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… dos Turcos e da Turquia
De uma estadia de duas semanas, poucas conclusões se podem retirar de um país tão vasto e com tanta história e diversidade cultural. Contudo ficaram impressões, sensações e ideias, tanto das experiências vividas, das realidades observadas como das informações trocadas com a população.
Língua e Escrita
Apesar de Turco ser uma língua completamente diferente onde poucas são as palavras comuns, surgem aqui e ali sons familiares, como o afrancesado “pardon” para pedir “com licença”. A saudação é dada por “merhábá” e agradece-se com o “texekkur”
Tendo a língua turca ligações com o árabe, a escrita foi durante séculos em caracteres arábicos, mas graças a Mustafa Kemal Atatürk, no anos de 1928, a língua turca foi transposta para o alfabeto ocidental, o que facilita muito em termos de orientação e localização e mesmo na aprendizagem de palavras mais básicas, como por exemplo a comida.
Em Istanbul e nas zonas com mais turistas, encontra-se quem fale inglês, por vezes fluentemente, outras o suficiente para uma comunicação básica para obter indicações e informações, sobre autocarros e horários, destinos, preços, etc… Contudo fora destas zonas, a situação mostra-se mais difícil, sendo raro conseguir comunicar em inglês com a população local, que apesar desta limitação não se poupa a esforços para ajudar, tanto recorrendo à linguagem gestual como chamando alguém mais novo que fale um pouco de inglês.
Do contacto com a população mais jovem, com estudos superiores ficou outra impressão, que já se encontra mais confortável em comunicar em inglês; contudo não parece ser um exemplo que se aplique a todo o país, sendo mais fácil encontrar alguém que domine o inglês em grandes meios urbanos, ou zonas que estejam habituadas a receber turistas, como foi o caso de Goreme e Istanbul.
Autocarros
Apesar da curta experiência na Turquia dispõe de um eficaz e moderno sistema de transportes, numa rede que abrange todo o país, existindo muitas empresas de transporte de passageiros. Os terminais de autocarros são geralmente amplos e modernos, limpos e organizados, com instalações sanitárias, zonas de estar e zonas de restauração. Nas cidades mais pequenas apresentam-se mais modestos, nas com condições confortáveis para se esperar algumas horas entre ligações de bus.
Nos autocarros de longo curso, destacam-se as empresas Kamil Koç e a Metro, pela vasta oferta de ligações entre as principais cidades, pelo eficaz serviço de informações e venda de bilhetes e pela qualidade dos autocarros, com ambas as companhias disponde de várias classes de serviço, desde o VIP mais espaçosos e onde é servido chá, água, etc… até aos serviços mais económicos com mais passageiros por autocarro e um pouco menos de conforto.
A boa qualidade das estradas e dos autocarros, mesmo das companhias mais modestas permite efectuar longas viagens de forma confortável.
Existem muitos serviços nocturnos. As estradas são boas e os autocarros têm qualidade, com algumas empresas a oferecerem também serviços VIP, fazendo das viagens de autocarro um popular e cómodo meio de transporte.
Reservar bilhete pela net não é possível para estrangeiros, pois é necessário introduzir o “TC” o número de identificação turco, não funcionado o número de passaporte ou outro documento de identificação.
Comboios
Não houve oportunidade para experimentar este modo de transporte.
A ligação Ankara-Tehran, o famoso Trans-Asia Express, foi cancelado devido a problemas na zona Este da Turquia, com conflictos com a população Curda, não havendo informações sobre possível reabertura (setembro 2015). Para informações mais actualizadas: //www.seat61.com/Iran.htm#train
Os bilhetes devem ser reservados com antecedência em especial nas viagem ao fim de semana e próximos de festas religiosas como o Kurban Bayrami, onde muita gente se desloca para visitar a família; isto aplica-se também às viagens de autocarros e mesmo às de avião.
Nas viagens de comboio, assim como nos autocarros de longo curso, não é costume os homens ficarem sentado ao lado das mulheres, a não ser que sejam casais, familiares ou amigos; este sistema pode tronar complicada a compra de bilhetes nas alturas de maior procura, onde por vezes existem lugares vagos, mas nem sempre ao lado de uma pessoa do mesmo sexo.
Religião
Apesar de todo o esforço de Ataturk para aproximar a Turquia das padrões ocidentais, remetendo a religião para segundo plano, a Turquia tem-se tornado nos últimos anos mais conservadora, com uma maior presença da religião muçulmana no dia-a-dia da população.
Oficialmente mais de 95% da população é Muçulmana, maioritariamente sunita, mas existindo ainda Alevis, Sufis e alguns Xiitas.
Desde as reformas sociais e politicas introduzidas por Ataturk a partir de 1926, a sociedade modernizou-se assim como a forma de vestir, que se tornou mais ocidental, levando ao abando gradual da tradição islâmica que obriga as mulheres a cobrir o cabelo, passando a ser uma opção de cada individuo.
Mas recentemente, com o aumento do poder dos grupos islâmicos e do fervor religioso, o uso do lenço na cabeça, que antes era somente uma tradição, volta a dominar encontrando-se frequentemente mulheres e jovens usando o hijab, que cobre a totalidade do cabelo, orelhas e pescoço, sendo bastante popular tanto em Istanbul como no resto do país. O uso de chador, manto preto envolvendo o corpo é mais frequente nas zonas mais conservadores, como por exemplo em Erzurum, não sendo raro encontrar e Istanbul, em Fatih e nas zonas dos bazares.
Dinheiro & ATMs
Existem caixas ATM por todo o lado, aceitando a maioria dos cartões Visa e Master Card, mas cobram comissão por cada levantamento. É também possível efectuar pagamentos por cartão de crédito, e mesmo algumas empresas de autocarros aceitam pagamento por cartão na viagens de longo curso.
Para poupar nos exagerados custos das comissões bancárias cobrados por cada levantamento fora da zona Euro, a outra opção é trazer dinheiro e trocar por Liras Turcas.
