dia, geralmente com pujas de manhã cedo, mas na noite do terceiro dia do festival as ruas escuras de Katmandu iluminam-se para acolher a deusa Lakshmi.
Na entrada das casas e das lojas, o chão é decorado com desenhos coloridos, maioritariamente mandalas, adornados com flores, velas e oferendas de comida, enquanto guirlandas de flores de amarelo vivo, são penduradas por cima das portas de entrada das casas, aí permanecendo durante um ano, até ao próximo Tihar.
A entrada das casas é pintada com uma lama castanho-avermelhada, desenhando um caminho que conduz ao interior da habitação, que é iluminado durante toda a noite pela luz das velas, convidando a deusa Lakshmi para entrar trazendo prosperidade e boa sorte.
Ao longo da noite as pessoas se reúnem nas ruas decoradas com luzes, tagarelando, tocando música e jogando às cartas, enquanto grupos de crianças vão de porta em porta, cantando músicas pedindo dinheiro e doces. Foguetes rebentam de vez em quando, criando um das noites mais animadas no Nepal.
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Nota: a melhor altura para ver o gai puja e o kukur puja é no início da manhã … portanto, por isso o melhor é sair da cama logo após o nascer do sol. Caminhando ao longo das ruas de Katmandu vê-se um pouco em todo o lado o Kukur Puja, mas é melhor procurar uma área com vários talhos como é o local favorito dos cães. Para o Gai Puja encontram-se algumas vacas em Basantapur, perto da Durbar Square, mas o terreno à entrada de Pashupatinath (junto à bilheteira, mas não é preciso comprar o bilhete). O Lakshimi Puja acontece na noite do terceiro dia do festival de Tihar e está presente em todas as ruas da cidade.
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Namo Buddha… em busca de tranquilidade
Por vezes o ritmo intenso da cidade de Kathmandu, com o seu trânsito constante, as buzinas, ar poluído e o pó, obrigam a uma escapadela em busca de uma atmosfera mais limpa e de um ambiente mais calmo.
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A localização da cidade, rodeada por montanhas, oferece várias opções para uma day trip em busca de natureza, do verde das montanhas, de ar limpo, e onde o cantar das aves se sobrepõem aos ruídos provocados por uma lata concentração de seres humanos, como acontece na sobrepovoada Kathmandu. Namo Buddha, é um destes discretos paraísos situados a poucos quilómetros da capital, onde domina a cultura e a religião tibetana, sendo um dos principais locais de peregrinação Budista no Nepal, juntamente com as stupas de Boudha e Swayambhunath.
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A stupa abriga os restos mortais de um príncipe, que segundo a tradição, ofereceu o seu corpo como alimento a um tigre moribundo e esfomeado, num acto de compaixão. Para além do significado religioso, a modesta stupa não provoca grande impressão, sendo o local rodeado de pequenos restaurantes e lojas de souvenires.
Mas subindo a encosta, através de denso arvoredo por um caminho decorado de prayer flags chega-se ao cimo da colina, de onde se pode avistar o Mosteiro de Thrangu Tashi Yangtse. O mosteiro é de construção recente, e a sua arquitectura não impressiona, mas o interior do vasto templo, de tecto e paredes decorados com delicadas pinturas de temática budista criam uma atmosfera sagrada. Nos vários edifícios que fazem parte do mosteiro encontram-se outros templos mais pequenos, com elaboradas estátuas de Buda e da deusa Tara.
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Reina uma atmosfera de calma e de tranquilidade, promovida pelo ambiente sagrado do mosteiro e pela floresta de intenso verde que emoldura o local, coroada pelo branco da neve que cobre as montanhas da cordilheira da Annapurna.
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Nota: não é permitido tirar fotografias no interior dos templos que se encontram no interior do mosteiro.
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Where to sleep in Namo Buddha:
Namo Buddha is located 40 kilometers from the center of Kathmandu, about two hours away, so it can be visited in one morning. It is advisable to get out of Kathmandu early, around 7 a.m., to avoid the traffic jam.
But in the area, within walking distance, there are a few resorts.
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Where to eat in Namo Buddha:
Around the stupa of Namo Buddha, there are several restaurants aimed to pilgrims, who also sell religious articles and incense but that are not inviting for more than a chai.
Along the road where the bus stops, there are three eateries that serve tea and meals, but definitively Banepa offers better options in terms of food.
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Transportation to Namo Buddha:
There are no direct buses from Kathmandu to Namo Buddha.
You need to catch a bus at Ratna Park to Banepa first (depart with high frequency).
At the bus terminal of Banepa (bus park), there are buses that pass through Namo Buddha; just ask for Namo Buddha from the various buses that are parked in the bus park.
The bus stops very close to the stupa. After the stupa is about 10 to 15 minutes walk to the monastery.