Em Istanbul, nas zonas mais turísticas é fácil encontrar lojas de câmbio, que aceitam dólares, euros, libras, etc…, e que geralmente não cobrarem comissão. Convém comparar os valores em várias lojas pois podem varias significativamente.
Outra opção são os ATMs, onde algumas máquinas/bancos permitem efectuar a troca de dinheiro, introduzindo notas de dólar, euros ou libras, e que devolvem Liras Turcas, sem comissão e com uma taxa de câmbio muito próximo do que se encontra nas lojas.
Da experiência que tive, a melhor opção foi ir directamente ao banco… pode demorar um pouco, dependendo do numero de pessoas. É necessário perguntar, pois alguns cobram taxa ou têm um câmbio pouco atractivo (como por exemplo em Goreme onde só existe um banco). A melhor opção encontrada, foi o Ziraat Bankasi, com o facilmente identificável logo vermelho, onde encontrei a melhor taxa de câmbio, sem comissões.
Generosidade e hospitalidade
Estas são sem duvidas duas palavras que marcam a estadia na Turquia.
Um pouco por todo o lado as pessoas se mostram simpáticas e curiosas, sempre disponíveis para ajudar, seja dando indicações, ajudando a encontrar locais, prestando informações, oferecendo comida…
Esta simpatia ficou ainda mais evidente com a experiência de couchsurfing em Istanbul, Erzurum e Doğubayazıt, onde a palavra hospitalidade foi levada “à letra”, tendo partilhado casa com pessoas que desconhecia, que se disponibilizaram para ajudar, fornecendo informações e orientações, mostrando a cidade, na busca de transportes, e muito importante, confecionando e partilhando refeições e experiências de vida.
Curdos
Com a longa história de Impérios e civilizações que por aqui passaram, a Turquia alberga actualmente diversas minorias étnicas ou religiosas, como Arménios, Judeus, Gregos, Curdos e muitos outros grupos pertencente a países vizinhos ou a países que pertenceram ao Império Otomano. Contudo destes grupos, o maior em termos de população são os Curdos, que representam cerca de 15%, e que continuam a não ser reconhecidos com grupo étnico.
Detentores de uma cultura e língua próprias, mas sendo muçulmanos Sunitas, assim como os Turcos, nunca foram oficialmente reconhecidos, nem as regiões onde vivem, predominantemente na zona este e sueste da Turquia, foram apoiadas e desenvolvidas em paralelo com outras zonas do país, o que levou a um maior sentimento de exclusão quer continua até hoje a causar conflitos, e ansiando talvez por um Curdistão “a terra dos Curdos”.
Recentemente (Setembro 2015) ocorreram alguns conflitos na zona Este da Turquia, que levaram ao encerramento temporário da ligação ferroviária Trans-Asia Express que cruza a província de Van, junto à fronteira do Irão.
Atatürk
O “pais dos Turcos” está um pouco por todo o lado. Não se pode dizer que seja uma figura venerada, mas sem dúvida que é uma figura respeitada cuja imagem se encontra presente em muitos locais públicos, como lojas, restaurantes, cafés, hotéis… e nas notas de Liras Turcas.
Mustafa Kemal, de cognome Atatürk, tendo governado o país durante dezoito anos, representa um ponto de viragem na história da Turquia, criando medidas e reformas que mudaram radicalmente a política, justiça, economia e a sociedade, transformado a Turquia numa sociedade laica, mais próxima dos padrões europeus. Desenvolveu a industria, deu prioridade à educação, conferiu às mulheres igualdade política e social, baniu a poligamia, e aboliu o sistema político baseado nos Califados, onde o poder político estava reservado a religiosos islâmicos.
O seu nome encontra-se em avenidas e praças e no aeroporto internacional de Istanbul, e é sem dúvida o principal responsável pela sociedade moderna e desenvolvida que é hoje a Turquia.
Da curta passagem pela Turquia ficou a impressão de um país moderno, orgulhoso do seu passado, onde persiste o peso da religião e das tradições.
A comida na Turquia
Depois dos primeiros dias em que palavras como borek, pide, dondurma, donner, baklava, lokum, gozleme, ayran soam estranhas e confusas, aos poucos vão-se tornado familiares ficando associadas a deliciosos sabores, a apetitosas refeições, e a gulosa pastelaria.
Definitivamente, a gastronomia Turca está longe de ser “amigável” para vegetarianos, pois quase todos os pratos são dominados pela carne, sendo muito popular o kebab, carne grelhada servida no pão. Mas o vasto território, desde o Mediterrâneo até Mar Negro, da Europa à Ásia, albergando vários grupos étnicos e absorvendo influências dos impérios que aqui passaram é rica e diversificada, onde uma curta estadia não pode fazer justiça à gastronomia deste país.
O Kuru Fasulye, um dos poucos pratos tradicionais turcos que é vegetariano, feito à base de feijão estufado, num molho à condimentado e ligeiramente picantes e servido com arroz. Muitas vezes o iogurte serve de acompanhamento às refeições turcas. Como acompanhamento, num país onde o álcool não é muito frequente, o yran é presença comum, uma bebida à base de leite fermentado, com sabor semelhante a iogurte e que pode ser por vezes ter um paladar salgado. É vendida em embalagens nos supermercados mas nos restaurantes tradicionais apresenta-se em cubas onde o yran circula, sendo mantido fresco e trazendo uma suave espuma quando é servido.
Os lacticínios são presença forte, como o iogurte, que se pode ainda encontrar feito de forma artesanal e o yran que acompanha as refeições, mas é o queijo que sobressai, não só pela grande variedade em termos de sabores, texturas e formas como é apresentado. Dominam os queijos “brancos” feitos à base de leite de vaca, sendo os também queijos curados menos populares.
O queijo é servido tradicionalmente ao pequeno-almoço, assim como as azeitonas, que se encontram numa grande variedade de temperos e “curas”.
O borek é também consumido pela manhã, mas pode-se encontrar ao longo do dia, em lojas que geralmente se dedicam à produção e venda destes snacks, como o borek e as pide, uma espécie de pizza à base de um único ingrediente: carne, espinafres, queijo… O borek consiste numa sucessão de camadas de massa filo, recheada de queijo, formando um rolo que é cozinhado no forno. Apesar de deliciosa, esta opção é bastante gordurosa.
Outra variante do borek é um massa semelhante à da lasagna, disposta por camadas num tabuleiro e recheada de queijo, ou por vezes espinafres ou carne. Os borek como as pide foram as melhores opções em termos de refeições ligeiros para vegetarianos na Turquia. Contudo, encontram-se muitos restaurantes, em especial em Istanbul, que servem refeições já confecionadas no sistema de snack-bar, com uma grande oferta de comida, sendo sempre possível de fazer uma refeição com base numa combinação de diferentes pratos.
Não pode passar despercebida as çorbası, sopas que se encontram em todos os restaurantes, existindo algum especializados neste tipo de refeição que é sempre servida com pão. A mais comum é a sopa de lentilhas, que pode apresentar diferentes aspectos desse o tom alaranjado aos tons mais castanhos, conforme o tipo de lentilha utilizado.
O gozleme, uma espécie de crepe de massa mais espessa, recheado de queijo, mas que também se pode encontrar com espinafres ou carne. Encontra-se um pouco por todo o lado, podendo servir como refeição, ou como snack a meio do dia. Tradicionalmente é confecionada numa chapa metálica aquecida pelo fogo mas pode ser também cozinhada numa frigideira.
As pastelarias, em Turco Pastanesi, são uma das primeiras coisas que chamam a atenção à chegada a Istanbul, vendendo também pão mas focadas essencialmente no doces, desde bolos, biscoitos… e as famosas baklava um doce feito com massa filo, embebida num xarope de açúcar ou mel e recheada com diverso tipos de frutos secos como amêndoa, pistácio e nozes. Mito populares são também os lokum, um doce com uma textura que faz lembrar a gelatina mas consistente, à qual se dá a forma de rolos que depois são cortados e cobertos de açúcar me pó. Sem duvida de que o mel e os frutos secos são um dominador comum à pastelaria turca, que se mostra elaborada e intensa.
Como em todo o mundo, o pão aqui representa um papel importante da alimentação, apresentando-se de muitas formas, desde argolas cobertas de sementes de sésamo ou girassol, o popular simit, a pães achatados de diferentes espessuras ou outros longos e estriados…. numa grande variedade e riqueza de sabores.
Sendo um país vasto e com uma grande mistura de culturas, a Turquia, oferece uma grande variedade de gastronomia que não foi possível conhecer em tão pouco tempo de viagem.
Contudo um tópico sobre gastronomia turca não pode ficar completo sem a referência ao café e ao chá. O tradicional café turco, resultante de uma moagem muito fina à qual é adicionada água a ferver e depois é levada ao lume, mas sem deixar que a mistura entre em ebulição, é servida em pequenas chávenas e bebida lentamente saboreando o suave paladar do café. No fundo da chávena, ficam as borras, formando uma pasta espessa e escura, que segunda a tradição pode revelar os “segredos” do futuro; para isso é necessário virar a chávena sobre o pires e deixar os restos do café arrefecerem e escorrerem, deixando um rasto na chávena que depois é interpretado por que nisso é instruído, chegando a existir serviços online que com base numa fotografia dos restos do café emitem uma previsão do futuro.
Mas é o chá, aqui chamado chai, que ganha como bebida nacional, sendo bebido logo pela manhã assim como ao longo do dia, servindo de justificação para uma pausa no dia de trabalho, para um encontro de amigos, para uma conversa de “café” e claro, a forma de receber visitas, seja em casa ou num aloja de venda de carpetes.
E aqui na Turquia pode-se mesmo falar do culto do chá, onde a forma como é preparado e servido, em pequenos copos de vidro. À semelhança de outros países como a Rússia e o Irão, a preparação do chá é muitas vezes feita no somovar que consiste num recipiente colocado sobre o fogo, onde se aquece a água até ferver; no topo encontra-se um bule, também metálico, onde é preparado o chá, que após a mistura das folhas na água é deixado a repousar uns minutos. Uma pequena quantidade deste chá é vertida para os copos, sendo depois acrescentada água, que é mantida quente na base do somovar.
Africa e Médio oriente
Sobre mim
Olá! Sou a Catarina: viajante e aspirante a fotógrafa.
Sou de Lisboa, onde passei a maior parte da minha vida, mas tenho passado os últimos anos a viajar!
A minha primeira longa viagem começou em 2013 e durante 15 meses levou-me até ao Sudeste Asiático e ao Subcontinente Indiano: Índia, Nepal, Laos, Camboja, China,Myanmar (Burma), Vietname e Tailândia. Mais tarde o percurso estendeu-se pela Malásia, Singapura, Sri Lanka e Indonésia… e também pelo Norte de Africa e Médio Oriente como o Irão, Marrocos e Turquia
O distante Japão e Taiwan são os meus mais recentes destinos, como Myanmar que eu tenho visitado repetidas vezes nos últimos anos.
Com este blog, partilho as minhas viagens e experiências, fornecendo informações e dicas sobre como viajar com um pequeno orçamento e em segurança, esperando assim ajudar outros viajantes e inspirar aqueles que ainda não começaram a viajar.
Não sei ao certo o que me faz continuar, mas a fotografia é com certeza uma das razões para continuar, tentando capturar o espírito e a atmosfera dos lugares, o estilo de vida local e retratar as pessoas.
E comida… a comida é com certeza uma das coisas que mais me entusiasma quando viajo. Mas ser vegetariana traz novos desafios e dificuldades, e espero que a minha experiência(s) possam ajudar a tornar as viagens mais fáceis e deliciosas!
Amor e respeito
“Sê dono apenas do que podes transportar contigo. Conhece línguas, conhece países, conhece pessoas. Deixa que a tua memória seja o teu saco de viagem.”Alexander Solzhenitsyn
Um chamamento para o que é novo, um frémito pelo desconhecido, um impulso que me leva ao movimento e uma vontade de conhecer outras culturas, arrastou-me para viagens de termo incerto, onde cada momento é um desafio à imaginação e um romance com a vida.