- bus Kathmandu to Banepa: 1 hour, 45 rupees
- Benepa to Namo Buddha bus: 1 hour, 60 rupees
The bus frequency from Namo Buddha to Banepa is not high, so you may have to wait an hour for the next bus… or get a ride from a truck, but pay attention: being faster is more expensive than the bus.
The road between Kathmandu and Banepa is in good condition and the trip is reasonably comfortable, on a flat route. But from Banepa to Namo Buddha the road is steep and winding, unpaved and very deteriorated, making this last stage uncomfortable and tiring.
Os mastigadores de “paan”
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Da intensa experiência que foi viajar nos estados do Nordeste da Índia, uma coisa houve que ficou marcada vivamente na memória dos sentidos: o paan… o cheiro, a côr, os gestos, o som do cuspir e o rasto vermelho deixado pelo chão.
Mas o que é o paan!?! Basicamente paan é noz de areca (areca nut), cujo aspecto se assemelha à noz-moscada, cortada em pequenos pedaços, e envolvida em folha de bétel, uma trepadeira de folha verde que tem efeitos estimulantes. A esta mistura junta-se muitas vezes tabaco (de mascar) e cal (hidróxido de cálcio)… sim, a mesma cal como a que se usa para revestir paredes.
A noz de areca, assemelha-se muito à noz-moscada, tanto no tamanho como no aspecto do fruto, mas em vez de nascer de uma árvore é o fruto de uma palmeira, cujas nozes crescem em cachos no topo de um fino e alto tronco.
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A folha de bétel é cuidadosamente dobrada em forma de um pequeno rectângulo, conservado a noz de areca, e colocada na boca, sendo ligeiramente mastigada de forma a libertar lentamente os sucos, que aos poucos vão dando uma coloração avermelhada à saliva, que se estende aos cantos da boca e aos lábios. Ao fim de alguns anos de utilização, resulta não só os dentes deteriorados e manchados de vermelho, como também uma certa adição, devido às propriedade da folha de bétel. Misturada com tabaco, aumentam ainda mais os efeitos cancerígenos da noz de areca.
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O paan produz uma forte salivação, o que faz com que os seus consumidores tenham necessidade frequente de cuspir, o que é muitas das vezes feito de forma aparatosa, num jacto de saliva avermelhada, que deixa um rasto pelas ruas, passeios e até paredes!
Sendo bastante popular na Índia, o hábito de consumir paan encontra-se espalhado um pouco por todos os países asiáticos, como o India, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka e Birmânia, sendo este ultimo o país onde a presença de paan é uma constante, desde mulheres a crianças.
Mas a passagem por alguns dos estados do Nordeste da Índia, Assam, Nagaland e Meghalaya deixou uma marca mais forte deste fenómeno. Aqui, talvez mais do que em qualquer outra das regiões da Índia a noz de areca é “rainha”, sendo mesmo mastigada sem a folha de bétel ou outros ingredientes.
Sendo predominantemente um hábito masculino, comum entre a população mais pobre, é uma imagem de marca entre motoristas de autocarros e condutores de tuk-tuks; mas no Nordeste da Índia o paan é também bastante popular entre as mulheres, sendo o seu consumo transversal às várias camadas sociais, não sendo de estranhar encontrar um pastor na ilha de Majuli a cuspir o paan ou a recepcionista de um hotel em Mokokchung com os cantos da boca marcados pelo vermelho da noz de areca.
O consumo de tabaco de mascar é também bastante popular, sendo misturado com cal, de forma a humedecer as folhas formando uma pasta que se coloca junto à gengiva. A preparação do tabaco, esfregando a mistura na palma da mão com os dedos, que depois é ligeiramente batida para ficar espalmada, são um dos gestos que se vêm constantemente… nas cidades ou nas vilas, nas ruas ou nas lojas, em autocarros e comboios…
Apesar do acto de mascar tabaco ser desagradável, pois produz também a necessidade frequente de cuspir, o paan, com o seu cheiro adocicado criou ao fim de três semanas de viagem pelo Nordeste da Índia, uma certa repugnância pela combinação do som com o jacto de saliva vermelha libertado pelos mastigadores de paan, que não se esforçam por ser discretos ou delicados, fazendo do acto de cuspir uma arte, onde por certo a trajetória e distância do rasto vermelho deixado no chão é motivo de orgulho.
E um pouco por todo o lado, vêm-se sempre marcas brancas deixadas pela cal que colada aos dedos, é que depois são esfregando em ombreiras das portas, junto à lojas de paan, ou nos bancos dos autocarros e comboios…
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E o cheiro deixou também uma forte marca na minha memória, com quartos de hotel a cheirarem a paan, e com viagens longas de autocarro ou the sumo, a serem feitas na companhia de activos mastigadores de paan, cujo cheiro adocicado impregna o espaço, e a cruzam regularmente o meu campo de visão para cuspirem pela janela.
Uma negativa mas forte memória que criou em mim uma repugnância ao paan, ao qual os meus sentidos não conseguem ficar indiferentes.
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