Sobre o Irão…
Sim, o Irão é diferente…. não propriamente exótico tendo como referência a cultura dita “ocidental” mas apresenta características muito próprias. Pouco tem a ver com os vizinhos árabes, com que muitas vezes são confundidos, para além da religião muçulmana que partilham, sendo contudo da facção Xiita predominante no Irão. Mas nada tem a ver com a imagem que durante muitos anos foi passada para o ocidente, de fanáticos radicais religiosos. Sim, o peso da religião muçulmana é significativo, mas o valor de 99% apresentados nas estatísticas não é real, pelo menos a nível da população urbana; mas num país que vive sob uma ditadura religiosa há mais de 30 anos não há “espaço” para os não-muçulmanos se afirmarem. Por uma sondagem informal, talvez mais de vinte porcento da população não segue a religião muçulmana, sentindo-se um apego à história da Pérsia, aos símbolos Zoroastristas e às suas tradições anteriores ao domínio árabe que trouxe a religião muçulmana a este território.
Todo o ódio ao ocidente e em especial aos Estados Unidos, está longe de ser real, não indo para além dos extremistas e alguns religiosos radicais, com muita gente a tentar obter visto para imigrar para o estrangeiro, com a América como destino favorito. E este desejo de imigração, mais por questões de liberdade do que por motivos económicos, leva muita da juventude Iraniana, com melhor poder económico, e com mais elevado nível de educação a querer sair do país, situação que a longo prazo empobrece uma nação.
Nunca ninguém manifestou ódio à América ou ao Ocidente, mas muitas vezes as pessoas me mostraram o seu descontentamento e repulsa para com os ayatollahs, com a imposição do uso do véu, com a falta de liberdade, com o fanatismo de alguns mullahs, com a má governação política e com a desastrosa gestão económica, que faz de um país detentor de uma das maiores reservas de petróleo seja menos próspero que os seus vizinhos árabes.
Num país que vive sob uma teocracia, em que religiosos comandam a sociedade e a política, em que quase tudo é proibido, festas, discotecas, álcool, sexo antes do casamento, televisão por satélite, certos livros, facebook, youtube, blogs… e mais uma lista de coisas que nem parecem reais… muita da população quebra todas estas regras… bebe-se álcool, ouve-se U2, namora-se às escondidas, fazem-se festas privadas onde apartamentos se transforma em discotecas, vendem-se cópias piratas de discos e filmes proibidos, onde é corrente ouso de smart-phones, redes sociais, roupa moderna, onde as mulheres conduzem, são advogadas e taxistas… há lojas da Bershka, da Diesel, da Mango e a Coca-cola está por todo o lado.
Um país muito ocidentalizado e culto resultado do tempo em que o Shah Reza Pahlavi governou (mal ou bem) o país, e que a revolução islâmica não consegui apagar, revelando-se por exemplo no elevado número de pessoas que fala inglês mesmo entre a população mais velha, língua que é popular entre os mais jovens; o conhecimento que mostram em relação a Portugal, muito para além do futebol, é outro exemplo.
Um dos países mais seguros, não só pelas pesadas penas, onde a pena de morte e os castigos corporais são frequentes, mas também pela formação das pessoas, onde a hospitalidade e a generosidade são genuínas como nunca vi em nenhum outro país.
O Irão, um país demasiado vasto para se dar a conhecer numa viagem de um mês; vasto em termos de história, culturas e de etnias. Um pais onde muita gente mostra revolta pela repressiva teocracia que domina a vida política e social. Um país onde muita coisa é proibida mas onde constantemente se quebram as regras, onde a maioria dos alunos nas universidades são mulheres, onde as redes sociais e a internet chegam a todo o lado, onde se nota um claro crescimento económico. Um país que para além da lei islâmica pesam também as tradições, mas onde se nota uma vontade de renovação, um desejo de liberdade, mas onde domina uma surda revolta.
Um país onde a vida é complicada e onde muita gente espera mudanças!
Um país que deixa saudades.
Farsi:
No Irão fala-se farsi, língua distinta do árabe com que muitas vezes é confundido, mas que são bem diferente, com escrita própria se bem que os caracteres usados assemelham-se à escrita arábica, com a escrita da direita para a esquerda.
De uma forma geral pouco se encontra escrito em caracteres latinos com excepção das placas de orientação rodoviária, as placas com o nome das povoações, o nome das ruas, das estações de metropolitano e comércio em geral situado nas zonas com mais turismo.
Contudo, existem mais línguas faladas no Irão, correspondentes aos diferentes grupos étnicos como o Azerbaijani, Kurdish, Luri, Arabic e Balochi.
Numeração:
No Irão o sistema de numeração é em caracteres arábicos, que à primeira vista nada têm a ver com os números que aprendemos a chamar de “árabes” e mas ao que parece tiveram origem na Índia.
De inicio parece confuso e impenetrável mas ao fim de alguns dias, depois de encontrar a lógica, e com algumas mnemónicas habituamo-nos a este novo sistema, que à semelhança do sistema ocidental, se escreve da esquerda para a direita, ao contrário do texto.
Eis uma tabela que ajuda a memorizar a numeração árabe usada no Irão.
Horários e fim-de-semana:
Seguindo a tradição muçulmana, o dia de descanso no Irão é à sexta-feira, com o Sábado e o Domingo a funcionarem normalmente. Contudo muitos mercados e bazares, assim como as padarias encontram-se a funcionar também à sexta-feira, onde a excepção foi o bazar de Shiraz.
Pequenas lojas estilo mercearias também estão abertas todos os dias vendendo produtos básicos de alimentação, refrigerantes, tabaco, carregamento de telemóveis… e de tudo um pouco.
Quanto aos horários, as lojas e os bazares não começam muito cedo, com a grande maioria a abrir pela 10.00 AM, mas prolongam-se até às 9.00 ou 10.00 PM.
Dinheiro, ATMs e cartões:
A moeda iraniana chama-se rials… e são aos milhares
Pois existem ATMs por todo o lado mas não estão ligados às redes bancarias internacionais, pelo somente os cartões iranianos funcionam para levantar dinheiro.
Pela mesma razão os cartões de crédito também não têm qualquer tipo de utilidade no Irão.
Em alternativa é já possível enviar dinheiro para o Irão pela Western Union, que tem balções e agentes em algumas cidades. Pode ser uma boa opção em caso de emergência por falta de fundos.
Mas sem duvida que a melhor opção é levar dinheiro em “papel” à boa moda antiga, de preferência dólares ou euros, mas tb servem libras britânicas… sim, sim, apesar da “guerra” à América, as notas de dólar são muito bem vindas.
Como o Irão é seguro em termos de criminalidade, não se corre grande risco em transportar dinheiro, sendo necessário os habituais cuidados para quem viaja.
Segundo informações recolhidas deve-se trocar o dinheiro aos poucos por causa da inflação e das mudanças da taxa de câmbio de rials para moeda estrangeiras. Existe inflação sim mas afecta quem aqui vive, não sendo visível para quem por aqui se demora um mês. Quanto à variações da taxa de câmbio à grandes diferenças de cidade para cidade (conforme a concorrência entre cambistas) e em especial de loja para lojas. Da minha experiência, nas grandes cidades conseguem-se os melhores negócios, muitas vezes sem comissão ou com valores pequenos (30.000 rials); em Teerão e Esfahan consegui 1€ = 39.600 rials*, nas pequenas cidades como Bam ou zonas com pouco ou nenhum turismo como Bandar Abbas 1€ = 37.000 rials*. Assim o melhor é trocar uma quantidade significativa de dinheiro (tipo 100€) quando se encontra um “bom negócio”.
Mas trocar dinheiro nos bancos é em geral uma má escolha: os euros valem menos e são cobradas taxas ou comissões bancárias (1€ = 35.000 rials)*.
Uma outra opção de recurso são alguns hotéis ou guesthouses que a nível “particular” também trocam dinheiro, sem comissão mas com uma taxa não muito superior aos bancos.
O único inconveniente de trocar uma grande quantia de dinheiro de uma só vez é que se fica com a carteira cheia de notas… com cem euros a “renderam” quase 4 milhões de rials… mas existem “Bank Cheques” que em tudo se parecem com notas, com valores de um milhão e de meio milhão o que facilita as coisas mas que nem sempre se conseguem nas lojas de câmbios.
Para além da dificuldade em lidar com os muitos “zeros” presentes no valor das notas de rials, acresce outra adversidade a quem chega ao Irão: o toman, em que 1 toman são 10 rials, com os preços afixados por vezes em tomam outras em rials… confuso.
Mas de uma forma geral, os produtos em mercados estão afixados em tomans, mas alojamento e transportes estão em rials, quando os valores são expresso verbalmente tanto pode ser em tomam com em rials… muito confuso.
* valores de Outubro de 2015.
Custos:
O custo de vida para que viaja no Irão não é caro comparado com os padrões europeus.
Exemplos:
- bilhete de bus entre as principais cidades: de 100.000 a 300.000 rials (2.6 a 5.3€)
- falafel: mínimo 30.000 rials (0.8€)
- ash-e reshteh ou halim: entre 30.000 rials (0.8€) e 50.000 rials (1.3€)
- pizza: 150.000 rials (4€)
A maior fatia do “orçamento” vai para o alojamento; alguns exemplos, com os valores a variarem bastante de cidade para cidade, com uma quarto em Tabriz a custar metade que uma cama num dormitório em Kashan. Quase todos os alojamentos têm pequeno-almoço incluído, e quase todo com casa-de-banho partilhada:
- quarto individual em mosaferkhaneh: cerca de 250.000 rials (6.6€)
- cama em dormitório, num hotel: 300.000 a 500.000 rials (8 a 13€)
- quarto individual em hotel: 500.000 rials (13€)
- quarto duplo em hotel: 600.000 rials (16€)
De uma estadia de 1 mês o custo médio foram 15€/dia, com:
46% alojamento
23% alimentação**
20% transportes
6% entradas em locais turísticos
5% vários (telefone, lavandaria, etc)
** comida vegetariana, à base de ash soup, falafel, pizza, snacks, fruta, frutos secos…
O preço dos quartos pode ser negociado, conseguindo-se melhores negócios quando se viaja em época baixa.
O preço das coisas nos mercados, mesmo estando quando afixado é passível de ser negociado, excepção são os produtos alimentares e os restaurantes.
Se houvesse um ranking em termos de honestidade em relação ao dinheiro, o Irão estaria nos primeiros lugares dos países que visitei. Mesmo no inicio, quando ainda não nos habituamos ao dinheiro onde proliferam os zeros, e quando ainda desconhecemos o preço das coisas, não me apercebi que ter sido enganada nos preços; mesmo não conseguindo comunicar com pessoas que não falavam inglês, onde tive que mostrar um molho de notas e esperar que tirassem o valor necessário, não me apercebi que estivessem os comerciantes se estivessem a aproveitar da situação. Excepção são os taxistas. Nas palavras de uma amiga “como são muçulmanos e temem Alá, mesmo que enganem é só um bocadinho”!
Quando visitar o Irão:
O clima do Irão caracteriza-se pelas quatro estações, sendo o verão a altura de temperaturas muito elevadas e o Inverno frio, com neve em alguns locais. A zona junto ao mar Cáspio apresenta-se menos seca e com Invernos frios e chuvosos, e com neve em alguns locais.
As melhores altura para visitar são o Outono (Outubro, Novembro) e a Primavera (Março, Abril e Maio).
O Muharram, onde se celebra o Ashura, varia de acordo com o calendário islâmico que como é lunar não tem data fixa de no calendário Gregoriano, mas que em 2015 começou a 13 Outubro. O Nowruz, o ano novo persa, é no dia 21 de Março que marca o inicio da Primavera.
Segregação de género:
Um pouco à semelhança da Turquia, mas numa versão mais rigorosa, no Irão existe segregação entre os sexos em transportes públicos, mas não só em comboios e autocarros de longa distância, onde homens e mulheres não podem estar sentados lado a lado caso não sejam casados ou família, mas também em autocarros urbanos, metro e táxis.
Nos autocarros as mulheres viajam na parte de trás, usando a última porta para entrar. Caso seja necessário comprar bilhete ao motorista deve-se primeiro entrar pela porta da frente, e voltar a sair para ocupar os lugares da parte de trás do veículo, pois existe uma barra que impede a circulação. Casais devem viajar separados. Em algumas cidades este sistema é mais flexível, não existindo uma barreira física e com as pessoas a desrespeitarem esta regra.
Quase naturalmente as pessoas quando fazem fila na paragem obedecem ao mesmo critério de segregação, com homens e mulheres a fazer fila em direções opostas.
No metro em Teerão a primeira e a ultima carruagem da composição é reservada exclusivamente a mulheres, separadas por uma porta fechada com correntes e cadeado, com as restantes carruagens acessíveis a ambos os sexos, contudo com quase nula presença feminina com excepção de um ou outro casal.
Em shavaris (táxis partilhados) que são um meio de transporte muito utilizado em todo o país tanto em meios urbanos como em viagens entre cidades, aplica-se também esta regra, não sendo raro quando um táxi pára para recolher mais passageiros, as pessoas terem que sair e voltar a entrar de forma a que no banco de trás somente se sentem pessoas do mesmo sexo.
Dress code:
Para os homens o dress code é pouco bastante flexível sendo aparentemente proibido o uso de calções na rua. Contudo camisolas e camisas de manga curta são aceites sem problemas.
As mulheres têm mais restrições. O cabelo tem que ser obrigatoriamente coberto, mas somente as muçulmanas usam o hijab justo ao rosto cobrindo totalmente o cabelo. O mais frequente é um lenço sobe a cabeça, com as pontas atiradas para trás sobre os ombros, deixando ver um bocado do cabelo sobre a testa. É normal as mulheres usarem o cabelo apanhado, o que ajuda a segurar o lenço sobre a cabeça.
Mangas compridas e pernas cobertas até ao tornozelo. Raramente se vê alguma mulher de saias, mas calças justas são muito populares entre os mais jovens. Os tops devem ser longos de forma a cobrir as ancas e largos, sendo muito frequente o uso do manteau, que se assemelha a uma gabardine, que poder ser usado justo e totalmente abotoado ou ter uma forma mais folgada aberta à frente.
Quanto às cores não há nenhuma obrigação de vestir roupa escura e as cores claras são as mais indicadas nas zonas mais secas e desérticas.
Pode-se andar de sandálias mas raramente se vê alguém com elas.
Nas raparigas o uso de véu é obrigatório a partir dos 9 anos, mas muitos uniformes de escolas incluem-nos desde o inicio da escolaridade.
Chador, um manto que cobre da cabeça aos pés que é aberto à frente só é obrigatório em alguns locais religiosos, sendo fornecidos à entrada.
Cirurgias plásticas ao nariz:
Quase se pode dizer que são uma obsessão nacional, sendo frequente ver pessoas nas ruas com pequenos adesivos no nariz, sinónimo de recente cirurgia para alteração do formato do nariz, tanto em homens como em mulheres. Assim se perde um pouco da identidade étnica de um país onde domina o nariz aquilino.
Mas o facto de a população feminina ser obrigada ao uso do hijab que cobre o cabelo e ao limitativo dress code, que impede mostrar pernas e braços, decotes, etc… leva a que o rosto seja o centro de toda a atenção, com quase todas as mulheres a usarem maquilhagem, resultando da importância exagerada dada ao formato do nariz.
Diz-se que quem quer mostrar que tem quer parecer “in” mas não tem capacidade financeira para uma cirurgia estética, limita-se a colocar o adesivo no nariz.
Água:
A água da torneira é potável e apesar de nem sempre o sabor ser dos melhores nunca me causou problemas.
Existem bebedouros um pouco por todo o lado, nas ruas, parques, zonas históricas, muitas vezes com água refrigerada.
Telemóveis:
As redes de telemóvel internacionais não funcionam no Irão.
Por isso a melhor opção é comprar um SIM card nacional, pois é útil para reservar hotéis (os emails nem sempre têm respostas rápida). O cartão com algum crédito em chamadas custa 200.000 rials. Para isso é preenchido um formulário totalmente em farsi, pelo funcionário, e é necessário para além de três assinaturas e do nome do pai, a impressão digital do indicador direito… vá-se lá perceber para quê!!!!
As chamadas assim como as mensagens são muito baratas. Os carregamento são feitos com base num código que se pode comprar nas lojas da Irancell (que não são fáceis de encontrar) mas também estão disponíveis em mercearias, é são vendidas nos valores de 20.000 rials.
Internet e wi-fi:
Wi-fi está disponível gratuitamente um pouco por todos os alojamentos. Até alguns hostel e mosaferkhaneh têm wi-fi free.
Contudo devido aos muito filtros impostos pelo governo no acesso à informação a internet é lenta e os download quase impossíveis. Facebook, youtube, blogs e algumas aparentemente inocentes páginas estão bloqueadas… contudo é possível contornar esta situação pagando a alguém para alterar umas configurações nos smart-phones, tabletes e lap-top
Atenção que no Irão não há https, pelo que o movimentos bancárias e o uso de cartão de crédito para efectuar compras tem alguns riscos.
Imigrantes:
O Irão atrai imigrantes afegãos, resultantes da prolongada guerra, que se identificam pela tradicional forma de vestir, e que muitas vezes executando trabalhos de carga nos bazares. É também nos bazares e nos trabalhos menos qualificados que se encontram muitos Curdos, facilmente identificados pelas calças de balão, justas no tornozelo.
A guerra no Iraque trouxe também trouxe muitos imigrantes que se concentram mais no sul do Irão, mas que se encontram um pouco por todo o país, sendo facilmente identificáveis pelas longas túnicas, e mais frequentemente pelo lenço, shemagh, com típico padrão preto e branco.
Ta’arof:
Uma tradição muito presente no Irão que revela um requintado código de cortesia. Quando alguém nos oferece algo, por exemplo um chá, uma refeição, uma viagem grátis de bus, um doce, etc… devemos sempre recusar, mesmo que a vontade vá em sentido contrário. Da parte de quem oferece compete-lhe o papel de insistir uma ou outra vez, e da nossa parte é-nos pedido que avaliemos até que ponto esta oferta pode ser ou não aceite, de forma a não deixar com fome quem tem pouco para comer, não prejudicar um negócio ou quem não tem boa situação financeira.
Uma prática complexa, que não é fácil de incorporar para quem não foi habituado a este sistema, e que como estrangeiro está muitas vezes sujeito a ofertas, seja de comida, de bilhetes de autocarros, de boleias, de chá…
Chá… chai!
O chá, no Irão chamado de “chai” é definitivamente a bebida nacional, sendo consumida logo pela manhã ao pequeno-almoço e depois, durante todo o dia, como motivo para uma pausa, para uma conversa… Aqui à semelhança de outros países também é comum o samovar, grande recipiente metálico onde a água é mantida quente, que se adiciona ao chá preparado num pequeno bule, assente no topo do samovar, mantendo o chá quente.
Existem a chamada tea-shops, onde se bebe chá, se conversa e se fuma qalyān, um cachimbo de água, mas onde as mulheres não podem entrar, ou pelo menos não é suposto entrarem.
Tabriz: os tapetes e o bazar
Tabriz foi a primeira paragem num itinerário de um mês pelo Irão, cabendo-lhe a pesada responsabilidade ao criar uma primeira impressão de um vasto e diversificado país, que se estende desde o Mar Cáspio ao Golfo Pérsico, da Turquia ao Afeganistão, do Iraque ao Paquistão, fazendo ainda fronteira com o Turquemenistão, a Arménia e o Azerbaijão.
A cidade de Tabriz, que chegou a ser capital do Irão, mas dada a sua posição geográfica que a formava muito vulnerável aos ataque do Império Otomano, é actualmente capital da província do Azerbaijão, onde uma significativa parte da população é Azevi, constituindo o maior grupo étnico do Irão.
Tendo sido um ponto de paragem obrigatório na Rota da Seda, é ainda hoje um dos mais antigos bazares do Médio Oriente, e o maior bazar coberto do mundo, continuando a ter um papel fundamental na actividade comercial do país, em especial pelo comércio de tapetes… os lendários tapetes persas!!
O bazaar é claramente dominado pelo comércio de tapetes, que se apresentam em lã ou em seda, com motivos geométricos ou florais, com retratos ou com inscrições religiosas, negócio pelo qual Tabriz tem fama mundial. E paralelamente à venda de tapetes existem um grande diversidade de lojas que estão associadas a sua produção, como a venda matéria-prima para a sua execução, tanto os fios de algodão que servem de trama, como a lã com que são tecidos a maioria dos tapetes.
Mas apesar de grande parte da área ser dedicada aos tapetes, o Bazaar de Tabriz tem muito muito mais para oferecer: zonas dedicadas à venda de tecidos e roupa, onde sobressaem os lenços para cobrir a cabeça, que aqui se encontram num numero infindável de variações. Por vezes somos atraídos pelo cheiro das especiarias, pelo ouros dos potes de mel, pelo brilhos das tâmaras, passas, ameixas e demais frutos secos, pelas pilhas de nozes, amêndoas e pistácios… numa generosa e infindável variedade.
A visita à Kabud Mosque, a chamada Mesquita Azul (100.000 rials), apesar do peso da antiguidade que envolve o edifício construída em 1465, revelou-se pouco interessante. Ark-e Alishah, um arco gigantesco e maciço que se impõem no centro da cidade pouco tem para oferecer. Perdida no meio do intricado labirinto de ruas que compõem o bazaar encontra-se a Jameh Mosque, cujo interior oferece silêncio e conforto, em oposição à agitação envolvente, onde os carregadores empurram carros-de-mão, trazendo e levando mercadorias em ritmo acelerado, num vai-e-vem que somente acalma com a hora de almoço.
Uma cidade com longa história, onde o bazaar é o centro das atenções merecendo mais do que uma vista: diferentes horas do dia oferecendo, diferentes cambiante de luz, diferentes ritmos, diferentes pulsares como se o bazar fosse um organismo vivo.
Saindo do centro da cidade, a visita a zona envolvente à Valiasr Square, revelou uma outra faceta, mais moderna e cosmopolita, com sofisticadas lojas, cafés, restaurantes e pastelarias. Uma Tabriz mais abonada, onde a forma de vestir, mais descontraída e colorida, revela num ambiente menos conservador.
Os quatro dias passados em Tabriz serviram como adaptação a uma outra cultura, para perceber regras de comportamento social, onde a segregação entre sexos autocarros e outros locais públicos é rigorosamente respeitada, onde o uso do lenço a cobrir a cabeça, não é só obrigatório na rua, sendo indispensável numa também dentro das guest houses. A forma de vestir, em especial para as mulheres requer também alguma atenção, que não se limitando somente ao uso do lenço, incluindo mangas compridas, roupa larga e pernas cobertas… contudo as regras são sempre mais flexíveis para os estrangeiros. Uma adaptação também à alimentação, onde a carne domina a maioria da comida servida em restaurantes. Foi também tempo para a adaptação ao dinheiro, onde os “zeros” dominam o valor das notas, onde quase nada se compra com menos do que 1000 rials e onde a troca de uma nota de 50 euros faz de nós detentores de mais de um milhão de rials.
Posto de Turismo:
O posto de turismo de Tabriz, situado num primeiro andar de um dos edifícios existentes na zona pedonal que serve de entrada principal para o bazaar, é um ponto de paragem obrigatório para quem visita a cidade, onde os simpáticos e prestáveis funcionários providenciam todo o tipo de informações, seja desde excursões (organizadas pelo posto de turismo), a locais de troca de dinheiro, aurocarros públicos pra os diferentes locais a visitar (incluindo para o Terminal de Bus de Tabriz), restaurantes, etc…
Tabriz pode ser a base para visitas de um dia pelas regiões vizinhas, destacando-se Kodovan, uma cidade cujas casas são construídas na rocha, e que dada a semelhança com a recentemente visitada Cappadocia não foi eleita no itinerário.
Alojamento:
Na zona central da cidade, entre a entrada principal do bazaar e a Imam Khomeini Street encontra-se a Ferdowsi Street, onde se concentra um grande numero de guesthouses, com preços mais baratos. Existem quartos individuais, duplos ou partilhados, mas geralmente com casa de banho partilhada. Os preços variam bastante, em função das condi (com quartos sem janelas), e dempezaa de cams por quarto vairai Bus de Tabriz), restaurantes, etc…ções oferecidas em termos de ventilação (com quartos sem janelas) e de limpeza, pelo que vale a pena ver alguns quartos e comprar os preços antes de tomar uma decisão.
A escolha foi para o Hotel Mashad, que não sendo o melhor preço apresentou-se limpo e arejado, apesar das dimensões mínimas do quarto. Frequentado essencialmente por homens e por uma ou outra família esporadicamente.
Hotel Mashhad
Ferdowsi Street
Quarto Individual: 250.000 Rials + 60.000 shower (hamam)
Free wi-fi
Almost no english spoken.
Onde comer:
Uma das opções muito populares em termos de street food encontradas em Tabriz formam as batatas assadas, que esmigalhadas sobre um pedaços de pão, às quais se junta ovo cozido, tomate e algumas ervas frescas, formam um rolo.
Pelas ruas do bazar encontram-se alguns vendedores de batatas doces e outros tubérculos cozinhados numa calda de açúcar, que mantida quente liberta um nuvem de vapor de aroma adocicado.
No interior do bazar existem também alguns restaurantes, mas dado o carácter labiríntico do espaço, onde não é fácil a orientação, encontrar estes locais fica um pouco ao sabor do acaso ou entregue à sensibilidade olfativa.
Transportes:
Bus para Valiasr Square: numero 159; a paragem fica rua em frente à entrada principal do bazaar Jomhuriye Eslami Street.
Bus para o Terminal de Autocarros de Tabriz (long distance buses): número 104; a paragem fica na Amir St, uma rua perpendicular à Ferdowsi St.
Aparentemente é necessário ter um cartão para viajar nos autocarros urbanos, que é validado eletronicamente em cada viagem à entrada do autocarro. Mas é possível pagar directamente ao motorista, entre 500 a 1000 rials; no caso da mulheres a situação é mais complicada pois depois de entrar pela porta da frente e pagar o bilhetes, é necessário sai e voltar a entrar pela porta de trás para ceder à zona reservada a mulheres. Muitas das vezes o motorista não cobrou bilhete… talvez para facilitar as coisas, talvez por ser estrangeira…?!?!?
Erzurum
Erzurum é uma cidade que atrai poucos visitantes estrangeiros, não oferecendo muito mais do que estâncias de ski.
Contudo a Universidade aqui existente atrai muita população jovem, o que dá alguma vida a uma cidade cinzenta e fria, mesmo numa altura do ano em que o Outono mal chegou e ainda estamos longe das frias temperaturas que cobrem as montanhas que rodeiam a cidade de neve, que dura até Abril.
Sendo uma zona mais conservadora em termos religiosos, talvez pela proximidade com o vizinho Irão, em Erzurum não é vendido álcool nos supermercados e restaurantes, existindo contudo alguns bares e lojas de venda de bebidas alcoólicas.
A estadia em Erzurum foi curta, tendo sido necessária no itinerário para a fronteira com o Irão.
Onde ficar:
Como existem poucos hotéis e muitas casas partilhadas pela população estudantil, a opção em Erzurum foi para o Couchsurfing, onde fomos recebidos por um grupo de estudantes oriundos de diferentes regiões da Turquia, que foram excelentes anfitriões, mostrando a cidade, partilhando pontos de vista sobre a sociedade, culturas e tradições turcas… e sobretudo partilhando deliciosa comida caseira. Um generosidade e hospitalidade muito especiais.
Onde comer:
Sem duvida que as melhores refeições foram as servidas em casa, confeccionadas pelos nosso anfitriões, e que foram optimos exemplos da comida tradicional turca. Contudo pelo centro da cidade existem os habituais restaurantes e casas de refeições rápidas como borek e pide.
Sobressaiu a pastelaria Lüks Pastanesi, pelo delicioso pequeno-almoço, assim como pela variedade em termos de pão e pastelaria.
Transportes:
O terminal de autocarros fica bastante distante da cidade. As principais empresas de transporte disponibilizam shuttles desde o terminal até ao centro, sem custos.
Bilhetes de autocarro podem ser adquiridos nos vários escritórios das empresas de transportes existentes na Nazik Çarsisi Caddesi, uma das ruas perpendiculares à avenida principal da cidade, a Kongre Caddesi.
Para quem pretende atravessar a fronteira terrestre com o Irão (Gurbulak–Bazargan) precisa de encontrar um autocarro de Erzurum para Doğubayazıt, a ultima povoação antes da fronteira.
É dificil encontrar informações sobre horários desta ligação. Contudo pelas 10 horas da manhã parte um autocarro do Terminal de Erzurum. É também possível comprar o bilhete numa das agências existentes no centro da cidade que providenciam transporte até ao terminal a até determinados pontos da cidade onde o autocarro passa quando sai da cidade.
Convém reservar, com pleo menos um dia de antecedência, pois geralmente o autocarro vai cheio.
A viagem demora umas 3 a 4 horas. Custa 30 TL.